segunda-feira, 18 de novembro de 2013

KARDEC - A BIOGRAFIA, DO AUTOR DE "AS VIDAS DE CHICO XAVIER"

Fábio José Lourenço Bezerra
O jornalista Marcel Souto Maior, autor da excelente biografia de Chico Xavier, intitulada “As Vidas de Chico Xavier”, escreveu agora a biografia do codificador da doutrina espírita, Allan Kardec, pela editora Record. O título: Kardec – A Biografia. Lemos a obra e podemos dizer que também é ótima. O autor procura manter a isenção no seu texto, uma vez que se trata de uma obra investigativa da vida e obra desse grande homem. Para compor o livro, Souto Maior leu toda a obra de Kardec e a maioria de suas biografias. Também foi à França quatro vezes à procura de textos originais do próprio Kardec e documentos da época. Imperdível.
No início do livro, lemos:
“Hippollyte Léon Denizard Rivail era um professor cético, autor de livros pedagógicos na França do século XIX, até ver mesas girarem no ar e ditarem, ao som de pancadas, mensagens atribuídas ao além. Uma batida, letra A, duas batidas, letra B, e assim sucessivamente até se formarem frases e textos inteiros, assinados por mortos ilustres e anônimos.
Fraude? Hipnose coletiva? Autossugestão? Energia manipulada dos vivos... Ou pelos mortos? O que estaria por trás daqueles fenômenos testemunhados por multidões na Europa e nos Estados Unidos, e reverenciados por celebridades como o escritor Victor Hugo?
Foi o que o professor decidiu descobrir. Aos 53 anos, depois de pôr à prova o invisível, Rivail mudou de vida e de nome para dar voz aos espíritos. Tornou-se Allan Kardec, uma figura cada vez mais conhecida, admirada... E perseguida.
O que transformou o cético em líder de uma doutrina? O que o convenceu a acreditar que os mortos estavam vivos e se comunicavam através de médiuns? O que o fez enfrentar adversários ferrenhos, da Igreja e da Imprensa, para levar ao maior número de leitores sua fé na sobrevivência do espírito?
Foi em busca de respostas para estas perguntas que o jornalista Marcel Souto Maior, biógrafo de Chico Xavier, saiu a campo. O resultado de sua pesquisa é um retrato surpreendente do homem que se tornou símbolo de uma doutrina para milhões de seguidores e ajudou a transformar o Brasil no maior país espírita do mundo.”
Abaixo, transcrevemos uma matéria publicada no site do Jornal Zero Hora, sobre uma entrevista que fez com o autor Marcel Souto Maior, sobre sua biografia.
Espiritismo15/11/2013 | 23h01
Pesquisador da vida de Allan Kardec fez palestra e autografou na Feira do Livro
Marcel Souto Maior falou sobre suas descobertas sobre a vida do espírita e por que nunca se converteu ao espiritismo
O jornalista Marcel Souto Maior, autor do livro Kardec - A Biografia, realizou palestra na tarde desta sexta-feira, mediada por Sílvio Luiz de Oliveira.
O biógrafo pesquisou a vida de Allan Kardec e, após 20 anos de investigações, nunca se converteu à doutrina. Questionado, ele explicou:
- Eu me obrigo tanto a ser o mais objetivo possível no meu trabalho, que acho que bloqueio qualquer possibilidade de conversão, pois acho que a credibilidade seria comprometida.
Os dois conversaram sobre a vida e a obra de Hippolyte Léon Denizard Rivail, professor e autor de livros pedagógicos na França do século 19. Maior diz que era muito cético, porém, depois de tudo o que viu, tornou-se mais flexível:
- Vi tanta coisa que sou menos cético hoje. E tenho um profundo respeito pelos espíritas, admiro o espiritismo e fico muito feliz quando o espiritismo solidário prospera, mas acho melhor não misturar a fé com a escrita.
O escritor contou que Kardec difundiu uma doutrina a partir da filosofia, ciência e  moral, para explicar o funcionamento desse mundo, e lutou contra o materialismo. Disse que "mesmo que tivesse ficado muito rico, não teria tido tempo de gastar seu dinheiro, pois trabalhava duro. Seu expediente normal era de 18 a 20 horas por dia".
Para resgatar sua história, Maior leu toda a obra do Kardec e a maioria de suas biografias. Ele foi à França quatro vezes atrás de documentos da época e textos do próprio Kardec.
- Tomo todo o cuidado para não opinar. Se você acredita, vai ter uma leitura do meu livro. Se duvida, vai ter outra. A conclusão é de cada um - afirma.
O jornalista ainda autografou Kardec - A Biografia para seus leitores, às 20h na Praça de Autógrafos.”


BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

MAIOR, Marcel Souto. Kardec: a biografia. Rio de Janeiro: Record [2013].

ENDEREÇO ELETRÔNICO CONSULTADO:


sexta-feira, 8 de novembro de 2013

AS EXPERIÊNCIAS DO CIENTISTA ALFRED RUSSEL WALLACE


Fábio José Lourenço Bezerra

Antes de nos ocuparmos das experiências com médiuns do cientista Russel Wallace, vamos ver sua biografia resumida, extraída do site Núcleo Espírita Verbo de Luz, baseada na obra “Enciclopédia Mirador Internacional - ABC do Espiritismo” de Victor Ribas Carneiro:

“Alfred Russel Wallace nasceu em Usk, Monmouthshire, na Inglaterra, em 8 de janeiro de 1823 e morreu em Broadstone, Dorset, também na Inglaterra, a 7 de novembro de 1913.

Trabalhou, inicialmente, como topógrafo e arquiteto. Por volta de 1840 começou a interessar-se por botânica. Em 1848, iniciou viagem pelo Amazonas, ali permanecendo até 1850. A valiosa coleção acumulada nessa expedição foi consumida pelo fogo na viagem de volta, embora Wallace tenha conservado as anotações que lhe permitiram escrever um livro sobre a Amazônia.

Viajou depois extensamente - entre 1854 e 1862 - pelo arquipélago malaio. Depois, fixou-se em seu país, dedicando-se a pesquisas científicas que divulgou em grande número de livros.

A evolução das espécies

Em 1858, numa reunião da Sociedade Linneana de Londres, é apresentado conjuntamente um resumo da teoria de Darwin sobre a evolução das espécies e um ensaio de Wallace sobre o mesmo assunto, tomando como base a seleção natural.

O trabalho de Wallace, Sobre a tendência das variedades de se afastar indefinidamente do tipo original, foi depois publicado em livro, com outros ensaios, em 1870.

Em 1869, Wallace divulgou o resultado da ampla pesquisa feita no arquipélago malaio, onde investigou a distribuição geográfica dos animais e assinalou a diferença de exemplares encontrados nas regiões oriental e austral do arquipélago, por ele separadas através de uma linha imaginária: a Wallace's line.

A sobrevivência do mais forte

A versatilidade de Wallace leva-o ainda a interessar-se por questões tão diferentes quanto a da nacionalização agrária (que apóia) e a vacinação (que combate).

O trabalho de Wallace sobre a evolução das espécies, escrito em fevereiro de 1858, na Malaia, tem como ponto de partida o Ensaio sobre a população, de Thomas Robert Malthus. Anos depois, Wallace se afasta de Darwin, que defende a tese da "seleção sexual", preferindo a da sobrevivência do mais forte e, em seu espiritualismo, aceita a intervenção de causas não identificadas na evolução das espécies.

Seus trabalhos sobre a fauna oriental e austral fazem de Wallace um dos fundadores da geografia animal.

Obras:

O primeiro livro de Wallace foi Narrativa de viagens pelo Amazonas e o Rio Negro (1853). Nesse, como em O arquipélago malaio, de 1869, o naturalista apresenta os resultados de suas excursões e estudos nas duas regiões.

Em 1870, divulga seus ensaios sobre o problema da evolução em Contribuições para a teoria da seleção natural. Seu livro Distribuição geográfica dos animais, de 1876, além de dar-lhe papel relevante na zoogeografia, torna-o um precursor dos modernos estudos da influência da divisão de terras emersas e da divisão dos mares sobre a genealogia das espécies.

Em 1882, publica Nacionalização agrária, defendendo a necessidade da propriedade estatal da terra. Em Quarenta e cinco anos de registro de estatísticas, de 1885, combate a vacinação, que considera perigosa e inútil.

As críticas de Wallace a Darwin, tanto pela seleção natural como pela seleção sexual, foram reunidas no livro Darwinismo, de 1889.

Wallace também deixou outras obras: O século maravilhoso, no qual estuda os êxitos e fracassos do século 19; O lugar do homem no universo; a autobiografia Minha vida, de 1905; O mundo e a vida, de 1910; e Meio social e progresso moral, de 1912.

Alfred Russel Wallace recebeu, em 1892, a Medalha de Ouro da Sociedade Linneana, prêmio que se concede, todos os anos, a um botânico ou zoólogo cujo trabalho tenha importância significativa para o avanço da ciência.”

“Em 1865, investigou os fenômenos das mesas girantes ainda tão em voga na Europa; a mediunidade de Mr. Marshall, de Mr. Cuppy e outras, estabelecendo, mais tarde, que os fenômenos espíritas "são inteiramente comprovados tão bem como quaisquer fatos que são provados em outras ciências".”

No seu livro “On Miracles and Modern Spiritualism”, de 1875, ele escreveu:

“Há alguns anos, eu era um materialista tão convicto que não admitia em absoluto a existência do Espírito, nem qualquer outro agente no Universo que não fosse a energia e a matéria. Os fatos, entretanto, são coisas marcantes.
            A minha curiosidade foi primeiro aguçada por alguns fenômenos singelos, mas inexplicáveis, que se produziam em casa de família amiga; o desejo de saber e o amor à verdade me forçaram a prosseguir na pesquisa deles.”

Aqui abro um parêntese para transcrever, de outra obra de Russel Wallace intitulada “O Aspecto Científico do Sobrenatural”, editado pela Lachâtre, a descrição que ele faz algumas de suas primeiras experiências:

“...em setembro de 1865 eu comecei uma série de visitas à senhora Marshall, geralmente acompanhado por um amigo, um bom químico e mecânico, e uma mente completamente cética. O que observamos pode ser dividido em duas classes de fenômenos – físicos e mentais. Uns e outros eram muito numerosos e variados, mas devo apenas selecionar uns poucos de cada, que são de natureza clara e definida.

1º - Uma pequena mesa, sobre a qual as mãos de quatro pessoas foram colocadas (incluindo as minhas e as da senhora Marshall), subiu verticalmente cerca de 30 centímetros do assoalho e permaneceu suspensa por cerca de 20 segundos, enquanto meu amigo, que estava assentado observando, podia ver a parte inferior da mesa com os pés livremente suspensos acima do assoalho.

2º - Enquanto eu estava assentado em uma mesa comprida, a senhora T. à minha esquerda e o senhor R. à minha direita, um violão que havia sido colocado nas mãos da senhorita T. escorregou para o assoalho, passou pelos meus pés e foi ao senhor R., subindo sobre as suas pernas até que apareceu acima da mesa. Eu e o senhor R. estávamos olhando-o cuidadosamente o tempo todo e ele se comportou como se estivesse vivo ou como se uma criança pequena e invisível fosse, com grande esforço, movendo-o e elevando-o. Estes dois fenômenos foram observados à luz clara de lampião a gás.

3º - Uma cadeira, sobre a qual uma conhecida do senhor R. assentou-se, suspendeu-se com ela. Depois disto, quando ela voltou para o piano, onde ela esteve tocando, sua cadeira moveu-se novamente. Depois disto acontecer por três vezes, ela ficou aparentemente fixa sobre o assoalho e não podia elevar-se. O senhor R. então segurou-a e descobriu que apenas com grande esforço podia ser retirada do chão. Esta sessão aconteceu em uma hora diurna, em um dia claro e em um aposento do primeiro andar com duas janelas.

            Embora estes poucos fenômenos possam parecer estranhos aos leitores que nunca viram nada do gênero, afirmo positivamente que são fatos que se deram da forma como eu os narrei, não havendo lugar para qualquer truque ou ilusão. Em cada caso, antes que começássemos, eu virava as mesas e cadeiras, e constatava que eram apenas peças comuns de mobília, que não havia qualquer conexão entre elas e o assoalho, e as colocávamos no lugar onde desejávamos antes de nos assentarmos. Muitos dos fenômenos ocorreram inteiramente sob nosso controle, e totalmente desconectados do médium. Eles possuíam tanta realidade quanto o movimento dos pregos em direção ao magneto, e, pode-se dizer ainda, nada mais incompreensíveis que eles mesmos.

            Os fenômenos mentais que mais frequentemente ocorreram foram a soletração de nomes conhecidos de pessoas presentes, suas idades ou outras particularidades a seu respeito. Eles são especialmente incertos em sua manifestação, embora, quando acontecem, sejam muito conclusivos para os que os testemunham. A geral opinião dos  céticos sobre estes fenômenos é a de que sua ocorrência depende exclusivamente da agudeza ou talento do médium em indicar as letras que formam o nome, a partir da forma que as pessoas se expressam ou demonstrem ansiedade – o modo comum de receber estas comunicações é o interessado passar a mão sobre um alfabeto impresso, letra por letra – provocando batidas sonoras para indicar as letras que formam os nomes requeridos. Selecionarei algumas de nossas experiências que mostrarão quão provável deve ser esta explicação.
            Quando eu recebi pessoalmente uma comunicação, estava particularmente cuidadoso em evitar dar qualquer indicação, passando com constante regularidade sobre as letras. Ainda assim, falou-se corretamente, inicialmente o lugar onde o meu irmão morreu, Pará (Brasil), depois o seu nome cristão, Herbert, e, por fim, a meu pedido, o nome comum que o viu pela última vez, Henry Walter Bates. Nesta ocasião, nosso grupo de seis pessoas visitou a senhora Marshall pela primeira vez, e o meu nome, assim como os dos outros membros, exceto um, eram-lhe desconhecidos. O nome conhecido era o da minha irmã casada, sem qualquer relação com o meu nome.”
            “Em outra ocasião, acompanhei minha irmã e uma senhora (que não havia estado lá anteriormente) à residência da senhora Marshall, e tivemos uma ilustração muito curiosa do absurdo de se imputar o ditado de nomes à hesitação do receptor e à acuidade do médium. Ela desejava que o nome de um conhecido particular falecido fosse soletrado para ela, e apontou as letras do alfabeto na forma usual, enquanto eu escrevia o indicado. As primeiras letras foram YRN. “Oh!”, ela disse, “não faz sentido, devemos começar novamente!” Nem bem o disse e veio um E, e, achando que sabia do que se tratava, eu disse – “Por favor, continue, eu entendo.” A totalidade do ditado ficou assim – YRNEHKCOCFFEJ. A senhora não o viu, até que eu separei assim - YRNEH KCOCFFEJ, ou Henry Jeffcock, o nome do conhecido que ela desejava soletrado precisamente ao contrário.”

            Continuemos agora com o texto da obra “On Miracles and Modern Spiritualism”: 

            “Os fatos tornaram-se cada vez mais certos, cada vez mais variados, cada vez mais afastados de tudo quanto a ciência moderna ensina e de todas as especulações da filosofia dos nossos dias; por fim, os fatos me venceram. Eles me forçaram a aceitá-los como fatos que são, muito antes que eu pudesse aceitar a explicação espiritual sobre eles – neste tempo, não havia em meu cérebro um lugar no qual isso pudesse se acomodar -, mas então, pouco a pouco, devagar, um lugar se fez nele, não por opinião preconcebida ou teórica, mas pela ação  contínua de um fato sobre outro, dos quais ninguém poderia se desembaraçar de maneira diferente.”

            No Templo Metropolitano, localizado na cidade de São Francisco, Estados Unidos, ele fez uma conferência onde citou o seguinte caso de materialização de um Espírito, testemunhada por ele:

            “Naquele dia estavam comigo o pastor Stainton Moses e o conhecido cientista senhor Wegdwood, cunhado de Charles Darwin, quando celebrei minha primeira sessão com Monck.
            Era uma tarde ensolarada de verão e tudo aconteceu em plena luz do dia.  Depois de uma curta conversa, Monck, que estava vestido com seu costumeiro hábito clerical negro, pareceu cair em transe; ficou então de pé, alguns passos à nossa frente, e, depois de uns instantes, apontou para o lado e disse: Olhem!
            Vimos aí uma tênue mancha em seu casaco, no lado esquerdo. A mancha, aos poucos, tornou-se mais brilhante; então pareceu ondular e estender-se para cima e para baixo, em lento movimento de vaivém; até que, gradualmente, tomou a forma de uma coluna de névoa, que ia do ombro de Monck até os pés, estendendo-se junto ao corpo.
            Eu me encontrava a uns dois metros e meio de Monk quando uma forma apareceu. Ele continuava em estado de transe. Poucos minutos mais tarde, brotou da sua roupa uma leve fumaça branca, na região do peito; a densidade da fumaça aumentou; as manchas brancas moveram-se no ar e se expandiram, subindo do solo até a altura de seus ombros. A nuvem branca foi se separando gradualmente do corpo de Monck, o qual, passando a mão entre seu corpo e a nuvem branca, disse de novo: Olhem!
            Aí a nuvem se afastou uns dois metros, condensou-se aos poucos e plasmou a forma de uma mulher toda vestida com roupas brancas e flutuantes. Esse processo de formação sólida da figura amortalhada fora visto por nósem plena luz do dia.
            Em seguida Monck levantou o braço e deu uma leve pancada no móvel. A figura fez o mesmo, ouvindo-se o som de palmas. Finalmente, a forma materializada se aproximou do médium e começou a dissipar-se. Outra vez voltei a observar o movimento da matéria branca. E toda ela regressou ao médium, da mesma maneira que brotara.”

Em uma carta de 1893 a Alfred Erny, Wallace narra outra experiência de materialização testemunhada por ele. Dessa vez, com o médium Eglington, que Wallace descreve como um moço de fisionomia inglesa inconfundível, de pele clara e quase sempre vestido de terno escuro. Através da mediunidade de Eglington, materializava-se o Espírito Abdulah, uma entidade oriental, com cerca de um metro e oitenta de altura, nariz aquilino, olhos negros, barba comprida e fisicamente parecido com um indiano. Usava um largo turbante na cabeça e um traje oriental inteiramente branco. Diz Wallace:
“Sei que o Espírito que toma o nome de Abdulah aparece materializado sem que se possa imaginar que nisso exista fraude. Em certa ocasião, eu o vi em uma casa particular, onde Eglington realizava uma sessão em presença de vinte pessoas. No canto da sala, onde se reuniam os assistentes da sessão, suspenderam uma cortina e Eglington sentou-se atrás dela. Ele não podia se mover dali sem ser visto por todos os assistentes.
Abdulah apareceu. Estava todo trajado de branco, com sandálias e um largo turbante. Adiantou-se para mim até a distância de uns trinta centímetros e pude examiná-lo, pois apenas baixáramos a luz.
Depois, de repente, a forma seguiu e desapareceu por detrás da cortina, a qual encobria Eglington trajado de preto, em estado de letargia, reclinado na poltrona.
Logo que Eglington despertou, resolveu-se que tudo no recinto deveria ser examinado, para sabermos se não teria ali qualquer coisa com que ele pudesse se disfarçar. Essa desconfiança parece não ter agradado muito o médium, porém ele a aceitou.
Eu e dois amigos fomos escolhidos para proceder à tal averiguação. Examinamos primeiro as paredes, o tapete e outras coisas mais no lugar onde se achava Eglington; depois, conduzimo-lo a um dormitório onde ele se despiu completamente. Todas as peças do seu vestuário passaram pelas nossas mãos e foram cuidadosamente examinadas. Não se encontrou absolutamente nada. O turbante, as sandálias e a túnica branca tinham desaparecido.”
“Eglington realizou tantas sessões em condições indiscutíveis, e tão grande era seu poder como médium, que me parece impossível cometer ele a estupidez de empregar barbas postiças e roupas de gaze, as quais logo seriam facilmente descobertas.
Sem dúvida que existem falsos médiuns; mas quem tem a pretensão de desmascarar os verdadeiros médiuns só consegue uma coisa: provar a sua ignorância.”

É muito interessante notar que Wallace, assim como Allan Kardec, também tenha observado a concordância das diversas comunicações dos Espíritos e, pelo que se sabe, ele nunca manteve contato com o Codificador do Espiritismo. São suas as seguintes palavras, extraídas do seu livro “O Aspecto Científico do Sobrenatural”, no capítulo IX (observe-se a semelhança com o que ensina a Doutrina Espírita):

“[...] A hipótese do espiritualismo não apenas considera todos os fatos (e é a única que o faz), mas vai ainda mais longe por sua associação com uma teoria do futuro estado da existência, que é o único que alguém já deu ao mundo em condições de ser confiado ao pensamento filosófico moderno. Há uma concordância geral e um tom de harmonia na quantidade de fatos e comunicações chamadas ‘espirituais’, que têm levado ao crescimento de uma nova literatura e ao estabelecimento de uma nova religião. As principais doutrinas desta religião são que, após a morte, o espírito humano sobrevive em um corpo etéreo, dotado de novas capacidades, mas sendo mental e moralmente o mesmo indivíduo que era quando vestido de carne; que ele inicia, a partir de certo momento, um curso de progressão aparentemente sem fim cuja velocidade está na medida que as suas faculdades mentais e morais são exercitadas e cultivadas enquanto se acha na Terra; que sua alegria ou sua miséria relativas irão depender inteiramente dele mesmo. Apenas na medida que suas faculdades humanas superiores fizeram parte de seus prazeres aqui, ele irá encontrar-se contente e feliz em um estado de existência no qual eles terão o mais completo exercício. Aquele que dependeu mais do corpo que da mente para os seus prazeres irá, quando aquele corpo não existir mais, sentir um desejo angustiante, e necessitará desenvolver vagarosa e dolorosamente sua natureza intelectual e moral até que este exercício se torne fácil e prazeroso. Nem punições nem recompensas são distribuídas por um poder externo, mas a condição de cada um é a sequência natural e inevitável de sua condição aqui. Ele começa novamente do nível do desenvolvimento moral e intelectual que atingiu quando estava na Terra. ”
               
E, em outro trecho do mesmo capítulo, ele cita, como Kardec também o fez nas obras da Codificação Espírita, a grande diferença entre o conteúdo das comunicações e a cultura dos médiuns:   

“[...] Os ensinamentos da senhorita Hardinge concordam em substância com aqueles de todos os demais médiuns desenvolvidos, e eu perguntaria se é provável que estes ensinamentos tenham sido desenvolvidos a partir de dogmas conflituosos de um conjunto de impostores? Nem parece ser uma solução provável a de que eles tenham sido produzidos inconscientemente pelas mentes de homens auto-iludidos e de mulheres frágeis, desde que é palpável a todo leitor que estas doutrinas sejam essencialmente diferentes em cada detalhe daquelas que eles ensinaram e acreditaram a partir de uma das escolas filosóficas modernas ou de qualquer seita de cristãos modernos.
Isto é bem mostrado por suas afirmações opostas à condição da humanidade após a morte. Nos relatos de um estado futuro, obtidos junto aos melhores médiuns, e nas visões das pessoas mortas obtidas por clarividentes, os Espíritos são uniformemente apresentados sob a forma de seres humanos e suas ocupações são análogas às da Terra. Mas na maioria das descrições religiosas do céu eles são representados como seres alados, como descansando cercados por nuvens, e suas ocupações são tocar harpas douradas ou cantar, rezar e adorar perpetuamente diante do trono de Deus. Como é que estas visões e comunicações não são senão uma remodelagem de idéias preexistentes ou preconcebidas por uma imaginação doentia, se as noções populares nunca são reproduzidas? Como é que, se os médiuns, sejam homens, mulheres ou crianças, sejam ignorantes ou instruídos, sejam ingleses, alemães ou americanos, fazem uma única e consistente representação destes seres sobre-humanos, em discordância com a sua noção popular, mas notavelmente de acordo com a moderna doutrina científica da ‘continuidade?’  eu proponho que este pequeno fato é em si um argumento fortemente corroborador de que há alguma verdade objetiva nestas comunicações.”

No seu livro “The World of Life”, Wallace escreveu: “Deve existir um mundo invisível do Espírito, que faz com que ocorram mudanças no mundo da matéria; e a evolução deste planeta deve receber orientações e ajuda de fora, de inteligências superiores e invisíveis, às quais o homem é suscetível como ser espiritual. Além disso, essas inteligências, muito provavelmente, existem em séries graduadas de evolução acima de nós.
           Parece apenas lógico concluir que o infinito seja, até certo ponto, povoado por uma série infinita de seres em diversos graus, cada grau sucessivo com poderes mais e mais superiores quanto à organização, ao desenvolvimento e ao controle do Universo”.


BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

WALLACE, Alfred Russel. O aspecto científico do sobrenatural. Rio de Janeiro: Lachâtre. [2003];

WALLACE, Alfred Russel. On miracles and modern spiritualism. [1875];

WALLACE, Alfred Russel. The World of Life. [1910];

CAMPOS, Pedro de. UFO – Fenômeno de contato: uma visão espírita da Ufologia. São Paulo: Lúmen. [2005].


ENDEREÇO ELETRÔNICO CONSULTADO: