quinta-feira, 1 de outubro de 2009

AS EXPERIÊNCIAS DE QUASE-MORTE






Fábio José Lourenço Bezerra

Um dos fenômenos de maior importância, para provar que nossa consciência independe do cérebro, chama-se Bilocação ou Desdobramento Espiritual.
Ocorre quando o corpo espiritual, ou duplo etérico, afasta-se do corpo físico, ganhando, às vezes, enormes distâncias deste.
Nossa consciência viaja junto com esse nosso ”fantasma”, que consegue, muitas vezes, perceber tudo ao seu redor, seja no plano físico, seja no plano espiritual. Contudo, mantém, com o corpo físico ainda vivo, uma delicada ligação, o chamado “cordão de prata”, espécie de fio fluídico que se distende, indefinidamente, com o deslocamento do corpo espiritual.
O grande teor de prova, dessas ocorrências, surge quando o nosso “fantasma” testemunha eventos, e observa objetos e lugares, impossíveis de serem percebidos pelo corpo físico, e que são lembrados posteriormente, quando do retorno ao estado normal. Dessa forma, foram confirmados muitos detalhes percebidos durante as ocorrências.
Em alguns casos, o espírito desdobrado pôde ser percebido por médiuns videntes presentes no local. Em outros, foi percebido por todos os presentes, médiuns ou não, quando o “fantasma de pessoa viva” adquiriu consistência sólida (materialização).
O fenômeno geralmente é provocado, em algumas pessoas, quando ocorre uma diminuição das forças vitais do organismo, como: sono ordinário, hipnótico, mediúnico, êxtase, desmaio, efeitos narcóticos, coma, doenças, etc.
Respondendo a perguntas, em “O Livros dos Espíritos”, e também em “O Livro dos Médiuns”, os Espíritos Superiores encarregados da codificação do Espiritismo revelaram que o ser humano é constituído por três partes: Espírito, Perispírito e Corpo Físico.
O Espírito é a consciência propriamente dita, fonte da inteligência, dos pensamentos, emoções, enfim, da mente humana.
O Perispírito (termo cunhado por Allan Kardec, que significa Envoltório do Espírito), é o que podemos chamar de Corpo Espiritual. Formado por matéria sutil, ainda não percebida pelos instrumentos de observação desenvolvidos pela nossa atual tecnologia, nem pelos nossos 5 sentidos normais, porém espalhada por todo o espaço universal, em torno dos planetas, ao nosso redor. Os Espíritos chamaram esta matéria de “Fluido Cósmico Universal”.
O Perispírito é o laço que une o Espírito ao Corpo Físico, transmitindo as impressões, os estímulos captados do mundo material pelo Corpo Físico ao Espírito, e também os comandos do Espírito ao Corpo Físico. É a causa de todos os fenômenos mediúnicos, e pode ser moldado com a forma que o Espírito queira, através do pensamento, habilidade esta que desenvolve proporcionalmente à sua evolução espiritual. Em geral, os espíritos apresentam-se com o seu Perispírito na forma do Corpo Físico de sua última encarnação.
O Corpo Físico é o que podemos chamar de o nosso corpo de “carne-e-osso”. Verdadeiro material didático do Espírito, limita suas percepções aos 5 sentidos normais, liberando, contudo, a intuição, permitindo que sejamos sugestionados pelos Espíritos, em nossos pensamentos, de forma secreta. A exceção dessa regra é o médium, que pode (conforme o tipo, ou tipos, de mediunidade que possua) receber várias impressões do plano espiritual. É nesse corpo, frágil e perecível, que aprendemos muitas lições, em nossas várias existências, necessárias à nossa evolução espiritual. É também onde pomos em prática as ideias adquiridas no mundo dos Espíritos, seja durante o sono, seja no intervalo entre as encarnações, intervalo esse chamado de erraticidade.
Os Espíritos também disseram a Kardec, nas obras supracitadas, que quando enfraquecido o corpo, por doenças ou outras causas, afrouxam-se os laços que prendem o Espírito ao corpo, e, assim podem entrar mais facilmente em contato com o mundo espiritual, comunicar-se com os Espíritos desencarnados, e afastar-se do corpo físico.
O fenômeno de desdobramento espiritual é tão antigo quanto a humanidade, e se fez presente em todas as culturas, inclusive entre os povos selvagens. Constam, sobre ele, e sobre o corpo espiritual, vários registros através da história. São exemplos:
Os egípcios distinguiam 3 elementos no homem: 1º, o corpo; 2º, o “Kou” luminoso ou Espírito; 3º, o “Ska”, o duplo, intermediário entre o Espírito e o corpo, dito também “Srit”, sombra, e considerado matéria sutil que cobria e reproduzia o corpo físico;
O duplo etérico é demonstrado por Homero, em Odisséia;
Em A República, de Platão, um soldado, Er, é ferido quase fatalmente em batalha, sendo ressuscitado na cerimônia do funeral. Depois descreve uma viagem da escuridão à luz, sendo acompanhado por guias, passa por um julgamento, sentimentos de paz e alegria, visões de belezas extraordinárias e felicidade absoluta;
Para os Hebreus, conforme a Cabala, a alma é chamada “Nefes”; o corpo espiritual é chamado “Ruach”; e o Espírito, mais refinado, “Neshamâch”. O “Ruach” é o intermediário entre o Espírito e o corpo;
Na Índia Védica, o duplo etérico é chamado de “Mano-Maya-Kosha”;
Na tradição Chinesa, chama-se “Khi”;
Orígenes, um dos pais da Igreja, dizia que as almas, ao saírem de um corpo, se revestem de outro, sutil, com a mesma forma daquele que abandonam;
Santo Afonso de Liguori foi canonizado antes do tempo, por aparecer em dois lugares, distantes um do outro, ao mesmo tempo, o que foi considerado milagre;
Santo Antônio de Pádua pregava na Itália, e, de repente, ao mesmo tempo, apareceu em Lisboa, para salvar o pai da pena de morte, pois o mesmo foi condenado injustamente. Santo Antônio, então, demonstrou sua inocência. Este fato foi testemunhado por várias pessoas na época.
Em “O Livro dos Médiuns”, Kardec pede aos Espíritos explicação para os dois últimos casos acima citados. Os Espíritos responderam que, quando atingiram um elevado nível de evolução espiritual, de completa desmaterialização, o Espírito encarnado pode, quando lhe vem o sono, pedir a Deus para transportar-se a um determinado lugar. O corpo espiritual, então, desloca-se até este lugar, deixando no corpo parte do seu Perispírito. Pode, inclusive, materializar-se no local até onde foi transportado.
O filósofo italiano Ernesto Bozzano possuía em seus arquivos cerca de 150 casos de desdobramento espiritual. Baseado neles, ele escreveu o livro “Fenômenos de bilocação”, onde faz uma análise comparada de vários casos, em suas diversas fases. É deste livro que extraímos o seguinte caso, no qual a autora do relato é a noiva de um tenente do exercito alemão que respirou gás carbônico, tendo começo de asfixia, no ano de 1908: “a pessoa de quem sou noiva era oficial e deixou o serviço militar há pouco tempo. Pouco antes de enviar o seu pedido de demissão, aconteceu-lhe, certa noite, ir para a cama e, alguns momentos após, achar-se de pé no meio do quarto, ocupado a examinar o seu próprio corpo estendido debaixo dos cobertores. Tal situação pareceu bastante fantástica ao tenente, tanto mais que nunca ouvira falar de semelhantes fatos. Com o fim de pôr a prova sua própria mente, pôs-se a andar pelo quarto, observar os móveis e outros objetos, foi a sua secretaria e começou a ler um livro que se achava aberto sobre ela, mas, quando quis virar a página, não o conseguiu, apesar de tentá-lo por diversas vezes. Foi, em seguida, à janela, olhou a rua e observou as chamas tremulas dos bicos de gás. Em suma, pode-se convencer de que percebia todas as coisas de modo normal.
De repente ocorreu-lhe a idéia de que talvez se achasse na condição de um “espírito desencarnado”. Quis, pois, verificar se lhe era possível passar através da parede. Tentou, e imediatamente, se achou na sala vizinha, onde viu um companheiro seu sentado à mesa, ocupado a desenhar. Fez todo o possível para chamar-lhe a atenção: tocou-o, falou-lhe, soprou-lhe no rosto, mas tudo foi inútil porque ele continuou tranqüilo a desenhar, inconsciente da sua presença. Assaltou-o desânimo e voltou para o seu quarto, onde tornou a ver o seu corpo, estendido, inerte no leito.
Pensou, pois, sair ao ar livre e, passando através da porta fechada, dirigiu-se para a estação ferroviária, onde observou a multidão de viajantes e o movimento dos trens. Percebendo, ao longe, um túnel, dirigiu-se para o mesmo, lá penetrou e observou diversos operários que ali trabalhavam. Era um túnel em que jamais havia penetrado e cuja existência ignorava.
Voltando ao quarto, viu o criado abrir a porta, entrar, sondar o ar, precipitar-se para o leito, sacudir vivamente o corpo de seu patrão, assistindo ele a tudo, ao seu lado, em Espírito. Em seguida, o criado apressou-se a abrir a janela do quarto e uma súbita torrente de ar fresco despertou o tenente, que logo lhe perguntou o que havia ocorrido e pelo mesmo soube que o ar estava saturado de gás carbônico e que por um instante fora considerado morto. Então o tenente lhe perguntou como tivera a idéia de ir naquele momento ao seu quarto, e o criado lhe disse que experimentara a necessidade súbita e irresistível de ir imediatamente regular a tiragem da pequena chaminé. O fato é que, se o criado não houvesse acorrido, o oficial estaria morto e o seu espírito não teria podido reintegrar o seu corpo.
No dia seguinte, foi ele ao túnel que visitara como espírito e lá reconheceu todas as coisas que havia visto. Do mesmo modo interrogou o locatário vizinho e soube que ele estivera ocupado, naquela hora, no mesmo desenho que pôde ver.
Tais são os fatos. Pois bem, apesar da natureza deles, meu noivo ainda não acredita na sobrevivência da personalidade consciente depois da morte do corpo”.
Em 1975, o médico americano e palestrante universitário aposentado em filosofia, Raymond Moody Jr., chamou a atenção da comunidade científica com a publicação do seu livro Life After Life (no Brasil, foi publicado com o título Vida Depois da Vida, pela editora Nórdica), baseado no depoimento de 150 sobreviventes da ”quase-morte”.
Ele classificou os casos relatados em 3 categorias:
1) Experiências de pessoas que foram ressuscitadas depois de terem sido julgadas, consideradas ou declaradas mortas pelos seus médicos;
2) Experiências de pessoas que, no decorrer de acidentes ou doenças ou ferimentos graves, estiveram muito próximas da morte física;
3) Experiências de pessoas que, enquanto morriam, contaram-nas a outras pessoas que estavam presentes. Mais tarde, essas outras pessoas relataram ao Dr.Moody o conteúdo das experiências de morte.
O Dr.Moody cunhou o nome de “Experiências de Quase-Morte” para esses casos. Devido à grande semelhança nos vários relatos, o Dr. Moody, em seu livro, construiu o que seria um “caso ideal”, contendo todos os detalhes que, tipicamente, estão presentes nessas experiências, embora nenhuma das experiências apresentem todos esses detalhes, mas alguns ou a maioria deles.
“Um homem está morrendo e, quando chega ao ponto de maior aflição física, ouve seu médico declará-lo morto. Começa a ouvir um ruído desagradável, um zumbido alto ou toque de campainhas, e ao mesmo tempo se sente movendo muito rapidamente através de um túnel longo e escuro. Depois disso, repentinamente se encontra fora do seu corpo físico, mas ainda na vizinhança imediata do ambiente físico, e vê seu próprio corpo a distância, como se fosse um espectador. Assiste às tentativas de ressurreição desse ponto de vista inusitado em um estado de perturbação emocional.
Depois de algum tempo, acalma-se e vai se acostumando à sua estranha condição. Observa que ainda tem um “corpo”, mas um corpo de natureza muito diferente e com capacidades muito diferentes das do corpo físico que deixou para trás. Logo outras coisas começam a acontecer. Outros vêm ao seu encontro e o ajudam. Vê de relance os espíritos de parentes e amigos que já morreram e aparece diante dele um caloroso espírito de uma espécie que nunca encontrou antes – um espírito de luz. Este ser pede-lhe, sem usar palavras, que reexamine sua vida, e o ajuda mostrando uma recapitulação panorâmica e instantânea dos principais acontecimentos de sua vida. Em algum ponto encontra-se chegando perto de uma espécie de barreira ou fronteira, representando aparentemente o limite entre a vida terrena e a vida seguinte. No entanto, descobre que precisa voltar para a Terra, que o momento da sua morte ainda não chegou. A essa altura oferece resistência, pois está agora tomado pelas suas experiências no após-vida e não quer voltar. Está agora inundado de sentimentos de alegria, amor e paz. Apesar dessa atitude, porém, de algum modo se reúne ao seu corpo físico e vive.
Mais tarde tenta contar o acontecido a outras pessoas, mas tem dificuldade em fazê-lo. Em primeiro lugar, não consegue encontrar palavras humanas adequadas para descrever esses episódios não-terrenos. Descobre também que os outros caçoam dele, e então deixa de dizer essas coisas. Ainda assim, a experiência afeta profundamente sua vida, especialmente suas opiniões sobre a morte e as relações dela com a vida”.
O Dr. Mervin Morse, Pediatra americano, observou várias crianças gravemente doentes, internadas em centros médicos e salas de emergência. Constatou que algumas delas relataram experiências com a morte. Os detalhes – separar-se do corpo, ter um flashback com acontecimentos de sua própria vida, sentir-se em paz, a presença de uma luz branca e seres luminososestavam presentes, porém relatados, naturalmente, em linguagem infantil. A faixa etária das crianças foi de 3 a 9 anos.
Uma garotinha de 5 anos relatou: ”eu subi no ar e vi um homem igual a Jesus, porque ele era bonzinho e estava conversando comigo. Eu vi gente morta, vovós e vovôs, e bebês esperando o nascimento. Vi uma luz e um arco-íris que me disse quem eu era e onde eu deveria ir. Jesus me disse que não era minha hora de morrer”.
O Dr. Pin Van Lommel, cardiologista da Holanda, acompanhou 344 sobreviventes de paradas cardíacas de 10 hospitais, durante 2 anos, e 41 deles, correspondendo a 12% do total, haviam relatado uma EQM. Descobriu-se que os pacientes, acompanhados por 8 anos, mudaram bastante. Ficaram mais próximos da família, mais compreensivos com os outros, com menos temor da morte e mais interessados em desenvolver-se espiritualmente. Esta mudança é muitíssimo comum em quem passou por uma EQM, como estudos posteriores confirmariam.
Dos 41 que passaram pela EQM, na pesquisa do Dr. Van Lommel, 24% deles tiveram uma experiência fora do corpo. Conforme o relato da enfermeira, em um desses casos, ela retirou a dentadura de um paciente no momento em que ele sofreu uma parada cardíaca, colocando-a em uma gaveta de um carrinho especial. Os médicos e enfermeiras tinham começado o processo de ressuscitação, que durou 1 hora e meia. Em seguida, o paciente foi transferido para a UTI. Após uma semana, o paciente retornou à mesma enfermaria em que ela tinha trabalhado. Então ele disse: “Oh, essa enfermeira sabe onde está minha dentadura”, aí, ele se dirigiu a ela: “Sim, você estava lá quando eu fui levado ao hospital, e você tirou minha dentadura da boca e a colocou em um carrinho (querendo dizer o carrinho hospitalar). Havia esse monte de garrafas em cima, e uma gaveta que deslizava por baixo, que foi onde você colocou os meus dentes”.
A enfermeira teria relatado:
“Eu fiquei realmente chocada, porque me lembro do acontecido enquanto este homem estava num coma profundo, e em processo de CPR (Ressuscitação Cardio-Pulmonar). Quando perguntei mais tarde, parece que ele tinha se visto deitado na cama e observado de cima como os médicos e as enfermeiras trabalhavam. Ele também foi capaz de descrever corretamente e com detalhes a pequena sala cirúrgica na qual estava sendo ressuscitado, assim como a aparência de todos os presentes... na época... ele tinha estado com muito medo de que nós tivéssemos que parar com a CPR, e de assim morrer. E é verdade que a equipe tinha ficado bastante pessimista a respeito de seu prognóstico, devido à condição muito precária na qual ele fora admitido.”
É bastante comum as pessoas que passaram por EQM relatarem ter visto, do teto, os procedimentos realizados pelos médicos e as enfermeiras, mesmo estando o coração parado durante algum tempo, e estes não raro ficam perplexos com os relatos detalhados que os pacientes lhes fazem.
Outro estudo foi feito pelo pesquisador americano Bruce Greyson. Ele acompanhou 1595 pessoas que deram entrada no hospital com problemas cardíacos, por 30 meses. Dessas pessoas, 110 sofreram uma parada cardíaca, e 10% delas, uma EQM.
Um quarto estudo foi feito por Janet Schwaninger, uma enfermeira cardíaca dos EUA. Neste estudo, 23% dos sobreviventes de ataque cardíaco tiveram uma EQM, e seis meses após, mostraram uma transformação muito positiva em si mesmas.
Após todos estes estudos, a grande maioria dos cientistas passaram a acreditar que, de fato, as EQMs aconteciam. Apareceram, então, 3 tipos de explicações:
a) TEORIAS CEREBRAIS (ALUCINAÇÕES)
Possíveis causas:
- falta de oxigênio;
- excesso de gás carbônico;
- drogas aplicadas no paciente;
- o papel dos receptores químicos do cérebro;
- epilepsia de lóbulo temporário.
b) TEORIAS PSICOLÓGICAS
- Dissociação : retração para proteger o indivíduo de um acontecimento
estressante;
- Forma de aliviar o trauma do nascimento.
Em todas as teorias acima, supõe-se que o indivíduo tenha visto os procedimentos dos médicos e enfermeiras, bem como os detalhes de onde estava, antes ou depois de seu coração e o cérebro pararem, tendo criado fantasias a partir do que lembravam, isto é, tiravam de sua cultura e de sua religião os detalhes de sua experiência.
c) TEORIAS TRANSCENDENTAIS
- Experiência espiritual: a consciência seria independente do cérebro.
O Dr. Sam Parnia, um dos maiores especialistas do mundo no estudo científico da morte, do estado da mente humana, do cérebro e das experiências de quase-morte, hoje divide seu tempo entre os hospitais do Reino Unido e a Cornell University, em Nova York, onde é membro da Unidade de Cuidado Cardiopulmonar. Ele também tem uma posição de honra na Senior Clinical Research Fellow na Universidade de Southampton no Reino Unido, onde dirige o Grupo de Pesquisa da Consciência.
Ele achou supreendente como em diferentes culturas, idades e épocas, pessoas que estiveram bem perto da morte puderam relatar uma quantidade tão grande de experiências tão coesas entre si .
No seu livro what happens when die (no Brasil, com o título: “o que acontece quando morremos “, pela editora Larousse), ele mostra os estudos realizados até o momento sobre EQM. Verificou que vários cientistas (a maioria) procurou dar explicações aos fatos sem antes haver um estudo científico sobre os mesmos. Não foram, até então, monitorados os níveis de oxigênio, gás carbônico, drogas aplicadas nos pacientes, e nem se observou os sinais vitais do paciente (batimentos cardíacos, ondas cerebrais, etc), relacionando-os com o que era relatado pelo paciente depois dos acontecimentos. Apenas cada cientista havia dado uma explicação baseado apenas em sua opção filosófica (em sua maioria, materialista).
A falta de estudos que testassem as hipóteses supracitadas, para o Dr.Parnia, se devem provavelmente às naturais dificuldades que advém de um estudo dessa natureza, e também, em grande parte, ao enorme preconceito ainda existente, na comunidade científica, sobre este tema.
O Dr. Parnia, vislumbrando as implicações que teriam um estudo como esse, que procura desvendar a natureza da consciência (ela dependeria ou não do cérebro?), para a ética, a teologia, a filosofia e para o cuidado médico ( uma vez que aqueles que passaram por uma EQM sofreram transformações bastantes positivas em suas vidas, Isso poderia vislumbrar o tratamento de várias doenças, inclusive a depressão), ele resolveu empreender seu próprio estudo.
O estudo-piloto foi feito no hospital Southampton, na Grã-Bretanha, com 63 pacientes que sofreram parada cardíaca, pelo período de 1 ano, nas unidades de emergência e de cuidados especiais. Ele monitorou os níveis de oxigênio, gás carbônico, sódio, potássio no cérebro, bem como drogas administradas durante a parada cardíaca. Também foram monitorados os batimentos cardíacos e a atividade elétrica do cérebro durante os procedimentos de ressuscitação. Também foram colocadas figuras no teto, que só poderiam ser vistas se o paciente pudesse “flutuar” acima de seu corpo, para testar se eram verdadeiros os relatos deste tipo, ou meras fantasias.
Os resultados do estudo foram os seguintes:
· Os pacientes foram divididos em 2 grupos: aqueles que tiveram uma EQM e os que não tiveram.
· Cerca de 10% dos pacientes tiveram uma EQM. Os níveis de oxigênio, gás carbônico, sódio e potássio, entre os que tiveram e os que não tiveram EQM, só diferiu um pouco em relação ao oxigênio, um pouco maior no grupo que teve EQM. Assim, embora pequeno, o estudo já sugeria que poderiam ser descartadas as hipóteses da falta de oxigênio, e do excesso de gás carbônico, como causadores de EQMs.
A hipótese das drogas administradas também pôde ser descartada.
Também foi testada a hipótese de a religião ter contribuído para a experiência. Conforme o Dr. Parnia, dos que passaram por EQM, todos eram cristãos, com a exceção de um, convertido pagão 10 anos antes. Contudo, não apareceram detalhes específicos do cristianismo nas EQMs, mas sim, seguiam vários dos detalhes descritos pelo Dr. Moody em seu livro.
Não pôde ser testada a hipótese transcendental, uma vez que nenhum paciente relatou que teria flutuado acima do seu corpo.
Uma das pessoas que passaram por EQM no estudo do Dr. Parnia relatou o seguinte:
“Não sei o que aconteceu, mas eu apenas me senti muito tranqüila e numa certa distância no canto da sala vi uma construção – parecia a moldura de uma porta – e meu pai, que morreu muitos anos atrás, estava lá de pé. Fiquei extasiada pelo que estava acontecendo e comecei a caminhar na direção dele. Ele então me olhou, levantou a mão, como para me dizer: pare. Ele me disse que eu tinha de voltar. Senti que, se transpusesse aquela porta, não poderia mais voltar...não me lembro de mais nada da experiência.”
Enquanto estava em andamento o estudo do Dr. Parnia, várias pessoas, que ficaram sabendo de suas pesquisas, entraram em contato com ele, relatando suas próprias experiências. Abaixo, transcrevemos dois relatos:
“Meu filho Andrew, então com três anos e meio, foi internado no hospital com um problema cardíaco... ele teria de fazer uma operação no coração...
Cerca de duas semanas após a cirurgia, ele começou a perguntar quando poderia voltar para visitar aquele lugar lindo com todas aquelas flores e animais. Eu disse: ’iremos ao parque em alguns dias quando você estiver se sentindo melhor’. ‘Não’, ele disse, ‘Não quero ir ao parque, estou falando do lugar ensolarado que eu fui com a moça’. Perguntei: ‘Qual moça?’. Ele respondeu: ‘A moça que voa’. Disse a ele então que não havia entendido e que eu devo ter esquecido onde era esse lugar ensolarado e ele então falou: ‘ Você não me levou lá. A moça veio e me pegou. Ele segurou minha mão e nós voamos... você estava fora quando estavam costurando meu coração... foi legal, a moça cuidou de mim, ela me ama, não fiquei com medo, foi muito bom. Tudo era brilhante e colorido, (mas) eu queria voltar pra ver você outra vez’. Perguntei a ele: ‘Quando você voltou, você estava sonhando, acordado, ou adormecido?’, e ele disse: ‘Estava acordado, mas eu estava lá em cima no teto e, quando olhei pra baixo, eu estava deitado na cama com meus braços encolhidos e os doutores fazendo alguma coisa no meu peito. Tudo era muito brilhante e logo eu voei de volta para baixo...’
Um ano após a operação, estávamos assistindo ao Children’s Hospital e uma criança estava passando por uma cirurgia do coração. Andrew ficou bastante animado e disse: ‘Eu tinha aquela máquina’(uma máquina de circuito de passagem). Eu disse: ‘não acho que você tinha’. Ele falou: ‘Sim, eu tinha, sim’. ‘Mas’, eu disse, ‘ Você estava adormecido quando fez sua operação, então você não teria visto nenhuma máquina’. Ele falou: ’Eu sei que eu estava adormecido, mas eu conseguia ver quando olhava pra baixo’. Eu disse: ‘Se você estava dormindo, como conseguia olhar pra baixo?’ você sabe, eu falei para você, quando eu voei com a moça...’’’.
[Um dia] eu mostrei a ele uma foto de minha mãe (que havia falecido) quando ela tinha minha idade agora, e ele falou: ‘É ela. Essa é a moça’’’.
Outro relato:
“...durante minha operação, fiquei flutuando ao redor da sala de cirurgia. Eu conseguia ver o cirurgião e as enfermeiras trabalhando em meu corpo, embora agora não consiga me lembrar de quantas pessoas havia lá. Eu também consegui ouvir suas conversas... o cirurgião disse que deixaria a ferida aberta para que secasse, porque o apêndice tinha inchado. Ele então me visitou na enfermaria após a operação para explicar o que tinha feito, mas eu já sabia, porque tinha escutado tudo. Ele disse que eu não poderia tê-lo ouvido e sugeriu que talvez uma enfermeira estivesse ao meu lado na cama e tivesse me contado... eu não contei a ele que havia visto a operação ser feita...”
O Dr. Parnia sabe que o estudo-piloto não foi suficiente para responder todas as perguntas. Um novo estudo, liderado por ele e coordenado pela Universidade de Southampton, na Grã-Bretanha, em 25 hospitais na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, começou desde setembro de 2008, e deverá examinar experiências de quase-morte em 1500 pacientes, sobreviventes de ataque cardíaco, durante 3 anos. Os especialistas vão verificar se as pessoas que tiveram suspenso o seu batimento cardíaco ou atividade cerebral podem ter experiências de se ver fora do próprio corpo. O estudo é intitulado Aware (sigla inglesa para "consciência durante ressuscitação").
Para testar a "visão de cima", os pesquisadores vão instalar prateleiras especiais em áreas de atendimento de emergência dos hospitais. Elas deverão conter fotografias que só podem ser vistas de cima.
As pesquisas do Dr. Parnia podem ser acompanhadas pelo site:
www.horizonresearch.org
Em seu livro, que mencionamos acima, ele faz a seguinte declaração:
“Até mais recentemente, eu costumava acreditar que os processos cerebrais levavam à formação da consciência e da mente, embora, como todos os outros cientistas, eu não sabia como. Entretanto, estudar as experiências de quase-morte em sobreviventes de parada cardíaca me fez questionar minhas opiniões, como a falta de mecanismos biológicos plausíveis que informem a causa da consciência em processos cerebrais. Eu agora decidi manter a mente completa e absolutamente aberta e deixar a evidência tomar minha opinião. Afinal, como já mencionado, esta não seria a primeira vez na ciência que um ponto de vista prevalecente foi provado ser errado. Pessoalmente, tive de aceitar que a formação da consciência está longe de ser clara”
Os fenômenos relatados pelas pessoas que passaram pelas experiências de quase morte são bastante familiares ao Espiritismo, e confirmam seus postulados, juntamente com vários outros fenômenos estudados por pesquisadores não Espíritas, como: milhares de casos, ao redor do mundo, de crianças de pouquíssima idade que lembram de suas vidas passadas, estudados pelo médico americano Ian Stevenson e outros; a Transcomunicação Instrumental, quando os Espíritos se comunicam por equipamentos eletrônicos (gravadores de áudio e vídeo, televisores, computador, etc.), estudados por vários pesquisadores ao redor do globo, entre eles brilhantes engenheiros eletrônicos.
A ciência vai, pouco a pouco, confirmando os ensinamentos da Doutrina Espírita, à medida em que os cientistas abrem suas mentes para possibilidades além daquelas proporcionadas pelo paradigma do materialismo radical, este, a cada dia, mais frágil perante os fatos.
Como vimos, no início deste texto, os Espíritos Superiores da codificação já falavam de EQMs há mais de 150 anos atrás. Com certeza, e isso inclusive é uma hipótese formulada pelo Dr. Parnia, todas as pessoas, cujo coração e o cérebro pararam, passaram pelas EQMs, porém apenas uma pequena parcela delas se lembra dos acontecimentos. É uma concessão que a Espiritualidade Superior, com a permissão de Deus, faz a essas pessoas, e também a nós, para nos mostrar que a morte nada mais é do que a passagem para a Vida Maior.

Referências

BOZZANO, Ernesto. Fenômenos de bilocação: desdobramento. São Bernardo do Campo, SP: Correio Fraterno do ABC, 1990. 151 p.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 81. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2001.
______. O Livro dos Médiuns. 62. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1996.
LOMBROSO, Cesar. Hipnotismo e mediunidade. 4. Ed. Brasilia: FEB, 1959.
PARNIA, Sam. O que acontece quando morremos: um estudo sobre a vida após a morte. São Paulo: Larousse, 2008.
MOODY Jr., Raymond.A. Vida depois da vida.11ªEd.Rio de Janeiro: Editora Nórdica, 1986.
ZIMMERMAMM, Zalmino. Perispírito. 3. ed. Campinas,SP: Allan Kardec, 2006.

Sites consultadOs:

Disponível em: www.horizonresearch.org ;. Acesso em: 27 Set. 2009.
Disponível em : http://www.horizonresearchfoundation.com/samparniaaboutpage.html. Acesso em: 27 Set. 2009.