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Fábio José Lourenço Bezerra
No Novo Testamento, em MATEUS, 11:28 a 30, constam as
seguintes palavras de Jesus:
“Vinde a mim, todos vós que estais aflitos
e sobrecarregados, que eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei
comigo que sou brando e humilde de coração e achareis repouso para vossas
almas, pois é suave o meu jugo e leve o meu fardo”.
No Capítulo VI da sua obra “O Evangelho Segundo o
Espiritismo”, Allan Kardec faz o seguinte
comentário sobre essas palavras de Jesus:
“Todos os sofrimentos: misérias, decepções, dores físicas,
perda de seres amados, encontram consolação em a fé no futuro, em a confiança
na justiça de Deus, que o Cristo veio ensinar aos homens. Sobre aquele que, ao
contrário, nada espera após esta vida, ou que simplesmente duvida, as aflições
caem com todo o seu peso e nenhuma esperança lhe atenua o amargor. Foi isso que
levou Jesus a dizer: “Vinde a mim todos vós que estais fatigados, que eu vos
aliviarei.”
Entretanto, faz depender de uma condição a sua
assistência e a felicidade que promete aos aflitos. Essa condição está na lei
por ele ensinada. Seu jugo é a observância dessa lei; mas, esse jugo é leve e a
lei é suave, pois que apenas impõe, como dever, o amor e a caridade.”
Fica bastante evidente essa lei de Jesus na seguinte
passagem (MATEUS, 22: 34 a 40):
“Os fariseus, tendo sabido que Ele
tapara a boca aos saduceus, reuniram-se; e um deles, que era doutor da lei,
para O tentar, propôs-lhe esta questão: “Mestre, qual o mandamento maior da
lei?” Jesus respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda
a tua alma e de todo o teu espírito; este o maior e o primeiro mandamento. E
aqui tendes o segundo, semelhante a esse: amarás o teu próximo, como a ti
mesmo. Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos.”
E também nesta outra (MATEUS, 7:12):
“Fazei aos homens tudo o que queirais
que eles vos façam, pois é nisto que consistem a lei e os profetas”.
Os ensinamentos do mestre Jesus consistem em desenvolvermos em nós o amor ao nosso próximo, a
humildade e o desapego aos bens materiais para alcançarmos o Reino de Deus, isto é, um estado
de consciência que nos coloca em comunhão direta com o Criador. Para transmitir sua mensagem, além das palavras, ele dava o exemplo,
fazendo o bem e vivendo de forma simples. Combateu de forma enérgica os
fariseus, que distorceram a mensagem dos dez mandamentos e dos profetas, adotando rituais e práticas exteriores inúteis e cada vez mais complexas. Afinal, é bem mais fácil realizar um ritual do que modificar-se
interiormente, lutar contra as más tendências da alma.
Segundo JOÃO, 14:15 a 17 e 26, Jesus disse:
“Se me amais, guardai os meus mandamentos; e
eu rogarei a meu Pai e ele vos enviará outro Consolador, a fim de que fique
eternamente convosco: O Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber,
porque o não vê e absolutamente o não conhece. Mas, quanto a vós, conhece-lo-eis,
porque ficará convosco e estará em vós. Porém, o Consolador, que é o Santo Espírito,
que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará
recordar tudo o que vos tenho dito.”
Sobre essa passagem, na mesma obra e
Capítulo acima citados, temos o seguinte comentário de Allan Kardec:
“Jesus promete outro consolador: o Espírito
de Verdade, que o mundo ainda não conhece, por não estar maduro para o
compreender, consolador que o Pai enviará para ensinar todas as coisas e para
relembrar o que o Cristo há dito. Se, portanto, o Espírito de Verdade tinha de
vir mais tarde ensinar todas as coisas, é que o Cristo não dissera tudo; se ele
vem relembrar o que o Cristo disse, é que o que este disse foi esquecido ou mal
compreendido.
O Espiritismo vem, na época predita,
cumprir a promessa do Cristo: preside ao seu advento o espírito de Verdade. Ele
chama os homens à observância da lei; ensina todas as coisas fazendo compreender
o que Jesus só disse por parábolas.
Advertiu o Cristo: “Ouçam os que têm
ouvidos para ouvir.” O Espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos, porquanto
fala sem figuras, nem alegorias; levanta o véu intencionalmente lançado sobre
certos mistérios. Vem, finalmente, trazer a consolação suprema aos deserdados
da Terra e a todos os que sofrem, atribuindo causa justa e fim útil a todas as
dores.
Disse o Cristo: “Bem- aventurados os
aflitos, pois que serão consolados.”
Mas, como há de alguém sentir-se ditoso
por sofrer, se não sabe por que sofre?”
A
boa nova de Jesus, com o passar dos anos, ganhou muitos adeptos ao redor do
mundo. Devido a interesses diversos, o homem distorceu-a adaptando-a a seu
próprio entendimento, ou em benefício próprio, criando teologias, dogmas e
rituais cada vez mais distantes da mensagem original. Daí surgiu a Igreja
Católica. Para preservar a Igreja a todo custo, seus líderes procuraram
aprisionar seus fiéis através do medo, utilizando-se muitas vezes, no passado,
de extrema violência. Quem ousasse contrariar os dogmas estabelecidos, era
considerado herege, o que significava ser torturado e, se não declarasse
arrependimento, seria morto. Dessa forma, muitas formas de cristianismo, não
concordantes com a Igreja e muito mais condizentes com a boa nova do Cristo,
foram eliminadas do planeta. Novamente, a mensagem do bem era eclipsada por
dogmas, rituais e práticas exteriores. Só que, em nossos dias, essas práticas
tornam-se bastante frágeis se examinadas sob a luz da razão, dando margem à
incredulidade.
Na
segunda metade do século XIX a ciência avançava, proporcionando, através da
tecnologia, grandes contribuições à humanidade, como o telégrafo e as máquinas
a vapor. A investigação da natureza passava a ter extrema importância, e grande
era o questionamento aos dogmas das religiões vigentes, que, em muitos
aspectos, punham obstáculo a estas investigações, ao impor uma fé cega,
limitando o pensamento humano. Desejava-se experimentar e compreender para
crer. Por isso, o materialismo científico avançava cada vez mais, e com ele o
pessimismo, afinal, sem um propósito, um plano superior para a vida, nosso
destino estaria à mercê do acaso. E o que restaria da consciência humana, após
a destruição do corpo, se não possuíssemos uma alma imortal? A morte, neste
caso, seria o caminho para o nada, fuga natural para aqueles que passam por
grandes sofrimentos na vida. Para que viver sofrendo se, com a morte, tudo
cessa?
É no contexto supracitado que, como
resposta dos céus, a partir dos Estados Unidos, (tendo sido precedido
pelos fenômenos de Hydesville - Ver o texto “O Início do
Espiritismo Parte 1– Hydesville”, neste blog), passando pela
França, Europa e o resto do mundo, espalhou-se como uma epidemia o fenômeno das “mesas
girantes”, que consistia no movimento de objetos sem apoio visível. O
nome “mesas girantes” veio do fato de os objetos mais utilizados serem
mesas. Estas giravam e moviam-se no ar sem apoio visível nenhum,
respondendo com pancadas no chão às perguntas dos assistentes (inclusive formuladas
mentalmente), através de códigos (por exemplo, recitava-se o alfabeto e uma
pancada soava na hora em que se dizia determinada letra, anotando-a, e depois
recomeçava, até formar palavras) causando espanto em todos.
As inteligências por trás do fenômeno se identificavam
como Espíritos, almas de homens que, um dia, viveram na Terra.
Durante muito tempo as “mesas girantes” foram
o principal divertimento da sociedade européia da época, notadamente a
parisiense. Além dos curiosos, os fenômenos também atraíram a atenção de muitos
estudiosos e cientistas da época, que procuraram investigar o fenômeno.
Um dos investigadores supracitados, residente em Lyon,
França, teve a sua atenção chamada para o fenômeno das “mesas girantes” através
de um amigo, que o chamou para assistir a uma sessão. Era Allan
Kardec, um homem de notável saber, principal discípulo do grande
professor Pestalozzi, tendo publicado várias obras, famosas e muito
utilizadas em sua época, sobre educação.
Inicialmente cético, Procurou verificar os
fenômenos por si mesmo. Depois de atentos e minuciosos exames, durante inúmeras
sessões mediúnicas, verificou que as inteligências não se deixavam influenciar
pelo interlocutor, dando respostas bastante inteligentes, ricas de lógica e conhecimentos. Inclusive,
muitas bem acima da capacidade e conhecimentos dos médiuns.
Kardec fez perguntas para os Espíritos através de
diferentes médiuns, em locais diferentes e distantes entre si.
Após receber as respostas dadas pelos Espíritos,
juntou a elas as respostas dadas a perguntas feitas por pessoas de sua inteira
confiança, realizadas antes mesmo que ele iniciasse suas pesquisas. Ao analisá-las,
observou que uma enorme parte delas convergia, isto é, não se
contradiziam, e eram igualmente inteligentes e ricas em conteúdo intelectual,
muito acima, aliás, da capacidade e conhecimentos dos médiuns e de seus
assistentes. Selecionou então as perguntas cujas respostas não feriam a lógica
e eram coerentes entre si. Allan Kardec, antes cético, chegou finalmente á
conclusão de que as inteligências por trás do fenômeno eram, de fato, aquilo
que alegavam ser: Espíritos desencarnados.
Durante o processo acima, Kardec foi informado que, na sua
atual encarnação, tinha a missão de organizar e divulgar os ensinamentos transmitidos
por um grande grupo de Espíritos iluminados, liderados por aquele que se chamava
O
Espírito de Verdade. Vieram trazer de volta a mensagem de Jesus em sua
verdadeira essência, e várias informações que completam e esclarecem os
ensinamentos do Cristo e o significado de suas parábolas, muitas até então obscuras.
Apresentavam-se naquele momento porque a humanidade já estava madura intelectualmente
para receber a mensagem.
As perguntas, feitas por Kardec aos Espíritos, fazem
parte de "O Livro dos Espíritos". Neste livro, organizado
por Kardec com a supervisão dos Espíritos, constam os princípios fundamentais
do Espiritismo, sendo sua primeira e principal obra. (Ver o texto “O Início do Espiritismo Parte 2
– A Codificação”,
neste blog).
Após isso, Kardec observou que o conteúdo das
comunicações dos Espíritos ia sendo confirmado ao longo do tempo, através de
diferentes médiuns, de centros espíritas sérios, localizados em várias partes
do mundo. Cerca de mil centros (Ver o texto “Os Mortos
Voltam Para Contar?”, neste blog).
O
Espiritismo, sem dúvida, é o Consolador prometido por Jesus.
Vejamos o que Allan Kardec disse a esse respeito em “O Evangelho Segundo o
Espiritismo”, Capítulo VI:
“O Espiritismo mostra
a causa dos sofrimentos nas existências anteriores e na destinação da Terra,
onde o homem expia o seu passado. Mostra o objetivo dos sofrimentos, apontando-os
como crises salutares que produzem a cura e como meio de depuração que garante
a felicidade nas existências futuras. O homem compreende que mereceu sofrer e
acha justo o sofrimento. Sabe que este lhe auxilia o adiantamento e o aceita
sem murmurar, como o obreiro aceita o trabalho que lhe assegurará o salário. O
Espiritismo lhe dá fé inabalável no futuro e a dúvida pungente não mais se lhe
apossa da alma. Dando-lhe a ver do alto as coisas, a importância das
vicissitudes terrenas some-se no vasto e esplêndido horizonte que ele o faz
descortinar, e a perspectiva da felicidade que o espera lhe dá a paciência, a resignação
e a coragem de ir até ao termo do caminho.
Assim, o Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador
prometido: conhecimento das coisas, fazendo que o homem saiba donde vem, para
onde vai e por que está na Terra; atrai para os verdadeiros princípios da lei
de Deus e consola pela fé e pela esperança.”
Ao
pensarmos nos sofrimentos por que passaram, e ainda passam, muitas pessoas, e
partindo do princípio de que o Universo foi criado e é regido por uma
inteligência suprema - Deus -
e que Ele é todo-poderoso e soberanamente
justo e bom, como explicar
que nós, suas criaturas, dotados de inteligência e sensibilidade, por muitas
vezes tenhamos que passar por tanto sofrimento, em numerosos casos sem termos,
aparentemente, nenhuma culpa? E porque uns passam por tanto sofrimento, enquanto
outros quase nada sofrem?
A
resposta para a pergunta acima se apresenta bastante simples: Deus não
permitiria que as suas criaturas sofressem sem que isto tivesse alguma
utilidade para elas, sem algum tipo de compensação futura. Do contrário,
teríamos que supor que, ou Deus não possui total controle de sua criação, não
sendo capaz de, por vezes, impedir o sofrimento dos seus filhos (nesse caso,
não seria todo-poderoso), ou permite, por sadismo, que alguém sofra sem motivo
ou é indiferente a este sofrimento (aí, não poderia ser bom), ou que uns sofram
mais do que os outros (assim, não poderia ser justo).
Conforme
determinadas crenças, a humanidade sofre porque o primeiro homem pecou
(referindo-se a Adão e a Doutrina do pecado original). Então seria justo, por
exemplo, que nosso avô, nosso pai e tios, e até nós, fôssemos presos porque
nosso bisavô cometeu um assassinato antes de ter filhos? Os descendentes
pagando pelo erro de um parente distante? Onde estaria, então, a
responsabilidade individual pelos próprios atos? Também acreditam que Deus
é colérico e vingativo, pois impõe, àqueles que não obedecem aos preceitos
destas crenças, o sofrimento eterno após a morte, sem direito ao arrependimento
enquanto permanecem em um suplício sem fim. Nesse caso, Deus seria bem pior do
que muitos seres humanos que passaram sobre a Terra, como Gandhi, São Francisco
de Assis e Jesus, que pregaram o perdão incondicional das ofensas.
Logicamente,
Deus sabe das nossas fraquezas, da nossa inexperiência como Espíritos. Conhece
nossos mais íntimos pensamentos e tendências. Ele sabe que somos passíveis de
erros, mas também sabe que nós podemos aprender através deles. Nossos erros nos
mostram quem de fato somos, até onde podemos ir – dão-nos o autoconhecimento,
permitindo que saibamos exatamente qual aspecto da nossa personalidade devemos
mudar, para, daí em diante, acertar e sermos cada vez mais e
verdadeiramente felizes.
O
Espiritismo nos esclarece sobre as causas dos nossos sofrimentos. Vejamos o que
diz Allan Kardec em sua obra “O Evangelho Segundo o Espiritismo”,
no Capítulo V, na parte intitulada “CAUSAS ATUAIS DAS AFLIÇÕES”:
“As
vicissitudes da vida são de duas espécies, ou, se assim se quer, têm duas
fontes bem diferentes que importa distinguir: umas têm sua causa na vida
presente, outras fora dela.
Remontando à
fonte dos males terrestres, se reconhecerá que muitos são a conseqüência
natural do caráter e da conduta daqueles que os suportam.
Quantos homens
tombam por suas próprias faltas! Quantos são vítimas de sua imprevidência, de
seu orgulho e de sua ambição!
Quantas pessoas
arruinadas por falta de ordem, de perseverança, por má conduta e por não terem
limitado seus desejos!
Quantas uniões
infelizes porque são de interesse calculado ou de vaidade, com as quais o
coração nada tem!
Quantas
dissensões e querelas funestas se teria podido evitar com mais moderação e
menos suscetibilidade.
Quantos males e
enfermidades são a consequência da intemperança e dos excessos de todos os
gêneros!
Quantos pais
são infelizes com seus filhos, porque não combateram suas más tendências no
princípio! Por fraqueza ou indiferença, deixaram se desenvolver neles os germes
do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade que secam o coração; depois, mais
tarde, recolhendo o que semearam, se espantam e se afligem pela sua falta de
respeito e ingratidão.
Que todos
aqueles que são atingidos no coração pelas vicissitudes e decepções da vida,
interroguem friamente sua consciência; que remontem progressivamente à fonte
dos males que os afligem, e verão se, o mais frequentemente, não podem
dizer: Se eu tivesse, ou não
tivesse, feito tal coisa eu não estaria em tal situação.
A quem, pois,
culpar de todas as suas aflições senão a si mesmo? O homem é, assim, num grande
número de casos, o artífice dos seus próprios infortúnios; mas, ao invés de o
reconhecer, ele acha mais simples, menos humilhante para a sua vaidade, acusar
a sorte, a Providência, a chance desfavorável, sua má estrela, enquanto que sua
má estrela está na sua incúria.
Os males dessa
natureza formam, seguramente, um notável contingente nas vicissitudes da vida;
o homem os evitará quando trabalhar para o seu aprimoramento moral, tanto
quanto para o seu aprimoramento intelectual."
"[...] Mas
Deus quer o progresso de todas as suas criaturas; por isso, ele não deixa
impune nenhum desvio do caminho reto; não há uma só falta, por pequena que
seja, uma só infração à sua lei, que não tenha consequências forçadas e
inevitáveis mais ou menos tristes; de onde se segue que, nas pequenas, como nas
grandes coisas, o homem é sempre punido pelo que pecou. Os sofrimentos que lhe
são a conseqüência, são para ele uma advertência de que errou; eles lhe dão a
experiência fazendo-o sentir a diferença entre o bem e o mal, e a necessidade
de se melhorar para evitar, no futuro, o que lhe foi uma fonte de desgostos;
sem isso, não teria nenhum motivo para se emendar, e confiando na impunidade,
retardaria seu adiantamento e, por conseguinte, sua felicidade futura.
Mas a
experiência, algumas vezes, vem um pouco tarde; quando a vida foi dissipada e
perturbada, as forças desgastadas, e quando o mal não tem mais remédio, então,
o homem se pôe a dizer: Se no início da vida eu soubesse o que sei agora,
quantas faltas teria evitado; se
fosse recomeçar, eu faria tudo de outro modo; mas não há mais tempo! Como o
obreiro preguiçoso, diz: Eu perdi minha jornada, ele também se diz: Eu perdi
minha vida; mas da mesma forma que para o obreiro o Sol se ergue no dia
seguinte e uma nova jornada começa, permitindo-lhe reparar o tempo perdido,
para ele também, depois da noite do túmulo, brilhará o sol de uma nova vida, na
qual poderá aproveitar a experiência do passado e suas boas resoluções para o
futuro."
Na
parte seguinte do mesmo Capítulo, denominada “CAUSAS ANTERIORES DAS
AFLIÇÕES”, ele nos diz:
“Mas,
se há males dos quais o homem é a causa primeira nesta vida, há outros, pelo
menos na aparência, que lhe são completamente estranhos, e que parecem
atingi-lo como por fatalidade. Tal é, por exemplo, a perda de seres queridos e
a de arrimos de família; tais são, ainda, os acidentes que nenhuma providência
poderia impedir; os reveses de fortuna que frustram todas as medidas de
prudência; os flagelos naturais e as enfermidades de nascimento, sobretudo
aquelas que tiram aos infelizes os meios de ganhar sua vida pelo trabalho, como
as deformidades, a idiotia, o cretinismo, etc.
Aqueles
que nascem em semelhantes condições, seguramente, nada fizeram nesta vida para
merecer uma sorte tão triste, sem compensação, que não podiam evitar,
impotentes para mudarem por si mesmos, e que os coloca á mercê da comiseração
pública. Por que, pois, seres tão infelizes, ao passo que ao seu lado, sob o
mesmo teto, na mesma família, outros são favorecidos sob todos os aspectos?
Que
dizer, enfim, dessas crianças que morrem em tenra idade e não conheceram da
vida senão o sofrimento? Problemas que nenhuma filosofia pôde ainda resolver,
anomalias que nenhuma religião pôde justificar, e que seria a negação da
bondade, da justiça e da providência de Deus, na hipótese de ser a alma criada
ao mesmo tempo que o corpo, e sua sorte estar irrevogavelmente fixada após uma
estada de alguns instantes na Terra. Que fizeram, essas almas que acabam de
sair das mãos do Criador, para suportar tantas misérias neste mundo, e merecer,
no futuro, uma recompensa ou uma punição qualquer, quando não puderam fazer nem
o bem nem o mal?
Entretanto,
em virtude do axioma de que todo efeito tem uma causa, essas misérias são
efeitos que devem ter uma causa e, desde que se admita um Deus justo, essa
causa deve ser justa. Ora, a causa precedendo sempre o efeito, uma vez que não
está na vida atual, deve ser anterior a ela, quer dizer, pertencer a uma
existência precedente. Por outro lado, Deus não podendo punir pelo bem que se
fez, nem pelo mal que não se fez, se somos punidos, é porque fizemos o mal; se
não fizemos o mal nesta vida, o fizemos numa outra. É uma alternativa da qual é
impossível escapar, e na qual a lógica diz de que lado está a justiça de Deus.”
“[...]Os
sofrimentos por causas anteriores são, frequentemente, como das faltas atuais,
a conseqüência natural da falta cometida; quer dizer, por uma justiça
distributiva rigorosa, o homem suporta o que fez os outros suportarem; se foi
duro e desumano, ele poderá ser, a seu turno, tratado duramente e com
desumanidade; se foi orgulhoso, poderá nascer em uma condição humilhante; se
foi avarento, egoísta, ou se fez mau uso da sua fortuna, poderá ser privado do
necessário; se foi mau filho, poderá sofrer com os próprios filhos, etc.” (Ver
o texto “Por Que Esquecemos Nossas Vidas Passadas?”, neste
blog).
E
como se processa esse resgate de nossos erros cometidos em existências
anteriores?
Na pergunta
Nº 258 de “O Livro dos Espíritos”, lemos:
“Quando na erraticidade, antes de começar nova vida corporal, tem o Espírito consciência
e previsão do que lhe sucederá no curso da vida terrena?”
Resposta: “Ele
próprio escolhe o gênero de provas por que há de passar e nisso consiste o
seu livre-arbítrio”.
“- Não é Deus, então, quem lhe impõe as tribulações da vida,
como castigo?”
Resposta: “Nada
ocorre sem a permissão de Deus, porquanto foi Deus quem estabeleceu todas as
leis que regem o Universo. Ide agora perguntar por que decretou ele esta lei e
não aquela. Dando ao Espírito a liberdade de escolher, Deus lhe deixa a inteira
responsabilidade de seus atos e das conseqüências que estes tiverem. Nada lhe
estorva o futuro; abertos se lhe acham, assim, o caminho do bem, como o do mal.
Se vier a sucumbir, restar-lhe-á a consolação de que nem tudo se lhe acabou e
que a bondade divina lhe concede a liberdade de recomeçar o que foi mal feito.
Demais, cumpre se distinga o que é obra da vontade de Deus do que é da do
homem. Se um perigo vos ameaça, não fostes vós quem o criou e sim Deus. Vosso,
porém, foi o desejo de a ele vos expordes, por haverdes visto nisso um
meio de progredirdes, e Deus o permitiu”.
Na pergunta
Nº 262, da mesma obra, lemos: “Como pode o Espírito, que, em sua
origem, é simples, ignorante e carecido de experiência, escolher uma existência
com conhecimento de causa e ser responsável por essa escolha?”
Resposta: “Deus lhe
supre o caminho que deve seguir, como fazeis com a criancinha. Deixa-o, porém,
pouco a pouco, à medida que o seu livre-arbítrio se desenvolve, senhor de
proceder à escolha e só então é que muitas vezes lhe acontece extraviar-se,
tomando o mau caminho, por desatender os conselhos dos bons Espíritos. A isso é
que se pode chamar a queda do homem”.
Na pergunta
Nº 264, lemos: “Que é o que dirige o Espírito na escolha das provas
que queira sofrer?”
Resposta: “Ele escolhe, de acordo com a
natureza de suas faltas, as que o levem à expiação destas e a progredir mais
depressa. Uns, portanto, impõem a si mesmos uma vida de misérias e privações,
objetivando suportá-las com coragem; outros preferem experimentar as tentações
da riqueza e do poder, muito mais perigosas, pelos abusos e má aplicação a que
podem dar lugar, pelas paixões inferiores que uma e outros desenvolvem; muitos,
finalmente, se decidem a experimentar suas forças nas lutas que terão de
sustentar em contacto com o vício”.
E na pergunta Nº 266, lemos: “Não parece
natural que se escolham as provas menos dolorosas?”
Resposta: “Pode parecer-vos a vós; ao Espírito, não.
Logo que este se desliga da matéria, cessa toda ilusão e outra passa a ser a
sua maneira de pensar”.
Comentário
de Kardec: “Sob a influência das idéias carnais, o homem, na
Terra, só vê das provas o lado penoso. Tal a razão de lhe parecer natural sejam
escolhidas as que, do seu ponto de vista, podem coexistir com os gozos
materiais. Na vida espiritual, porém, compara esses gozos fugazes e grosseiros
com a inalterável felicidade que lhe é dado entrever e desde logo nenhuma
impressão mais lhe causam os passageiros sofrimentos terrenos. Assim, pois, o
espírito pode escolher prova muito rude e, conseguintemente, uma angustiada
existência, na esperança de alcançar depressa um estado melhor, como o doente
escolhe muitas vezes o remédio mais desagradável para se curar de pronto.
Aquele que intenta ligar seu nome à descoberta de um país desconhecido não
procura trilhar estrada florida. Conhece os perigos a que se arrisca, mas
também sabe que o espera a glória, se lograr bom êxito”.
De
duas, uma: ou o Espírito, quando pouco experiente, e portanto incapaz de
exercer o livre-arbítrio, é conduzido pela espiritualidade para uma encarnação
com as características necessárias à sua evolução, conforme o tipo e o grau de
suas imperfeições, ou o Espírito, já com um determinado grau de experiência, é
orientado, no mundo espiritual, pelos bons Espíritos, acerca das experiências
que lhe são necessárias, cabendo a ele aceitá-las ou não.
As
provas escolhidas, muitas vezes, são bastante dolorosas, contudo, quase nada
são quando comparadas à possibilidade de obtenção da felicidade que gozam os
Espíritos Superiores, daí o motivo da escolha. Além disso, podemos não
sentir enquanto estamos no corpo físico, mas, após a morte, temos nossa
sensibilidade bastante aumentada, e é outro o nosso ponto de vista. Nossas
imperfeições, quando estamos no mundo espiritual, são, para nós, como nódoas,
manchas em nosso Espírito, que repercutem em nosso corpo espiritual de diversas
formas. O sentimento de culpa, advindo de nossos erros, castiga nossa
consciência (muitas vezes de forma bastante violenta), que necessita, para seu
alívio, reparar o erro cometido. Esta reparação é feita, muitas vezes, em
encarnações onde nos comprometemos a fazer o bem, ajudando aqueles a quem
fizemos mal, ou a outras pessoas, ou voltamos para sofrer da mesma forma que
aqueles a quem prejudicamos. Tal mecanismo não possui caráter de castigo, mas
tão somente educativo, para modificar as disposições íntimas do Espírito, que,
sabendo aproveitar as reflexões aí proporcionadas, avança muito na sua evolução
moral. Verificamos, muitas vezes, nas respostas dos Espíritos, acima, as
palavras castigo e punição. Contudo, estas palavras foram empregadas por eles
para adequar seus ensinamentos à época em que foram escritos (meados do século
XIX).
Cabe
a todos nós, Espíritos encarnados, viver a vida com fé em Deus, nos resignando diante
daqueles sofrimentos que não podemos evitar, sem deixarmos, contudo, de fazer
a nossa parte, ao procurar aliviá-los, na medida do possível.
Na
obra “O
Espírito da Verdade”, ditada pelo Espírito
Hilário Silva e psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier, encontramos o caso de
uma pessoa que desistiu de suicidar-se após ler “O Livro dos Espíritos”:
UMA
CARTA PARA O SR. ALLAN KARDEC - Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita,
naquela triste manhã de abril de 1860, estava exausto, acabrunhado.
Fazia frio.
Muito embora a
consolidação da Sociedade Espírita de Paris e a promissora venda de livros,
escasseava o dinheiro para a obra gigantesca que os Espíritos Superiores lhe
haviam colocado nas mãos.
A pressão aumentava...
Missivas sarcásticas
avolumavam-se à mesa.
Quando mais desalentado se
mostrava, chega a paciente esposa, Madame Rivail - a doce Gabi -, a
entregar-lhe certa encomenda, cuidadosamente apresentada.
O professor abriu o
embrulho, encontrando uma carta singela. E leu.
"Sr. Allan Kardec:
Respeitoso abraço.
Com a minha gratidão, remeto-lhe o livro anexo, bem como a sua história, rogando-lhe, antes de tudo, prosseguir em suas tarefas de esclarecimento da Humanidade, pois tenho fortes razões para isso.
Sou encadernador desde a
meninice, trabalhando em grande casa desta capital.
Há cerca de dois anos
casei-me com aquela que se revelou minha companheira ideal. Nossa vida corria
normalmente e tudo era alegria e esperança, quando, no início deste ano, de
modo inesperado, minha Antoinette partiu desta vida, levada por sorrateira
moléstia.
Meu desespero foi
indescritível e julguei-me condenado ao desamparo extremo.
Sem confiança em Deus,
sentindo as necessidades do homem do mundo e vivendo com as dúvidas aflitivas
de nosso século, resolvera seguir o caminho de tantos outros, ante a
fatalidade...
A prova da separação
vencera-me, e eu não passava, agora, de trapo humano.
Faltava ao trabalho e meu
chefe, reto e ríspido, ameaçava-me com a dispensa.
Minhas forças fugiam.
Namorara diversas vezes o
Sena e acabei planeando o suicídio. "Seria fácil, não sei nadar"-
pensava.
Sucediam-se noites de insônia e dias de angústia. Em madrugada fria, quando as preocupações e o desânimo me dominaram mais fortemente, busquei a ponte Marie.
Sucediam-se noites de insônia e dias de angústia. Em madrugada fria, quando as preocupações e o desânimo me dominaram mais fortemente, busquei a ponte Marie.
Olhei em torno,
contemplando a corrente... E, ao fixar a mão direita para atirar-me, toquei um
objeto algo molhado que se deslocou da amurada, caindo-me aos pés.
Surpreendido, distingui um
livro que o orvalho umedecera.
Tomei o volume nas mãos e,
procurando a luz mortiça do poste vizinho, pude ler, logo no frontispício,
entre irritado e curioso:
"Esta obra salvou-me a vida. Leia-a com atenção e tenha bom proveito. - A. Laurent."
Estupefato, li a obra - "O Livro dos Espíritos" - ao qual acrescentei breve mensagem, volume esse que passo às suas mãos abnegadas, autorizando o distinto amigo a fazer dele o que lhe aprouver."
Ainda constava da mensagem
agradecimentos finais, a assinatura, a data e o endereço do remetente.
O Codificador desempacotou, então, um exemplar de "O Livro dos Espíritos" ricamente encadernado, em cuja capa viu as iniciais do seu pseudônimo e na página do frontispício, levemente manchada, leu com emoção não somente a observação a que o missivista se referira, mas também outra, em letra firme:
O Codificador desempacotou, então, um exemplar de "O Livro dos Espíritos" ricamente encadernado, em cuja capa viu as iniciais do seu pseudônimo e na página do frontispício, levemente manchada, leu com emoção não somente a observação a que o missivista se referira, mas também outra, em letra firme:
"Salvou-me também.
Deus abençoe as almas que cooperaram em sua publicação. - Joseph Perrier."
Após a leitura da carta
providencial, o Professor Rivail experimentou nova luz a banhá-lo por dentro...
Aconchegando o livro ao peito, raciocinava, não mais em termos de desânimo ou sofrimento, mas sim na pauta de radiosa esperança.
Aconchegando o livro ao peito, raciocinava, não mais em termos de desânimo ou sofrimento, mas sim na pauta de radiosa esperança.
Era preciso continuar,
desculpar as injúrias, abraçar o sacrifício e desconhecer as pedradas...
Diante de seu espírito turbilhonava o mundo necessitado de renovação e consolo.
Diante de seu espírito turbilhonava o mundo necessitado de renovação e consolo.
Allan Kardec levantou-se
da velha poltrona, abriu a janela à sua frente, contemplando a via pública,
onde passavam operários e mulheres do povo, crianças e velhinhos...
O notável obreiro da
Grande Revelação respirou a longos haustos, e, antes de retomar a caneta para o
serviço costumeiro, levou o lenço aos olhos e limpou uma lágrima..."
BIBLIOGRAFIA
CONSULTADA:
1 KARDEC, Allan. O livro dos Espíritos. FEB. Versão digital por: L. NEILMORIS © 2007;
2 ______________.
O Evangelho segundo o Espiritismo.
FEB. Versão digital por: ERY LOPES © 2007;
3 XAVIER, Francisco Cândido; Hilário Silva
(Espírito). O Espírito da Verdade. FEB.
ENDEREÇO
ELETRÔNICO CONSULTADO:
http://www.institutoandreluiz.org/allan_kardec.html