Fonte da imagem: http://autocuraplenitude.blogspot.com.br/2014/02/ciencia-e-espiritualidade-eqms-efcs.html
Fábio José
Lourenço Bezerra
Uma característica presente em alguns casos de Experiências de
Quase-Morte (EQMs) constitui-se em fortíssima evidência a favor da vida após a
morte. È quando a pessoa que está passando pela experiência vê alguém que
pensava estar viva, mas que, na verdade, estava morta. Afasta-se, assim, a
hipótese de que a visão é fruto de um efeito psicológico provocado pela expectativa.
Abaixo, extraímos parte de um interessantíssimo artigo do Dr. Bruce Greyson, do Departamento de Psiquiatria e Ciências
Neurocomportamentais da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos. Foi
publicado na revista “Anthropology
and Humanism” em Dezembro de 2010. O título do artigo é: “Vendo Pessoas Mortas Cujo Falecimento é Desconhecido: Experiências
“Pico em Darien” .
“Há um tipo de visão de falecidos que não pode
ser atribuída de maneira plausível às expectativas, e que desafia mais
diretamente a hipótese de que as EQMs são alucinações subjetivas, sustentando
mais diretamente a questão da sobrevivência da consciência após a morte.
Algumas pessoas em seu leito de morte vêem, muitas vezes com surpresa, uma
pessoa recentemente falecida, a qual nem ela nem outras pessoas próximas a ela
sabiam estar morta, excluindo desse modo a possibilidade de que esta visão seja
uma alucinação relacionada às suas expectativas.
Estas EQMs passaram a ser chamadas de casos “Pico
em Darien”, depois de um livro com este nome ter sido publicado em 1882 por
Frances Power Cobbe (Murphy 1945:8). Cobbe usou o título de um poema de John
Keats (1994), reproduzido no começo deste artigo. O poema descreve a surpresa
dos espanhóis, que ao escalarem um pico em Darien (que hoje faz parte do
território do Panamá), esperavam ver um continente diante deles, mas deram de
cara com outro oceano. Cobbe apropriou-se da metáfora de Keats sobre a
inesperada visão no pico em Darien para descrever as surpreendentes visões dos
que estão em seu leito de morte, ocultas dos demais.
Nós temos andado na companhia dos nossos irmãos…
através da imensidão deste mundo… e então começamos a subir o terrível Andes
que sempre apareceu diante de nós no fim da jornada… e além dele – a Terra
Desconhecida. Nós vemos o nosso companheiro vagarosamente se aproximando do
alto da montanha, enquanto nossos passos lentos ainda permanecem nas encostas
abaixo. Lá sua visão repousa no que possa haver do mundo desconhecido que vai
além… Será que o nosso precursor no topo da colina… contempla, do seu “Pico em
Darien”, um oceano ainda oculto de nossas vistas? [1877:374-375]
Há três tipos de experiências “Pico em Darien”
que podem variar em seu valor como evidência. O primeiro tipo abrange casos em
que a pessoa morta vista havia morrido algum tempo antes da visão, entretanto
este fato era desconhecido pelo sujeito experienciador até onde pôde ser
verificado. O segundo tipo inclui casos nos quais a pessoa morta vista havia
morrido na hora ou um pouco antes da visão, não sendo possível, dessa forma, que
o sujeito experienciador tivesse conhecimento desta morte. Finalmente o
terceiro tipo consiste de casos nos quais a pessoa morta vista era alguém que o
sujeito experienciador nunca conheceu. Relatos de casos “Pico em Darien” estão
espalhados por toda a literatura e são normalmente mal documentados; mas há um
número suficiente para despertar a nossa atenção e interesse. O que se segue é
uma amostra representativa de alguns dos casos mais ilustrativos desses três
tipos já publicados na literatura.
Casos em que a pessoa falecida vista era considerada
viva pelo sujeito experienciador
Um caso de EQM do século XVII em que o sujeito
experienciador viu um falecido que se acreditava estar vivo foi descrito em um
panfleto pelo Dr. Henry Atherton em 1680. A irmã de 14 anos de Artheton, que
tinha estado doente por um longo período, foi considerada morta. De fato, as
mulheres que cuidavam dela não notaram nenhum sinal de respiração quando
colocaram um espelho em sua boca e nenhuma reação quando colocaram brasas em
seus pés. No entanto, a moça recuperou-se e relatou uma visão de ter visitado o
céu, o que seus parentes descartaram e interpretaram como sendo “sonhos ou
fantasias” (Atherton 1680:2). A garota então insistiu que tinha visto diversas
pessoas que tinham morrido depois que ela tinha perdido sua consciência. Uma
das pessoas que ela citou ainda era considerada como estando viva, entretanto,
subseqüentemente sua família verificou os fatos e confirmou que a garota estava
certa.
Como a estudiosa religiosa Carol Zaleski (1987)
demonstrou em sua comparação das histórias medievais de retorno da morte com as
EQMs contemporâneas, o propósito do narrador no registro de uma experiência
freqüentemente influencia a gama de fenômenos descritos, bem como a
interpretação da experiência. Atherton parece ter publicado a EQM de sua irmã
como um conto moral de advertência, se julgarmos pelo titulo completo do
panfleto dele: A Ressurreição Demonstrada: Ou, A Vida Futura Demonstrada.
Sendo um Estranho, contudo Real Relato do que aconteceu com a Srta. Anna
Atherton: Que esteve Inconsciente por 7 Dias, com seu Discurso ao retornar à
vida, Tal como veio de seu irmão, Dr. Artherton, Médico em Caertmarthen.
Publicado, oportunamente, nesta geração Adúltera, Ateísta e Papista, em que nem
Deus, Cristo, Alma, Céu ou Inferno são lembrados, mas sim Promiscuidade,
Palavrões, Mentiras. E pode servir como um Freio ao Vício, e um Estímulo à
Virtude. (Atherton 1680). Notavelmente, o foco principal de nosso
interesse, a identificação feita pela garota de uma pessoa falecida que não se
sabia previamente estar morta, foi um detalhe periférico não essencial para a
mensagem moralista da autora. É, portanto, improvável que este detalhe tenha
sido fabricado apenas para gerar um impacto alegórico.
Na publicação em que ela cunhou o termo “Pico em
Darien” (1882), Cobbe descreveu uma mulher que, enquanto estava morrendo, de
repente mostrou-se alegremente surpresa e disse estar vendo três de seus irmãos
que haviam morrido há muito tempo. Ela então aparentemente reconheceu um quarto
irmão, que todos acreditavam estar vivendo na Índia. Uma das pessoas presentes
ficou tão chocada pela visão do quarto irmão que “saiu desnorteada do quarto”
(Cobbe 1877:378). Algum tempo depois chegaram cartas anunciando a morte do
irmão na Índia, ocorrida antes de sua irmã moribunda tê-lo reconhecido.
Em outro exemplo do século XIX, o psicólogo
Edmund Gurney e o erudito F.W.H. Myers relataram o caso de dois irmãos, de 3 e
4 anos, que morreram de escarlatina agonizando por vários dias. Harry, o irmão
mais novo, morreu em 02 de novembro e David, o mais velho, morreu a 14 milhas
de distância do irmão em 03 de novembro. A família cercou-se de cuidados para
que David não soubesse da morte de Harry, e eles tinham certeza de que ele nada
sabia. Entretanto, por volta de uma hora antes de morrer, David sentou-se na
cama e apontando disse: “Ali está o Harry me chamando” (Gurney e Myers
1889:459).
Gurney e Myers também descreveram o caso de John
Alkin Ogle que, uma hora antes de morrer, viu seu irmão, que havia morrido 16
anos antes, chamando-o pelo nome. Ogle então gritou surpreso “George Hanley!” –
o nome de um conhecido de um povoado a 40 milhas dali – antes de falecer. Sua
mãe, que visitava ao povoado de Hanley, confirmou depois que Hanley falecera 10
dias antes, um fato que ninguém presente no quarto conhecia. (Gurney e Myers
1889:459-460).
No começo do século XX, o especialista em lógica
e eticista James Hyslop relatou o caso de duas colegas de escola muito amigas
que contraíram difteria. Jennie, 8 anos, morreu em uma quarta-feira, fato que
foi intencionalmente escondido de sua amiga Edith. Ao meio dia de sábado, Edith
selecionou duas fotografias suas para enviar para Jennie, fornecendo evidências
de que ela acreditava que Jennie ainda estava viva. Logo depois ela ficou
inconsciente, mas naquela noite ela acordou e disse ter visto amigos já
falecidos. Logo em seguida, muito surpresa, ela disse ao pai: “Papai, por que
eu vou levar a Jennie comigo?” Ela então estendeu os braços, dizendo “Oh
Jennie, eu estou tão feliz por você estar aqui”, ficou novamente inconsciente e
morreu (Barrett 1926:2-13).
Houve um grande número de casos adicionais
publicados no século XX, embora muitos desses relatórios tenham sido bastante
breves. O filósofo William Barrett relatou o caso de uma mulher que no leito de
morte viu seu falecido pai acenando para ela e disse, com uma expressão
confusa: “Ele está acompanhado da Vida.” A mulher estava se referindo a sua
irmã, cuja doença e morte, três semanas antes, ela desconhecia (Barrett
1926:12-13).
Mais recentemente, a pioneira em Tecnicolor Natalie
Kalmus escreveu um caso em uma revista popular, subseqüentemente reimpresso em
diversos livros, sobre os últimos momentos de sua irmã Eleanor, nos quais ela
começou a chamar pelo nome de pessoas amadas já falecidas que ela estava vendo.
Um pouco antes de morrer, ela também viu uma prima chamada Ruth e perguntou “O
que ela está fazendo aqui?”. Ruth tinha morrido inesperadamente uma semana
antes e Eleanor, devido à sua condição, não foi avisada (Kalmus 1949).
O psiquiatra Ian Stevenson descreveu a visão de
uma idosa em seu leito de morte nos Estados Unidos. Quando os médicos disseram
que ela não teria muito mais tempo de vida, seus netos ficaram ao seu lado na
cama. De repente ela parecia muito mais alerta e a expressão no seu rosto mudou
para grande prazer e alegria. Ela se levantou um pouco e disse: “Oh Will, você
está aí?” e caiu para trás morta. Ninguém chamado Will estava presente e o
único Will que sua família poderia lembrar era um tio-avô que morava na
Inglaterra. Não muito depois, a família dela recebeu a notícia de parentes da
Inglaterra de que o seu irmão Will havia morrido dois dias antes da morte dela.
(Stevenson 1959:22).
Robert Crookall reportou o caso de Horace
Wheatley que, durante um coma, sentiu-se “flutuando em uma atmosfera de paz e
serenidade”, onde ele foi abordado por um funcionário público que ele conhecia
bem. Seu amigo disse: “Bem vindo, Wheatley; terei de vê-lo mais tarde”, e
depois sumiu de vista. Apenas após retornar do coma Wheatley soube de sua
esposa que o amigo havia falecido. (Crookall 1960:21-22).
Os psicólogos Karlis Osis e Erlendur Haraldsson
escreveram sobre um homem que morreu em um hospital em Connecticut, um dia após
a morte de sua irmã em Ohio. Antes de morrer ele mencionou ter visto a irmã no
quarto do hospital, no entanto ele não sabia que ela estava morta (Osis e
Haraldsson 1977:164)
O psicólogo Kenneth Ring relatou o caso de um
homem que quando quase morreu teve uma visão de dois de seus irmãos, um estava
morto há anos, enquanto o outro tinha morrido há apenas dois dias – fato
desconhecido pelo homem. Apenas após se recuperar do seu estado de quase morte
foi que ele soube do recente falecimento do irmão (Ring 1980:208).
Pollster George Gallup menciona o caso de uma
mulher que disse para uma testemunha ao lado de sua cama: “O Bill está ali”,
logo antes de morrer. Bill era o irmão dela, que ela não sabia que havia
morrido uma semana antes (Gallup e Proctor 1982:14)..
As enfermeiras de um asilo Maggie Callanan e
Patricia Kelley escreveram sobre uma mulher chinesa de 93 anos que estava
morrendo de câncer e tinha visões recorrentes do marido morto, chamando-a para
se juntar a ele. Um dia, perplexa, ela viu que o marido estava acompanhado da
irmã dela, ambos chamando-a para se juntar a eles. Ela disse às enfermeiras que
a irmã estava viva na China e que ela não a via há muitos anos. Quando as
enfermeiras relataram esta conversa à filha da mulher, a filha afirmou que de
fato a irmã morrera dois dias antes, vítima do mesmo tipo de câncer, mas que a
família decidiu não contar à paciente para evitar entristecê-la ou assustá-la.
Quando a filha contou à paciente sobre a doença e morte de sua irmã, ela
relaxou, o quebra-cabeça havia sido resolvido, e morreu em paz logo depois
(Callanan e Kelley 1999:93-94).
Callanan e Kelley também relataram o caso de dois
amigos de infância que morreram mais ou menos no mesmo horário, separados por
centenas de milhas. Steve, que vivia em Boston, costumava passar todos os
verões na casa de praia da família em Cape Cod, vizinha à casa do amigo Ralph,
cuja família vinha todos os verões de Ohio. Após a faculdade, os verões que
passavam juntos em Cape Cod e a amizade próxima acabaram e eles raramente se
viam e, a não ser por cartões de natal, não se correspondiam. Aos 27 anos um
acidente automobilístico deixou Steve paralisado do pescoço para baixo. Incapaz
de cuidar dele em casa, sua família o colocou em uma casa de saúde, onde
eventualmente ele sucumbiu a uma pneumonia. Semanas mais tarde chegou uma carta
da viúva de Ralph dizendo que ele tinha morrido recentemente de câncer. Ralph
não sabia da paralisia ou morte de Steve, mas nas últimas semanas antes de
morrer, Ralph começou a ter visões. Logo antes de morrer, e logo após Steve ter
morrido, Ralph disse entusiasmado: “Oh, veja! Lá vem o Steve! Ele veio para me
levar para nadar” (Callanan e Kelley).
Mais recentemente, a enfermeira de cuidados
intensivos Penny Sartori relatou a visão de um de seus pacientes
hospitalizados, cuja condição era tão grave que a família foi chamada ao
hospital às 3h da manhã para dizer adeus. Em algum momento ele sorriu e
aparentava conversar com alguém que ninguém podia ver. Ele então disse a sua
família que a mãe, avó e irmã, já falecidas, o tinham visitado. Sua irmã havia
morrido na semana anterior, mas a família tinha decidido não contar a ele, por
medo de que isso atrapalhasse sua recuperação. Ele morreu alguns dias depois
(Sartori 2008:300).
Casos nos quais a pessoa vista morreu um pouco
antes da visão
Por mais sugestivos que os casos acima sejam, o
lapso de tempo entre a morte da pessoa vista e a visão do sujeito
experienciador permite especulações de que este sabia inconscientemente da
morte ocorrida. Esta especulação é menos plausível quando a morte da pessoa
vista coincide ou acontece um pouco antes da visão.
Um dos primeiros casos de um sujeito
experienciador de quase morte vendo uma pessoa recém falecida que se acreditava
estar viva foi publicado por Plínio, o Velho, no Livro 7 da sua História Natural
(1942 [77 A.C.]). O ocorrido envolve dois irmãos romanos ambos chamados
Corfidius. Quando o irmão mais velho pareceu ter morrido e parado de respirar,
o testamento dele foi lido, nomeando o irmão mais novo como herdeiro. O irmão
mais novo contratou um agente funerário para organizar o funeral. O
aparentemente morto Corfidius mais velho, entretanto, surpreendeu o agente
funerário batendo palmas em um típico sinal de se chamar servos. Ele então
acordou e anunciou que tinha acabado de chegar da casa do irmão mais novo. Ele
disse que o irmão mais novo pediu que os arranjos que ele tinha feito para o
agora revivido irmão fossem usados para ele, confiou o cuidado de sua filha ao
irmão mais velho e mostrou onde ele secretamente enterrou o ouro que tinha. Enquanto
o Corfidius mais velho estava relatando o ocorrido em sua EQM, os serventes do
seu irmão mais novo traziam a notícia de que seu mestre tinha acabado de morrer
inesperadamente; e o ouro enterrado, que ninguém mais sabia, foi encontrado no
lugar indicado pelo irmão mais velho. (Plínio 1942[77 A.C.]:624-625).
Alguns casos detalhados foram publicados no
século XIX nos Proceedings of the Society for Psychical Research. Eleanor
Sidgwick escreveu sobre uma fidalga inglesa, que estava procurando alguém para
cantar com algumas crianças visitantes. Ela contratou Julia X, a filha de um
comerciante local, que estava treinando como cantora para passar uma semana com
eles. Quando retornou, Julia X disse ao seu pai que nunca tinha tido uma semana
tão feliz. Um pouco depois Julia X casou e se mudou.
Seis ou sete anos mais tarde, a fidalga que havia
contratado Julia X estava morrendo e falava sobre algumas questões de negócios,
aparentando estar “perfeitamente calma e de posse completa dos seus sentidos”.
De repente ela mudou de assunto e disse: “Vocês estão ouvindo estas vozes
cantando?”. Ninguém presente ouvia e ela concluiu: “[As vozes são] os anjos
saudando-me no céu; mas que estranho, há uma voz entre eles que eu tenho
certeza que conheço, mas não consigo me lembrar de quem é”. Então ela parou e,
apontando, disse: “Por que ela está no canto da sala; é a Julia X”. Nenhuma das
pessoas presentes teve a visão e no dia seguinte, em 13 de fevereiro de 1874, a
mulher morreu. No dia 14 de fevereiro a morte de Julia X foi anunciada no
jornal Times. O pai dela disse mais tarde que “no dia em que morreu ela
começou a cantar pela manhã, e cantou e cantou até morrer”. (Sidgwick
1885:92-93).
Alice Johnson relatou um caso no qual a Sra.
Hick, em seu leito de morte na Inglaterra, teve uma visão de seu filho ausente
Edie, que estava morrendo na mesma hora na Austrália. Alguns dias antes de
morrer, ela olhou seriamente para a porta do quarto e disse para sua
enfermeira, marido e filhas: “Tem alguém lá fora, deixe-o entrar”. Sua filha assegurou
a ela que não havia ninguém lá fora e abriu bem a porta. Após uma pausa a Sra.
Hicks disse: “Pobre Eddie; oh, ele parece estar muito doente; ele sofreu uma
queda”. Sua família afirmou a ela que a última notícia que tinham dele é que
ele estava muito bem, mas ela continuava dizendo de tempos em tempos: “Pobre
Eddie!”. Algum tempo depois de ela morrer, o marido recebeu uma carta da
Austrália informando a morte do filho. Ele havia ficado febril repentinamente
no dia da visão de sua mãe e foi achado morto, tendo caído do seu cavalo por
volta do horário da visão de sua mãe. (Johnson 1899:290).
Diversos casos ricos em detalhes foram publicados
em livros do século XX. John Myers relatou um caso de uma mulher que durante
uma EQM, percebeu-se deixando o corpo, viu o quarto do hospital e viu o marido
perturbado e médicos sacudindo sua cabeça. Ela disse ter ido ao céu e visto um
anjo e um jovem conhecido. Ela exclamou: “Por que, Tom, eu não sabia que você
estava aqui em cima?”, Tom respondeu dizendo que tinha acabado de chegar. Então
o anjo disse à mulher que ela deveria retornar à Terra e ela logo se viu de
volta à cama do hospital com os médicos olhando para ela. Mais tarde, naquela
noite, o marido dela recebeu um telefonema informando que o seu amigo Tom tinha
morrido em um acidente de carro (Myers 1968: 55-56).
Mais recentemente a psiquiatra Elisabeth
Kübler-Ross descreveu uma mulher indígena que foi atropelada em uma rodovia por
um motorista que fugiu e, antes de morrer, ela foi confortada por um estranho
que parou o carro para ajudá-la. Quando ele perguntou a ela se havia alguma
coisa que ele pudesse fazer por ela, ela disse: “Se você passar perto da
reserva indígena, por favor diga a minha mãe que eu estava bem. Não apenas bem,
mas muito feliz porque já estou com o meu pai”. A mulher morreu alguns minutos
depois, antes da ambulância chegar. O estranho ficou tão tocado com o ocorrido
que dirigiu para bem longe do seu caminho, em direção à reserva indígena, onde
a mãe da vítima disse que o marido tinha morrido de infarto a 700 milhas dali,
apenas uma hora antes do acidente de carro ter acontecido (Kübler-Ross
1983:208-209)
Kubler-Ross também descreveu o caso de uma mãe e
dois filhos pequenos que sofreram um acidente automobilístico. Kübler-Ross
estava atendendo um dos filhos e estava ciente de que a mãe dele tinha morrido
na cena do acidente. Peter, o irmão dele, não tinha morrido, mas tinha sido
levado para uma unidade especializada em queimaduras em outro hospital, porque
o carro pegou fogo antes de ele ser retirado dos destroços. O paciente de
Kübler-Ross disse a ela: “Agora está tudo bem. Mamãe e Peter já estão esperando
por mim”. Depois sorrindo ele entrou em coma e morreu. Kübler-Ross resolveu
checar as condições do irmão na unidade de queimados, mas ao passar pelo posto
de enfermagem ela recebeu um telefonema do outro hospital informando que Peter
havia morrido alguns minutos antes (Kübler-Ross 1983:210).
O psiquiatra Raymond Moody descreveu uma EQM de
um homem que estava à beira da morte com problemas cardíacos no mesmo momento
em que sua irmã também estava quase morrendo em outra parte do hospital em um
coma diabético. O homem relatou ter deixado o seu corpo e observado os médicos
trabalharem no canto da sala. De repente, ele disse, encontrou-se conversando
com sua irmã, que estava lá com ele. Quando ela começou a se afastar, ele
tentou ir com ela, mas ela disse: “Você não pode ir comigo porque não é a sua
hora”. Então ela se distanciou, entrando em um túnel, até sumir de vista.
Quando ele acordou disse aos médicos que sua irmã havia morrido, mas eles
asseguraram que ela não morrera. Devido a sua insistência uma enfermeira checou
e, de fato, ela tinha acabado de morrer (Moody e Perry 1988:136).
Callanan e Kelley descrevem o caso de Peggy, uma
jovem paciente de um abrigo para doentes terminais, morrendo de linfoma. Um
dia, na visita das enfermeiras, ela parecia muito mais animada, radiante e
ativa do que o normal. Ela disse que no dia anterior ela dormia e acordava,
relembrando o tempo feliz em sua infância quando ela e o irmão foram acolhidos
por uma tia querida. Ela acordou assustada quando sentiu o toque afetuoso e
cuidadoso de uma mão em seu ombro e olhando em volta viu a tia, que vivia em
outro estado, sorrindo e lhe fazendo carinho. Ela sentiu a presença da tia
várias vezes ao longo do dia, mais tarde o tio dela ligou dizendo que a tia
tinha morrido na mesma hora em que ela sentiu sua presença pela primeira vez
(Callanan e Kelley 1993:94-95).
O médico K. M. Dale relatou o caso de Eddie
Cuomo, de 9 anos, cuja febre finalmente baixou após quase 36 horas de ansiosa
vigília por parte de seus pais e da equipe do hospital. Tão logo ele abriu os
olhos, às 3h da manhã, Eddie apressadamente disse aos pais que ele esteve no
céu, onde viu o avô Cuomo, a tia Rosa e o tio Lorenzo. Seu pai estava
constrangido por saber que o Dr. Dale estava ouvindo a história de Eddie e
tentou desmentir a história dizendo que se tratava de um delírio de febre.
Depois Eddie disse também ter visto sua irmã de 19 anos, Teresa, que disse que ele
tinha de voltar. Seu pai ficou então agitado, porque ele conversara com Teresa,
que estava fazendo faculdade em Vermont, duas noites antes; então ele pediu ao
Dr. Dale para sedar Eddie. Mais tarde, naquela manhã, quando os pais de Eddie
telefonaram para a faculdade, ficaram sabendo que Teresa morrera em um acidente
automobilístico, logo após a meia noite, e os funcionários da faculdade
tentaram sem sucesso contatá-los em sua casa para informar sobre a tragédia.
(Steiger e Steiger 1995:42-46.
Casos nos quais a pessoa falecida vista era
conhecida de quem a viu
Há poucos casos publicados do terceiro caso de
visões “Pico em Darien”, nos quais o sujeito experienciador vê uma pessoa
falecida que ele conhece, devido ao fato de que a natureza desconhecida da
pessoa falecida geralmente torna difícil a verificação. Em alguns casos o
sujeito experienciador da quase morte irá encontrar uma pessoa desconhecida que
mais tarde ele reconhecerá quando mostradas fotografias de membros mortos da
família. O valor evidencial destes casos é diminuído porque a verificação
baseia-se no próprio testemunho do sujeito experienciador de que o visitante
falecido desconhecido corresponde a alguém na fotografia. Há, contudo,
impressionantes exemplos deste tipo de casos nas últimas décadas.
O cardiologista Maurice Rawlings descreveu o caso
de um homem de 48 anos que teve uma parada cardíaca. Durante uma EQM ele viu um
desfiladeiro cheio de cores bonitas, vegetação exuberante e luzes, onde ele se
encontrou com a madrasta e com a mãe biológica, que morrera quando ele tinha
apenas 15 meses de idade. O pai dele havia se casado novamente logo após a
morte da mãe e o experenciador nunca tinha visto uma foto dela. Algumas semanas
depois deste episódio, seu tio, tendo ouvido falar da visão, o visitou e trouxe
fotos da mãe dele posando com várias outras pessoas. O homem não teve
dificuldade em indicar a mãe na foto do grupo, para o espanto do pai. (Rawlings
1978:17-22).
Kübler-Ross escreveu sobre uma garota que, após
quase morrer durante uma cirurgia no coração, disse ter conhecido o irmão, que
lhe parecia familiar, mesmo sabendo que ela nunca tinha tido um irmão. Seu pai,
muito comovido pelo testemunho, disse a ela que, de fato, ela tinha um irmão
que morrera antes de ela nascer (Kübler-Ross 1983:208)
O pediatra Melvin Morse descreveu o caso de um
garoto de sete anos morrendo de leucemia, que disse a sua mãe que ele viajou
através de um feixe de luz, visitou um “castelo de cristal” e conversou com
Deus. O garoto disse que um homem se aproximou dele e se apresentou como um
velho namorado da mãe do garoto, na época do ginásio. O homem disse que ficou
aleijado após um acidente automobilístico, mas no castelo de cristal ele voltou
a andar. A mãe do garoto nunca tinha falado sobre este antigo namorado com o
filho, mas após escutar sobre a visão do filho, ela ligou para alguns amigos e
confirmou que o ex-namorado morreu no mesmo dia da visão do filho (Morse e
Perry 1990:53).
O cardiologista Pim van Lommel relata a extensiva
EQM de um homem holandês que, após uma parada cardíaca, viu a avó falecida e um
homem que olhava para ele com ternura, o qual ele não reconhecia. Mais de uma
década depois de sua EQM, sua mãe, no leito de morte, confessou que ele tinha
nascido de um relacionamento extraconjugal e que o marido dela não era o pai
biológico dele. O pai biológico era, de fato, um judeu que tinha sido deportado
e assassinado durante a Segunda Guerra Mundial. Ela mostrou ao filho uma
fotografia do seu pai biológico, a quem ele reconheceu imediatamente como o
homem que ele tinha visto em sua EQM uma década antes (van Lommel 2004:122)
Conclusão
A comum crença humana de que alguma parte de
nossa personalidade possa sobreviver à morte do corpo se deve a algo que vai
além do desejo e da negação. Está também intimamente ligada a experiências
comuns que oferecem evidências da sobrevivência da consciência após a morte.
Embora estes fenômenos tenham sido relatados por séculos, eles se tornaram mais
correntes quando a tecnologia biomédica nos permitiu salvar pessoas que estavam
à beira da morte e, de fato, atenuou o limite entre a vida e a morte.
Os avanços médicos tecnológicos e a aceitação
social nas décadas recentes ajudaram a aumentar o número de experiências de
quase morte relatadas, que freqüentemente incluem alguns aspectos que sugerem a
persistência da consciência após a morte do corpo. Estes aspectos incluem a
melhora na função cognitiva durante demonstrável disfunção cerebral, percepções
precisas de uma perspectiva fora do corpo físico e aparente encontros com
espíritos de falecidos que freqüentemente aparecem para receberem o sujeito
experienciador na vida após a morte ou enviá-lo de volta à vida. Embora algumas
destas visões possam ser atribuídas a desejos e expectativas, esta explicação
não pode ser aplicada aos casos “Pico em Darien”, nos quais não se sabia que a
pessoa que foi vista pelo experienciador estava morta.
Ao relatar um caso, Stevenson observou algumas
dificuldades em suas investigações. Embora diversas testemunhas ouçam a pessoa
moribunda relatar a visão, elas raramente fazem algum registro escrito do
ocorrido antes de obter confirmações de que a pessoa vista tenha de fato
morrido. Este lapso permite a explicação de que toda a história talvez seja uma
falsificação retrospectiva da memória. O próprio Stevenson não acredita que
todos os casos “Pico em Darien” sejam plausíveis, mas concorda que a
dificuldade em obter testemunhos confiáveis desestimula muitos pesquisadores a
investirem extraordinário esforço, tempo e paciência necessários para filtrar
cuidadosamente as evidências (Stevenson 1959:22).
Apesar destas dificuldades, Barret conclui que os
tipos de visão no leito de morte nos quais os sujeitos experienciadores
“parecem ver e reconhecer alguns dos seus parentes, que não sabiam que estavam mortos,
oferecem talvez um dos mais fortes argumentos a favor da sobrevivência” (Barret
1926:10). Tais casos não podem ser facilmente explicados como alucinações
baseadas em expectativas; na verdade o sujeito experienciador frequentemente se
mostra muito surpreso e algumas vezes confuso ao ver alguém que acreditava
estar vivo. Em alguns desses casos o aspecto da visão sugere uma forte
motivação por parte do indivíduo falecido em passar uma mensagem. Dessa forma,
estes casos “Pico em Darien” fornecem algumas das evidências mais persuasivas
para a realidade ontológica dos espíritos falecidos. Os recentes avanços
médicos e sociais nos cuidados de pacientes que estão no fim da vida oferecem
oportunidades favoráveis para mais investigações destes casos.”
BIBLIOGRAFIA
CONSULTADA
GREYSON,
Bruce. Seeing dead people not known to have
died: “Peak in Darien” Experiences.
Anthropology and Humanism,
35: 159–171. [2010]
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