sábado, 1 de novembro de 2008

EXISTE VIDA APÓS A MORTE ?



Fábio José Lourenço Bezerra

Qual o destino da alma após a morte? Será que ela desaparece com a destruição do cérebro, sendo apenas um produto deste? Ou ela sobrevive? Se sobrevive, será que conserva a sua individualidade, sua capacidade de raciocinar, de se emocionar, de lembrar? Nesse caso, como ela percebe o universo ao seu redor? Será que o período em que permanece ligada ao corpo, suas idéias e ações enquanto em vida, tem alguma influência no estado pós-morte? Se tem, qual? Podemos um dia voltar a nos revestir de um corpo físico?
As perguntas acima, não raro, são consideradas de pouca importância, tão ocupados que estamos com o trabalho, a formação profissional, acadêmica, o consumismo desenfreado, enfim, a vida moderna. Cada vez mais acelerada, ela nos arrasta para uma visão hedonista, imediatista, do mundo. O presente e o futuro próximo é que interessa. O lema vigente é ser feliz aqui e agora.
Contudo, esquecemos que a morte é algo que todos, sem exceção, teremos que encarar frente a frente, mais cedo ou mais tarde, seja a nossa própria morte, seja a de nossos entes queridos.
É necessário conhecer o que brevemente será nosso destino para todo o sempre, assim como alguém que, tendo que se mudar definitivamente para um país distante, precisa saber como é aquele local, seus habitantes, costumes, perspectiva de emprego, clima, etc.
A existência ou não de vida após a morte nos leva a uma importante conclusão a respeito de Deus. Ora, se nós deixamos de existir após a morte, então Ele cria vários seres para viverem uma existência cheia de sofrimento, com a saúde comprometida, às vezes por toda a vida, a outros não é dado tempo para adquirir maturidade, e outros possuem plenas condições de desfrutarem dos prazeres terrenos, para, em um breve tempo, jogá-los no nada. E as amizades, as pessoas que se amam, todas, sem exceção, deixariam de existir. De nada valeria tudo o que se aprende ao longo da vida.
Dificilmente poderíamos ver nesse Deus soberana justiça e bondade. Portanto, se admitirmos que Deus é onisciente, onipresente, todo-poderoso, soberanamente justo e bom, devemos igualmente admitir que existe vida após a morte.
As religiões, de um modo geral, são espiritualistas, como, por exemplo, as religiões católica e protestante, que acreditam que a alma, após a morte, irá para o céu ou para o inferno, sendo que a igreja católica ainda acredita no purgatório. O budismo e o hinduísmo acreditam em reencarnação, etc. Podemos, dessa forma, dizer que as religiões em geral acreditam na vida após a morte. Podemos chegar a outra conclusão, se pensarmos na hipótese de nossa consciência não sobreviver após a destruição do corpo físico: o estímulo ao egoísmo, o apego aos bens materiais e o desespero diante dos grandes sofrimentos da vida.
Ora, se o homem tem a certeza de só possuir esta vida, e de que a qualquer momento ele pode perdê-la, deixando assim de existir, esta idéia o fará pensar que o universo é governado pelo caos, sendo a lei do mais forte a diretriz verdadeira da vida. O estimulará a se importar apenas com o aqui e o agora.
Será estimulado a gozar dos prazeres transitórios da vida mais e mais, sendo ganhar dinheiro e ser belo as prioridades máximas, sendo todos os excessos permitidos. Para que ser moderado, equilibrado, se a qualquer momento deixará de existir? O orgulho, a vaidade e a inveja encontrarão aí campo mais do que fértil. Imagine a tortura moral de alguém, quando pobre e sem boa aparência, diante dessas idéias?
Tendo a certeza de que não existe justiça pós-morte, e, portanto, não devendo sofrer nenhuma conseqüência pelos seus atos contra o semelhante, e achando ser o bem nada mais do que desperdício de tempo e recursos, necessários para o seu prazer e bem-estar pessoal, será que aquele, inclinado ao mal, terá estímulo de modificar-se?
Levar vantagem em tudo será natural, pois não verá na ética, no bem e na generosidade mais do que convenções humanas, invenções de pessoas fracas, sem utilidade prática para ele. Afinal, para que se importar com a sociedade, contanto que ele e aqueles de quem ele gosta se dêem bem?
Alguém pode até ser inclinado para o bem, mas sempre haverá conflito entre a razão e a emoção. Sua natureza boa dirá para fazer o bem, mas ao mesmo tempo achará que é algo ilógico, até prejudicial para si próprio.
Para os orgulhosos e os que se enchem de ira com facilidade, a vingança será a reação mais óbvia para as ofensas e para quem lhe prejudicou, afinal, não haverá razão para refrear seus instintos. Seu amor próprio deve prevalecer. Ser desmoralizado diante das pessoas e de si próprio? Nunca.
Se sofre muito, por uma doença muito dolorosa e incurável, ou se fica paraplégico, tetraplégico, ou se perdeu para a morte, para sempre, uma pessoa muito querida, como um filho jovem, a esposa amada, ou se entrou em falência, etc., a solução natural será o suicídio. Afinal, para que viver sofrendo? Se não há esperança de cura, ou não pode gozar dos prazeres desta vida, ou se jamais reencontrará aquela pessoa que trazia tanta felicidade? É preferível o nada a uma existência cheia de sofrimento.
Realmente, se pararmos para pensar, veremos que a hipótese de só termos esta vida, e nada mais, tem algo de muito angustiante. O vazio existencial é imenso. Sermos limitados a meras máquinas biológicas, frágeis, perecíveis e sensíveis. Seria uma poderosa razão para procurarmos provas, até mesmo evidências, da vida após a morte.
Claro que nos iludir não seria a melhor solução, pois, por mais que nos cercássemos de fantasias de vida após a morte, nossa consciência não nos deixaria em paz diante de evidências contrárias. Cabe-nos encontrar provas sólidas, ou nos conformarmos de que um dia teremos o nada, a não existência, como herança.
A ciência “oficial” ainda não deu a merecida importância ao problema, devido ao fato de boa parte dos cientistas professarem a crença materialista (aquela que acredita no poderoso “ Deus Acaso”, isto é, crê que todas as coisas no universo, no mundo, que não são obra do homem, foram criadas acidentalmente, fruto unicamente das combinações, ao acaso, da matéria e das forças físicas, ao longo do tempo). Porém, não submeteram a questão às devidas experimentações e pesquisas - que devem ser isentas de qualquer ponto de vista preconcebido – limitando-se apenas a negar sem antes examinar.
Contudo, desde o século 19 até nossos dias, homens de ciência competentes, respeitados pelas suas várias contribuições à ciência, pesquisam independentemente os fenômenos espíritas (materializações de espíritos, psicografia, transcomunicação, memórias de vidas passadas, etc.). Muitos deles, após numerosas e exaustivas pesquisas, utilizando métodos rigorosos para evitar todo tipo de fraude, de truque, apesar de inicialmente céticos, chegaram à conclusão de que nossa consciência sobrevive à morte do corpo, continuando com sua capacidade de raciocinar, de se emocionar, de se lembrar. Podendo, muitas vezes, comunicar-se com os vivos, divulgando estas conclusões mesmo sob o risco de jogar na lama um nome conquistado com muito esforço e dedicação. São exemplos Hippolyte-Léon Denizard Rivail, também conhecido pelo seu pseudônimo Allan Kardec, notável pedagogo, discípulo de Pestalozzi, que teve grande influência na reforma da educação na França e na Alemanha. Ele estudou rigorosamente os fenômenos e reuniu as comunicações obtidas por diversos médiuns, em várias partes do mundo, selecionando aquelas que tinham lógica e coincidiam em conteúdo (a grande maioria), codificando a Doutrina Espírita; William Crookes, físico que inventou o tubo de raios catódicos (precursor do tubo de imagem dos atuais televisores e monitores de computador), instrumento que foi fundamental para a descoberta da estrutura atômica, realizada por outros cientistas, em pesquisas posteriores. Criou o espintariscópio; Descobriu o elemento químico Tálio, além de realizar outros trabalhos importantes para o avanço da ciência; Alfred Russel Wallace, naturalista, co-elaborador da Teoria da Seleção Natural (independentemente e ao mesmo tempo que Charles Darwin, que também elaborou esta teoria); Cesare Lombroso, Psiquiatra, descobridor da causa da doença Pelagra, autor de teorias relativas à personalidade criminosa e criador do museu de antropologia criminal de Turim; Charles Richet, fisiologista, prêmio Nobel de medicina de 1916; Dr.Paul Gibier, Diretor do Instituto Bacteriológico(Instituto Pasteur) de Nova York, ex-assistente de Patologia Comparada do Museu de História Natural de Paris, membro da Academia de Ciências de Nova York, da Sociedade de Pesquisas Psíquicas de Londres e Cavaleiro da Legião de Honra. Ele mostrou-se bastante inclinado a aceitar a interpretação da sobrevivência da alma para explicar os fatos, após suas rigorosas pesquisas.
Estes são apenas alguns dentre vários grandes nomes, cujas pesquisas ocorreram entre os séculos 19 e 20.
Mais recentemente, temos como exemplos o Dr.Ian Stevenson, Psiquiatra norte-americano, que até hoje vem fazendo pesquisas sobre crianças de muito pouca idade que apresentam lembranças espontâneas de vidas passadas, tendo registrado inúmeros casos ao redor do mundo, inclusive aqueles de marcas de nascença relacionadas com as vidas passadas; O Dr.Brian Weiss, e a Dra Hellen Wanbach, Psiquiatras que vêm utilizando a terapia de regressão de memória a vidas passadas em seus pacientes, com resultados surpreendentes. Eles, assim como o Dr. Ian Stevenson, têm obtido importantíssimas evidências da existência da reencarnação; O Dr.Raymond Moody Jr., médico que coletou inúmeros casos de experiências de quase-morte, fenômeno relativamente freqüente nas UTIs do mundo inteiro(quando o paciente, em estado grave, vizinho ao da morte, após a parada cardíaca, vê o próprio corpo, levita sobre ele, e assiste muitas vezes os procedimentos dos médicos para reanimá - lo ; relembra em poucos instantes dos momentos mais importantes de sua vida, além de outros fatos que na grande maioria das vezes repetem-se nestes casos); Iniciada por gravações de vozes paranormais por Frederick Jurgenson (que deparou-se com o fenômeno por acaso, quando gravava o canto de pássaros), e depois pelo Dr. Konstantin Raudive, a Transcomunicação Instrumental evoluiu para a recepção de mensagens de pessoas falecidas através de som e imagem em equipamentos eletrônicos(televisores, computadores, etc., inclusive equipamentos desenvolvidos exclusivamente para esta finalidade) contando com inúmeros pesquisadores ao redor do mundo, incluindo brilhantes engenheiros eletrônicos. No Brasil, destacam-se a essas pesquisas o parapsicólogo baiano Clóvis Nunes e a paulista Sônia Rinaldi.
A pesquisadora Sônia Rinaldi utiliza física, fonética, biometria e tecnologia digital para pesquisar a vida após a morte. Recentemente, estudou o primeiro caso autenticado por um laboratório internacional de um contato com um espírito. É o caso de Cleusa Julio, que sofria muito com a morte da filha adolescente, Edna, morta ao ser atropelada por um carro enquanto andava de bicicleta. Muito abatida, Cleusa procurou a Associação Nacional de Transcomunicadores, cuja presidente é Sônia, e conseguiu comunicar-se com a filha. Uma das gravações obtidas foi enviada ao Laboratório Interdisciplinar de Biopsicocibernética, em Bolonha, Itália, o único na Europa dedicado exclusivamente ao exame e análise científicos de fenômenos paranormais. Juntamente com aquela gravação, outra fita foi encaminhada, com um recado deixado por Edna, antes de sua morte, numa secretária eletrônica. O laudo técnico resultante, de 52 páginas, mostrou-se impressionante, e sua conclusão foi: a voz gravada por meio da transcomunicação é a mesma guardada na secretária eletrônica.
O físico Cláudio Brasil, mestre pela Universidade de São Paulo, que se dedicou durante vários anos a analisar centenas de vozes paranormais, avaliou positivamente o Caso Edna. “Temos que abrir a mente e aceitar que a ciência não tem explicação para tudo”, diz ele, em uma reportagem sobre este caso, para a revista Istoé. “É um trabalho puramente matemático, à prova de fraudes”, é o que diz Sônia Rinaldi, nessa mesma reportagem, que pode ser lida no seguinte endereço eletrônico: http://www.terra.com.br/istoe/1918/comportamento/1918_falando_alem.htm.
Ela escreveu sete livros, entre eles Gravando vozes do além, com técnicas detalhadas para contatos com os falecidos. Possui cerca de 50 mil gravações em áudio com mortos, obtidas durante 18 anos de pesquisas. No princípio, através de um gravador. Atualmente, as gravações são obtidas por telefone ou microfone conectados ao computador e, quando é gravação e filmagem simultâneas, com o auxílio de uma câmera digital. Mais informações sobre as pesquisas de Sônia Rinaldi podem ser obtidas no site: http://www.ipati.org (do Instituto de Pesquisas Avançadas em Transcomunicação Instrumental).
A glândula pineal – localizada no cérebro e que é reguladora do ciclo do sono – seria o órgão sensorial da mediunidade. A pineal captaria informações do mundo espiritual por ondas eletromagnéticas, como “um telefone celular”, e as transformaria em estímulos neuroquímicos. Essa é a tese defendida pelo médico Sérgio Felipe de Oliveira, neurocientista com mestrado em ciências pela USP (Universidade de São Paulo). Ele idealizou o Projeto Uniespírito (Universidade Internacional de Ciências do Espírito) e estuda os estados de transe e a mediunidade.
O médium Chico Xavier, durante os seus 92 anos de vida, psicografou milhares de mensagens de pessoas falecidas, dando origem a mais de 400 livros psicografados por diversos autores espirituais. O perito em análises datiloscópicas e grafotécnicas, Carlos Augusto Perandréa analisou a carta ditada pela falecida Ilda Mascaro Saullo, morta de câncer em 1977 na Itália. O bilhete, em italiano, língua desconhecida do médium, possuía escrita praticamente idêntica à da falecida, sendo um híbrido entre a maneira de escrever da italiana e do médium. De acordo com o estudo de Paulo Rossi Severino, que analisou 45 cartas psicografadas por Chico Xavier, em 35 % a assinatura é idêntica a do morto, e em 42 % delas, havia alguma particularidade que o médium não tinha como conhecer, segundo os parentes do falecido. Acontece que, segundo a Doutrina Espírita, quando mais distante do falecimento, mais os Espíritos vão perdendo as características de sua escrita, durante a psicografia.
No livro “Evolução em Dois Mundos”, ditado pelo Espírito André Luíz, e psicografado por Chico Xavier e Waldo Vieira, constam várias idéias científicas, muitas posteriormente confirmadas por cientistas estrangeiros. Consta, por exemplo, a idéia de que “a matéria é luz coagulada”. Acontece que, vinte anos depois, dois cientistas norte-americanos, Jack Safartti e David Bohm, garantiriam que “a matéria é luz capturada gravitacionalmente”. Este mesmo livro foi obtido de forma bastante curiosa: Chico Xavier recebia as páginas pares e Waldo Vieira recebia as ímpares, não se percebendo, nem de longe, diferença de estilo entre as páginas pares e ímpares.
Ainda poderíamos citar muitos outros dados, apresentados pelos mais diversos pesquisadores ao redor do mundo, tendentes a demonstrar a existência de vida após a morte. Mas os que citamos acima podem nos mostrar que a sobrevivência já foi, há muito tempo, demonstrada, sendo a aceitação deste fato apenas uma questão de maturidade, de ausência de preconceitos. Se a ciência “oficial” mudasse de mentalidade, se debruçasse sobre estes fatos, e os estudasse seriamente, ao invés de simplesmente negar, sem verificar, a vida após a morte seria fartamente provada e divulgada, consolando e dando esperança a milhões de pessoas ao redor do mundo.
Como disse o Cristo: “Quem tiver olhos e ver, veja”.
Bibliografia Consultada 1 GOLDSTEIN, Karl. Transcomunicação instrumental, 1992. 2 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, 1857. 3 DOYLE, Arthur Conan. História do Espiritismo. 4 STEVENSON, Ian. Vinte casos sugestivos de reencarnação. 5 WEISS, Brian L. Muitas vidas, muitos mestres, 1988. 6 WAMBACH, Helen. Recordando vidas passadas, 1978. 7 MOODY Jr., Raymond A. Vida depois da vida, 1979. 8 ANDRADE, Hernani Guimarães. Parapsicologia: uma visão panorâmica, 2002. 9 WALLACE, Alfred Russel. Aspectos científicos do Espiritismo. 10 LIMA, Ronie. A Vida Além da Vida, 2005.
11 SOUTO MAIOR, Marcel. As Vidas de Chico Xavier, 2003.
12 GIBIER, Paul. As Materializações de Fantasmas, 2001.
Endereços Eletrônicos consultados:

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

OS SOFRIMENTOS


Fome na Somália

Fábio José Lourenço Bezerra

Ao refletirmos sobre a trajetória da humanidade, desde a época mais remota até os nossos dias, inevitavelmente nos depararemos com um fenômeno por vezes bastante intenso: a dor. Seja ela física ou moral, quem de nós, um dia, já não sentiu algum tipo de sofrimento? Uma intensa dor de dente ou de cabeça, ou a perda de um ente querido? Imagine a dor de uma mãe ao perder o seu filho, ou saber que, quando ainda muito novo, apresenta uma grave doença, como o câncer, ou vê-lo caminhar para a morte por falta do mínimo necessário para seu sustento (ver foto acima); Quando adquirimos uma doença grave, cujos sintomas são bastante desagradáveis e há risco de vida; A angústia por não termos o que ardentemente desejamos, ou perdemos aquilo a que somos muito apegados. Estes são apenas alguns poucos exemplos.
Ao pensarmos em sofrimento, e partindo do princípio de que o Universo foi criado e é regido por uma inteligência suprema - Deus -  e que Ele é todo-poderoso e soberanamente justo e bom,  como explicar que nós, suas criaturas, dotados de inteligência e sensibilidade, por muitas vezes tenhamos que passar por tanto sofrimento, em numerosos casos sem termos, aparentemente, nenhuma culpa? E porque uns passam por tanto sofrimento, enquanto outros quase nada sofrem?
A resposta para a pergunta acima se apresenta bastante simples: Deus não permitiria que as suas criaturas sofressem sem que isto tivesse alguma utilidade para elas, sem algum tipo de compensação futura.  Do contrário, teríamos que supor que, ou Deus não possui total controle de sua criação, não sendo capaz de, por vezes, impedir o sofrimento dos seus filhos (nesse caso, não seria todo-poderoso), ou permite, por sadismo, que alguém sofra sem motivo ou é indiferente a este sofrimento (aí, não poderia ser bom), ou que uns sofram mais do que os outros (assim, não poderia ser justo).
Conforme determinadas crenças, a humanidade sofre porque o primeiro homem pecou (referindo-se a Adão e a Doutrina do pecado original). Então seria justo, por exemplo, que nosso avô, nosso pai e tios, e até nós, fôssemos presos porque nosso bisavô cometeu um assassinato antes de ter filhos? Os descendentes pagando pelo erro de um parente distante? Onde estaria, então, a responsabilidade individual pelos próprios atos? Também acreditam que Deus é colérico e vingativo, pois impõe, àqueles que não obedecem aos preceitos destas crenças, o sofrimento eterno após a morte, sem direito ao arrependimento enquanto permanecem em um suplício sem fim. Nesse caso, Deus seria bem pior do que muitos seres humanos que passaram sobre a Terra, como Gandhi, São Francisco de Assis e Jesus, que pregaram o perdão incondicional das ofensas.
Logicamente, Deus sabe das nossas fraquezas, da nossa inexperiência como Espíritos. Conhece nossos mais íntimos pensamentos e tendências. Ele sabe que somos passíveis de erros, mas também sabe que nós podemos aprender através deles. Nossos erros nos mostram quem de fato somos, até onde podemos ir – nos dão o auto-conhecimento, permitindo que saibamos exatamente qual aspecto da nossa personalidade devemos mudar, para, daí em diante, acertar.

Vejamos o que diz Allan Kardec em sua obra “O Evangelho segundo o Espiritismo”, no Capítulo V, na parte intitulada “CAUSAS ATUAIS DAS AFLIÇÕES”:

“As vicissitudes da vida são de duas espécies, ou, se assim se quer, têm duas fontes bem diferentes que importa distinguir: umas têm sua causa na vida presente, outras fora dela.
Remontando à fonte dos males terrestres, se reconhecerá que muitos são a conseqüência natural do caráter e da conduta daqueles que os suportam.
Quantos homens tombam por suas próprias faltas! Quantos são vítimas de sua imprevidência, de seu orgulho e de sua ambição!
Quantas pessoas arruinadas por falta de ordem, de perseverança, por má conduta e por não terem limitado seus desejos!
Quantas uniões infelizes porque são de interesse calculado ou de vaidade, com as quais o coração nada tem!
Quantas dissensões e querelas funestas se teria podido evitar com mais moderação e menos suscetibilidade.
Quantos males e enfermidades são a consequência da intemperança e dos excessos de todos os gêneros!
Quantos pais são infelizes com seus filhos, porque não combateram suas más tendências no princípio! Por fraqueza ou indiferença, deixaram se desenvolver neles os germes do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade que secam o coração; depois, mais tarde, recolhendo o que semearam, se espantam e se afligem pela sua falta de respeito e ingratidão.
Que todos aqueles que são atingidos no coração pelas vicissitudes e decepções da vida, interroguem friamente sua consciência; que remontem progressivamente à fonte dos males que os afligem, e verão se, o mais frequentemente, não podem dizer: Se eu tivesse, ou não tivesse, feito tal coisa eu não estaria em tal situação.
A quem, pois, culpar de todas as suas aflições senão a si mesmo? O homem é, assim, num grande número de casos, o artífice dos seus próprios infortúnios; mas, ao invés de o reconhecer, ele acha mais simples, menos humilhante para a sua vaidade, acusar a sorte, a Providência, a chance desfavorável, sua má estrela, enquanto que sua má estrela está na sua incúria.
Os males dessa natureza formam, seguramente, um notável contingente nas vicissitudes da vida; o homem os evitará quando trabalhar para o seu aprimoramento moral, tanto quanto para o seu aprimoramento intelectual."
"[...] Mas Deus quer o progresso de todas as suas criaturas; por isso, ele não deixa impune nenhum desvio do caminho reto; não há uma só falta, por pequena que seja, uma só infração à sua lei, que não tenha consequências forçadas e inevitáveis mais ou menos tristes; de onde se segue que, nas pequenas, como nas grandes coisas, o homem é sempre punido pelo que pecou. Os sofrimentos que lhe são a conseqüência, são para ele uma advertência de que errou; eles lhe dão a experiência fazendo-o sentir a diferença entre o bem e o mal, e a necessidade de se melhorar para evitar, no futuro, o que lhe foi uma fonte de desgostos; sem isso, não teria nenhum motivo para se emendar, e confiando na impunidade, retardaria seu adiantamento e, por conseguinte, sua felicidade futura.
Mas a experiência, algumas vezes, vem um pouco tarde; quando a vida foi dissipada e perturbada, as forças desgastadas, e quando o mal não tem mais remédio, então, o homem se pôe a dizer: Se no início da vida eu soubesse o que sei agora, quantas faltas teria evitado; se fosse recomeçar, eu faria tudo de outro modo; mas não há mais tempo! Como o obreiro preguiçoso, diz: Eu perdi minha jornada, ele também se diz: Eu perdi minha vida; mas da mesma forma que para o obreiro o Sol se ergue no dia seguinte e uma nova jornada começa, permitindo-lhe reparar o tempo perdido, para ele também, depois da noite do túmulo, brilhará o sol de uma nova vida, na qual poderá aproveitar a experiência do passado e suas boas resoluções para o futuro."

Na parte seguinte do mesmo Capítulo, denominada “CAUSAS ANTERIORES DAS AFLIÇÕES”, ele nos diz:

“Mas, se há males dos quais o homem é a causa primeira nesta vida, há outros, pelo menos na aparência, que lhe são completamente estranhos, e que parecem atingi-lo como por fatalidade. Tal é, por exemplo, a perda de seres queridos e a de arrimos de família; tais são, ainda, os acidentes que nenhuma providência poderia impedir; os reveses de fortuna que frustram todas as medidas de prudência; os flagelos naturais e as enfermidades de nascimento, sobretudo aquelas que tiram aos infelizes os meios de ganhar sua vida pelo trabalho, como as deformidades, a idiotia, o cretinismo, etc.
Aqueles que nascem em semelhantes condições, seguramente, nada fizeram nesta vida para merecer uma sorte tão triste, sem compensação, que não podiam evitar, impotentes para mudarem por si mesmos, e que os coloca á mercê da comiseração pública. Por que, pois, seres tão infelizes, ao passo que ao seu lado, sob o mesmo teto, na mesma família, outros são favorecidos sob todos os aspectos?
Que dizer, enfim, dessas crianças que morrem em tenra idade e não conheceram da vida senão o sofrimento? Problemas que nenhuma filosofia pôde ainda resolver, anomalias que nenhuma religião pôde justificar, e que seria a negação da bondade, da justiça e da providência de Deus, na hipótese de ser a alma criada ao mesmo tempo que o corpo, e sua sorte estar irrevogavelmente fixada após uma estada de alguns instantes na Terra. Que fizeram, essas almas que acabam de sair das mãos do Criador, para suportar tantas misérias neste mundo, e merecer, no futuro, uma recompensa ou uma punição qualquer, quando não puderam fazer nem o bem nem o mal?
Entretanto, em virtude do axioma de que todo efeito tem uma causa, essas misérias são efeitos que devem ter uma causa e, desde que se admita um Deus justo, essa causa deve ser justa. Ora, a causa precedendo sempre o efeito, uma vez que não está na vida atual, deve ser anterior a ela, quer dizer, pertencer a uma existência precedente. Por outro lado, Deus não podendo punir pelo bem que se fez, nem pelo mal que não se fez, se somos punidos, é porque fizemos o mal; se não fizemos o mal nesta vida, o fizemos numa outra. É uma alternativa da qual é impossível escapar, e na qual a lógica diz de que lado está a justiça de Deus.”
“[...]Os sofrimentos por causas anteriores são, frequentemente, como das faltas atuais, a conseqüência natural da falta cometida; quer dizer, por uma justiça distributiva rigorosa, o homem suporta o que fez os outros suportarem; se foi duro e desumano, ele poderá ser, a seu turno, tratado duramente e com desumanidade; se foi orgulhoso, poderá nascer em uma condição humilhante; se foi avarento, egoísta, ou se fez mau uso da sua fortuna, poderá ser privado do necessário; se foi mau filho, poderá sofrer com os próprios filhos, etc.” (Ver o texto  Por Que Esquecemos Nossas Vidas Passadas?, neste blog).

E como se processa esse resgate de nossos erros cometidos em existências anteriores?    

Na pergunta Nº 258 de “O Livro dos Espíritos”, lemos: “Quando na erraticidade, antes de começar nova vida corporal, tem o Espírito consciência e previsão do que lhe sucederá no curso da vida terrena?”
Resposta: “Ele próprio escolhe o gênero de provas por que há de passar e nisso consiste o seu livre-arbítrio”.

“- Não é Deus, então, quem lhe impõe as tribulações da vida, como castigo?”

Resposta: “Nada ocorre sem a permissão de Deus, porquanto foi Deus quem estabeleceu todas as leis que regem o Universo. Ide agora perguntar por que decretou ele esta lei e não aquela. Dando ao Espírito a liberdade de escolher, Deus lhe deixa a inteira responsabilidade de seus atos e das conseqüências que estes tiverem. Nada lhe estorva o futuro; abertos se lhe acham, assim, o caminho do bem, como o do mal. Se vier a sucumbir, restar-lhe-á a consolação de que nem tudo se lhe acabou e que a bondade divina lhe concede a liberdade de recomeçar o que foi mal feito. Demais, cumpre se distinga o que é obra da vontade de Deus do que é da do homem. Se um perigo vos ameaça, não fostes vós quem o criou e sim Deus. Vosso, porém, foi o desejo de a ele vos expordes, por haverdes visto nisso um meio de progredirdes, e Deus o permitiu”.

Na pergunta Nº 262, da mesma obra, lemos: “Como pode o Espírito, que, em sua origem, é simples, ignorante e carecido de experiência, escolher uma existência com conhecimento de causa e ser responsável por essa escolha?”
Resposta: “Deus lhe supre o caminho que deve seguir, como fazeis com a criancinha. Deixa-o, porém, pouco a pouco, à medida que o seu livre-arbítrio se desenvolve, senhor de proceder à escolha e só então é que muitas vezes lhe acontece extraviar-se, tomando o mau caminho, por desatender os conselhos dos bons Espíritos. A isso é que se pode chamar a queda do homem”.

Na pergunta Nº 264, lemos: “Que é o que dirige o Espírito na escolha das provas que queira sofrer?”
Resposta: “Ele escolhe, de acordo com a natureza de suas faltas, as que o levem à expiação destas e a progredir mais depressa. Uns, portanto, impõem a si mesmos uma vida de misérias e privações, objetivando suportá-las com coragem; outros preferem experimentar as tentações da riqueza e do poder, muito mais perigosas, pelos abusos e má aplicação a que podem dar lugar, pelas paixões inferiores que uma e outros desenvolvem; muitos, finalmente, se decidem a experimentar suas forças nas lutas que terão de sustentar em contacto com o vício”.

E na pergunta Nº 266, lemos: “Não parece natural que se escolham as provas menos dolorosas?” e a resposta: “ Pode parecer-vos a vós; ao Espírito, não. Logo que este se desliga da matéria, cessa toda ilusão e outra passa a ser a sua maneira de pensar”.

Comentário de Kardec: “Sob a influência das idéias carnais, o homem, na Terra, só vê das provas o lado penoso. Tal a razão de lhe parecer natural sejam escolhidas as que, do seu ponto de vista, podem coexistir com os gozos materiais. Na vida espiritual, porém, compara esses gozos fugazes e grosseiros com a inalterável felicidade que lhe é dado entrever e desde logo nenhuma impressão mais lhe causam os passageiros sofrimentos terrenos. Assim, pois, o espírito pode escolher prova muito rude e, conseguintemente, uma angustiada existência, na esperança de alcançar depressa um estado melhor, como o doente escolhe muitas vezes o remédio mais desagradável para se curar de pronto. Aquele que intenta ligar seu nome à descoberta de um país desconhecido não procura trilhar estrada florida. Conhece os perigos a que se arrisca, mas também sabe que o espera a glória, se lograr bom êxito”.

De duas, uma: ou o Espírito, quando pouco experiente, e portanto incapaz de exercer o livre-arbítrio, é conduzido pela espiritualidade para uma encarnação com as características necessárias à sua evolução, conforme o tipo e o grau de suas imperfeições, ou o Espírito, já com um determinado grau de experiência, é orientado, no mundo espiritual, pelos bons Espíritos, acerca das experiências que lhe são necessárias, cabendo a ele aceitá-las ou não.
As provas escolhidas, muitas vezes, são bastante dolorosas, contudo, quase nada são quando comparadas à possibilidade de obtenção da felicidade que gozam os Espíritos Superiores, daí o motivo da escolha. Além disso, podemos não sentir enquanto estamos no corpo físico, mas, após a morte, temos nossa sensibilidade bastante aumentada, e é outro o nosso ponto de vista. Nossas imperfeições, quando estamos no mundo espiritual, são, para nós, como nódoas, manchas em nosso Espírito, que repercutem em nosso corpo espiritual de diversas formas. O sentimento de culpa, advindo de nossos erros, castiga nossa consciência (muitas vezes de forma bastante violenta), que necessita, para seu alívio, reparar o erro cometido. Esta reparação é feita, muitas vezes, em encarnações onde nos comprometemos a fazer o bem, ajudando aqueles a quem fizemos mal, ou a outras pessoas, ou voltamos para sofrer da mesma forma que aqueles a quem prejudicamos. Tal mecanismo não possui caráter de castigo, mas tão somente educativo, para modificar as disposições íntimas do Espírito, que, sabendo aproveitar as reflexões aí proporcionadas, avança muito na sua evolução moral. Verificamos, muitas vezes, nas respostas dos Espíritos, acima, as palavras castigo e punição. Contudo, estas palavras foram empregadas por eles para adequar seus ensinamentos à época em que foram escritos (meados do século XIX).
Cabe a todos nós, Espíritos encarnados, viver a vida com fé em Deus, nos resignando diante daqueles sofrimentos que não podemos evitar, sem deixarmos, contudo, de fazer a nossa parte, ao procurar aliviá-los, na medida do possível.

Como sempre diz o presidente da Federação Espírita Pernambucana, o Sr.Valdeck Atademo: “Confiemos em Deus, Vivamos com Jesus”.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

1 KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 36. ed. Rio de Janeiro: FEB, [1990].
2 _____________. O Livro dos Espíritos: princípios da doutrina espírita. 76. ed. Rio de Janeiro: FEB, [1995].
3______________. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 3.ed. São Paulo: Petit, [1997].

domingo, 29 de junho de 2008

E A VIDA CONTINUA ...


Fábio José Lourenço Bezerra

Envolvidos que estamos por este mundo, muitas vezes nos deixamos levar pela ilusão de ser esta a única e verdadeira vida. Lutamos desesperadamente para sermos felizes aqui e agora. Não hesitamos, por várias vezes, em machucar, prejudicar o outro, para obtermos o nosso intento. Apegamos-nos excessivamente aos bens e prazeres transitórios desta vida, e quando os perdemos, passamos por uma verdadeira tortura. Contudo, somos consciências imortais habitando um corpo frágil e perecível, verdadeiro material didático que Deus, em sua infinita bondade, nos proporciona. Através dele, vivemos as mais diversas experiências na escola chamada Terra. Aqui estamos, na verdade, para desenvolver a nossa inteligência e o amor ao nosso semelhante, para obtermos, dessa forma, a verdadeira felicidade. O paraíso não é um lugar circunscrito, e sim, um estado de consciência, quando a plena sabedoria e moralidade nos colocam em contato direto com o Criador. Não, não nos iludamos, a morte não é o fim de tudo, só mera etapa que todos nós, um dia, teremos de passar. O instante necessário para alcançarmos a vida maior.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

1 KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 36. ed. Rio de Janeiro: FEB, [1990].
2 ______. O Livro dos Espíritos: princípios da doutrina espírita. 76. ed. Rio de Janeiro: FEB, [1995].
3 ______. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 3.ed. São Paulo: Petit, [1997].

DEUS

DEUS
Fábio José Lourenço Bezerra
Na pergunta nº 1 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec pergunta ao Espírito de Verdade: "Que é Deus?" e a resposta: "Inteligência suprema. Causa primeira de todas as coisas." Já na pergunta nº 4, Kardec pergunta: "Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus?" e a resposta: "Num axioma que aplicais às vossas ciências: não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e a razão vos responderá." As galáxias, as estrelas, os planetas, os seres vivos, enfim, a natureza, grita em altos brados a existência de Deus. Sua complexidade e organização demonstram a atuação de uma grande inteligência, que idealizou e construiu os seus mínimos detalhes. Houve um tempo, recente inclusive, em que vários cientistas, sob influência do materialismo ateu, acreditavam ser apenas o nosso sistema solar possuidor de planetas, tendo estes sido originados em um evento raríssimo no universo. Na atualidade, contudo, já foram descobertos mais de 200 planetas fora do sistema solar, orbitando outras estrelas, sendo estes chamados de planetas extra-solares. O que antes pensava-se ser uma exceção, hoje mostrou-se uma regra universal. Um dos planetas extra-solares descobertos, o GL 581c, localizado na constelação de Libra, possui o tamanho aproximado ao da Terra, sendo semelhante também na distância entre ele e a estrela na qual orbita. Com temperaturas que variam entre 0 e 40°C, provavelmente possui água em sua superfície, podendo conter vida semelhante ao do nosso planeta, e, quem sabe, vida inteligente. Nosso universo possui vários bilhões de galáxias, cada uma delas com milhões e milhões de estrelas. Uma considerável parte destas estrelas possui planetas em sua órbita. Muitos deles, certamente, possuem características como tamanho, proximidade de sua estrela, temperatura da superfície, etc., semelhantes as do nosso planeta, favoráveis à existência da vida como a conhecemos. Isso quando não consideramos a possibilidade da vida existir em formas desconhecidas, aumentando, assim, em muito, a possibilidade da existência de vida em outros orbes do universo, inclusive vida inteligente. Vários cientistas ao redor do globo, entre físicos, astrofísicos e biólogos, defendem a tese da existência de vida em outros planetas. Se admitirmos a existência de Deus, seria realmente ilógico supor que apenas em nosso pequeno planeta existe vida inteligente. Na pergunta nº 172, lemos: “ As nossas diversas existências corporais se verificam todas na Terra?”, e a resposta: “ Não; vivemo-las em diferentes mundos. As que aqui passamos não são as primeiras, nem as últimas; são, porém, das mais materiais e das mais distantes da perfeição.” Os diversos mundos habitados no universo, segundo o Espiritismo, são escolas criadas por Deus para o aperfeiçoamento dos Espíritos, verdadeiros campos de experiência, onde se desenvolvem o intelecto e a maturidade moral, complementando os ensinamentos transmitidos no mundo espiritual. Muitos cientistas que professam a crença materialista acreditam ter a vida surgido na Terra por obra do acaso, mediante reações químicas ocorridas fortuitamente entre substâncias presentes na sua superfície, com a ajuda de descargas elétricas vindas da atmosfera. Porém, nada, até os dias de hoje, conseguiram provar de sua hipótese. É bastante natural pensarem dessa forma, uma vez que só admitem a matéria conhecida e suas propriedades como a explicação para tudo o que existe, não admitindo outras possibilidades, negando-se a aceitar a existência de formas de matéria e energia muito além do seu conhecimento. A física quântica nos mostrou quão distante estamos de compreender o Universo. Contudo, os Espíritos superiores comunicaram a Allan Kardec e também através da mediunidade de Chico Xavier que a vida foi plantada neste mundo pela espiritualidade maior, evoluindo, mediante a colaboração da mesma, até as espécies que conhecemos hoje, segundo a vontade de Deus. Se não obscurecermos nossa mente com o materialismo, veremos que esta segunda hipótese é bem mais lógica. Durante o estudo das células, verificamos quão organizadas e complexas são elas, principalmente as chamadas células eucariontes. Diversas substâncias orgânicas (proteínas, carboidratos, lipídeos, ácidos nucléicos, etc.) formam estruturas com as mais diversas finalidades dentro da célula, e proteínas de diversos tipos executando os mais variados papéis, como as enzimas, por exemplo, em processos bastante complexos e interdependentes, garantindo a sobrevivência da célula. Estas, por sua vez, no caso dos seres vivos pluricelulares, em conjunto, formam os tecidos, órgãos e sistemas. Como pôde o homem, ante tão grandiosa obra de engenharia da natureza, supor que tudo isso teria surgido por acaso? Negar que uma grande inteligência esteja por trás dessa obra-prima? Afinal, pela obra conhece-se o autor. Na pergunta Nº 607, Kardec pergunta ao Espírito de Verdade: “Dissestes que o estado da alma do homem, na sua origem, corresponde ao estado da infância na vida corporal, que sua inteligência apenas desabrocha e se ensaia para a vida. Onde passa o espírito essa primeira fase do seu desenvolvimento?” e a resposta: “ Numa série de existências que precedem o período que chamais Humanidade.”. Na mesma pergunta, Kardec faz uma ressalva: “a) – Parece que, assim, se pode considerar a alma como tendo sido o princípio inteligente dos seres inferiores da criação, não?” e a resposta: “Já não dissemos que tudo em a natureza se encadeia e tende para a unidade? Nesses seres, cuja totalidade estais longe de conhecer, é que o princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco e se ensaia para a vida, conforme acabamos de dizer. É, de certo modo, um trabalho preparatório, como o da germinação, por efeito do qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito. Entra então no período da humanização, começando a ter consciência do seu futuro, capacidade de distinguir o bem do mal e a responsabilidade dos seus atos. Assim, a fase da infância se segue a da adolescência, vindo depois a da juventude e da madureza. Nessa origem, coisa alguma há de humilhante para o homem. Sentir-se-ão humilhados os grandes gênios por terem sido fetos informes nas entranhas que os geraram? Se alguma coisa há que lhe seja humilhante, é a sua inferioridade perante Deus e sua impotência para lhe sondar a profundeza dos desígnios e para apreciar a sabedoria das leis que regem a harmonia do Universo. Reconhecei a grandeza de Deus nessa admirável harmonia, mediante a qual tudo é solidário na Natureza. Acreditar que Deus haja feito, seja o que for, sem um fim, e criado seres inteligentes sem futuro, fora blasfemar da sua bondade, que se estende por sobre todas as suas criaturas.” Ao estudarmos Biologia, verificamos uma gradação evolutiva nos seres vivos, em graus crescentes de complexidade, sensibilidade e inteligência, dos microrganismos, como bactérias e protozoários, passando pelas plantas e animais, até chegar ao homem. Qual o sentido da vida? Para o Espiritismo, como vimos na pergunta acima, a vida orgânica é o suporte no qual o princípio inteligente se individualiza, se estrutura e se desenvolve, através dos diversos seres vivos, dos mais primitivos para os mais evoluídos, até chegar ao homem, quando aí já se encontra no estágio de Espírito, possuidor de inteligência bastante avançada, com consciência do futuro, capaz de distinguir o bem do mal, e responsável por seus atos. Dessa forma, os demais seres vivos afora o homem, possuem um propósito maior, e sua essência, o princípio inteligente, sobrevive à morte do corpo físico que o abrigava, desenvolvendo-se, cada vez mais, em existências posteriores, sendo essa a nossa origem como Espíritos. Assim, seres dotados de certo grau de inteligência e sensibilidade, embora em bem menor escala do que nós, como os animais, não serão jogados no nada após passar por uma existência, por muitas vezes, de sofrimento, correspondendo isto à infinita bondade, justiça e sabedoria do Criador. Os Espíritos, ao passarem por diversas existências, atingem o estado de puros espíritos, não necessitando mais reencarnar, retornando apenas aos mundos de aprendizado em missão, para auxiliar o progresso dos Espíritos ainda em condição evolutiva inferior. Estes Espíritos, prepostos de Deus, ajudam inclusive na criação de novos mundos, podendo, igualmente, serem chamados de anjos. Foram eles que, segundo a vontade de Deus, por exemplo, presidiram a fomação do nosso mundo, a criação e a evolução da vida. Ao observarmos este Universo sob a ótica espírita, veremos, ainda que timidamente, a grandiosidade da criação, como tudo se encadeia, como tudo se equilibra, como em tudo se encontra harmonia. Uma obra de infinita sabedoria, digna de um Deus onipotente, onisciente, onipresente, soberanamente justo e bom.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
1 KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 36. ed. Rio de Janeiro: FEB, [1990].
2 ______. O Livro dos Espíritos: princípios da doutrina espírita. 76. ed. Rio de Janeiro: FEB, [1995].
3 ______. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 3.ed. São Paulo: Petit, [1997].

sexta-feira, 28 de março de 2008

O EGOÍSMO – ORIGEM DOS MALES DA SOCIEDADE HUMANA



Fábio José Lourenço Bezerra

Reflitamos um instante sobre todos os problemas da sociedade humana: a fome, a miséria, a carência educacional de muitos, a corrupção, a violência, as guerras, etc.
Vemos poucas pessoas realizando todas as fantasias, satisfazendo todos os caprichos e usufruindo da posse de todos os bens que o dinheiro pode comprar, ao lado de muitas pessoas carentes, algumas das quais falta até o necessário para sua sobrevivência e pleno desenvolvimento físico e mental.
Vemos homens públicos, que deveriam zelar pelo bem-estar de toda a população de seu país, realizando verdadeiras “farras” com boa parte dos recursos destinados à educação, à manutenção e recuperação da saúde, à segurança, à criação de empregos e geração de renda. Prejudicam, dessa forma, aqueles menos favorecidos, contribuindo para o aumento da fome e da miséria, tendo como efeito colateral a propagação da violência e o aumento do tráfico de drogas. Isso sem falar nas altas taxas de mortalidade devido à precária assistência médica. Os privilegiados financeiramente, em contrapartida, precisam encher-se de vários apetrechos de segurança, isolar-se em condomínios fechados, não sair livremente pelas ruas, receando serem assaltados, seqüestrados, etc. Seus filhos, freqüentemente, são assediados pelos traficantes de drogas. E eles, frequentemente, cedem a esse assédio, porque seus pais, no afã de possuir mais e mais bens materiais, mantendo e adquirindo cada vez mais “status” perante a sociedade, não lhes deram a devida atenção, por não terem tempo disponível para isso.  
Vemos um clima de hostilidade e competitividade entre as pessoas, que freqüentemente não se compreendem, agredindo-se mutuamente. Muitas vezes causam sofrimentos, prejuízos umas às outras para obter vantagens, poder, dinheiro, ou inflar os seus egos. O importante é se dar bem na vida, aqui e agora. A inveja, o orgulho, a vaidade e o ciúme encontram aí campo fértil, juntamente com todos os sofrimentos e torturas morais que estas paixões podem provocar.
Vemos países fomentando a guerra, por sectarismo religioso ou atendendo a interesses econômicos e territoriais.
Impera, entre os homens, de um modo geral, um forte individualismo.

O EGOÍSMO é a raiz de todos esses males.

O caminho para a verdadeira felicidade, tanto individual quanto para toda a sociedade humana, encontra-se no cultivo da humildade, no desapego aos bens materiais, nos colocarmos no lugar do outro, compreendendo-o, e no trabalho pelo bem do próximo. Assim no livramos das torturas morais provocadas pela inveja, pelo ciúme, pelo orgulho ferido, pela vaidade frustrada, pelos desentendimentos, por não se ter poder, dinheiro.
Quando, ao invés de competir com o outro, competimos com nós mesmos, superando nossos limites dia-a-dia, poderemos alcançar a vitória sem, contudo, cultivarmos hostilidade em nossos corações contra nosso próximo.
Se, ao invés de competirem entre si, as nações se unissem em prol do bem comum, compartilhando suas riquezas, sejam elas em dinheiro, recursos naturais ou conhecimentos, com certeza teríamos um mundo bem melhor.
 Também podemos obter a alegria de se proporcionar o bem aos outros. Sim, podemos nos sentir felizes com a felicidade dos outros. Podem atestar este fato aqueles que realizam trabalho voluntário, os que dedicam parte de seu tempo, seus recursos intelectuais e financeiros para ajudar as pessoas.
Fazer o bem faz bem, sendo a aquisição desta forma de felicidade apenas uma questão de desenvolvimento de potencialidades adormecidas em nossa alma (Ver o texto Por Que Devemos fazer o Bem?, neste blog).
Na atualidade, psicólogos, neurologistas e epidemiologistas afirmam: está cientificamente provado que ajudar o próximo traz benefícios para a saúde daquele que ajuda. Praticar o bem é bom para o coração, o sistema nervoso, o sistema imunológico, aumenta a expectativa de vida e a vitalidade de um modo geral. Em um projeto realizado nos Estados Unidos no período de dez anos, 2700 pessoas foram estudadas, para se observar como o relacionamento social afetava sua saúde. Os pesquisadores descobriram que ao se realizar regularmente trabalho voluntário, aumentava muito a expectativa de vida, principalmente dos homens, que tinham taxas de falecimento duas vezes e meia mais baixas, do que os que não o faziam. De modo surpreendente, a taxa de mortalidade entre as mulheres reduzia pouco, possivelmente porque a maioria das mulheres já passa muito tempo cuidando de outras pessoas, mesmo não sendo em trabalho voluntário. Essa pesquisa mostra, através de outros dados, que quem têm muitos contatos sociais vivem mais do que as que se isolam, e que ler ou relaxar, ocupações aparentemente inofensivas, podem tornar-se prejudiciais se utilizadas para aumentar o isolamento.
De acordo com o que foi observado em uma pesquisa feita na Universidade de Harvard, tudo indica que até mesmo ver os outros ajudando terceiros melhora o funcionamento imunológico. Depois da exibição de um filme mostrando Madre Teresa de Calcutá cuidando de doentes e moribundos, análises químicas feitas em estudantes demonstraram um aumento de imunoglobulina A, um anticorpo que ajuda a defender o organismo contra infecções respiratórias, aumento que foi evidente até mesmo nas pessoas que disseram não gostar de Madre Teresa. De acordo com os estudiosos, despertamos gratidão e afeto durante a prática do bem, sentimentos que nos provocam uma sensação de bem estar.
No artigo “Fazer melhor fazendo o bem – a experiência de uma rede social brasileira”, coordenado pela professora Cláudia Bittencourt, aprovado para ser apresentado no Congresso de Administração 2007 Academy of Management Annual Meeting, o mais renomado pela academia mundial, ocorrido entre 3 e 8/8 de 2007, na Filadélfia, Estados Unidos, fruto de um estudo que procurou compreender a sustentabilidade partindo da iniciativa da Organização Não-Governamental Parceiros Voluntários, cujo papel na inserção social regional vêm crescendo a cada dia. Objetivando identificar os ganhos obtidos na participação dessa rede solidária, foram entrevistadas 12 pessoas da entidade, entre colaboradores internos e externos. Os entrevistados sintetizaram os ganhos com as ações voluntárias principalmente através das seguintes palavras: amor, transformação, paixão, paz, doação. “Elas expressam um profundo sentimento de auto-realização e comprometimento com valores morais, evidenciando um sentido de coletividade, que é a base para compreender o significado do voluntariado e a força motivadora que consolida e amplia a rede social analisada”, diz o trabalho.
O grupo vê com grande aceitação este comportamento generoso, promovendo no indivíduo a recompensa do fazer parte, do pertencer, do ser aceito. Reforçam-se, assim, os laços sociais e, conseqüentemente, melhora a interação entre o grupo, o que, num círculo virtuoso, cresce a confiança, ligando ainda mais o indivíduo com o grupo.
Resumindo, fazer o bem faz bem. Os estudos acima demonstram que, além de exercícios físicos e uma dieta balanceada, praticar ações beneméritas também é necessário para nosso organismo físico. Deus nos fez para sermos dinâmicos, equilibrados e bons. Só assim teremos uma vida saudável.
Cabe a cada um de nós desenvolvermos a capacidade de sentirmos prazer ao fazer o bem, para que sejamos felizes, educarmos nesse sentido os nossos filhos e darmos o exemplo a eles e ao nosso próximo, inspirando-os, dessa forma, a fazerem o mesmo. Combater o egoísmo é a verdadeira chave para a obtenção do equilíbrio e da correta distribuição dos recursos materiais do mundo. Para, paulatinamente, acabarmos com os problemas da sociedade humana. 

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

1 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos: princípios da doutrina espírita. 76. ed. Rio de Janeiro: FEB, [1995].
2 _______________. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 3.ed. São Paulo: Petit, [1997].

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sábado, 23 de fevereiro de 2008

A VERDADEIRA FELICIDADE


Espíritos Puros: Estado de felicidade plena
Fonte da imagem: http://conscienciadaalma.blogspot.com.br/2011/05/espiritos-puros_26.html

Fábio José Lourenço Bezerra 

O que é felicidade? podemos descrevê-la como sensação de muita satisfação, bem-estar, alegria intensa. Podemos deduzir também que, se somos filhos de Deus, e se Ele é onipotente, onisciente, infinitamente justo e bom, poderemos ser muito felizes, e para todo o sempre, bastando para isso querermos, todos nós, sem exceção. E com a mesma intensidade. 
              Então porque nós não somos todos felizes, durante todo o tempo, se, no final das contas, todos nós queremos ser felizes? Será que Deus não existe ou somos nós que não enxergamos que Ele nos deu todos os meios para alcançarmos a felicidade? 
O grande problema é que queremos a felicidade aqui e agora. No entanto, ao observarmos as pessoas ao redor do globo terrestre, chegaremos facilmente à conclusão de que a felicidade não é deste mundo. Não é aqui que a teremos em sua plenitude. 
Muitas pessoas acreditam na felicidade obtida com a beleza e o dinheiro. Afinal, se alguém é muito belo, será desejado por quem também é muito belo, e com o dinheiro pode-se comprar quase tudo, além do “status” que ele proporciona. Mas até quando durará essa felicidade? 
A beleza esvai-se ao longo do tempo, apesar de todos os recursos disponibilizados pela tecnologia, que podem retardar os efeitos da idade por um breve tempo, mas não detê -los. Nossa pele perde elasticidade, adquirindo rugas, marcas de expressão, fica flácida, nossa massa muscular tende a reduzir-se, e nossa saúde, como um todo, tende a debilitar-se. Isso sem falar na fragilidade da beleza, pois podemos perdê -la a qualquer momento, seja num acidente automobilístico, num assalto, ao contrair determinadas doenças, etc. Quantos excessos algumas pessoas cometem em nome da vaidade, como cirurgias plásticas radicais, gastos financeiros além das possibilidades, etc., arcando com suas amargas consequências? Nem todas as pessoas nasceram correspondendo aos padrões estéticos estabelecidos pela sociedade. Seria, então, Deus injusto por não ter criado todos os seus filhos igualmente bonitos? 
O dinheiro pode comprar quase tudo, principalmente em um país onde impera a corrupção, como o nosso. Contudo, ainda existem doenças às quais a ciência ainda não encontrou cura, e muitas delas são extremamente dolorosas. Nesse caso, o dinheiro encontra-se impossibilitado de impedir o sofrimento. Não podemos comprar a consciência das pessoas, fazê-las gostar de nós se isso não for natural, espontâneo. O que podemos comprar é fingimento, bajulação de quem estiver disposto a isso. Quantas pessoas passam uma vida inteira se dedicando a adquirir riquezas, sem hesitar em trair e prejudicar as pessoas, para obter o seu intento? Só enxergam esse objetivo e vivem para ele e por ele. Porém, na possibilidade de alcançarem a riqueza pretendida, por quanto tempo poderão desfrutar dela? Alguns anos? E quando morrerem, será que essa riqueza os servirá por toda a eternidade? Certamente que não. Isso quando, nesta vida mesmo, ao procurar a riqueza, essas pessoas não perdem a qualidade de vida, pois sequer têm tempo para usufruir daqueles prazeres que o dinheiro pode proporcionar, além de não ter convívio com sua família. Não é de admirar que muitos adolescentes e jovens passem a consumir drogas e praticar o vandalismo. Afinal, seus pais estão ocupados demais para acompanharem e atuarem na educação dos  filhos, além de não lhes dispensarem o carinho e a atenção de que necessitam.
A riqueza, como a beleza, é algo frágil, podendo desaparecer a qualquer instante. Pode-se entrar em falência, perder-se o emprego, etc. De que serviria toda a riqueza do mundo, se alguém não pudesse usufruir dos prazeres efêmeros proporcionados por ela? Por exemplo, alguém muito rico que, de repente, sofre um acidente e fica tetraplégico, precisando ficar por toda a vida em uma cama e dependente das pessoas para as coisas mais básicas da vida, como para fazer as necessidades fisiológicas, as refeições, a higiene pessoal, etc. Será que podemos trazer de volta à vida, por mais dinheiro que tenhamos, as pessoas amadas levadas pela morte? Seria Deus injusto por não ter criado todas nas pessoas nas mesmas condições financeiras? 
Com toda a certeza, a felicidade plena não é deste mundo. Podemos ter momentos felizes, entremeados de contrariedades e, algumas vezes, de sofrimento. 
Na pergunta Nº 920 de “O Livro dos Espíritos”, temos: “Pode o homem gozar de completa felicidade na Terra?” 
Resposta: “Não, por isso que a vida lhes foi dada como prova ou expiação. Dele, porém, depende a suavização de seus males e o ser tão feliz quanto possível na Terra.” 
Na pergunta Nº 921, temos: “Concebe-se que o homem será feliz na Terra, quando a humanidade estiver transformada. Mas, enquanto isso não se verifica, poderá conseguir uma felicidade relativa?” 
Resposta: “O homem é quase sempre o obreiro da sua própria infelicidade. Praticando a lei de Deus, a muitos males se forrará e proporcionará a si mesmo felicidade tão grande quanto o comporte a sua existência grosseira (Ver o texto Os Sofrimentos, neste blog).” 
Na pergunta Nº 922, temos: “A felicidade terrestre é relativa à posição de cada um. O que basta para a felicidade de um, constitui a desgraça de outro. Haverá, contudo, alguma soma de felicidade comum a todos os homens?” 
Resposta: “Com relação à vida material, é a posse do necessário. Com relação à vida moral, a consciência tranqüila e a fé no futuro.” 
E, na pergunta Nº 933, temos: “Assim como, quase sempre, é o homem o causador de seus sofrimentos materiais, também o será de seus sofrimentos morais?” 
Resposta: “Mais ainda, porque os sofrimentos materiais algumas vezes independem da vontade; mas, o orgulho ferido, a ambição frustrada, a ansiedade da avareza, a inveja, o ciúme, todas as paixões, numa palavra, são torturas da alma. “A inveja e o ciúme! Felizes os que desconhecem estes dois vermes roedores! Para aquele que a inveja e o ciúme atacam, não há calma, nem repouso possíveis. À sua frente, como fantasmas que lhe não dão tréguas e o perseguem até durante o sono, se levantam os objetos de sua cobiça, do seu ódio, do seu despeito. O invejoso e o ciumento vivem ardendo em contínua febre. Será essa uma situação desejável e não compreendeis que, com as suas paixões, o homem cria para si mesmo suplícios voluntários, tornando-se-lhe a Terra verdadeiro inferno?” 
Na pergunta Nº 967, lemos: “Em que consiste a felicidade dos bons Espíritos?” 
Resposta: “Em conhecer todas as coisas; em não sentirem ódio, nem ciúme, nem inveja, nem ambição, nem qualquer das paixões que ocasionam a desgraça dos homens. O amor que os une lhes é fonte de suprema felicidade. Não experimentam as necessidades, nem os sofrimentos, nem as angústias da vida material. São felizes pelo bem que fazem. Contudo, a felicidade dos Espíritos é proporcional à elevação de cada um. Somente os puros Espíritos gozam, é exato, da felicidade suprema, mas nem todos os outros são infelizes. Entre os maus e os perfeitos há uma infinidade de graus em que os gozos são relativos ao estado moral. Os que já estão bastante adiantados compreendem a ventura dos que os precederam e aspiram a alcançá-la. Mas, esta aspiração lhes constitui uma causa de emulação, não de ciúme. Sabem que deles dependem consegui-la e para conseguirem trabalham, porém com a calma da consciência tranqüila e ditosos se consideram por não terem que sofrer o que sofrem os maus.” 
E na pergunta Nº 968, temos: “Citais, entre as condições da felicidade dos bons Espíritos, a ausência das necessidades materiais. Mas, a satisfação dessas necessidades não representa para o homem uma fonte de gozos?” 
Resposta: “Sim, gozo do animal. Quando não podem satisfazer a essas necessidades, passas por uma tortura.” 
Os homens estão apegados a este mundo, pensando e comportando-se como se esta fosse a verdadeira e única existência. Contudo, a vida material é transitória, uma escola, pois somos consciências eternas em fase de aprendizado, desenvolvendo a inteligência, adquirindo conhecimentos e maturidade moral ao longo de várias existências. 
Podemos possuir bens, sermos belos e gozarmos de plena saúde nessa vida, mas nas vidas seguintes nada disso termos. Isso quando não perdemos estas “vantagens” aqui mesmo nessa vida. 
Precisamos desenvolver a humildade, o desapego às coisas materiais, a compreensão do nosso semelhante, aprendendo a nos colocar no lugar das pessoas em todas as situações, sermos generosos e benevolentes para com os outros, para que possamos gozar de uma felicidade relativa, ainda neste mundo, e darmos um passo à frente no caminho da felicidade suprema. 
Se Deus nos criou a todos simples e ignorantes, com as mesmas potencialidades e condições para atingir a perfeição moral e intelectual, sendo nossas aparentes diferenças apenas uma questão de experiência maior ou menor, adquirida ao longo de sucessivas reencarnações, então porque sermos orgulhosos, se ninguém é melhor de que ninguém? Se a beleza física é algo frágil, passageiro, então porque sermos vaidosos? Nos apegarmos a algo que fatalmente um dia iremos perder? Se os bens materiais são transitórios, e nada, na verdade, nos pertence, a não ser aquilo que adquirimos para nossa consciência, porque condicionarmos nossa felicidade à posse de bens que o consumismo insiste que devemos ter? Se nos sentimos bem quando alguém nos ajuda, ou quando superamos uma dificuldade por nosso esforço, que tal fazer com que os outros sintam esse mesmo bem-estar, ao ajudá-los? Nos coloquemos, nesse momento, no lugar dessas pessoas que ajudamos e nós próprios nos sentiremos felizes. 
Cada cabeça é um mundo. Cada um de nós tem um somatório de experiências, de conhecimentos, criando em nós mesmos nossas verdades, maneiras diversas de enxergar o mundo. Então porque exigir das pessoas que elas se comportem da maneira que nós nos comportamos? Precisamos compreender o outro em sua totalidade, mergulhar em seu mundo. Assim, enxergando com os olhos do outro, não faremos julgamentos precipitados e preconceituosos acerca do mesmo, evitando nos ofendermos com atitudes do outro diferentes das que tomaríamos em determinada situação. Evitamos, dessa forma, desentendimentos, conflitos. 
Pense, por um momento, no alívio que se experimenta ao nos sentirmos livres de todas as angústias que nos são impostas pelo orgulho ferido, a vaidade frustrada, o egoísmo, que só gera a antipatia das pessoas, e o apego aos bens materiais, e em nos sentirmos bem ao fazer o bem aos outros. 
Pense, agora, na sensação de se possuir imensa inteligência e conhecimentos, a ponto de compreender, até, a essência de Deus, sendo os executores diretos e conscientes de Sua vontade.
Estas são as sensações imorredouras de Espíritos puros como Jesus Cristo, nosso guia e modelo. 
Esta sim é a verdadeira e plena FELICIDADE, a meta de nossa existência.  

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 

1 KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 36. ed. Rio de Janeiro: FEB, [1990]. 

2 _______________. O Livro dos Espíritos: princípios da doutrina espírita. 76. ed. Rio de Janeiro: FEB, [1995]. 
3 _______________. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 3.ed. São Paulo: Petit, [1997].