Allan Kardec e os Espíritos da Codificação do Espiritismo
Fonte da imagem: http://ceacs.wordpress.com/2011/09/09/os-150-anos-de-o-livro-dos-mediuns/
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Fábio José Lourenço Bezerra
Imagine, por um momento, que você quer saber tudo sobre determinado país e seus habitantes. Desconfiado, você não acha suficiente pesquisar na internet, quer o testemunho de pessoas que você conhece e que já estiveram lá. Porém, uma ou duas pessoas lhe contando é muito pouco, pois você quer conhecer o país através do ponto de vista de várias pessoas conhecidas e fazer a comparação. Aí sim, você vai estar seguro.
Eis que, por um golpe de sorte, vários parentes, amigos e conhecidos já estiveram naquele país, e eles são das mais diversas classes sociais, idades e níveis de instrução. Isto é muito bom, afinal, você quer conhecer o país como um todo e não apenas a parte mais humilde, ou a mais abastada. Também quer saber sobre os pontos turísticos, o custo de vida, os programas culturais, clima, costumes, etc. Para sua felicidade, as descrições que todas essas pessoas lhe deram formam um todo coerente, fazendo você visualizar mentalmente o país de forma geral, e também em vários detalhes.
Os relatos coincidem em vários pontos, e muitas das pessoas que você entrevistou são de sua inteira confiança. E veja que você fez essas perguntas por vários anos seguidos!!! Será que você ainda tem alguma dúvida de que sabe muita coisa verdadeira sobre esse país, apesar de nunca ter posto os pés lá?
Admitamos agora a hipótese de que as pessoas possam, após o seu falecimento, comunicar-se conosco e contar tudo o que presenciaram, tudo o que sentiram do outro lado da vida. Admitamos também que essas comunicações só sejam possíveis através da sensibilidade especial de determinadas pessoas (os médiuns), que nos transmitiriam a comunicação recebida através de várias formas, como, por exemplo, a psicografia (método através do qual os Espíritos, pelas mãos dos médiuns, escrevem textos). Como poderíamos saber que aquelas comunicações são realmente de pessoas falecidas e não são produto da mente do médium, ainda que inconscientemente?
Lembremos do que foi dito no início deste texto, quando perguntamos a várias pessoas sobre determinado país que elas conheceram. Poderíamos imaginar agora, no lugar dessas pessoas, centenas de médiuns, que não se conhecem, de diferentes localidades, distantes entre si, recebendo comunicações de vários Espíritos cada um, que revelariam as suas impressões acerca do mundo espiritual. Se, de fato, as várias centenas de comunicações obtidas coincidirem em vários pontos, aliás, na grande maioria deles, e se o teor dessas comunicações estiver muito acima do nível cultural dos médiuns, além de formarem um todo lógico, coerente, teríamos, evidentemente, um retrato muito confiável do que seria a vida pós-morte. As diferenças poderiam, neste caso, ser facilmente atribuídas aos pontos de vista característicos de cada Espírito comunicante, da mesma forma que, na vida material, as pessoas emitem pontos de vista e impressões distintas acerca de um mesmo assunto.
O método descrito acima é o mesmo utilizado por Allan Kardec na análise das comunicações de inúmeros Espíritos, com o auxílio de milhares de médiuns, para conhecer a dimensão espiritual e seus habitantes, conhecido no Espiritismo como o Controle Universal dos Ensinamentos dos Espíritos. Vejamos o que disse o próprio Allan Kardec no livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, na segunda parte da introdução, intitulada “ Autoridade da Doutrina Espírita – Controle Universal dos Ensinamentos dos Espíritos”:
“Se a Doutrina Espírita fosse uma criação puramente humana, só teria por garantia as luzes dos que a criaram. Acontece que ninguém na Terra poderia ter a pretensão de possuir sozinho a verdade absoluta. Se os Espíritos que revelaram a Doutrina Espírita se manifestassem a um único homem, nada lhe garantiria a origem, pois seria preciso acreditar na palavra daquele que dissesse ter recebido deles os ensinamentos . Admitindo-se uma perfeita sinceridade, poderia ele convencer perfeitamente as pessoas do seu meio, poderia ter seguidores, mas jamais chegaria a reunir todo o mundo.
Deus quis que a nova revelação chegasse aos homens por um meio mais rápido e mais autêntico. Por isso encarregou os Espíritos de levá-la de um pólo a outro, manifestando-se em todos os lugares, sem dar a ninguém o exclusivo privilégio de ouvir suas palavras. Um homem pode ser iludido, pode iludir-se a si mesmo, mas não pode enganar milhões de pessoas que vêem e ouvem a mesma coisa.”
“ [...] Na Universalidade dos ensinamentos dos Espíritos está a força do Espiritismo e também a causa de sua rápida propagação. A voz de um único homem, mesmo com a ajuda da imprensa, levaria séculos para chegar aos ouvidos de todos, mas eis que milhares de vozes se fazem ouvir simultaneamente em todos os lugares da Terra para proclamar os mesmos princípios e transmití-los a todos de forma igual: dos mais simples de entendimento aos mais sábios. É uma vantagem que nenhuma das doutrinas que já apareceram até hoje possui.”
“[...] O primeiro exame ao qual é preciso submeter, sem exceção, tudo o que vem dos Espíritos é, sem dúvida, o da razão. Portanto, toda a teoria que contrarie o bom senso, a rigorosa lógica e os dados positivos que já possuímos deve ser rejeitada, mesmo que seja assinada por qualquer nome respeitável.
“[...] A única garantia séria do ensinamento dos Espíritos está na concordância que exista entre as revelações feitas espontaneamente, servindo-se de um grande número de médiuns, estranhos uns aos outros, e em diversos lugares.”
“[...] Na posição em que nos encontramos, recebendo as comunicações de cerca de mil Centros Espíritas sérios, espalhados pelos diversos pontos do globo, temos condições de analisar os princípios sobre os quais esta concordância se estabelece.”
É muito interessante notar, a título de exemplo, que um ilustre contemporâneo de Kardec, o famoso naturalista inglês Alfred Russel Wallace (que elaborou a Teoria da Seleção Natural ao mesmo tempo que Darwin e de forma independente deste), também tenha observado a concordância das diversas comunicações dos Espíritos e, pelo que se sabe, ele nunca manteve contato com o Codificador do Espiritismo. São suas as seguintes palavras, extraídas do seu livro “O Aspecto Científico do Sobrenatural”, no capítulo IX (observe-se a semelhança com o que ensina a Doutrina Espírita):
“[...] A hipótese do espiritualismo não apenas considera todos os fatos(e é a única que o faz), mas vai ainda mais longe por sua associação com uma teoria do futuro estado da existência, que é o único que alguém já deu ao mundo em condições de ser confiado ao pensamento filosófico moderno. Há uma concordância geral e um tom de harmonia na quantidade de fatos e comunicações chamadas ‘espirituais’, que têm levado ao crescimento de uma nova literatura e ao estabelecimento de uma nova religião. As principais doutrinas desta religião são que, após a morte, o espírito humano sobrevive em um corpo etéreo, dotado de novas capacidades, mas sendo mental e moralmente o mesmo indivíduo que era quando vestido de carne; que ele inicia, a partir de certo momento, um curso de progressão aparentemente sem fim cuja velocidade está na medida que as suas faculdades mentais e morais são exercitadas e cultivadas enquanto se acha na Terra; que sua alegria ou sua miséria relativas irão depender inteiramente dele mesmo. Apenas na medida que suas faculdades humanas superiores fizeram parte de seus prazeres aqui, ele irá encontrar-se contente e feliz em um estado de existência no qual eles terão o mais completo exercício. Aquele que dependeu mais do corpo que da mente para os seus prazeres irá, quando aquele corpo não existir mais, sentir um desejo angustiante, e necessitará desenvolver vagarosa e dolorosamente sua natureza intelectual e moral até que este exercício se torne fácil e prazeroso. Nem punições nem recompensas são distribuídas por um poder externo, mas a condição de cada um é a sequência natural e inevitável de sua condição aqui. Ele começa novamente do nível do desenvolvimento moral e intelectual que atingiu quando estava na Terra. ”
E, em outro trecho do mesmo capítulo, ele cita, como Kardec também o fez nas obras da Codificação Espírita, a grande diferença entre o conteúdo das comunicações e a cultura dos médiuns:
“[...] Os ensinamentos da senhorita Hardinge concordam em substância com aqueles de todos os demais médiuns desenvolvidos, e eu perguntaria se é provável que estes ensinamentos tenham sido desenvolvidos a partir de dogmas conflituosos de um conjunto de impostores? Nem parece ser uma solução provável a de que eles tenham sido produzidos inconscientemente pelas mentes de homens auto-iludidos e de mulheres frágeis, desde que é palpável a todo leitor que estas doutrinas sejam essencialmente diferentes em cada detalhe daquelas que eles ensinaram e acreditaram a partir de uma das escolas filosóficas modernas ou de qualquer seita de cristãos modernos.
Isto é bem mostrado por suas afirmações opostas à condição da humanidade após a morte. Nos relatos de um estado futuro, obtidos junto aos melhores médiuns, e nas visões das pessoas mortas obtidas por clarividentes, os Espíritos são uniformemente apresentados sob a forma de seres humanos e suas ocupações são análogas às da Terra. Mas na maioria das descrições religiosas do céu eles são representados como seres alados, como descansando cercados por nuvens, e suas ocupações são tocar harpas douradas ou cantar, rezar e adorar perpetuamente diante do trono de Deus. Como é que estas visões e comunicações não são senão uma remodelagem de idéias preexistentes ou preconcebidas por uma imaginação doentia, se as noções populares nunca são reproduzidas? Como é que, se os médiuns, sejam homens, mulheres ou crianças, sejam ignorantes ou instruídos, sejam ingleses, alemães ou americanos, fazem uma única e consistente representação destes seres sobre-humanos, em discordância com a sua noção popular, mas notavelmente de acordo com a moderna doutrina científica da ‘continuidade?’ eu proponho que este pequeno fato é em si um argumento fortemente corroborador de que há alguma verdade objetiva nestas comunicações.”
Nos séculos XIX e XX, além de Wallace e Kardec, inúmero outros cientistas e pesquisadores de renome tornaram-se convictos da vida pós-morte, após pesquisar os fenômenos Espíritas (ver o texto “Existe Vida Após a Morte?” neste blog).
A Doutrina Espírita, alicerçada na metodologia acima descrita, pôde montar um retrato bastante seguro do que nos espera após a morte.
As provas de identificação dos Espíritos é outro poderoso argumento de que se vale o Espiritismo para atestar a realidade da sobrevivência após a morte. Como exemplo, temos o mais famoso médium brasileiro, Francisco Cândido Xavier, mais conhecido como Chico Xavier. Tendo psicografado mais de 400 livros e inúmeras cartas, por diversos Espíritos, forneceu um volumoso conjunto de provas da sobrevivência. Em alguns de seus livros, antecipou descobertas científicas que só seriam anunciadas muitos anos depois, e em suas diversas cartas psicografadas, haviam detalhes fornecidos pelos falecidos, às vezes coisas muito íntimas, que só os parentes poderiam ter conhecimento, consolando muitos familiares saudosos. Inclusive ocorreram casos de cartas ditadas em outras línguas, desconhecidas do médium (ver o texto “Existe Vida Após a Morte?” neste blog). É fato digno de nota que Chico Xavier vendeu mais de 50 milhões de exemplares dos seus livros, porém toda a renda foi revertida para instituições de caridade, pois o médium fazia questão de sobreviver apenas da sua aposentadoria como ex-funcionário do Ministério da Agricultura, vivendo modestamente até seu desencarne. Como ele mesmo dizia: “ Estas obras não me pertencem. Pertencem aos Espíritos que as ditaram.”
Um dos fenômenos Espíritas mais antigos da humanidade chama-se Desdobramento Espiritual ou Bilocação. Ocorre quando o corpo espiritual, ou duplo etérico, afasta-se do corpo físico, ganhando, às vezes, enormes distâncias deste. Nossa consciência viaja junto com esse nosso ”fantasma”, que consegue, muitas vezes, perceber tudo ao seu redor, seja no plano físico, seja no plano espiritual. Contudo, mantém, com o corpo físico ainda vivo, uma delicada ligação, o chamado “cordão de prata”, espécie de fio fluídico que se distende, indefinidamente, com o deslocamento do corpo espiritual. Na atualidade, diversos pesquisadores têm estudado uma de suas modalidades: as chamadas “Experiências de Quase-Morte” (EQM). São eles: o médico americano e palestrante universitário, Dr.Raymond Moody Jr.; O Dr. Pin Van Lommel, cardiologista da Holanda; o pesquisador americano Bruce Greyson; O Dr. Mervin Morse; Janet Schwaninger, uma enfermeira cardíaca dos EUA; o Dr. Peter Fenwick e o Dr. Sam Parnia (ver o texto “As Experiências de Quase-Morte”, neste blog.).
O resultado geral de todas estas pesquisas foi o seguinte: O fenômeno EQM existe, e cerca de 10 a 20 % dos pacientes que sofrem parada cardíaca o experimentam, inclusive crianças. De uma forma geral, as EQMs podem ser descritas conforme o modelo ideal proposto pelo Dr Raymond Moody Jr:
“Um homem está morrendo e, quando chega ao ponto de maior aflição física, ouve seu médico declará-lo morto. Começa a ouvir um ruído desagradável, um zumbido alto ou toque de campainhas, e ao mesmo tempo se sente movendo muito rapidamente através de um túnel longo e escuro. Depois disso, repentinamente se encontra fora do seu corpo físico, mas ainda na vizinhança imediata do ambiente físico, e vê seu próprio corpo a distância, como se fosse um espectador. Assiste às tentativas de ressurreição desse ponto de vista inusitado em um estado de perturbação emocional.
Depois de algum tempo, acalma-se e vai se acostumando à sua estranha condição. Observa que ainda tem um “corpo”, mas um corpo de natureza muito diferente e com capacidades muito diferentes das do corpo físico que deixou para trás. Logo outras coisas começam a acontecer. Outros vêm ao seu encontro e o ajudam. Vê de relance os espíritos de parentes e amigos que já morreram e aparece diante dele um caloroso espírito de uma espécie que nunca encontrou antes – um espírito de luz. Este ser pede-lhe, sem usar palavras, que reexamine sua vida, e o ajuda mostrando uma recapitulação panorâmica e instantânea dos principais acontecimentos de sua vida. Em algum ponto encontra-se chegando perto de uma espécie de barreira ou fronteira, representando aparentemente o limite entre a vida terrena e a vida seguinte. No entanto, descobre que precisa voltar para a Terra, que o momento da sua morte ainda não chegou. A essa altura oferece resistência, pois está agora tomado pelas suas experiências no após-vida e não quer voltar. Está agora inundado de sentimentos de alegria, amor e paz. Apesar dessa atitude, porém, de algum modo se reúne ao seu corpo físico e vive.
Mais tarde tenta contar o acontecido a outras pessoas, mas tem dificuldade em fazê-lo. Em primeiro lugar, não consegue encontrar palavras humanas adequadas para descrever esses episódios não-terrenos. Descobre também que os outros caçoam dele, e então deixa de dizer essas coisas. Ainda assim, a experiência afeta profundamente sua vida, especialmente suas opiniões sobre a morte e as relações dela com a vida”.
As pesquisas supracitadas mostraram que vários milhões de pessoas no mundo já passaram por uma EQM. Independentemente de sexo, idade e cultura dos pacientes, seus relatos são notavelmente semelhantes entre si, o que demonstra não existir influência das suas crenças religiosas. Aliás, na maioria dos casos destoam muito destas, por isso não poderiam ser meras fantasias baseadas nelas. Além do que, vários pacientes voltaram descrevendo com exatidão os procedimentos médicos de ressuscitação, e os detalhes do que ocorreu no local enquanto o coração e o cérebro estavam parados!
Mais notável ainda: diversos detalhes do Espiritismo aparecem nos relatos. Basta lermos atentamente a descrição do caso ideal do Dr.Moody, acima: o corpo espiritual, o encontro com parentes falecidos, a recapitulação dos principais acontecimentos da vida, orientada por um guia espiritual (o Espiritismo nos diz que as encarnações na Terra são para o aprendizado do Espírito), tudo isso está lá, sendo narrado por muitas pessoas que nada sabiam sobre o Espiritismo. Em muitos outros relatos aparecem ainda a reencarnação e, inclusive, cidades espirituais! Novamente, na concordância de diversas fontes independentes e distantes entre si (neste caso, os pacientes), surgem os postulados Espíritas.
Como disse o Cristo: “Quem tiver olhos de ver, veja.”
Com certeza, e isso inclusive é uma hipótese formulada pelo Dr. Parnia, todas as pessoas, cujo coração e o cérebro pararam, passaram pelas EQMs, porém apenas uma pequena parcela delas se lembra dos acontecimentos. É uma concessão que a Espiritualidade Superior, com a permissão de Deus, faz a essas pessoas, e também a nós, para nos mostrar que a morte nada mais é do que a passagem para a Vida Maior.
Como tivemos a intenção de demonstrar, a Doutrina Espírita é baseada em fatos, e vem sendo confirmada a cada dia, inclusive pelas mais diversas fontes e pesquisadores não Espíritas (ver o texto “Existe Vida Após a Morte?”, neste blog), o que só demonstra o seu caráter universal.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, 1857.
2_____________O Evangelho segundo o Espiritismo, 1997
3 DOYLE, Arthur Conan. História do Espiritismo.
4 STEVENSON, Ian. Vinte casos sugestivos de reencarnação.
5 WEISS, Brian L. Muitas vidas, muitos mestres, 1988.
6 WAMBACH, Helen. Recordando vidas passadas, 1978.
7 MOODY Jr., Raymond A. Vida depois da vida, 1979.
8 ANDRADE, Hernani Guimarães. Parapsicologia: uma visão panorâmica, 2002.
9 WALLACE, Alfred Russel. O Aspecto científico do sobrenatural, 2003.
10 LIMA, Ronie. A Vida Além da Vida, 2005.
11 SOUTO MAIOR, Marcel. As Vidas de Chico Xavier, 2003.
12 GIBIER, Paul. As Materializações de Fantasmas, 2001.
Endereços Eletrônicos consultados:
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