Fonte da imagem:http://www.batuiranet.com.br/espiritismo/2395/reencarnacao-e-conflitos-familiares/
Fábio José Lourenço Bezerra
Fábio José Lourenço Bezerra
Visualizemos, por um instante, as etapas percorridas pelo ser humano durante o seu período de estudos, do maternal ao pós-doutorado.
Inicialmente, as atividades na escola servem para estimular na criança o desenvolvimento da sua noção de espaço, tempo, quantidade, consistência das diferentes substâncias (o que é rígido, maleável, líquido, pastoso, leve, pesado, pequeno, grande, colorido, etc.), bem como da coordenação motora, promover a interação com outras crianças, etc. Conceitos que para nós adultos são tão simples e banais, para ela é todo um novo mundo a descobrir. Dessa forma, seus cinco sentidos, sua inteligência e curiosidade são estimuladas ao máximo possível, sendo o nível de complexidade dos conceitos e das associações entre eles proporcional à sua capacidade de compreensão cada vez maior. Forma-se, dessa maneira, a base para todo o aprendizado que ainda está por vir.
Em seguida, a criança é apresentada às letras e aprende a formar combinações com estes símbolos gráficos (as palavras), associando-as aos conceitos já aprendidos (bola, cachorro, casa, escola, etc.), bem como combinações das combinações (frases), aumentando enormemente sua capacidade de receber, transmitir e registrar informações. Através da leitura, novos e variados conceitos, cada vez mais complexos, são assimilados, porém não só através da escola, mas também de diversas outras fontes. De série em série, muito do que foi anteriormente visto vai sendo abordado com mais detalhes, sempre graduando o conhecimento transmitido à capacidade do estudante.
Com maior ou menor interesse da parte do estudante, as matérias escolares vão dando a ele uma visão geral do mundo que o cerca, através de todos os ramos do conhecimento. É quando, identificando-se com determinado ramo, ele segue para o estudo superior, especializado, aprofundando-se cada vez mais, até poder atuar efetivamente na sociedade, seja transmitindo e/ou produzindo conhecimento ou aplicando-o em alguma atividade. Juntam-se agora a teoria e a prática, havendo ainda muito para se aprender com a experiência durante a vida profissional.
Evidentemente que, para percorrer todas as etapas acima descritas, foi necessário muito esforço e dedicação da parte do estudante, muitas vezes até com o sacrifício de várias horas diárias, ao longo de vários anos, do convívio com os familiares e os amigos. É daí que vem a sensação de merecer toda a bagagem de conhecimento adquirido, ou seja, a consciência do mérito. Dessa forma, aquilo que foi conquistado adquire muito mais valor para quem o conquistou.
Na hipótese de o estudante estar plenamente identificado com a área escolhida (se é um biólogo ou um engenheiro, por exemplo) e consegue atuar nessa área, evidentemente que o trabalho, além de ser a fonte de seu sustento, será também uma fonte de prazer e de auto-realização. Afinal, quem ama o que faz não trabalha, se diverte (quando existem condições adequadas de trabalho, é claro), e quando fazemos algo para o qual temos vocação, o serviço flui de forma harmoniosa, natural.
Imaginemos agora a inteligência suprema do universo, a causa primeira de tudo o que existe: Deus. Imaginemos agora os seus atributos, sem os quais ele não poderia ser chamado de Deus: Eterno, Infinito, Imutável, Imaterial, Único, Todo-Poderoso, Soberanamente Justo e Bom.
Partindo do princípio de que Deus existe e que possui os atributos acima citados (sem discutirmos, por hora, as provas de sua existência e de seus atributos), podemos então tirar algumas conclusões a respeito da sua maior criação: o Espírito, ou (como vem sendo chamado atualmente) a consciência. Este ser que é capaz de sentir, pensar, lembrar-se e aprender, ou seja, nossa essência, aquilo que somos verdadeiramente, além dos nossos corpos materiais.
A primeira conclusão que podemos tirar, a partir dos atributos de Deus, é a respeito da imortalidade do Espírito. Ora, se considerarmos que Deus é todo-poderoso e soberanamente justo e bom, jamais poderíamos conceber que ele criaria seres conscientes que, levando toda uma vida de sofrimentos, seriam jogados no nada após a morte (imagine uma criança com câncer e os pais dela, por exemplo). Estes seres seriam criados apenas para sofrer e depois desaparecer? Sem nada ter feito para merecer tal punição ou sequer ter direito a uma compensação futura? Assim, Deus jamais seria bom, e sim um sádico, que se diverte ao assistir os sofrimentos de seus filhos, apenas tendo-os criado para essa finalidade, ou seria bastante indiferente com sua criação. Sendo todo-poderoso, poderia eliminar os sofrimentos, aliás, poderia impedir qualquer sofrimento desde o início. Mas, neste caso, poderia o leitor perguntar: porque Deus, então, permite o sofrimento das suas criaturas se Ele é bom, mesmo admitindo que o Espírito é imortal? Há uma explicação lógica, sim, pois Deus não faria tal coisa se isto não se revertesse em algo bom, no futuro, para o Espírito, o que torna necessária a continuidade da existência do mesmo (falaremos sobre isto mais adiante). Imagine, além disso, tudo o que se aprende ao longo da vida, os conhecimentos laboriosamente conquistados, as afeições que adquirimos pelas pessoas (pelos nossos entes queridos, por exemplo), tudo isso jogado no nada após a morte. Sendo justo, jamais deixaria que uns sofressem tanto ao longo da vida, enquanto outros praticamente nada sofrem, permitindo que, ao final, todos eles deixem de existir. De fato, seria inconcebível.
Portanto, podemos concluir, com base nos atributos de Deus, que o Espírito é imortal, e isto não considerando uma volumosa quantidade de provas da sobrevivência (Ver os textos "Ilustres Cientistas Confirmaram: A Alma Sobrevive à Morte", “Existe Vida após a Morte?” e “Os Mortos Voltam para Contar?” neste blog).
Agora, paremos para pensar. Criou Deus este ser sensível, inteligente e imortal. Ora, sendo filho de Deus, imagine o quanto ele poderia receber deste pai! As possibilidades são infinitas! Claro, ele deu de presente a seu filho todo um universo, aliás, infinitos universos. Não só esta parte do universo que a nossa humilde ciência humana estuda, mas matéria, energia e leis físicas em variedades que o ser humano sequer ainda teve a possibilidade de imaginar!
Contudo, para explorar a riqueza destes universos, é necessário que ele possua conhecimento, experiência. Sem o conhecimento, aliás, o Espírito nada é, pois é da essência do Espírito o pensar, e a matéria-prima do pensamento é o conhecimento. Deus, evidentemente, sendo todo-poderoso, poderia, perfeitamente, dar todo o conhecimento a seu filho instantaneamente, num “piscar de olhos”, como se diz. Porém, dessa maneira, onde estaria o mérito pela aquisição deste conhecimento? (lembra do início deste texto, do nosso hipotético estudante?) Como valorizar algo pelo qual não se esforçou para conseguir? Contudo, poder-se-ia perguntar: mas porque tanto tempo para adquirir-se conhecimento? Deus não poderia reduzir este tempo de aprendizado? Respondemos que Deus dá o tempo suficiente para que o Espírito conserve em si a lembrança de seu esforço e, assim, dê a devida importância para o seu prêmio, que é o conhecimento. E o que são anos, séculos, milênios mesmo, diante da eternidade reservada ao Espírito para aproveitar este conhecimento? Comparativamente, bem menos que frações de segundo dentro do período de um século.
Dessa forma, quis Deus que o Espírito fosse criado simples e ignorante, em humílima condição, para que, pouco a pouco e à custa de muito esforço, adquirisse experiência e desenvolvesse gradativamente sua inteligência (como nosso hipotético estudante). Criou, assim, a evolução intelectual.
Porém, de que vale todos estes universos, se este filho não possui liberdade para explorá-lo? Assim, Deus deu a ele o livre-arbítrio, para que possa agir por conta própria, sem ser impelido pelo que quer que seja. Assim, tudo o que ele fizer será de sua inteira responsabilidade, uma vez que terá plena consciência das conseqüências dos seus atos. Contudo, o seu livre-arbítrio e, consequentemente, sua responsabilidade, só aumentam na medida em que se ampliam os seus conhecimentos. Nas primeiras etapas do aprendizado do Espírito, ele é constrangido a fazer determinadas escolhas para que possa tomar o rumo certo de sua evolução.
Quis Deus, também, que o Espírito valorizasse sua imortalidade. Para isso, revestiu-o, ainda que temporariamente, de um corpo feito de matéria frágil e perecível (o corpo físico), cuja manutenção exige trabalho, e o fez acreditar que, sem este corpo (que ele chega a confundir consigo próprio), deixaria de existir. Ao mesmo tempo, dotou-o do instinto de sobrevivência. Assim, lutando pela sobrevivência, ele desenvolve sua inteligência através do trabalho. E, vislumbrando a morte e sobrevivendo a ela, dá valor à sua condição de ser imortal. Afinal, como o Espírito teria sequer noção de imortalidade se não conhecesse, de perto, a morte, a possibilidade de deixar de existir?
Deus também dotou o Espírito da necessidade de sentir prazer e conforto, o que faz com que ele lute por isto, e da capacidade de sentir dor, obrigando-o a criar meios para evitá-la (Ver também o texto "Os Sofrimentos", neste blog). Assim, também é estimulado o desenvolvimento de sua inteligência, de seus conhecimentos e de suas emoções. Contudo, aquilo que serve para o seu aprendizado também o faz apegar-se à matéria, já que os bens materiais e as sensações proporcionadas por ela (como no sexo e na alimentação, por exemplo) dão ao Espírito uma sensação transitória, bastante intensa, de conforto e prazer, do que ele, muitas vezes, abusa. O instinto de sobrevivência, também necessário, converte-se em egoísmo. O Espírito, então, muitas vezes, luta contra seu semelhante, no desejo de subjugá-lo e adquirir, assim, bens e prazeres materiais em quantidade cada vez maior. Daí vem a sede de poder, também estimulada pelo orgulho, filho do egoísmo.
Para direcionar o Espírito no rumo certo da evolução, em suas primeiras etapas de aprendizado, e como mecanismo de justiça, Deus criou a Lei de Causa e Efeito, que consiste na colheita obrigatória, pelo Espírito, de tudo o que ele plantar: se faz o mal a seu semelhante, proporcionalmente ao seu grau de responsabilidade terá o mal revertido contra si. Quando faz o bem, recebe de volta coisas boas. Contudo, a prática do bem pode atenuar suas faltas, como disse o Apóstolo dos Gentios, Paulo de Tarso: “O amor cobre uma multidão de pecados”(Ver o texto "Por Que Devemos Fazer o Bem?", neste blog).
Quando evolui ao ponto de poder exercer o seu livre-arbítrio e toma consciência de que é preciso progredir, o Espírito é assistido, no mundo espiritual, pelos bons Espíritos, que o aconselham sobre quais experiências na matéria são necessárias para que ele se desenvolva mais rápido, combatendo assim as suas más inclinações. Um Espírito com muita tendência a ser orgulhoso, por exemplo, pode precisar passar por uma existência humilhante, a fim de que possa aprender o valor da humildade. Aquele que foi rico e usou sua fortuna apenas em benefício próprio, tendo tendência para o egoísmo, pode precisar nascer na pobreza, às vezes até na miséria, a fim de tomar plena consciência do sofrimento daqueles a quem deixou de ajudar, e assim desenvolver a generosidade. Contudo, cabe a ele decidir se vai passar pela experiência ou não.
Quando o Espírito ainda é muito imperfeito, não lhe é permitido escolher, sendo forçado a passar pelas necessárias experiências na matéria, no intuito de direcioná-lo no rumo certo, como os pais fazem com seus filhos quando crianças, ao levá-los à escola ou dar-lhes um remédio mesmo que não queiram, quando ainda não têm consciência do que é melhor para eles próprios.
Iludidos com o corpo físico e o mundo material, pelo qual estão somente de passagem para aprender, os Espíritos, só após várias passagens pela matéria, através das mais diversas experiências, desapegam-se desta, tomando plena consciência da condição de serem Espíritos imortais, e de que os prazeres proporcionados pelo mundo material são passageiros e ilusórios.. Assim, aprendem que a verdadeira e absoluta felicidade está na união entre eles e na total sintonia com Deus, quando cultivam o amor fraternal em toda sua plenitude. O foco de suas existências deixa de ser somente em si próprios para abarcar todos os seus irmãos, formando um todo único e indivisível. Utilizar o conhecimento adquirido para ajudar na evolução dos menos experientes, além de ser uma missão confiada a eles por Deus, torna-se uma fonte abundante de prazer: Deus delega a eles, sob Sua inspiração e supervisão, a formação e o governo dos mundos e a responsabilidade pela educação dos novos Espíritos (lembram do nosso hipotético estudante, no início deste texto, como um profissional da sua área, que ama o que faz, sentindo prazer e se auto-realizando com seu trabalho?). Após chegar a este estágio final, eles podem ser chamados de Espíritos Puros ou Anjos.
Este processo chama-se evolução moral.
Dissemos acima que o Espírito tem que passar pela matéria por diversas vezes, e a isto dá-se o nome de reencarnação. Contudo, sabemos que algumas religiões não acreditam neste conceito. Pregam, inclusive, que o destino do Espírito está irremediavelmente fixado após a morte, sem direito a arrependimento. Para ir para o céu ou evitar sofrer eternamente no inferno, torna-se necessária, neste caso, a crença em determinados dogmas e/ou a prática de determinados rituais exteriores, ou seja, fora destas religiões não há salvação. Acreditam também que o sofrimento no mundo existe porque o primeiro homem, pai de toda a humanidade, desobedeceu a Deus e foi expulso do paraíso, ficando sujeito a trabalhar pelo próprio sustento e aos sofrimentos da vida, como doenças, acidentes, etc., tendo a humanidade, por herança, ficado com tudo isso. Isto se chama o pecado original.
Mesmo com todo o respeito que temos pelas religiões supracitadas, e tendo sido criado sob os ensinamentos de uma delas, somos da opinião de que devemos tudo questionar, nada aceitando cegamente, mesmo que essas doutrinas sejam acolhidas pelos nossos entes mais queridos, e tenhamos receio em desapontá-los, ainda que inconscientemente. Concordamos plenamente com a seguinte frase do Sr. Allan Kardec, escrita em uma de suas obras:
“Não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade”
Pensando nos atributos de Deus da soberana bondade e justiça, além da onipotência, observando nosso mundo e admitindo-se por um instante a idéia de que se vive apenas uma vez, conforme as doutrinas acima mencionadas, encontramos as seguintes contradições:
- Porque existe o sofrimento? Se a humanidade sofre porque o primeiro homem pecou, então seria justo, por exemplo, que nosso avô, nosso pai e tios, e até nós, fôssemos presos porque nosso bisavô cometeu um assassinato antes de ter filhos? Onde estaria, então, a responsabilidade individual pelos próprios atos? ;
- Porque uns sofrem tanto (lembram do exemplo da criança com câncer e dos seus pais?), sem nada terem feito nessa vida que o justifique, enquanto outros sofrem tão pouco? ;
- Porque uns nascem na miséria, sem ter o mínimo necessário para desenvolverem-se física e mentalmente (lembram-se dos miseráveis da Etiópia, por exemplo?), enquanto outros nascem na abundância? ;
- Porque uns nascem com grande habilidade em determinadas áreas do conhecimento, muitas vezes até são gênios, independentemente da educação que lhes foi dada e do meio em que viveram, enquanto outros nascem com muito pouca inteligência, até mesmo com deficiência mental? ;
- Porque uns possuem índole tão má, a ponto de torturar e assassinar seu semelhante com requintes de crueldade, enquanto outros são capazes de sacrificar seu tempo, seu repouso ou até mesmo de dar a vida para beneficiar outras pessoas, mesmo não sendo parentes, amigos ou sequer conhecidos? Não podemos dizer que se trata de simples escolhas, pois se pode facilmente verificar que os sentimentos (ou a ausência deles), motivadores destes comportamentos, em muitos casos brotam espontaneamente destas pessoas, sem nenhum esforço da parte delas ;
- Porque uns chegam a viver apenas alguns anos, meses, ou até a morrer no ventre materno, sem ter podido fazer nem o bem, nem o mal ou aprender qualquer tipo de crença? Se vão para o céu, porque esse favor, sem que coisa alguma tenham feito para merecê-lo? Porque tipo de privilégios eles se vêem isentos das tribulações da vida? Se vão para o inferno, que fizeram para merecê-lo? Porque outros vivem até os 100 anos ou mais, sujeitos às mais diversas tribulações e tentações da vida?
- Se sofrer eternamente ou não após a morte depende da adoção de determinada crença, então porque várias pessoas, diariamente, morrem sem nada conhecer desta crença? E os milhões que morreram no passado sem dela nada conhecer? Caso sejam salvos porque não conhecem, porque o privilégio de não terem-na conhecido? Se não são salvos, porque então nasceram sob esta condição?
- Se Deus é bom, então porque ele não daria mais oportunidades para arrependimento, antes de jogar seu filho em um suplício eterno? Se alguém, por exemplo, viveu 20 anos e pecou mortalmente, morrendo e indo para o inferno, será que se pudesse ter vivido até os 100 anos, durante os 80 anos restantes não poderia ter se arrependido e, assim, ganho o céu? E enquanto arde no inferno, será que também aí não poderia se arrepender? Se sim, então porque Deus não lhe daria uma chance?
Caso fôssemos ateus e materialistas, a explicação seria muito fácil, pois bastaria lançarmos mão do acaso para justificar estas desigualdades, sendo a diversidade de aptidões e de índole dependente do tipo de cérebro com o qual, por acaso, nasceram. Porém partimos da premissa de que Deus existe, e é todo-poderoso e soberanamente justo e bom. Este jamais reservaria a seus filhos um destino ao sabor do acaso, enquanto que, ao crermos serem as aptidões e o caráter dependentes do cérebro, estaríamos adotando a mais monstruosa e imoral das doutrinas, pois o homem seria simples máquina, joguete da matéria, sem livre-arbítrio e, portanto, sem responsabilidade por seus atos.
Vejamos o que disse Allan Kardec em “O Livro dos Espíritos”, Capítulo V, título – CONSIDERAÇÕES SOBRE A PLURALIDADE DAS EXISTÊNCIAS:
“[...] Admitamos, ao contrário, uma série de progressivas existências anteriores para cada alma e tudo se explica. Ao nascerem, trazem os homens a intuição do que aprenderam antes: são mais ou menos adiantados, conforme o número de existências que contem, conforme já estejam mais ou menos afastados do ponto de partida. Dá-se aí exatamente o que se observa numa reunião de indivíduos de todas as idades, onde cada um terá desenvolvimento proporcionado ao número de anos que tenha vivido. As existências sucessivas serão, para a vida da alma, o que os anos são para o do corpo.”
“[...] Haverá alguma doutrina capaz de resolver esses problemas? Admitam-se as existências consecutivas e tudo se explicará conformemente à justiça de Deus. O que não se pôde fazer numa existência, faz-se em outra. Assim é que ninguém escapa à lei do progresso, que cada um será recompensado segundo o seu merecimento real e que ninguém fica excluído da felicidade suprema, a que todos podem aspirar, quaisquer que sejam os obstáculos com que topem no caminho.”
E no livro "A Gênese", Capítulo III, partes 5, 6 e 7, ele diz:
"[...] Tendo o homem que progredir, os males a que se acha exposto são um estimulante para o exercício da sua inteligência, de todas as suas faculdades físicas e morais, incitando-o a procurar os meios de evitá-los. Se ele nada houvesse de temer, nenhuma necessidade o induziria a procurar o melhor; o espírito se lhe entorpeceria na inatividade; nada inventaria, nem descobriria. A dor é o aguilhão que o impele para a frente, na senda do progresso.
Porém, os males mais numerosos são os que o homem cria pelos seus vícios, os que provém do seu orgulho, do seu egoísmo, da sua ambição, da sua cupidez, de seus excessos em tudo. Aí a causa das guerras e das calamidades que estas acarretam, das dissenções, das injustiças, da opressão do fraco pelo forte, da maior parte, afinal, das enfermidades.
Deus promulgou leis plenas de sabedoria, tendo por único objetivo o bem. Em si mesmo encontra o homem tudo o que lhe é necessário para cumprí-las. A consciência lhe traça a rota, a lei divina lhe está gravada no coração e, ao demais, Deus lhe lembra constantemente por intermédio de seus messias e profetas, de todos os Espíritos encarnados que trazem a missão de o esclarecer, moralizar e melhorar e, nestes últimos tempos, pela multidão dos Espíritos desencarnados que se manifestam em toda a parte. Se o homem se conformasse rigorosamente com as leis divinas, não há duvidar de que se pouparia aos mais agudos males e viveria ditoso na Terra. Se assim não procede, é por virtude do seu livre-arbítrio: sofre então as consequências do seu proceder.
Entretanto, Deus, todo bondade, pôs o remédio ao lado do mal, isto é, faz que do próprio mal saia o remédio. Um momento chega em que o excesso do mal moral se torna intolerável e impôe ao homem a necessidade de mudar de vida. Instruído pela experiência, ele se sente compelido a procurar no bem o remédio, sempre por efeito do seu livre-arbítrio. Quando toma melhor caminho, é por sua vontade e porque reconheceu os inconvenientes do outro. A necessidade, pois, o constrange a melhorar-se moralmente, para ser mais feliz, do mesmo modo que o constrangeu a melhorar as condições materiais de sua existência."
Ao ultrapassar os limites, traçados por Deus, do necessário, como na alimentação, por exemplo, o homem sofre com as consequências do seu abuso. Neste caso, nesta mesma existência ele sofre por sua própria culpa.
Quando o Espírito, em determinada existência, prejudica o seu semelhante, muitas vezes, em uma futura existência, terá que sofrer as consequências do mal que praticou, sofrendo da mesma forma pela qual fez o outro sofrer, em função da Lei de Causa e Efeito, supracitada. Dessa forma cumpre-se a justiça divina e também serve como aprendizado para o Espírito. Em outro caso, o Espírito escolhe passar pela prova do sofrimento para que, suportando-o com coragem e resignação, evolua. Tais são as a origens dos sofrimentos, aparentemente imerecidos, de algumas pessoas no mundo.
Ao longo do tempo, surgiram algumas objeções acerca da reencarnação. Vejamos:
Se a reencarnação existe, então porque a população mundial cresceu, se são os mesmos Espíritos que reencarnam? A resposta é que, além de Deus nunca deixar de criar, e que, portanto, sempre surgem novos Espíritos, aumentando, obviamente, a sua quantidade, não só a Terra, mas uma infinidade de mundos espalhados pelo universo, em bilhões de galáxias, são habitados, e eles são solidários entre si, havendo sempre transmigrações de almas de uns para os outros. E isto sem contar com a existência de infinitos universos paralelos, já considerados, teoricamente, pela ciência atual.
Outra é que, se sofremos sempre na vida atual em virtude de termos prejudicado alguém na outra vida, matando alguém, por exemplo, forma-se, assim, uma cadeia infinita de causa e efeito, sempre tendo que alguém ter sido o malfeitor anteriormente. Respondemos que nem sempre isso é necessário. Às vezes o espírito escolhe morrer de forma violenta, ou passar por algum sofrimento, não porque prejudicou alguém, mas porque precisa passar com coragem e resignação por aquele sofrimento. Jesus, por exemplo, era justo, não tinha mais expiações a passar na Terra em virtude de ter prejudicado alguém. Contudo, foi agredido e morto por várias pessoas que, por sua vez, tiveram que pagar por estes atos de brutalidade e covardia. Além do mais, muitas expiações são sofridas através catástrofes naturais e acidentes, sem precisar que alguém seja o agressor.
Poder-se-ia objetar também: estas religiões, que acreditam em uma única existência para o homem, são baseadas na Bíblia, e esta é a palavra de Deus.
Sem dúvida, a Bíblia tem grande valor histórico, e relativo valor doutrinário. Pode-se achar, na mesma, momentos de grande inspiração e, inclusive, vários casos de mediunidade. Os profetas, em muitos casos, são médiuns: “Antigamente, quando se ia consultar a Deus, dizia-se vamos ao vidente; porque os que hoje se chamam profetas chamavam-se videntes” (Samuel, Livro I, 9:9); “Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel: e o que acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão os vossos velhos (Atos, 2:17). Em muitas passagens podemos achar, inclusive, a reencarnação (Jó 14 : 10 a 14);( Mateus, 11 : 12 a 15 e 17 : 10 a 13); (Marcos, 6 : 14 e 15 e 9 : 10 a 12); (João, 3 : 1 a 12); (Lucas, 9 : 7 a 9).
Bem, se a Bíblia completa, ou seja, todos os seus livros, representa verdadeiramente a palavra de Deus, servindo como guia espiritual para os homens de todas as épocas, com certeza ela não deveria apresentar contradições.
Contudo, uma leitura literal da mesma, sem considerar sua linguagem muitas vezes metafórica e simbólica, situar seus livros nos respectivos contextos históricos, nem considerar suas origens e a língua original em que foram escritos, pode dar margem às mais diversas interpretações, muitas vezes ilógicas e contraditórias, como, de fato, ocorreu. Ainda tendo-se em conta todos os fatores acima, salta aos olhos as divergências de crenças entre os autores dos seus vários livros, seja do velho ou do novo testamento.
Muitas pessoas têm a Bíblia como paradigma para suas crenças. Contudo, esquecem de se aprofundar nos estudos dela, principalmente no que se refere às suas origens. Por exemplo, onde estão os originais do novo testamento? Só o que temos são cópias das cópias das cópias, e em grego antigo, que não é a língua original dos apóstolos, supostos escritores. Além disso, as cópias existentes são bastante contraditórias entre si, com claros sinais de adulteração pelos copistas, seja acidental ou intencionalmente, para favorecer a interpretação desta ou daquela corrente ideológica, uma vez que é sabido que, no início, existiram vários cristianismos. Como exemplos de correntes cristãs primitivas, temos os ebionitas, os marcionitas e os gnósticos. A reencarnação, por exemplo, fazia parte da crença dos cátaros e dos borgomitas, estes também cristãos primitivos.
E o que dizer dos evangelhos banidos da Bíblia (qual teria sido o critério deste banimento? Ideológico?), os chamados evangelhos apócrifos? O Evangelho de Tomé, por exemplo, considerado como evangelho gnóstico? A doutrina que podemos extrair deste evangelho destoa, em muitos pontos, daquela que achamos no conjunto dos evangelhos canônicos (aqueles que estão incluídos na Bíblia). Os ensinamentos que podem ser extraídos deste evangelho, para o qual muitos pesquisadores atribuem uma antiguidade até maior que os demais, curiosamente aproxima-se muito dos postulados Espíritas.
Estudos históricos evidenciam, por exemplo, que os 5 livros de Moisés (o Pentateuco), foram escritos vários séculos após a morte do mesmo, tendo passado, durante este tempo, de geração em geração por tradição oral. Evidentemente que, neste período, muita coisa pode ter sido distorcida, pois é fato conhecido que “quem conta um conto aumenta um ponto”.
Na Bíblia inteira, seja no velho ou no novo testamento, não existe uma uniformidade doutrinária. Como exemplo, temos o livro de eclesiastes. Nele, claramente encontramos o materialismo e o hedonismo (viver o presente sem se importar com o futuro) como doutrinas! A considerar este livro, oficialmente incluso na Bíblia, claramente morreu, acabou! Não existe vida após a morte!
Diante do exposto acima, podemos concluir que, a Bíblia, sozinha, não pode nos dar um ensinamento uniforme, tal a quantidade de diferenças de opinião entre os autores dos seus livros, e principalmente da grande quantidade de manipulações (acréscimo, subtração e distorção de trechos e palavras, em grande parte no novo testamento, além de traduções tendenciosas) que sofreu ao longo da história, motivadas por interesses vários. Para separar o joio do trigo, é necessária uma chave. E qual seria ela?
A Doutrina Espírita não se baseou na Bíblia para formular os seus postulados, mas vai ao seu encontro, pois concorda com ela em vários pontos. Aliás, explica várias passagens que, até então, permaneciam obscuras.
Na pergunta Nº 625 de “O Livro dos Espíritos”, lemos:
“Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo?”
Resposta: “Jesus”
Em seu livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Allan Kardec reuniu trechos do Novo Testamento que podem constituir, por assim dizer, um Código de Moral Universal, sem distinção de culto. Para completar cada ensinamento, reuniu algumas instruções escolhidas entre as que foram ditadas pelos Espíritos em diversos países, por intermédio de diferentes médiuns, para evitar, dessa forma, a influência pessoal do meio, provando que os Espíritos dão seus ensinamentos em todos os lugares, constituindo, assim, diversas fontes coincidentes em conteúdo.
Em Mateus, 5 : 44, 46 a 48, diz Jesus: “Amai os vossos inimigos; fazei o bem àqueles que vos odeiam e orai por aqueles que vos perseguem e vos caluniam; pois, se amais apenas àqueles que vos amam, que recompensa tereis? Os publicanos também não fazem isso? E se apenas saudardes vossos irmãos, o que fazeis mais que os outros? Os pagãos não fazem o mesmo? Sede, pois perfeitos, como vosso Pai celestial é perfeito.”
Em Mateus, 22 : 34 a 40, consta: “Os fariseus, ao ouvirem que Jesus havia feito os saduceus se calarem, reuniram-se; e um deles, que era doutor da lei, perguntou-Lhe para tentá-Lo: Mestre, qual é o maior mandamento? Jesus lhe respondeu: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito. Este é o maior e o primeiro mandamento. E eis o segundo, que é semelhante àquele: Amarás teu próximo como a ti mesmo. Toda a lei e os profetas estão contidos nestes dois mandamentos.
Perguntamos: será que nós, pessoas que, de uma forma geral, somos cheios de defeitos, principalmente egoísmo, em apenas uma vida poderíamos chegar à perfeição, a ponto de amar o nosso próximo como a nós mesmos? Quantos não vivem apenas, por exemplo, 19 anos, e mesmo que vivêssemos 100, será que conseguiríamos? Com certeza não. Temos notícias de pessoas que se sacrificaram pelo seu semelhante, como irmã Dulce, Madre Tereza de Calcutá, Mahatma Gandhi, Chico Xavier , etc., mas são raridades no nossos mundo, muito admirados justamente porque foram capazes de fazer, durante toda uma vida, o que a maioria acha impraticável. Com certeza, estas pessoas beneméritas tiveram que passar por várias existências para que, desapegadas da matéria e do egoísmo, tivessem a experiência necessária para encontrarem em seus corações o grande prazer que é fazer o bem. Tiveram que passar pela reencarnação.
Este texto continua em "Fortes Evidências da Reencarnação", neste blog.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
1 KARDEC, ALLAN. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro : Editora FEB,1995.;
2________________.O Evangelho Segundo o Espiritismo. São Paulo : Editora Petit, 1997.;
3________________.A Gênese: Os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: Editora FEB, 1988;
3________________.A Gênese: Os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: Editora FEB, 1988;
4 SANTOS, Dalmo Duque dos. Nova História do Espiritismo: dos precursores de Kardec a Chico Xavier. São Paulo: Ed. do conhecimento, 2010;
5 EHRMAN, Bart D. Evangelhos Perdidos. Rio de janeiro: Editora Record, 2008;
6______________.O Que Jesus Disse? O Que Jesus Não Disse?: quem mudou a Bíblia e porque. São Paulo: Editora Prestígio, 2006;
7______________.Quem Jesus Foi? Quem Jesus Não Foi? : mais revelações inéditas sobre as contradições da Bíblia. Rio de Janeiro: Ediouro, 2010;
8 ______________.O Problema Com Deus: as respostas que a Bíblia não dá ao sofrimento. Rio de Janeiro, Editora Agir, 2008;
9 RANGEL, Liszt. Arqueologia dos Evangelhos: uma releitura histórica do pensamento de Jesus. Recife: Editora Bom Livro, 2009.
10 SILVA, Severino Celestino da. Analisando as Traduções Bíblicas: refletindo a essência da mensagem bíblica. João Pessoa: Editora Núcleo Espírita Bom Samaritano, 2000.
10 SILVA, Severino Celestino da. Analisando as Traduções Bíblicas: refletindo a essência da mensagem bíblica. João Pessoa: Editora Núcleo Espírita Bom Samaritano, 2000.