sábado, 28 de abril de 2012

OS 155 ANOS DA PRINCIPAL OBRA DO ESPIRITISMO: O LIVRO DOS ESPÍRITOS

Fonte: doutrinakardec.wordpress.com

Fábio José Lourenço Bezerra

Na segunda metade do século XIX a ciência avançava, proporcionando, através da tecnologia, grandes contribuições à humanidade, como o telégrafo e as máquinas a vapor. A investigação da natureza passava a ter extrema importância, e grande era o questionamento aos dogmas das religiões vigentes, que, em muitos aspectos, punham obstáculo a estas investigações, ao impor uma fé cega, limitando o pensamento humano. Desejava-se experimentar e compreender para crer. Por isso, o materialismo científico avançava cada vez mais, e com ele o pessimismo, afinal, sem um propósito, um plano superior para a vida, nosso destino estaria à mercê do acaso. E o que restaria da consciência humana, após a destruição do corpo, se não possuíssemos uma alma imortal? A morte, neste caso, seria o caminho para o nada, fuga natural para aqueles que passam por grandes sofrimentos na vida. Para que viver sofrendo se, com a morte, tudo cessa?  É neste contexto que, como resposta dos céus, a partir dos Estados Unidos, (tendo sido precedido pelos fenômenos de Hydesville – Ver o texto O Início do Espiritismo Parte 1– Hydesville, neste blog) passando pela França, Europa e o resto do mundo, espalhou-se como uma epidemia o fenômeno das “mesas girantes”, que consistia no movimento de objetos sem causa aparente. Dessa forma, cadeiras, mesas, enfim, os mais variados móveis e objetos, moviam-se no ar sem apoio visível nenhum, respondendo com pancadas no chão às perguntas dos assistentes, através de códigos (recitava-se o alfabeto e uma pancada soava na hora em que se dizia determinada letra, ou então o número de pancadas era correspondente à ordem da letra no alfabeto: uma pancada correspondia à letra A, duas à letra B, etc.. Anotava-se a letra e depois recomeçava o processo, até formarem-se palavras) causando espanto em todos.
O nome “mesas girantes” veio do fato de os objetos mais utilizados serem mesas. Durante muito tempo, foram o principal divertimento da sociedade européia da época, notadamente a parisiense. Aconteciam tanto nos salões de festas quanto nos lares, quando os familiares e amigos reuniam-se para interrogar as mesas sobre os mais diversos assuntos que, em sua maioria, eram frívolos. O fenômeno foi registrado em vários livros e muitos jornais da época.
Além dos curiosos, os fenômenos também atraíram a atenção de vários estudiosos e homens de ciência da época. Alguns, ante os fatos, simplesmente os negavam, atribuindo-os à fraude pura e simples, sem antes investigar a fundo; outros, mais criteriosos, durante a investigação, tomaram todas as precauções para afastar totalmente a possibilidade de fraude. Uma vez afastada esta possibilidade, convenceram-se da realidade dos fatos, procurando explicá-los através de diversas hipóteses: uns defendiam a atuação de inteligências além da matéria, independente do médium e dos assistentes; outros, através da atuação do subconsciente do médium.
Com o tempo, as comunicações evoluíram, sob a orientação das próprias "inteligências", para um lápis amarrado em uma cesta, segurada por duas pessoas, a escrever em uma folha de papel. Por fim, as "inteligências" sugeriram  colocar-se um lápis diretamente na mão do médium (pessoa com  a sensibilidade  para  comunicar-se com  os espíritos desenvolvida, em alguns casos capaz de ceder energia para que os espíritos atuem na matéria, movendo-a, produzindo pancadas, etc.), da qual tomariam o controle temporariamente para escrever. Nascia, assim, a psicografia.
Um dos investigadores supracitados, residente em Lyon, França, teve a sua atenção chamada para o fenômeno das “mesas girantes” através de um amigo, que o chamou para assistir a uma sessão. Era Hippolyte León Denizard Rivail, que mais tarde passaria a utilizar o pseudônimo Allan Kardec. Um homem de notável saber, Pedagogo, poliglota e principal discípulo do grande professor Pestalozzi, este o elaborador do sistema de educação que exerceu tão grande influência sobre a reforma dos estudos da França e da Alemanha. O professor Rivail era bastante conhecido e respeitado em sua época, por suas várias publicações na área de educação.
De pronto, a reação de Kardec foi a seguinte declaração: “Eu acreditarei quando ver e quando me tiverem provado que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir, e que pode se tornar sonâmbula. Até lá, permita-me que não veja nisso senão uma fábula para provocar o sono”.
Procurando verificar os fenômenos por si mesmo, ele foi assistir a primeira das inúmeras sessões mediúnicas em que esteve presente.
Inicialmente, após descartada a possibilidade de fraude, ele se perguntou se aqueles fenômenos não seriam provocados por uma força elétrica, magnética ou gravitacional desconhecida. Constatando a causa inteligente das manifestações, aventou a hipótese de os fenômenos serem dirigidos por um mecanismo mental inconsciente do médium e dos assistentes. Novamente, em observações posteriores, sua hipótese se viu descartada pela força dos fatos.
Após constatar que havia inteligência por trás dos fenômeno, Kardec teve uma idéia: testar a força invisível com perguntas de alto teor cientifico e filosófico, algumas simples e diretas; outras, com real propósito de verificar se as respostas poderiam ser induzidas pela pessoa que pergunta. Para sua surpresa, as inteligências não se deixavam influenciar pelo interlocutor, dando respostas inteligentes, ricas de lógica e conhecimentos.  Ele fez estas perguntas para Espíritos que se comunicavam através de diferentes médiuns, de localidades diferentes e distantes entre si.
Depois de receber as respostas dadas pelas inteligências,  juntou a elas as respostas dadas a perguntas feitas por pessoas de sua inteira confiança, realizadas antes mesmo que ele iniciasse suas pesquisas. Ao analisá-las, observou que uma enorme parte delas convergiam, isto é, não se contradiziam,  e eram igualmente inteligentes e ricas em conteúdo intelectual, muito acima, aliás, da capacidade e conhecimentos dos médiuns e de seus assistentes. Selecionou então as perguntas cujas respostas não feriam a lógica e eram coerentes entre si.
O resultado de suas experiências demonstrava que uma enorme parte dos casos se devia a uma inteligência independente do médium e dos assistentes, contrária muitas vezes às convicções religiosas e filosóficas destes, com vontade e personalidade própria. Numerosas vezes dotadas de grande conhecimento e inteligência. Isto além do fato de as próprias inteligências insistentemente afirmarem que eram espíritos, tendo um dia possuído um corpo, nada mais sendo que as almas de homens que um dia viveram na Terra. Afirmação esta, diga-se de passagem, feita antes mesmo de alguém pensar nesta hipótese, surgida mesmo em meios totalmente avessos a esta idéia, como ocorreu com a família Fox, em Hydesville, que eram protestantes, e muitos outros casos registrados no início dos fenômenos Espíritas. As revelações dadas pelos Espíritos possuíam um caráter revolucionário, e ao mesmo tempo profundamente racional. Eles apresentaram um conceito de Deus e do universo totalmente diverso do que se tinha até então, e a justiça divina nunca se apresentara tão rica em lógica e perfeição. Deus deixava de ser um Pai descontrolado e vingativo, que condenava seus filhos desencaminhados a uma punição eterna, para lhes dar infinitas chances de arrependimento, proporcionando-lhes meios de se reeducarem e conquistarem a perfeição moral e intelectual. Para esse Deus, nenhum de seus filhos seria excluído, por mais tempo que exigisse, da benção de evoluir e estar na presença dele.
A força de todas estas circunstâncias fizeram Kardec concluir que as inteligências comunicantes eram exatamente o que alegavam ser: homens que sobreviveram à morte do corpo físico, conservando intacto o seu principio inteligente – que é a alma. Ele constatou imediatamente a grande importância desta revelação, e tomou a decisão de publicar as suas conclusões, e principalmente as revelações dadas pelos Espíritos.
Os Espíritos Superiores informaram a Kardec que ele tinha uma missão a cumprir: divulgar a Doutrina Espírita pelo mundo. Eles prometeram dar todo o apoio durante este trabalho, supervisionando toda a Codificação, quer dizer, a reunião de todos os ensinamentos dados pelos Espíritos Superiores na forma de uma Doutrina.
O primeiro fruto deste trabalho foi "O Livro dos Espíritos" principal obra da codificação e do Espiritismo, contendo os seus princípios fundamentais. Foi publicado em 18 de Abril de 1857, contendo, nesta primeira publicação, 501 perguntas e suas respectivas respostas, dadas pelos Espíritos. Posteriormente foi ampliado, passando a ter 1019 perguntas.

Nas palavras de Zêus Wantuil, em sua importante obra “As mesas girantes e o Espiritismo”:

‘A obra chega finalmente ao seu término. Escreve-lhe o Prof.Rival magnífica ”Introdução”, síntese magistral da doutrina Espírita, e pôe-lhe por fecho uma “Conclusão” elogiável sob todos os pontos de vista. Estava pronto “O LIVRO DOS ESPÍRITOS”, a obra básica de uma filosofia que modificaria as concepções estacionárias em que se conservava a humanidade’.

Ele é dividido em quatro partes:
1.     Das causas primárias;
2.     Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos;
3.     Das leis morais;
4.     Das esperanças e consolações.
  
Obra atualíssima, pois, por exemplo, apesar de estar completando seus 155 anos, tendo sido publicado em uma época na qual não se dava à mulher o seu devido valor, sendo esta considerada inferior ao homem; a escravidão era praticada normalmente em vários pontos do globo, sendo apoiada até pela Igreja; acreditava-se em vácuo absoluto e que muito provavelmente planetas ao redor de estrelas era algo raríssimo, sendo nosso sistema solar fruto de mero acaso cósmico, talvez único no Universo, os Espíritos, através do livro em análise, nos diziam:

Pergunta Nº 201: “Em nova existência, pode o Espírito que animou o corpo de um homem animar o de uma mulher e vice-versa?”
Resposta: “Decerto; são os mesmos os Espíritos que animam os homens e as mulheres.”

Pergunta Nº 829: “Haverá homens que estejam, por natureza, destinados a ser propriedades de outros homens?”
Resposta: “É contrária à lei de Deus toda sujeição absoluta de um homem a outro homem. A escravidão é um abuso da força. Desaparece com o progresso, como gradativamente desaparecerão todos os abusos.”

Pergunta Nº 36: “O vácuo absoluto existe em alguma parte no Espaço universal?”
Resposta: “Não, não há vácuo. O que te parece vazio está ocupado por matéria que te escapa aos sentidos e aos instrumentos.”

Pergunta Nº 55: “São habitados todos os globos que se movem no espaço?”
Resposta: “Sim, e o homem terreno está longe de ser, como supõe, o primeiro em inteligência, em bondade e em perfeição. Entretanto, há homens que se têm por espíritos fortes e que imaginam pertencer a este pequenino globo o privilégio de conter seres racionais. Orgulho e vaidade! Julgam que só para eles criou Deus o Universo.”
Observação de Kardec: “Deus povoou de seres vivos os mundos, concorrendo todos esses seres para o objetivo final da Providência. Acreditar que só os haja no planeta que habitamos fora duvidar da sabedoria de Deus, que não fez coisa alguma inútil. Certo, a esses mundos ele há de ter dado uma destinação mais séria do que a de nos recrearem a vista. Aliás, nada há, nem na posição, nem no volume, nem na constituição física da Terra, que possa induzir à suposição de que ela goze do privilégio de ser habitada, com exclusão de tantos milhares de milhões de mundos semelhantes”  

Pergunta Nº 56: “É a mesma a constituição física dos diferentes globos?”
Resposta: “Não; de modo algum se assemelham”

Na atualidade, vemos mulheres ocupando os mais diversos cargos e funções na sociedade, inclusive a de governar países, como no caso do Brasil. Um negro hoje ocupa o posto de presidente da mais poderosa nação do planeta.  
"É melhor dizer, acompanhando o físico teórico Paul Dirac, que um vácuo, ou um nada, é a combinação de matéria e antimatéria - partículas e antipartículas. Sua densidade é tremenda, mas não podemos perceber nada delas porque seus efeitos observáveis anulam-se completamente," disse Igor Sokolov, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos (Ver o artigo Matéria e antimatéria podem ser criadas do nada, no site Inovação Tecnológica).

O nada, ou seja, o vácuo, para a ciência da atualidade, não é a ausência de tudo, mas uma sopa fervilhante de ondas e campos de todos os tipos, onde partículas virtuais aparecem e desaparecem durante todo o tempo, e que a matéria, tal como a conhecemos, se origina de flutuações do vácuo quântico (Ver o artigo do site Inovação tecnológica : Confirmado: a matéria é resultado de flutuações do vácuo quântico)

Hoje, planetas nas zonas habitáveis são calculados em bilhões, e diga-se de passagem, habitáveis sob o ponto de vista atual, pois é possível que a vida, muito provavelmente, exista sob condições que sequer ignoramos. Também se teoriza, na atualidade, a existência de vida em outros universos (Ver os textos “A pluralidade dos mundos habitados – Parte 1, Parte 2 e Parte 3, neste Blog).



 Após isso, Kardec observou que o conteúdo das comunicações das "inteligências" ia sendo confirmado ao longo do tempo, através de diferentes médiuns, de centros espíritas sérios, localizados em várias partes do mundo (cerca de mil centros).
Em seguida vieram obras que tratavam de temas específicos, abordados em "O Livro dos Espíritos". Estas obras posteriores procuraram esmiuçar o alto teor e complexidade contidos nestes temas. São elas: "O Livro dos Médiuns" – tratado cientifico da mediunidade – guia dos médiuns e evocadores; "O Céu e o Inferno" – trata da justiça divina segundo o Espiritismo; "O Evangelho segundo o Espiritismo" – o Novo Testamento sob a ótica espírita; "A Gênese" – trata da origem do universo, do homem e das predições segundo o Espiritismo.
As obras supracitadas fazem parte da Codificação, são conhecidas no meio espírita como o Pentateuco Kardequiano. Foram publicadas outras obras complementares, como por exemplo: "O que é o Espiritismo" – onde Kardec rebate as principais objeções formuladas contra a Doutrina Espírita, contendo ainda a biografia de Allan Kardec; "Obras Póstumas" – concebido após sua morte e compilado por sua esposa e outros companheiros de ideal espírita, reunindo anotações não publicadas de Kardec; a Revista Espírita, periódico que servia como “laboratório” para o codificador, onde ele expunha suas hipóteses, idéias, publicava novas comunicações mediúnicas e notícias acerca do movimento espírita.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

1 ANDRADE, Hernani Guimarães. Parapsicologia: uma visão panorâmica. São Paulo: FE, 2002.

2 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos: princípios da doutrina espírita. 76. ed. Rio de Janeiro: FEB, [1995].
3 _____________. O Livro dos Médiuns: ou guia dos médiuns e evocadores: espiritismo experimental Rio de Janeiro: FEB, [1997]. 

4 _______________. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 3.ed.São Paulo: Petit, [1997].

5 _______________. O Que É o Espiritismo: o espiritismo em sua mais simples expressão. 43. ed. São Paulo: Instituto de Difusão Espírita, [2000].

6 WANTUIL, Zêus.  As mesas girantes e o Espiritismo. 1 ed.Rio de Janeiro: FEB, [1957];

7 WANTUIL, Zêus e THIESEN, Francisco. Allan Kardec: Pesquisa bibliográfica e ensaios de interpretação. Vol II.1 ed.Rio de Janeiro.FEB, [1980].

ENDEREÇOS ELETRÔNICOS:


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