Fonte: doutrinakardec.wordpress.com
Fábio
José Lourenço Bezerra
Na segunda metade do século XIX a ciência avançava, proporcionando,
através da tecnologia, grandes contribuições à humanidade, como o telégrafo e
as máquinas a vapor. A investigação da natureza passava a ter extrema
importância, e grande era o questionamento aos dogmas das religiões vigentes,
que, em muitos aspectos, punham obstáculo a estas investigações, ao impor uma
fé cega, limitando o pensamento humano. Desejava-se experimentar e compreender
para crer. Por isso, o materialismo científico avançava cada vez mais, e com
ele o pessimismo, afinal, sem um propósito, um plano superior para a vida,
nosso destino estaria à mercê do acaso. E o que restaria da consciência humana,
após a destruição do corpo, se não possuíssemos uma alma imortal? A morte,
neste caso, seria o caminho para o nada, fuga natural para aqueles que passam
por grandes sofrimentos na vida. Para que viver sofrendo se, com a morte, tudo
cessa? É neste contexto que, como
resposta dos céus, a partir dos Estados Unidos, (tendo sido precedido pelos
fenômenos de Hydesville – Ver o texto “O Início do Espiritismo Parte 1– Hydesville”, neste blog) passando pela França, Europa e o resto do
mundo, espalhou-se como uma epidemia o fenômeno das “mesas girantes”,
que consistia no movimento de objetos sem causa aparente. Dessa forma,
cadeiras, mesas, enfim, os mais variados móveis e objetos, moviam-se no ar sem
apoio visível nenhum, respondendo com pancadas no chão às perguntas dos
assistentes, através de códigos (recitava-se o alfabeto e uma pancada soava na
hora em que se dizia determinada letra, ou então o número de pancadas era
correspondente à ordem da letra no alfabeto: uma pancada correspondia à letra
A, duas à letra B, etc.. Anotava-se a letra e depois recomeçava o processo, até
formarem-se palavras) causando espanto em todos.
O nome “mesas girantes” veio do fato de os objetos mais
utilizados serem mesas. Durante muito tempo, foram o principal divertimento da
sociedade européia da época, notadamente a parisiense. Aconteciam tanto nos
salões de festas quanto nos lares, quando os familiares e amigos reuniam-se
para interrogar as mesas sobre os mais diversos assuntos que, em sua maioria,
eram frívolos. O fenômeno foi registrado em vários livros e muitos jornais da
época.
Além dos curiosos, os fenômenos também atraíram a atenção de
vários estudiosos e homens de ciência da época. Alguns, ante os fatos,
simplesmente os negavam, atribuindo-os à fraude pura e simples, sem antes
investigar a fundo; outros, mais criteriosos, durante a investigação, tomaram
todas as precauções para afastar totalmente a possibilidade de fraude. Uma vez
afastada esta possibilidade, convenceram-se da realidade dos fatos, procurando
explicá-los através de diversas hipóteses: uns defendiam a atuação de
inteligências além da matéria, independente do médium e dos assistentes;
outros, através da atuação do subconsciente do médium.
Com
o tempo, as comunicações evoluíram, sob a orientação das próprias
"inteligências", para um lápis amarrado em uma cesta, segurada por
duas pessoas, a escrever em uma folha de papel. Por fim, as
"inteligências" sugeriram colocar-se um lápis diretamente na
mão do médium (pessoa com a sensibilidade para comunicar-se
com os espíritos desenvolvida, em alguns casos capaz de ceder energia
para que os espíritos atuem na matéria, movendo-a, produzindo pancadas, etc.),
da qual tomariam o controle temporariamente para escrever. Nascia, assim, a psicografia.
Um dos investigadores supracitados, residente em Lyon, França,
teve a sua atenção chamada para o fenômeno das “mesas girantes” através de um
amigo, que o chamou para assistir a uma sessão. Era Hippolyte León Denizard Rivail,
que mais tarde passaria a utilizar o pseudônimo Allan Kardec. Um homem
de notável saber, Pedagogo, poliglota e principal discípulo do grande professor
Pestalozzi, este o elaborador do sistema de educação que exerceu tão grande
influência sobre a reforma dos estudos da França e da Alemanha. O professor
Rivail era bastante conhecido e respeitado em sua época, por suas várias
publicações na área de educação.
De pronto, a reação de Kardec foi a seguinte declaração: “Eu
acreditarei quando ver e quando me tiverem provado que uma mesa tem cérebro
para pensar, nervos para sentir, e que pode se tornar sonâmbula. Até lá,
permita-me que não veja nisso senão uma fábula para provocar o sono”.
Procurando verificar os fenômenos por si mesmo, ele foi assistir
a primeira das inúmeras sessões mediúnicas em que esteve presente.
Inicialmente, após descartada a possibilidade de fraude, ele se
perguntou se aqueles fenômenos não seriam provocados por uma força elétrica,
magnética ou gravitacional desconhecida. Constatando a causa inteligente das
manifestações, aventou a hipótese de os fenômenos serem dirigidos por um
mecanismo mental inconsciente do médium e dos assistentes. Novamente, em
observações posteriores, sua hipótese se viu descartada pela força dos fatos.
Após
constatar que havia inteligência por trás dos fenômeno, Kardec teve uma idéia:
testar a força invisível com perguntas de alto teor cientifico e filosófico,
algumas simples e diretas; outras, com real propósito de verificar se as
respostas poderiam ser induzidas pela pessoa que pergunta. Para sua surpresa,
as inteligências não se deixavam influenciar pelo interlocutor, dando respostas
inteligentes, ricas de lógica e conhecimentos. Ele fez estas perguntas
para Espíritos que se comunicavam através de diferentes médiuns, de localidades
diferentes e distantes entre si.
Depois de receber as respostas dadas pelas inteligências,
juntou a elas as respostas dadas a perguntas feitas por pessoas de sua inteira
confiança, realizadas antes mesmo que ele iniciasse suas pesquisas. Ao
analisá-las, observou que uma enorme parte delas convergiam, isto é, não se
contradiziam, e eram igualmente inteligentes e ricas em conteúdo
intelectual, muito acima, aliás, da capacidade e conhecimentos dos médiuns e de
seus assistentes. Selecionou então as perguntas cujas respostas não feriam a
lógica e eram coerentes entre si.
O resultado de suas experiências demonstrava que uma enorme
parte dos casos se devia a uma inteligência independente do médium e dos
assistentes, contrária muitas vezes às convicções religiosas e filosóficas
destes, com vontade e personalidade própria. Numerosas vezes dotadas de grande
conhecimento e inteligência. Isto além do fato de as próprias inteligências
insistentemente afirmarem que eram espíritos, tendo um dia possuído um corpo,
nada mais sendo que as almas de homens que um dia viveram na Terra. Afirmação
esta, diga-se de passagem, feita antes mesmo de alguém pensar nesta hipótese,
surgida mesmo em meios totalmente avessos a esta idéia, como ocorreu com a
família Fox, em Hydesville, que eram protestantes, e muitos outros casos
registrados no início dos fenômenos Espíritas. As revelações dadas pelos
Espíritos possuíam um caráter revolucionário, e ao mesmo tempo profundamente
racional. Eles apresentaram um conceito de Deus e do universo totalmente
diverso do que se tinha até então, e a justiça divina nunca se apresentara tão
rica em lógica e perfeição. Deus deixava de ser um Pai descontrolado e
vingativo, que condenava seus filhos desencaminhados a uma punição eterna, para
lhes dar infinitas chances de arrependimento, proporcionando-lhes meios de se
reeducarem e conquistarem a perfeição moral e intelectual. Para esse Deus,
nenhum de seus filhos seria excluído, por mais tempo que exigisse, da benção de
evoluir e estar na presença dele.
A força de todas estas circunstâncias fizeram Kardec concluir
que as inteligências comunicantes eram exatamente o que alegavam ser: homens
que sobreviveram à morte do corpo físico, conservando intacto o seu principio
inteligente – que é a alma. Ele constatou imediatamente a grande importância
desta revelação, e tomou a decisão de publicar as suas conclusões, e
principalmente as revelações dadas pelos Espíritos.
Os Espíritos Superiores informaram a Kardec que ele tinha uma
missão a cumprir: divulgar a Doutrina Espírita pelo mundo. Eles prometeram dar
todo o apoio durante este trabalho, supervisionando toda a Codificação, quer
dizer, a reunião de todos os ensinamentos dados pelos Espíritos Superiores na
forma de uma Doutrina.
O primeiro fruto deste trabalho foi "O Livro dos
Espíritos" principal
obra da codificação e do Espiritismo, contendo os seus princípios fundamentais.
Foi publicado em 18 de Abril de 1857, contendo, nesta primeira publicação, 501
perguntas e suas respectivas respostas, dadas pelos Espíritos. Posteriormente
foi ampliado, passando a ter 1019 perguntas.
Nas palavras de Zêus Wantuil, em sua importante obra
“As
mesas girantes e o Espiritismo”:
‘A obra chega finalmente ao seu término. Escreve-lhe o
Prof.Rival magnífica ”Introdução”, síntese magistral da doutrina Espírita, e
pôe-lhe por fecho uma “Conclusão” elogiável sob todos os pontos de vista.
Estava pronto “O LIVRO DOS ESPÍRITOS”, a obra básica de uma filosofia que modificaria
as concepções estacionárias em que se conservava a humanidade’.
Ele é dividido em quatro partes:
1.
Das causas primárias;
2.
Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos;
3.
Das leis morais;
4.
Das esperanças e consolações.
Obra atualíssima, pois, por exemplo, apesar de estar completando seus 155 anos, tendo sido publicado
em uma época na qual não se dava à mulher o seu devido valor, sendo esta considerada
inferior ao homem; a escravidão era praticada normalmente em vários pontos do
globo, sendo apoiada até pela Igreja; acreditava-se em vácuo absoluto e que
muito provavelmente planetas ao redor de estrelas era algo raríssimo, sendo
nosso sistema solar fruto de mero acaso cósmico, talvez único no Universo, os
Espíritos, através do livro em análise, nos diziam:
Pergunta Nº 201: “Em nova existência, pode o
Espírito que animou o corpo de um homem animar o de uma mulher e vice-versa?”
Resposta: “Decerto; são os mesmos os
Espíritos que animam os homens e as mulheres.”
Pergunta Nº 829: “Haverá homens que estejam,
por natureza, destinados a ser propriedades de outros homens?”
Resposta: “É contrária à lei de Deus
toda sujeição absoluta de um homem a outro homem. A escravidão é um abuso da
força. Desaparece com o progresso, como gradativamente desaparecerão todos os
abusos.”
Pergunta Nº 36: “O vácuo absoluto existe em
alguma parte no Espaço universal?”
Resposta: “Não, não há vácuo. O que te
parece vazio está ocupado por matéria que te escapa aos sentidos e aos
instrumentos.”
Pergunta Nº 55: “São habitados todos os globos
que se movem no espaço?”
Resposta: “Sim, e o homem terreno está
longe de ser, como supõe, o primeiro em inteligência, em bondade e em perfeição.
Entretanto, há homens que se têm por espíritos fortes e que imaginam pertencer
a este pequenino globo o privilégio de conter seres racionais. Orgulho e
vaidade! Julgam que só para eles criou Deus o Universo.”
Observação de Kardec: “Deus povoou de seres vivos os
mundos, concorrendo todos esses seres para o objetivo final da Providência.
Acreditar que só os haja no planeta que habitamos fora duvidar da sabedoria de
Deus, que não fez coisa alguma inútil. Certo, a esses mundos ele há de ter dado
uma destinação mais séria do que a de nos recrearem a vista. Aliás, nada há,
nem na posição, nem no volume, nem na constituição física da Terra, que possa
induzir à suposição de que ela goze do privilégio de ser habitada, com exclusão
de tantos milhares de milhões de mundos semelhantes”
Pergunta Nº 56: “É a mesma a constituição
física dos diferentes globos?”
Resposta: “Não; de modo algum se
assemelham”
Na atualidade, vemos mulheres ocupando os mais diversos cargos e
funções na sociedade, inclusive a de governar países, como no caso do Brasil.
Um negro hoje ocupa o posto de presidente da mais poderosa nação do planeta.
"É melhor dizer, acompanhando o físico teórico Paul Dirac,
que um vácuo, ou um nada, é a combinação de matéria e antimatéria - partículas
e antipartículas. Sua densidade é tremenda, mas não podemos perceber nada delas
porque seus efeitos observáveis anulam-se completamente," disse Igor Sokolov,
da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos (Ver o artigo Matéria e antimatéria podem ser criadas do nada, no site Inovação Tecnológica).
O nada, ou seja, o vácuo, para a ciência da atualidade, não é a ausência de tudo, mas uma sopa fervilhante de ondas e campos de todos os tipos, onde partículas virtuais aparecem e desaparecem durante todo o tempo, e que a matéria, tal como a conhecemos, se origina de flutuações do vácuo quântico (Ver o artigo do site Inovação tecnológica : Confirmado: a matéria é resultado de flutuações do vácuo quântico)
Hoje, planetas nas zonas habitáveis são calculados em bilhões, e diga-se de passagem, habitáveis sob o ponto de vista atual, pois é possível que a vida, muito provavelmente, exista sob condições que sequer ignoramos. Também se teoriza, na atualidade, a existência de vida em outros universos (Ver os textos “A pluralidade dos mundos habitados – Parte 1, Parte 2 e Parte 3”, neste Blog).
Após isso, Kardec observou que o conteúdo das comunicações das "inteligências" ia sendo confirmado ao longo do tempo, através de diferentes médiuns, de centros espíritas sérios, localizados em várias partes do mundo (cerca de mil centros).
Em seguida vieram obras que tratavam de temas específicos,
abordados em "O Livro
dos Espíritos". Estas obras posteriores procuraram esmiuçar o alto
teor e complexidade contidos nestes temas. São elas: "O Livro dos Médiuns" – tratado cientifico da mediunidade –
guia dos médiuns e evocadores; "O
Céu e o Inferno" –
trata da justiça divina segundo o Espiritismo; "O Evangelho segundo o
Espiritismo" – o
Novo Testamento sob a ótica espírita; "A
Gênese" – trata da
origem do universo, do homem e das predições segundo o Espiritismo.
As obras supracitadas fazem parte da Codificação, são conhecidas
no meio espírita como o Pentateuco Kardequiano. Foram publicadas outras obras
complementares, como por exemplo: "O
que é o Espiritismo" –
onde Kardec rebate as principais objeções formuladas contra a Doutrina
Espírita, contendo ainda a biografia de Allan Kardec; "Obras Póstumas" – concebido após sua morte e compilado
por sua esposa e outros companheiros de ideal espírita, reunindo anotações não
publicadas de Kardec; a Revista Espírita, periódico que servia
como “laboratório” para o codificador, onde ele expunha suas hipóteses, idéias,
publicava novas comunicações mediúnicas e notícias acerca do movimento
espírita.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
1
ANDRADE, Hernani Guimarães. Parapsicologia:
uma visão panorâmica. São Paulo: FE, 2002.
2 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos: princípios da doutrina espírita. 76. ed. Rio de Janeiro: FEB, [1995].
2 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos: princípios da doutrina espírita. 76. ed. Rio de Janeiro: FEB, [1995].
3 _____________. O Livro dos Médiuns: ou guia
dos médiuns e evocadores: espiritismo experimental। Rio de
Janeiro: FEB, [1997].
4 _______________. O Evangelho Segundo o Espiritismo.
3.ed.São Paulo: Petit, [1997].
5
_______________. O Que É o
Espiritismo: o espiritismo em sua mais simples expressão. 43. ed. São
Paulo: Instituto de Difusão Espírita, [2000].
6 WANTUIL, Zêus. As
mesas girantes e o Espiritismo. 1 ed.Rio de Janeiro: FEB, [1957];
7 WANTUIL, Zêus e THIESEN, Francisco. Allan Kardec: Pesquisa bibliográfica e ensaios de interpretação.
Vol II.1 ed.Rio de Janeiro.FEB, [1980].
ENDEREÇOS ELETRÔNICOS:
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