Fonte da
imagem: http://papa.cancaonova.com/deus-nao-condena-so-pode-amar-diz-papa/
Fábio José
Lourenço Bezerra
O Papa Francisco, corajosamente, vem fazendo uma
verdadeira reforma na Igreja Romana, mesmo enfrentando grandes pressões de
dentro e de fora dela. Também vem chamando a atenção dos fiéis para a
necessidade de se viver os legítimos ensinamentos de Jesus.
Dando
continuidade ao nosso texto anterior (Ver o texto “Francisco: o Papa da Mudança”,
neste blog), extraímos, na íntegra, uma série de artigos sobre o Papa Francisco.
Publicados no site do jornal El País (http://brasil.elpais.com/),
os artigos abaixo ilustram muito bem a atuação restauradora desse verdadeiro enviado
de Jesus.
O
papa Francisco volta a provocar os católicos
Conversando
com fiéis em Roma, o pontífice disse que o cristão que “não se considere
pecador” é melhor que “não vá à missa”
Por Juan Arias, 16/02/2014
O papa
Francisco, ao contrário de seus
antecessores que mediam e pesavam as palavras, gosta de provocar. E não o faz
através de pesadas encíclicas ou documentos pontifícios. Provoca os católicos
nas ruas e praças, como há dois mil anos o fazia o profeta inconformista de
Nazaré.
Sua última provocação ocorreu na quarta-feira passada
conversando com os fiéis em Roma. Disse-lhes, como a coisa mais normal do
mundo, que ao cristão que “não se considere um pecador” é melhor que “não vá à
missa”.
Mais ainda, segundo Francisco, os que vão à missa para
aparentar que “são melhores que os outros”, melhor que fiquem em casa. Não há
espaço para eles na igreja.
Advertiu também, com humor, os fiéis para que quando
forem à missa não façam “fofocas”, comentando, por exemplo, como está vestida a
fulana de tal. Talvez se referisse às cerimônias de casamento. Francisco,
quando era cardeal arcebispo de Buenos Aires, ironizava ao comentar que muitos
católicos assistem a esse tipo de cerimônia sem se importar com a missa, e mais
"como está vestida a noiva e as suas convidadas”.
O novo papa latino-americano está ressuscitando a Igreja
do entendimento e da misericórdia após séculos de inquisição. Está pulando
centenas de anos de teologia e doutrina patrística para levar a Igreja às suas
origens, quando ainda não existiam tribunais de inquisição e quando no centro
de tudo estava a teologia do perdão, e não a do castigo.
Até a chegada de Francisco, os pontífices mediam cada
palavra e até suas encíclicas tinham que passar pela censura da Congregação
para a Doutrina da Fé e do jornal oficial do Vaticano, L´Osservatore Romano. Não eram livres para dizer o que sentiam com
espontaneidade.
Lembro de só um papa, João XXIII -pelo que dizem parecido
com Francisco- que, quando visitava algum bairro pobre na periferia de Roma, ao
falar improvisando, dizia com humor aos jornalistas que o acompanhavam: “Melhor
que tomem nota, porque é possível que amanhã o que eu estou dizendo não saia
publicado no L´Osservatore Romano”. E era verdade - o censuravam.
Francisco surge quebrando velhos tabus. Não se sente de
mãos atadas quando fala, nem se preocupa excessivamente com a possibilidade de
suas palavras poderem ou não deixar de cabelo em pé certos teólogos
conservadores.
Sente-se seguro porque ele fez um link com a Igreja
primitiva, e mais ainda, com os textos bíblicos, antes de que fossem
domesticados pelas diversas teologias ao longo dos séculos. A afirmação de que
se um cristão não se sente pecador é melhor que não vá à missa não deixará de
soar quase como uma heresia a muitos católicos conformistas.
No entanto, essa volta à ideia de uma Igreja não
triunfante, não de justos e santos senão de pecadores, não de eleitos senão dos
que buscam a piedade e a misericórdia, Francisco está resgatando dos
evangelhos, dos ensinamentos diretos do profeta judeu.
Três passagens dos evangelhos de Lucas e João dariam
plena razão à última provocação de Francisco. A primeira é quando é acusado
pelos fariseus de ter ido com seus apóstolos comer na casa de um publicano, uma
categoria considerada como de “pecadores”. Jesus aproveita a crítica feita
pelos que se acham bons e diz: “Eu não vim chamar os justos, mas, sim, os
pecadores, ao arrependimento", e acrescenta: “Os sãos não precisam de médico, mas sim os
enfermos". (Lucas 5, 27-32)
No mesmo evangelho (18, 9-14), aos que se consideravam
justos (sem pecados) e “menosprezavam os outros”, propôs a seguinte parábola:
dois homens foram rezar no templo, um era fariseu (justo) e o outro publicano
(pecador). O fariseu, em pé, para ser visto melhor, rezou assim: “Ó Deus,
graças te dou porque eu não sou como os outros, ladrões, injustos, adúlteros,
nem como esse publicano aí. Eu jejuo duas vezes por semana e dou ao templo o
dízimo de tudo o que ganho”.
Por trás dele, em um canto, o publicano pecador não
ousava nem levantar os olhos e batia no peito dizendo: “Senhor, ajudem-me
porque eu sou um pecador”. Jesus resume: “Digo-vos que o publicano voltou à sua
casa justificado, e não o fariseu”.
No evangelho de João (8,2), um grupo de homens quis
colocar à prova a fama de misericordioso de Jesus com os pecadores e levaram à
força até ele uma mulher flagrada em adultério: “A lei manda matá-la (por
apedrejamento). Tu, pois, que dizes?”. Queriam que Jesus se declarasse contra a
lei judaica. Não sabemos o que respondeu, porque escrevia na terra do templo
com o dedo, enquanto a mulher, humilhada, se encontrava jogada no chão, em uma
cena que deixava enlouquecido o famoso cineasta ateu italiano Pier Paolo
Pasolini, que me perguntava incrédulo: “Mas por que os apóstolos não se
interessaram em nos contar o que Jesus escrevia?”.
Sabe-se apenas que quando Jesus propôs aos acusadores que
atirassem a primeira pedra os que “estivessem sem pecado”, estes começaram a ir
embora, “começando pelos mais velhos”. À mulher em pecado, Jesus pergunta:
“Ninguém te condena? Eu tampouco, vai em paz e não peques mais”.
Os legalistas, incapazes de misericórdia, não perdoaram,
no entanto, o profeta pelo seu gesto de misericórdia com a adúltera e o levaram
à cruz ainda muito jovem.
Francisco está ressuscitando a Igreja que preferia
perdoar que condenar, entender o coração humano em vez de anatematizar,
convencido como está que a Igreja que, por exemplo, faz do confessionário (em
expressão sua) um “local de tortura”, não responde à sonhada por seu fundador:
uma Igreja que não condena ninguém e que deixa o julgamento final nas mãos de
Deus, de quem dizia o profeta Isaías que é mais mãe do que pai.
Não parece Francisco, efetivamente, mais uma mãe que
fecha os olhos às travessuras de seus filhos que um pai severo sempre disposto
a castigar? “Quem sou eu para julgar um homossexual?”, disse aos jornalistas no
avião de volta do Brasil.
Francisco está sendo severo só contra os que violentam os
menores inocentes, isto é, contra os pedófilos dentro da Igreja. Bem mais que
seus antecessores. E também nisso segue as impressões do mestre que chegou a
pedir a pena de morte para quem escandalizasse as crianças. “Melhor seria que
colocassem uma pedra de moinho no pescoço e o jogassem no mar”, disse a seus
discípulos.
Francisco é, na verdade, o primeiro papa a surpreender
desde o primeiro momento ao confessar com coragem: “Eu também peco”.
Quanto aguentará a Igreja tradicional essa revolução
repentina?
Papa alerta sobre as 15 doenças que
atingem a Cúria
Por Pablo Ordaz, 23/12/14
É o raio que não termina. O papa Francisco continua aproveitando
qualquer oportunidade para denunciar os pecados da Cúria. Com carinho, mas
também com dureza. O papa Francisco aproveitou a fala de natal para os homens
que o ajudam – mesmo que nem sempre – a dirigir os destinos da Igreja para
adverti-los sobre as doenças mais comuns que minam a saúde do Vaticano. Desde
“sentirem-se imortais e indispensáveis” ao Alzheimer espiritual – a perda da
memória de Deus –, passando pelo mundano, o exibicionismo, a vaidade e “o
terrorismo dos boatos”. Uma lista de 15 doenças e seus possíveis tratamentos.
A relação não tem desperdício, portanto a seguir estão resumidas uma por
uma e por ordem. A primeira das 15 doenças da Cúria enumeradas por Bergoglio em
sua longa fala – apoiada em citações do Evangelho e de várias encíclicas – é a
de “sentirem-se imortais, imunes” e até mesmo “indispensáveis”. Diz o Papa que
“uma Cúria que não faz autocrítica, que não se atualiza e que não tenta
melhorar é um corpo doente”. Francisco fala da patologia do poder, “do complexo
dos eleitos”, de todos aqueles que “se transformam em donos e sentem-se
superiores a todos e não ao serviço de todos”. O possível remédio proposto por
Jorge Mario Bergoglio é sem dúvida marcante: “Uma visita aos cemitérios nos
poderia ajudar a ver os nomes de pessoas que talvez também pensassem ser
imortais, imunes e indispensáveis!”.
A segunda é a “doença da laboriosidade excessiva”. Francisco lembra que
Jesus também aconselhou seus apóstolos a “descansar um pouco”. Disse que para
evitar “o estresse e a agitação” é necessário “passar tempo com a família,
respeitar as férias”, utilizá-las para recuperar-se “espiritual e fisicamente”.
A terceira doença é a do “endurecimento mental e espiritual”. Francisco adverte
sobre os que têm um “coração de pedra”, se escondem atrás dos papéis e do
gerenciamento e perdem “a sensibilidade humana”, a capacidade de amar ao
próximo. A quarta doença é a da “excessiva planificação e funcionalidade”. O
Papa diz – em uma mensagem dirigida talvez para os mais tradicionalistas da
Igreja – que são necessárias “a frescura, a fantasia e a novidade” para não
fechar-se “nas próprias posições estáticas e inamovíveis”. A quinta doença é a
“má coordenação”. Francisco assegura que quando falta a colaboração e o
espírito de equipe – “o pé que diz ao braço ‘não preciso de você’” – é quando
chega “o mal-estar e o escândalo”.
A sexta doença que Francisco diz ter detectado na Cúria é a do
“Alzheimer espiritual”: “Podemos vê-lo naqueles que perderam a memória do
encontro com o Senhor (...) e dependem completamente de seu presente, de suas
paixões, de seus caprichos e manias; (...) convertendo-se em escravos dos
ídolos esculpidos por suas próprias mãos”. A sétima doença, “gravíssima”
segundo o Papa, é a da “rivalidade e da vaidade”, quando “a aparência, a cor
das roupas e as insígnias de honra se transformam no objetivo prioritário da
vida”. Não é preciso dizer mais nada.
A oitava das 15 doenças é a “esquizofrenia assistencial”, sofrida por
aqueles membros da Cúria que vivem “uma vida dupla”, que se dedicam aos
assuntos burocráticos da Santa Sé perdendo o contato com a realidade das
pessoas de carne e osso: “Acreditam assim em um mundo paralelo e vivem uma vida
escondida e frequentemente dissoluta. A conversão dessas pessoas é urgente”.
As próximas doenças detalhadas pelo
Papa não são exclusivas do interior do Vaticano. É possível dizer que são vírus
espalhados universalmente. No ponto nove, um clássico nas falas de Francisco,
fala do perigo da afeição em criticar e fofocar – “irmãos, vamos nos guardar do
terrorismo das boatarias!” –, e o 10 enfatiza o perigo de “divinizar os
chefes”, uma bajulação vital na qual tantos baseiam sua ambição de ascender,
“pensando somente no que é possível obter e não no que se deve oferecer”. A
doença número 11 é “a indiferença com os demais”, muito ligada também ao
egoísmo, “quando cada um pensa somente em si mesmo e perde o calor das relações
humanas”. A doença seguinte – a do “rosto fúnebre” – também costuma ser
mencionada por Bergoglio, um Papa habitualmente com grande senso de humor: “O
religioso deve ser uma pessoa amável, serena e entusiasta, uma pessoa alegre
que transmite alegria. Como faz bem uma boa dose de humor”.
O Papa encerra seu diagnóstico sobre os males da Cúria – ainda que não
somente da Cúria – advertindo sobre a “doença do acúmulo de bens materiais” –
número 13 –, “a doença dos círculos fechados” – 14 – e, finalmente, a do
“aproveitamento mundano, dos exibicionistas”, a daqueles que “transformam seu
serviço em poder, e seu poder em mercadoria para obter ganhos mundanos ou ainda
mais poder”.
Não deixa de ser significativo que, além de ler a cartilha para a Cúria,
o papa Francisco quis também reunir-se com os trabalhadores do Vaticano. Com
eles utilizou um tom e uma mensagem muito diferente: “Quero pedir-lhes perdão
por meus erros e os dos meus colaboradores e também por alguns escândalos que causaram tanto dano: Me perdoem!”.
Papa Francisco: “As doenças da cúria causaram dor e feridas”
Bergoglio
diz que as reformas da Igreja continuarão e cria um “catálogo de virtudes”
Por Pablo Ordaz, 22/12/15
Exatamente
um ano atrás, o papa
Francisco aproveitou o tradicional encontro natalino com a cúria
romana para alertar os principais membros da Igreja católica sobre as 15
doenças que afetam a saúde do Vaticano,
dentre as quais destacou “o mundanismo, o exibicionismo e a vanglória”. Um
Natal depois, novamente reunido com a cúria, Jorge Mario Bergoglio constatou:
“Algumas daquelas doenças se manifestaram causando não pouca dor e ferindo
muitas almas”. O Papa afirmou que, apesar de todas as resistências, “as
reformas da Igreja continuarão a ser feitas com determinação”.
Mesmo gripado e visivelmente cansado, o
Papa leu para os bispos e cardeais um discurso de seis folhas — escritas
inteiramente por ele — no qual incluiu um “catálogo das virtudes
necessárias” para “quem trabalha na cúria”. Em princípio, não é um catálogo tão
severo como o de um ano atrás — impagáveis as expressões dos príncipes da
Igreja diante dos raios X de Bergoglio —, mas também não deixou por menos.
Quando, por exemplo, o Papa fala da sobriedade — “a capacidade de
renunciar ao supérfluo e de resistir à lógica consumista dominante” —, a
transmissão da televisão do Vaticano mostrou o cardeal Tarcisio Bertone, o
secretário de Estado anterior, o mesmo que utilizou 200.000 euros (877.000
reais) dos fundos destinados a um hospital infantil para reformar seu luxuoso
apartamento. Nos últimos dias, o cardeal Bertone devolveu 150.000 euros
(658.000 reais), o que não deixa de chamar a atenção sobre sua capacidade de
economizar.
Mesmo sem
citar explicitamente o escândalo pelo vazamento de documentação secreta —
o chamado caso Vatileaks2 que causou a prisão de um padre espanhol —, o papa
Francisco o ligou em seu discurso às doenças citadas e disse que elas não o
farão desistir de sua determinação em mudar a Igreja. Ainda que em tom mais
brando e até mais positivo — enumerar as virtudes necessárias ao invés das
doenças a se combater —, a fala de Bergoglio não tem nada de condescendente. O
Papa alerta: “O honesto nunca manipula as pessoas e as coisas que são de sua responsabilidade.
A honestidade é a base sobre a qual estão todas as outras qualidades”.
Francisco
pede exemplaridade para “evitar os escândalos que ferem as almas e ameaçam a
credibilidade” da Igreja Católica e voltou a
utilizar palavras muito duras aos sacerdotes que, esquecendo-se de sua missão,
causam escândalo com suas ações: “Como disse Cristo, quem escandalizar um só
dos pequenos que em mim acreditam, merece ter uma pedra de moinho atada ao
pescoço e ser lançado ao fundo do mar”.
Apenas
três dias depois de enumerar as virtudes necessárias na cúria e classificar como doenças "o mundanismo, o exibicionismo e o
orgulho", o papa
Francisco pediu que os fiéis adotem "um comportamento sóbrio,
simples, equilibrado e linear", durante sua homilia na Missa do Galo,
realizada na Basílica de São Pedro, na véspera de Natal.
Bergoglio fez referência a uma sociedade
que está "embriagada de consumo e de prazeres, de abundância e de luxo, de
aparência e de narcisismo" e, diante disso, recomendou a simplicidade e a
sobriedade para "viver o que é importante".
Aos fiéis que compareceram à missa na
Praça de São Pedro, decorada com uma árvore de Natal de 25 metros e um portal
de Belém, Francisco pediu que os católicos renunciem às riquezas do mundo.
Diante da representação do Menino Jesus,
disse: "Esse Menino nos ensina o que é verdadeiramente importante em nossa
vida. Nasce na pobreza no mundo, porque não há lugar na estalagem para Ele e
sua família... Encontra abrigo e amparo em um estábulo e deita-se numa
manjedoura para animais. E, no entanto, desse nada brota a luz da glória de
Deus".
Também enfatizou virtudes como a bondade,
a misericórdia e o amor para viver uma vida "sóbria, reta e piedosa",
e pediu o esquecimento dos medos e temores, porque na noite de Natal
comemora-se o nascimento de Jesus.
"Agora é preciso cessar o medo e o
temor, porque a luz nos mostra o caminho até Belém. Não podemos ficar
indefesos. Não é correto ficar parados." Ao contrário, pediu para que os
fiéis caminhem e vejam "nosso Salvador deitado na manjedoura", disse
o pontífice em sua terceira Missa do Galo.
Uma noite que, para o Papa, é
"motivo de júbilo e alegria", um júbilo que recomenda seja
compartilhado e que levará, segundo ele, a uma sociedade na qual exista paz
entre as nações.
"Nesta noite brilha uma grande luz.
Sobre nós resplandece a luz do nascimento de Jesus", disse, uma luz que,
para o máximo representante da Igreja Católica, "vem iluminar nossa
existência, confinada muitas vezes sob a sombra do pecado".
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