quinta-feira, 14 de setembro de 2017

A ATUAÇÃO DOS ESPÍRITOS SUPERIORES NA ESCRITA DE O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

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Fonte da imagem: http://meucantinho-ariadne.blogspot.com.br/2010/07/conduta-espirita-do-medium.html


     No livro Obras Póstumas, de Allan Kardec, constam passagens que revelam a ação da Espiritualidade Superior durante a escrita da obra O Evangelho Segundo o Espiritismo

"Ségur, 9 de agosto de 1863

(Médium: Sr. d’A...)

IMITAÇÃO DO EVANGELHO

NOTA — Eu a ninguém dera ciência do assunto do livro em que estava trabalhando. Conservara-lhe de tal modo em segredo o título, que o editor, Sr. Didier, só o conheceu quando da impressão. Esse título foi, a princípio: Imitação do Evangelho. Mais tarde, por efeito de reiteradas observações do mesmo Sr. Didier e de algumas outras pessoas, mudei-o para o de O Evangelho segundo o Espiritismo. Assim, as reflexões contidas nas comunicações seguintes não podem ser tidas como fruto de idéias preconcebidas do médium.

Pergunta — Que pensais da nova obra em que trabalho neste momento?

Resposta — Esse livro de doutrina terá considerável influência, pois que explanas questões capitais, e não só o mundo religioso encontrará nele as máximas que lhe são necessárias, como também a vida prática das nações haurirá dele instruções excelentes. Fizeste bem enfrentando as questões de alta moral prática, do ponto de vista dos interesses gerais, dos interesses sociais e dos interesses religiosos. A dúvida tem que ser destruída; a terra e suas populações civilizadas estão prontas; já de há muito os teus amigos de além-túmulo as arrotearam; lança, pois, a semente que te confiamos, porque é tempo de que a Terra gravite na ordem irradiante das esferas e que saia, afinal, da penumbra e dos nevoeiros intelectuais. Acaba a tua obra e conta com a proteção do teu guia, guia de todos nós, e com o auxílio devotado dos Espíritos que te são mais fiéis e em cujo número digna-te de me incluir sempre.

P. — Que dirá o clero?

R. — O clero gritará — heresia, porque verá que atacas decisivamente as penas eternas e outros pontos sobre os quais ele baseia a sua influência e o seu crédito. Gritará tanto mais, quanto se sentirá muito mais ferido do que com a publicação de O Livro dos Espíritos, cujos dados principais, a rigor, poderia aceitar. Agora, porém, tu entraste por um novo caminho, no qual não poderá ele acompanhar-te. O anátema secreto se tornará oficial e os espíritas serão repelidos, como o foram os judeus e os pagãos, pela Igreja Romana.

Em compensação, os espíritas verão aumentar-se-lhes o número, em virtude dessa espécie de perseguição, sobretudo com o qualificarem, os padres, de demoníaca uma doutrina cuja moralidade esplenderá como um raio de Sol pela publicação mesma do teu novo livro e dos que se seguirão.

Aproxima-se a hora em que te será necessário apresentar o Espiritismo qual ele é, mostrando a todos onde se encontra a verdadeira doutrina ensinada pelo Cristo. Aproxima-se a hora em que, à face do céu e da Terra, terás de proclamar que o Espiritismo é a única tradição verdadeiramente cristã e a única instituição verdadeiramente divina e humana. Ao te escolherem, os Espíritos conheciam a solidez das tuas convicções e sabiam que a tua fé, qual muro de aço, resistiria a todos os ataques.

Entretanto, amigo, se a tua coragem ainda não desfaleceu sob a tarefa tão pesada que aceitaste, fica sabendo que foste feliz até ao presente, mas que é chegada a hora das dificuldades. Sim, caro Mestre, prepara-se a grande batalha; o fanatismo e a intolerância, exacerbados pelo bom êxito da tua propaganda, vão atacar-te e aos teus com armas envenenadas. Prepara-te para a luta. Tenho, porém, fé em ti, como tu tens fé em nós, e sei que a tua fé é das que transportam montanhas e fazem caminhar por sobre as águas. Coragem, pois, e que a tua obra se complete. Conta conosco e conta sobretudo com a grande alma do Mestre de todos nós, que te protege de modo muito particular.

Paris, 14 de setembro de 1863

NOTA — Eu solicitara para mim uma comunicação sobre um assunto qualquer e pedira que ela me fosse enviada para o meu retiro de Sainte-Adresse.

“Quero falar-te de Paris, embora isso não me pareça de manifesta utilidade, uma vez que as minhas vozes íntimas se fazem ouvir em torno de ti e que teu cérebro percebe as nossas inspirações, com uma facilidade de que nem tu mesmo suspeitas. Nossa ação, principalmente a do Espírito de Verdade, é constante ao teu derredor e tal que não a podes negar. Assim sendo, não entrarei em detalhes ociosos a respeito do plano de tua obra, plano que, segundo meus conselhos ocultos, modificaste tão ampla e completamente.

Compreendes agora por que precisávamos ter-te sob as mãos, livre de toda preocupação outra, que não a da Doutrina.

Uma obra como a que elaboramos de comum acordo necessita de recolhimento e de insulamento sagrado. Tenho vivo interesse pelo teu trabalho, que é um passo considerável para a frente e abre, afinal, ao Espiritismo a estrada larga das aplicações proveitosas, a bem da sociedade. Com esta obra, o edifício começa a libertar-se dos andaimes e já se lhe pode ver a cúpula a desenhar-se no horizonte. Continua, pois, sem impaciência e sem fadiga; o monumento estará pronto na hora determinada.

“Já tratamos contigo das questões incidentes do momento, isto é, das questões religiosas. O Espírito de Verdade te falou das rebeliões que já se levantam na hora presente. São necessárias essas hostilidades para manter desperta a atenção dos homens, que tão facilmente se deixam desviar de um assunto sério. Aos soldados que combatem pela causa, incessantemente se juntarão combatentes novos, cujas palavras e escritos hão de causar sensação e levarão a perturbação e a confusão às fileiras dos adversários.

“Adeus, caro companheiro de antanho, discípulo fiel da verdade, que continua através da vida a obra a que outrora, diante do Espírito que te ama e a quem venero, juramos consagrar as nossas forças e as nossas existências, até que ela se achasse concluída. Saúdo-te.”

OBSERVAÇÃO — O plano da obra fora, de fato, completamente modificado, o que sem dúvida o médium não podia saber, pois que ele estava em Paris e eu em Sainte-Adresse. Tampouco podia saber que o Espírito de Verdade me falara da atitude de revolta do Bispo de Argélia e outros. Todas essas circunstâncias eram bem urdidas para me comprovar que os Espíritos tomavam parte em meus trabalhos. (Ver o APÊNDICE no final da obra, pp. 471 e seguintes. Nota da Editora — FEB — à 15a edição, em 1975.)"

O seguinte caso consta no apêndice do livro Obras Póstumas, e escrito pelo próprio Allan Kardec:

"FENÔMENO DE CLARIVIDÊNCIA

Paris, 20 de outubro de 1863

A Senhorita V..., natural de Lyon, é dotada de uma notável segunda vista, conseguindo não só ver os Espíritos no estado normal, sem que esteja sonambulizada, como também observar, com grande precisão, os fatos que se desenrolam a distância.

Uma vez em Paris, onde veio passar alguns dias, deliberou visitar-me, na Rua Sainte-Anne, tendo encontrado minha esposa, vez que — desde meu retorno de Sainte-Adresse — me havia eu retirado para Ségur, a fim de, com mais tranqüilidade, trabalhar em minha obra sobre o Evangelho. Nosso encontro foi impossível, em vista de ter a Senhorita empreendido viagem de regresso ainda naquela tarde. Mas, durante a conversa com minha esposa diz-lhe esta: — “Uma vez que não podereis avistar-vos com meu marido, o que ele muito lamentará, não poderíeis transportar-vos em Espírito até onde se encontra, e vê-lo?”

Por um instante, recolheu-se a Senhorita, e disse:

— “Sim, vejo-o; acha-se num aposento muito iluminado, no pavimento térreo; há ali três janelas... Oh!... e como tudo é alegre! A casa é circundada por jardins... por toda parte árvores e flores... Tudo respira a calma e tranqüilidade... Ele está sentado, próximo a uma janela, trabalhando... Está cercado por uma multidão de Espíritos que lhe conservam a boa saúde... alguns há que parecem muito elevados, e o inspiram; um deles especialmente parece ser superior a todos os demais, sendo-lhes objeto de deferências.

Pergunta — Acaso percebeis a natureza do trabalho de que meu marido se ocupa?

Resposta — Um momento... Vejo um Espírito que segura um livro de grandes proporções... abre-o e mostra-me o que se acha escrito... leio-o: Evangelho.

OBSERVAÇÃO — Com efeito, trabalhava eu em meu livro sobre os Evangelhos, e cujo título constitui-se ainda em segredo para todos. A Senhorita V... não poderia conhecê-lo. Quanto à minha esposa, ignorava ela se, naquele momento, me ocupava disso ou de outro qualquer assunto. Nada, conseqüentemente, podia influenciar o pensamento da clarividente. A descrição dos recantos é, além do mais, precisa, sendo de ressaltar que ela jamais viu esses lugares.

A peça onde me instalara está provida de exatamente três janelas, o que não é comum, e, de todos os lados, confina com os jardins. Minha esposa ignorava estivesse eu nesse cômodo, que é o salão. Poderia, com muito maior probabilidade, supor-me no escritório. Todas as circunstâncias comungam na prova de que, em realidade, a Senhorita V... a tudo presenciava, não sendo joguete da própria imaginação. Tal fato constitui-se, para mim, numa prova do interesse que os Espíritos tinham por esse trabalho, bem como da assistência que a mim dispensam e a minhas atividades.

Allan Kardec.”

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

KARDEC, Allan. Obras Póstumas. FEB. 


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