quarta-feira, 27 de junho de 2012

A BÍBLIA CONDENA O ESPIRITISMO? PARTE 2 – A BÍBLIA SOB A ÓTICA ESPÍRITA

Jesus se comunica com os Espíritos de Moisés e Elias no Monte Tabor

Fábio José Lourenço Bezerra

     Dando continuidade ao nosso texto anterior, A Bíblia Condena o Espiritismo?”, neste blog, o autor Severino Celestino da Silva, em sua obra ” Analisando as traduções bíblicas”, nos diz que “muitas essências e valores foram perdidos com a tradução da Toráh” (os cinco livros atribuídos a Moisés). Continua ele:
 “Modernamente nos servimos das letras do alfabeto para designar os sons componentes das palavras da nossa língua. Na sua fase antiga, ideográfica, o alfabeto era composto de sinais que sugeriam idéias em vez de sons. No decorrer dos tempos, porém, apagou-se por completo esse aspecto primitivo dos sinais gráficos para remanescer, unicamente, o valor fonético e ser adotado por todas as nações do mundo em nossos dias.”
Nesse particular, “o alfabeto hebraico constitui uma verdadeira exceção”, pois continuou sendo objeto de ramificada interpretação ideológica, a qual, no fundo, sublima e desenvolve, em profundidade, o seu primitivo princípio ideográfico.”
Conforme Severino Celestino, os tradutores Eusébio (260-340), Ambrósio (333-397) e Jerônimo (340-420), nas suas obras, ora referem-se ao significado da figura, ora à semântica de seu nome, e afirma:
“Desta conduta, derivaram-se muitos conceitos novos que, na verdade, acabaram por não traduzir o verdadeiro sentido do texto, além de alterarem o sentido original ou mesmo deixarem de atribuir valores que não poderiam ficar de fora.
O Zohar afirma que, em cada uma das palavras da Toráh, estão contidas verdades supremas e segredos sublimes. Assim, os textos da Toráh não são mais do que suas vestes exteriores. O vinho deve ser colocado num cântaro para se conservar, assim também a Toráh deve ser envolvida numa roupagem exterior. Essa roupagem é feita de fábulas e narrativas, mas nós devemos penetrar através delas.”  
Ele cita o que escreveu Rebe de Lubavitch, em sua obra “Discursos Chassídicos”:
“A Toráh tem sua própria terminologia complexa e um único conjunto de regras e linhas mestras pelas quais pode-se interpretá-la. Uma tradução direta pode facilmente levar a uma distorção, mau entendimento, e até a negação da unidade de Deus. Sem emendas nas traduções nos possíveis maus direcionamentos de palavras e frases, deploráveis danos poderiam resultar.”
O Espírito Emmanuel, pela psicografia do médium Francisco Cândido Xavier, em sua obra “A Caminho da Luz”, escreveu no ano de 1938:
“Estudando-se a trajetória do povo israelita, verifica-se que o Antigo Testamento é um repositório de conhecimentos secretos, dos iniciados do povo judeu, e que somente os grandes mestres da raça poderiam interpretá-lo fielmente, nas épocas mais remotas.”
A resposta do Espírito à indagação de Kardec de Nº 1010 de “O Livro dos Espíritos”, escrita em meados do século XIX, também é bastante esclarecedora:
“Logo se reconhecerá que o Espiritismo ressalta a cada passo do texto das Escrituras Sagradas (grifo nosso). Os Espíritos não vêm, pois, destruir a religião, como alguns o pretendem mas, ao contrário, vêm confirmá-la, sancioná-la por provas irrecusáveis. Mas como é chegado o tempo de não mais empregar a linguagem figurada, eles se exprimem sem alegoria e dão às coisas um sentido claro e preciso que não possa estar sujeito a nenhuma interpretação falsa. Eis porque, dentro de algum tempo, tereis mais pessoas sinceramente religiosas e crentes que as que não tendes hoje.”
Vejamos o que disse Allan Kardec, no livro “A Gênese”, Capítulo I, item 29:
“Mas, quem toma a liberdade de interpretar as Escrituras sagradas? Quem possui as necessárias luzes, senão os teólogos? Quem o ousa? Primeiro a ciência, que a ninguém pede permissão para dar a conhecer as leis da Natureza e salta sobre os erros e os preconceitos. – Quem tem esse direito? Neste século de emancipação intelectual e de liberdade de consciência, o direito de exame pertence a todos e as Escrituras não são mais a Arca Santa na qual ninguém se atreveria a tocar com a ponta do dedo, sem correr o risco de ser fulminado. Quanto às luzes especiais, necessárias, sem contestar as dos teólogos, por mais esclarecidos que fossem os da Idade Média, e, em particular, os Pais da Igreja, eles, contudo, não o eram bastante para não condenarem como heresia o Movimento da Terra e a crença nos antípodas. Mesmo sem ir tão longe, os teólogos dos nossos dias lançaram anátema à teoria dos períodos de formação da Terra?
Os homens só puderam explicar as Escrituras com o auxílio do que sabiam, das noções falsas ou incompletas que tinham sobre as leis da natureza mais tarde reveladas pela ciência. Eis porque os próprios teólogos, de muito boa fé, enganaram-se sobre o sentido de certas palavras e fatos do Evangelho. Querendo a todo custo encontrar nele a confirmação de uma idéia preconcebida, giravam sempre no mesmo ciclo, sem abandonarem o seu ponto de vista, de modo que só viam o que queriam ver, e por muito instruídos que fossem, eles não podiam compreender causas dependentes de leis que lhes eram desconhecidas.
Mas, quem julgará as interpretações diversas e muitas vezes contraditórias, fora do campo da teologia? O futuro, a lógica e o bom senso. Os homens, cada vez mais esclarecidos, à medida que novos fatos e novas leis se forem revelando, saberão separar da realidade os sistemas utópicos. Ora, as ciências tornam conhecidas algumas leis; o Espiritismo revela outras; todas são indispensáveis à inteligência dos Textos Sagrados de todas as religiões, desde Confúcio e Buda até o Cristianismo. Quanto à teologia, essa não poderá judiciosamente alegar contradições da Ciência, visto como também ela nem sempre está de acordo consigo mesma.”
De fato, vários anos após o que escreveu Kardec, acima, inúmeros e ilustres cientistas, entre o final do século XIX e início do século XX, realizaram experiências com médiuns (Ver o texto O Que São Médiuns?, neste blog), sob rigoroso controle para evitar-se a fraude, rendendo-se às fortíssimas evidências, passando a acreditar na existência do Mundo Espiritual, dos Espíritos e suas comunicações com o mundo material (Ver o texto "Ilustres Cientistas confirmaram: A Alma sobrevive à morte", neste blog). 
Durante todo o século XX e também no nosso século, cientistas e pesquisadores também vêm estudando os fenômenos espíritas, inclusive a reencarnação, confirmando-a (Ver os Textos Por Que Ser Espírita?, Fortes Evidências da Reencarnação, O Passe Espírita é estudado pela Universidade e Terapia Mediúnica Mostra-se Eficaz em Pesquisa na USP, neste blog).


      O Espiritismo nos diz que o surgimento de tudo o que existe possui uma causa primeira: a inteligência suprema, que chamamos de Deus.
       Igualmente, diz que Deus é Eterno, Imutável, Imaterial, Infinito, Todo-Poderoso, Soberanamente Justo e Bom.
        Para habitar e atuar na sua Criação, sob sua supervisão, fez surgir o Espírito, ser eterno, inteligente, sensível e dotado de personalidade e vontade próprias. Criou, e até hoje cria, inúmeros Espíritos, pois sua criação é infinita. Também criou um lugar para morada dos Espíritos, o Mundo Espiritual.
         Ele destinou aos Espíritos a suprema felicidade, esta sendo fruto da plena sabedoria, da comunhão entre eles e com o Criador. Contudo, quis Deus que este ser aprendesse, logo de início, os valores da humildade e do trabalho: criou-o simples e ignorante, tendo que conquistar a sabedoria através de muito esforço, para dar valor à mesma. Assim, o mérito pela sabedoria adquirida é todo seu.
        Dando meios de aprendizado para o Espírito, além do Mundo Espiritual, criou o Mundo Material. Aqui, ele recebe como veículo o corpo físico, frágil e perecível, capaz de lhe transmitir dor, que ele tem de sustentar com o trabalho. Na luta pela sobrevivência, pela fuga do sofrimento e em busca de prazer e conforto, ele é impelido a desenvolver sua inteligência e emoções, através de várias encarnações (Ver o texto "Por Que Esquecemos Nossas Vidas Passadas?", neste blog).
       Cansados de sofrer, devido às conseqüências da prática de malefícios e excessos de toda ordem (Ver o texto "Por Que Devemos Fazer o Bem?", neste blog), e constatando a fragilidade e transitoriedade dos bens e prazeres materiais, os Espíritos, finalmente, convencem-se de que o caminho para a felicidade plena e duradoura está no cultivo, em si mesmo, de valores de vida eterna. O amor ao próximo, a humildade e o total desapego do mundo material proporcionam-lhes grande leveza e paz interior. A harmonia e a união entre eles, em total sintonia uns com os outros, e a satisfação com a prática do bem, constitui-se em fonte de incomensurável alegria. O imenso intelecto, construído ao longo das várias vidas pelas quais passaram, dá-lhes uma visão de conjunto que lhes permite admirar a perfeita obra do Criador de forma muito mais completa. Nesse estágio, são capazes até mesmo de receber as inspirações diretas de Deus. Uma vez atingida a perfeição intelecto-moral a que podem chegar os Espíritos, eles não precisam mais reencarnar, exceto quando são encarregados de alguma missão que o exija. É quando podem ser chamados de Espíritos Puros ou Anjos.
             Contudo, Deus não lhes destinou à inatividade, a ficar eternamente em contemplação (aliás, isso seria uma verdadeira tortura para os Espíritos. Um tédio eterno). Conforme o grau de evolução intelectual e de maturidade moral, Ele lhes atribui tarefas, que executam com grande satisfação. São inúmeras as tarefas destes Espíritos, que vão desde auxiliar diretamente o aprendizado dos menos experientes, até a criação e o governo de universos, de mundos e das mais variadas formas de vida material. Como nos diz o Espírito André Luiz, pela psicografia de Chico Xavier: ”Quando o servidor está pronto, o serviço aparece”.
             Nas religiões ao redor do mundo, encontramos um ensinamento em comum. É a Regra de Ouro: Ama a teu próximo como a ti mesmo (Ver o texto “Por Que Devemos Fazer o Bem?”, neste blog).
Espíritos em missão, em várias épocas da humanidade, conforme a cultura de cada época e lugar, vieram inspirar os homens, com sua sabedoria e exemplos, para fazê-los avançar na senda do progresso, através de mensageiros como Moisés, Jesus, Krishna e Buda.
           
Conforme já mencionamos no texto anterior, citando as palavras de J.Herculano Pires:
“[...] A origem mediúnica das religiões é hoje uma tese provada pelas pesquisas antropológicas e etnológicas. Só os materialistas a rejeitam.”
“[...] A origem da Bíblia é um capítulo natural desse processo geral que originou as religiões.”
            Podemos dizer que o Espiritismo fornece a chave para entendermos a Bíblia. encontramos nela vários fenômenos mediúnicos e ensinamentos concordantes com os postulados espíritas. De fato, Moisés tinha plena consciência da ignorância do povo que conduzia. Sabia que não estavam preparados para exercer a mediunidade com a devida seriedade que esta exige, sem abusos, mas era favorável à mediunidade com um fim sério, instrutivo. Inclusive desejava que o povo, dessa forma, a praticasse, como vimos no texto anterior, na passagem citada pelo professor Romeu Amaral Camargo (Números, capítulo 11, versículos de 26 a 29). O próprio Moisés era excelente médium, e possuía uma escola de médiuns, como vimos no texto anterior, na passagem citada por J.Herculano Pires (Números 11:23-25). Ali, ele comunica-se com Iahvéh, o Espírito guia do povo Hebreu, fazendo com que o mesmo se materialize com a ajuda de um grupo de médiuns (Ver o texto A Bíblia Condena o Espiritismo?, neste blog).
            Realmente, fica claro que Iahvéh era um Espírito, com a missão de guiar o povo Hebreu através da mediunidade de Moisés, transmitir os Dez Mandamentos (Código de Moral Universal) e consolidar o Monoteísmo (a crença em um único Deus), não sendo o Deus Criador do Universo. Inicialmente, podemos deduzir isto pela própria personalidade de Iahvéh: temperamental, vingativo, violento e guerreiro. Como exemplo, vejamos essa passagem de I Samuel 15, 2 e 3, onde Samuel transmite as ordens que recebeu de Iahvéh : "Vou pedir contas a Amalec do que ele fez a Israel, opondo-se-lhe no caminho, quando saiu do Egito. Vai, pois, fere Amalec e vota ao interdito tudo o que lhe pertence, sem nada poupar: matarás homens e mulheres, crianças e meninos de peito, bois e ovelhas, camelos e jumentos. 
       Natural que fosse assim, pois, em geral, os protetores espirituais são proporcionalmente superiores a seus tutelados. Ele era um Espírito de nível evolutivo apropriado àquela época de ignorância. Conforme nos diz J.Herculano Pires, ele “se apresentava como Deus, porque a mentalidade dos povos do tempo era mitológica, e os Espíritos eram considerados deuses.”. 
     Comparemos agora a passagem do Velho Testamento, citada acima, com esta, do Novo Testamento, em Mateus 19, 16 e 17, quando um jovem rico faz uma pergunta a Jesus: "Bom Mestre, o que é preciso que eu faça para adquirir a vida eterna? Jesus lhe respondeu: Por que me chamais bom? Só Deus é bom". Será que Jesus se refere ao mesmo Deus citado em I Samuel, que manda matar até crianças de peito?  Certamente que não. Além do mais, existem passagens no Velho Testamento que mostram claramente que Iahvéh era um Espírito, como a que citamos no texto anterior, quando ele se materializou (Números 11:23-25), o que certamente também aconteceu nesta outra passagem (Êxodo, 24, 9-11): 
       "Moisés subiu com Aarão, Nadab e Abiú, e setenta anciãos de Israel (a escola de médiuns de Moisés). Eles viram o Deus de Israel. Sob seus pés havia como um lajeado de safiras transparentes, como o osso dos céus em pureza. E aos nobres filhos de Israel, Deus não estendeu sua mão; e viram a Deus, e comeram e beberam..". 
         Vejamos esta outra passagem (Números 12, 4-8): 
        "Subitamente disse Iahvéh a Moisés, a Aarão e a Míriam: Vinde, todos os três, à tenda de reunião. Os três foram e Iahvéh desceu numa coluna de nuvem e se deteve à entrada da tenda.". Novamente, aparece a coluna de nuvem, que certamente trata-se de ectoplasma, substância bastante familiar nas sessões de materialização de Espíritos, realizadas em experiências de inúmeros pesquisadores dos fenômenos espíritas.
         Lemos acima que várias pessoas viram Iahvéh. Contudo, nesta passagem do Evangelho de João 1, 18, lê-se: 
        "Ninguém jamais viu a Deus; quem nos revelou Deus foi o Filho único, que está junto ao Pai.". Claro que   ninguém na Terra viu a Deus, o Criador do Universo, só Jesus, que está em um patamar espiritual tal que pode fazê-lo.
              Fazemos nossas as palavras do autor do artigo da revista "Sabedoria", Ano 5, Número 51, páginas 68 a 69, (citado por Severino Celestino, na obra já citada) na qual o autor se refere às "Qualidades atribuídas a Deus na Biblia": "Diante do exposto podemos concluir que se Iahvéh tem forma, falava boca a boca, inspirava, ditava, chegava, chamava e incorporava, evidentemente não é um Deus absoluto e imanifesto e sim um espírito desencarnado. um espírito superior, um anjo, um Santo, um "espírito guia" dos hebreus e jamais o Deus absoluto Supremo a quem João se refere no cap.1, 18 do seu evangelho O qual ninguém jamais viu".
             O próprio Paulo de Tarso, em  Atos 7:30-31como já citamos no texto anterior, afirma que Deus falou a Moisés através de um anjo na sarça ardente. Explicando melhor esta passagem, a primeira vez  que Iahvéh falou a Moisés foi no Monte Horeb, quando aconteceu o episódio da sarça ardente, uma planta que apresentava chama, sem, contudo, consumir-se (ver Êxodo 3: 1-6).
            Relativamente às comunicações com os Espíritos desencarnados na Bíblia, além da passagem, citada no texto anterior (provérbios, 31:1-9), que descreve a comunicação do Rei Samuel com sua mãe desencarnada, temos muitas outras passagens de comunicações de Espíritos. Por exemplo, conforme nos diz Severino Celestino, na obra já citada: “No I Livro de Samuel 28, 7 a 17, vemos Saul em casa da Pitonisa de Endor conversando com o espírito de Samuel que já se encontrava no mundo espiritual. Isto ocorre mesmo depois da proibição de Moisés e do próprio Saul como rei de Israel.” “[...] Nesta comunicação, tudo o que a “pitonisa” (médium) disse e previu ocorreu. Isto denota a seriedade e legitimidade do fenômeno mediúnico ocorrido.”
            No Novo Testamento, vemos Jesus conversando com os Espíritos de Moisés e de Elias, no episódio da Transfiguração, em Mateus 17:1-8.
            A Reencarnação aparece claramente no texto bíblico. Por exemplo, no velho testamento, temos, no livro de Job 33:21-30: 
         "Consome-se sua carne, desaparecendo da vista, expondo os ossos que antes não se viam. Sua alma aproxima-se da sepultura, e sua vida do jazigo dos mortos, a não ser que encontre um Anjo favorável, um Mediador entre mil, que dê testemunho de sua retidão, que tenha compaixão dele e diga: Livra-o de baixar à sepultura, que encontrei resgate para sua vida; e sua carne reencontrará a força juvenil e voltará aos dias de sua juventude. Suplicará a Deus e será atendido, contemplará com alegria sua face. Anunciará aos homens sua justificação, cantará diante dele e dirá: Pequei e violei a justiça: e Deus não me tratou de acordo com minha culpa. Salvou minha alma da sepultura, e minha vida se inunda de luz. Tudo isso faz Deus duas ou três vezes ao homem, para tirar sua alma da sepultura e iluminá-lo com a luz da vida". 
          Comentário de Severino Celestino, sobre esse trecho: "Observe que todo este trecho refere-se à misericórdia divina dando uma nova chance àquele que errou. o último versículo grifado confirma, ainda, que Deus salva nossa alma da sepultura, duas ou três vezes, inundado-a de luz. Duas ou três vezes é um número simbólico que significa quantas vezes seja necessário até a nossa completa evolução". 
          Podemos chamar a atenção também para o trecho do "Anjo favorável", que diz: "Livra-o de baixar à sepultura, que encontrei resgate para sua vida", que pode perfeitamente ser interpretado como os bons Espíritos que nos auxiliam em nossa evolução, nos guiando para novos corpos, isto é, reencarnações, necessárias ao resgate de nossas faltas e, dessa forma, à nossa ascensão espiritual.    
           Outro exemplo, analisado por Severino Celestino, cuja tradução encontra-se incorreta na Bíblia de Jerusalém – Edições Paulinas, além da reencarnação, temos a Lei de Causa e Efeito. Trocando duas preposições (sobre e por trocados por até), e o adjetivo zeloso por ciumento, no texto do Êxodo, no capítulo 20, de 5 e 6. Desfigurou-se assim o sentido reencarnacionista do texto. Veja a tradução incorreta:
            “Não te prostarás diante desses deuses e não os servirás porque Eu, Iahvéh teu Deus, sou um Deus ciumento, que puno a iniqüidade dos pais sobre os filhos, até a terceira e quarta geração dos que me odeiam, mas que também ajo com amor até a milésima geração dos que me amam e guardam os meus mandamentos.”
            É evidente a falta de lógica deste texto. Os filhos são punidos pelas faltas dos pais? Onde está a Responsabilidade Pessoal dos atos de cada um? Vejamos a tradução correta:
“Não te prostarás diante deles e não os servirás porque Eu, Iahvéh teu Deus, sou um Deus zeloso, que visito a culpa dos pais sobre os filhos, sobre a terceira e quarta geração dos que me odeiam, mas também ajo, com benevolência ou misericórdia por milhares (infinitas) de gerações, sobre os que me amam e guardam os meus mandamentos.”
Evidentemente que, praticando o mal, o Espírito, conforme a Lei de Causa e Efeito (Ver o texto Por Que Devemos Fazer o Bem?, neste blog), só poderia reencarnar, e assim sofrer as conseqüências dos seus atos, a partir do seu neto em diante, e não, por exemplo, como seu filho. Já o Espírito que ama a Deus e pratica o bem, terá a benevolência e a misericórdia de Deus infinitamente. Assim, o texto torna-se inteligível e conforme a justiça de Deus. Ciumento seria um atributo negativo, humano. Zeloso é um atributo muito mais conforme o Criador.     
            Em Ezequiel, 18, 1 e 2, confirma-se a Responsabilidade Pessoal de cada um por seus atos:
            “Perguntais por que não leva o filho a iniqüidade do pai! É que o filho praticou a justiça e a equidade, e, como observa e cumpre as minhas leis, também viverá. É o pecador que deve perecer. Nem o filho responderá pelas faltas do pai nem o pai pelas do filho. É ao justo que se imputará sua justiça, e ao mau sua malícia.”
           
               Em Malaquias 3, 23 ou 4, 5 em algumas Biblias, temos a previsão da reencarnação de Elias:
               “ Eis que vos enviarei Elias, o profeta, antes que venha o dia de Iahvéh grande e terrível”.
            
          No Novo Testamento, em Mateus 11, 12-14, temos Jesus, claramente, afirmando que João Batista é Elias reencarnado:
          “Desde os dias de João Batista até agora, o reino dos Céus sofre violência, e os violentos se apoderam dele. Porque todos os profetas bem como a Toráh profetizaram até João. E se quiserdes dar crédito, é ele o Elias que devia vir.”
          João Batista estava vivo no momento em que Jesus fez esta afirmativa. Quando Jesus disse “Desde os dias de João Batista”, queria dizer: “Desde os dias de Elias”, ou seja, João Batista era Elias reencarnado. E arremata: “é ele o Elias que devia vir.”
                Em Mateus 17:10-13 e Marcos 9:11-13, também temos:
                "Seus discípulos o interrogaram, dizendo:Por que, pois, os escribas dizem que é preciso que Elias venha antes? Mas Jesus lhes respondeu: É verdade que Elias deve vir e restabelecer todas as coisas; mas eu vos declaro que Elias já veio, e não o reconheceram, mas o trataram como lhes aprouve. É assim que eles farão sofrer o Filho do Homem. Então os discípulos compreenderam que era de João Batista que lhes havia falado". 
               Mais uma vez, Jesus afirma que João Batista era Elias reencarnado. O tratamento que deram a João Batista, referido por Jesus, foi a sua decapitação a mando do Rei Herodes.  
           A reencarnação fazia parte da crença do povo judeu, cuja religião provinha do Velho Testamento. Tanto que, em João 9, 1 e 2, temos:
            “E passando Jesus, viu um homem cego de nascença. Perguntaram-lhe os seus discípulos: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?”
            Jesus afirma que, naquele caso, não era uma coisa nem outra. Porém não aproveitou aquela oportunidade para rechaçar a reencarnação, nem em nenhuma outra ocasião, o que, como lhe era habitual, faria caso fosse contrário à essa crença. Aliás, nas passagem sobre João Batista, vistas acima, e em várias outras, está demonstrado, claramente, que ela fazia parte dos seus ensinos. Mas o mais interessante é a pergunta: “quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?”. Demonstra que os discípulos (judeus) acreditavam na reencarnação e na lei do Karma (ou Lei de Causa e Efeito). Como o homem em questão era cego de nascença, sua cegueira só poderia ter sido consequência de um pecado, ou seja, um malefício praticado por ele, em uma vida anterior, caso a primeira hipótese da pergunta dos discípulos fosse a verdadeira.
           Outra passagem que demonstra a crença dos Judeus na reencarnação, também sem recriminação de Jesus a esta crença, está em Mateus 16: 13-17 e Marcos 8: 27-30: 
             "Jesus, tendo vindo para os lados de Cesaréia de Felipe, interrogou seus discípulos e lhes disse: que dizem os homens quanto ao Filho do Homem? Quem dizem que eu sou? Eles lhe responderam: Alguns dizem que sois João Batista, outros Elias, outros Jeremias ou algum dos profetas. Jesus lhes disse: E vós outros, quem dizeis que eu sou? Simão Pedro, tomando a palavra, lhe disse: Vós sois o Cristo, o Filho de Deus vivo. Jesus lhe respondeu: Sois bem aventurado, Simão, filho de Jonas, porque não foi nem a carne nem o sangue que vos revelaram isso, mas meu Pai que está nos céus".     
            
          Para um maior aprofundamento no assunto tratado neste texto, remetemos o leitor a duas excelentes obras: “Analisando as Traduções Bíblicas”, de Severino Celestino da Silva, Editora Núcleo Espírita Bom Samaritano, e “Visão Espírita da Bíblia”, de J.Herculasno Pires, Editora Correio Fraterno.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

1 KARDEC, ALLAN. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro : Editora FEB,1995.;

2_____________ . O Evangelho segundo o Espiritismo. São Paulo : Editora Petit, 1997.;
3______________.A Gênese: Os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: Editora FEB, 1988;
4 SILVA, Severino Celestino da. Analisando as traduções bíblicas:refletindo a essência da mensagem bíblica. João Pessoa: Editora Núcleo Espírita Bom Samaritano, 2000;

5 PIRES, José Herculano. Visão espírita da Biblia. São Paulo: 6 ed.Correio Fraterno [2009];

6 XAVIER, Francisco Cândido; Emmanuel(Espírito). A Caminho da Luz. Rio de Janeiro: 14 ed.FEB [1986]



sábado, 23 de junho de 2012

A BÍBLIA CONDENA O ESPIRITISMO?


Moisés, um dos grandes médiuns da Bíblia

Fábio José Lourenço Bezerra

                Em muitas oportunidades, certos membros das religiões Católica e Protestante vêm afirmando que a Bíblia condena o Espiritismo. Com isso, demonstram não conhecer nem uma coisa nem outra, ou agem por pura má-fé ou fanatismo religioso.
Dissemos certos membros, porque essa opinião não é compartilhada por todos os que adotam as denominações religiosas supracitadas. Os que realmente conhecem a Bíblia e o Espiritismo, em sua essência e significado, pensam diferente.
Por exemplo, temos o caso de um ilustre teólogo protestante, professor de teologia da Universidade da Islândia e membro da Sociedade Bíblica Inglesa, Haraldur Nielsson. Traduziu a Bíblia para o islandês e escreveu o livro “O Espiritismo e a Igreja”, atualmente editado no Brasil pela editora Correio Fraterno. Embora não tenha se tornado espírita, se opõe às levianas afirmações de que a Bíblia condena as sessões e manifestações espíritas, reconhecendo a natureza dos livros Bíblicos e defendendo a interpretação espírita da Bíblia. Ele demonstra, em sua obra, que o termo transe vem da Bíblia, e diz: “O próprio Paulo nos diz que estava frequentemente em transe. O apóstolo Pedro conta-nos a mesma coisa”. Sobre a advertência de João para verificarmos “se os Espíritos são de Deus”, lembra-nos que Paulo também advertiu: “ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz anátema contra Jesus...” (I Coríntios, 12:3). Diz-nos também que o dom mediúnico era usado entre os cristãos primitivos: “Segundo a concepção dos tempos apostólicos, os espíritos podiam ser bons ou maus, muito evoluídos ou inferiores e atrasados.” (Ver o texto "Ilustre Teólogo Protestante Confirmou: Os Fenômenos Espíritas Existem", neste blog). 
Outros exemplos:
O Pastor Nehemias Marien, em sua obra "Jesus, A Luz da Nova Era", nos diz: " A doutrina Espírita é essencialmente cristã e tem o seu fundamento nas Sagradas Escrituras. O espiritismo deve ser entendido como um dos mais caudalosos afluentes do cristianismo. A mediunidade é um fenômeno que se observa em toda a Bíblia, através dos textos nela psicografados. nela, os redatores sagrados se manifestam como amanuenses do Espírito: não escreveram de si mesmos mas inspirados pelo Espírito de Deus, afirma o apóstolo Paulo."

          O professor Romeu Amaral Camargo, ex-diácono da I Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo, escreveu o livro “De Lá e de Cá”. Neste livro, ele cita a passagem bíblica que consta no livro de Números, capítulo 11, versículos de 26 a 29. Eldad e Medad foram tomados e profetizavam, isto é, transmitiam comunicações de Espíritos. O fato foi denunciado a Josué, e este pediu a Moisés que proibisse as comunicações. A resposta de Moisés foi esta: “Que zelos são esses, que mostras por mim? Quem dera que todo o povo profetizasse, e que o Senhor lhe desse o seu espírito?” Comentário do professor Camargo: “médium de extraordinárias faculdades, Moisés sabia que Eldad e Medad não eram mercenários nem mistificadores, não procuravam comunicar-se com o mundo invisível, mas eram procurados pelos espíritos.”      
O Padre François Brune escreveu o best seller  “Os Mortos nos Falam”, um livro sobre transcomunicação instrumental; 
O Papa João Paulo II, diante de mais de 20.000 pessoas presentes na Basílica de São Pedro, em 2 de Novembro de 1983, disse:
“O diálogo com os mortos não deve ser interrompido, pois, na realidade, a vida não está limitada pelos horizontes do mundo.”
                Agora, poucas pessoas se lembram, mas essa declaração foi amplamente publicada nos jornais Italianos da época.
O Padre Gino Concetti, comentarista do L’Osservatore Romano, o diário oficial do Vaticano, e um dos seus teólogos mais competentes, disse, em entrevista para o programa fantástico, à repórter da rede globo Ilze Scamparini:
“O Espiritismo existe. Há sinais na Bíblia, na Sagrada Escritura, no Antigo Testamento. Mas, não é do modo fácil como as pessoas acreditam. Nós não podemos chamar o Espírito de Michelangelo ou de Raphael. Mas como existem provas nas Sagradas Escrituras, não se pode negar que existe essa possibilidade de comunicação.”
Em entrevista publicada no Jornal Ansa, da Itália, em Novembro de 1996, disse:
“Segundo o catecismo moderno, Deus permite aos nossos caros defuntos, que vivem na dimensão ultraterrestre, enviar mensagens para nos guiar em certos momentos de nossa vida. Após as novas descobertas no domínio da psicologia sobre o paranormal a Igreja decidiu não mais proibir as experiências do diálogo com os trespassados, na condição de que elas sejam levadas com uma finalidade séria, religiosa, científica.” (Ver o texto Igreja Católica Reconhece Comunicação com os Espíritos, neste blog.)
Vejamos o que o ex-seminarista, estudioso do hebraico e das religiões, principalmente do Judaísmo, Severino Celestino da Silva, diz em sua obra “Analisando as Traduções Bíblicas”, logo na Introdução:
“A Bíblia é o livro mais lido no ocidente e um dos mais aceitos do mundo. Nós acreditamos, plenamente, nas verdades existentes em suas páginas, mas, não nas alterações que nela fizeram os homens. Muita coisa foi perdida em sua tradução e, por essa razão, precisa ser melhor analisada.
Sabemos que possui um conteúdo moral e sobretudo ecumênico, uma vez que aí não é citada nenhuma religião. Na primeira Aliança (Velho Testamento), predomina o monoteísmo, condução do povo para um único Deus. Nos Evangelhos (Segunda Aliança), encontramos Jesus ensinando os mais lógicos princípios de moral e espiritualismo sem, no entanto, evidenciar qualquer religião, a não ser afirmando que não viera destruir a lei nem os Profetas, representação do judaísmo, que era a sua religião.
Durante muito tempo, nós temos convivido com as informações dos textos bíblicos que nos são trazidas por tradutores ocidentais e sobretudo por tradutores não espíritas. O resultado é que ficamos à mercê dos que nos transmitem conceitos, dentro de suas interpretações pessoais. Temos ainda o desprazer de conviver com as informações tendenciosas que cada um coloca em suas traduções bíblicas, fazendo uma exegese puramente pessoal e informando, categoricamente, que a Bíblia condena o Espiritismo.
A Bíblia passou por muitas fases até chegar ao seu estágio atual. Desde a sua língua original até chegar ao Ocidente, passou do hebraico para o grego na famosa tradução dos Setenta (LXX – Septuaginta), daí para o Latim com a Vulgata de São Jerônimo, depois para os diversos idiomas ocidentais e, finalmente, para o português até as nossas mãos.
O interessante, nisso tudo, é que são encontradas muitas diferenças de tradução entre elas. E por quê? O texto que as originou não foi o mesmo? Por que falta unanimidade em suas traduções?
E a única resposta encontrada é esta: a questão pessoal que cada corrente religiosa coloca em sua tradução.
Sempre nos surpreendemos ao ouvir pessoas afirmarem que a Bíblia condena o espiritismo. E gostaríamos de questionar com a seguinte pergunta: qual a Bíblia que condena o Espiritismo?
Não é difícil concluir que houve uma desnaturação dos conceitos mais evidentes da Bíblia, adulterando-se a sua verdadeira essência.
Na verdade, a Bíblia, em sua língua original, não condena o Espiritismo, pois este nem existia na época em que os profetas receberam os seus livros sagrados.
Os textos hebraicos do Tanách, os textos gregos da Septuaginta (LXX – Bíblia em grego) e os textos da Vulgata (Bíblia em latim) também não trazem condenação ao Espiritismo, o que é lógico, visto que o Espiritismo não existia no período em que estas traduções foram realizadas.
E de onde vêm, então, a condenação ao Espiritismo e a mediunidade citada em versículos dessas Bíblias?
Fica fácil deduzir quem foram os responsáveis por estas introduções tendenciosas nos textos sagrados.
Na questão 1009 do Livro dos Espíritos, Platão faz referência á necessidade de que se faça uma consulta aos textos sagrados em suas fontes originais, mostrando que os Gregos, os Latinos e os Modernos não deram a mesma significação aos textos originais hebraicos, em específico com relação às penas eternas.
O rabino Moshe Grylak afirma, em sua obra “Reflexões da Torá”, que não é possível, para nenhum de nós, avaliar os eventos bíblicos, pois a distância física e de tempo impede uma avaliação objetiva e abrangente.
Como pode alguém julgar com tanta veemência textos do passado, adaptando-os às realidades do presente, bem como às suas crenças e convicções pessoais?
Os textos das sagradas escrituras, em sua língua original, o hebraico, não possuem, em nenhuma de suas páginas, condenação à Doutrina Espírita ou a qualquer outro princípio religioso. Todos sabem disto, inclusive seus tradutores. As citações que usam com referência à Doutrina Espírita são de livre responsabilidade deles.
A Bíblia de Jerusalém, Edições Paulinas, por exemplo, considerada a melhor edição da Sagrada Escritura, em português, traz, em sua apresentação, a informação de que sua tradução foi realizada por uma equipe de exegetas católicos e protestantes. No entanto, aparece, em suas páginas, a condenação á interrogação de Espíritos. Isto em um texto que não possui a palavra espírito no original (veja Dt. 18, 11). Por que será que estes tradutores procederam assim?
Diante do que encontramos nos textos traduzidos, podemos concluir que, se eles conhecem os textos, não conhecem o Espiritismo e ainda possuem tendência contra a Doutrina Espírita, o que é lamentável, pois sabemos que o próprio Cristo perdoou as “prostitutas” e os “Zaqueus” da vida.
No entanto, podemos observar ao longo da história que nossos irmãos tradutores ainda não aprenderam a respeitar aqueles que fazem parte de outro credo religioso, ainda que seja este, um credo Cristão.
Os homens criaram, através dos tempos, conceitos e adaptações dos textos bíblicos às suas conveniências pessoais. E o resultado é que, ainda hoje, são encontradas, no ocidente, muita discrepância, discordância e derivações da Bíblia. Começa pela diferença entre a Bíblia católica com 73 livros e a Protestante com 66, quando a Bíblia hebraica tem apenas 39 livros.
Além disso, temos ainda as seguintes Bíblias conhecidas em nossa língua: A Bíblia Sagrada, traduzida em português por João Ferreira de Almeida (Sociedade Bíblica do Brasil) que é a mais aceita pelos protestantes, a Bíblia de estudo Pentecostal, (Assembléia de Deus, baseada também na tradução de João Ferreira de Almeida), a Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas (Testemunhas de Jeová), a Bíblia de Jerusalém (traduzida por exegetas Católicos e Protestantes), a Bíblia Tradução Ecumênica (traduzida por estudiosos de diversas confissões cristãs e do Judaísmo). Cada uma delas diz ser a mais correta e a mais digna de fé de ofício.”
Em sua obra, Severino Celestino segue nos informando sobre a história das traduções da Bíblia e analisando, baseado em seu amplo conhecimento do hebraico, várias passagens da mesma, principalmente aquelas que, normalmente, são utilizadas para atacar o Espiritismo. Demonstra-nos que ela está repleta de fenômenos mediúnicos, seja no Velho, seja no Novo Testamento. Obra de leitura obrigatória, tanto para espíritas quanto para não espíritas que se interessam pelo estudo da Bíblia em seu texto original.
Vejamos, por exemplo a análise que ele faz de certas traduções:
“Observe a ‘Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas’ dos nossos irmãos ‘Testemunhas de Jeová’ (Levítico  20,27): ‘E quanto ao homem ou à mulher em quem se mostre haver um espírito mediúnico ou um espírito de predição, sem falta devem ser mortos. Devem atirar neles pedras até morrerem. Seu próprio sangue está sobre eles’. (tradução incorreta).
A tradução da 35ª. Edição da Bíblia, realizada pelo centro Bíblico Católico, Editora Ave Maria, para esse versículo, é a seguinte: ‘Qualquer homem ou mulher que evocar os espíritos ou fizer adivinhações, será morto. Serão apedrejados, e levarão a sua culpa’.(tradução incorreta).
Observe que não existe harmonia nas traduções acima e nas por nós aqui apresentadas, além de uma tendência natural e proposital de condenação ao ‘Espiritismo e aos médiuns”, por parte dos seus tradutores, colocando palavras que, como já demonstramos, não existerm no texto original.
Agora confira a tradução correta do versículo:
‘E o homem ou mulher que for necromante ou adivinho será condenado à morte. Eles serão apedrejados. Seus sangues contra eles'.
E acompanhe a análise do Deuteronômio 18, o mais citado dos textos contra o Espiritismo.
“[...] Comecemos pelas recomendações de Moisés no Versículo 9 do deuteronômio 18. ’Quando entrares ou chegares na terra que Iahvéh teu Deus te dá, não aprendas a fazer as abominações daquelas nações’.
Aqui começam as recomendações. A quem são dirigidas estas recomendações?
Aos espíritas?
Claro que não!
‘Quando entrares na terra que Iahvéh te deu’
Quando quem entrar?
Certamente Moisés se refere aos ‘Benei Israel’, filhos de Israel, ou povo de Israel. E a que terra prometida por Deus se refere Moisés?
Sabemos que o autor sagrado se refere à terra de Canaã ou terra prometida.
Ora, se estas recomendações foram dirigidas aos filhos de Israel ou Hebreus, nós, espíritas, 4.000 anos depois, não temos a menor responsabilidade sobre esse fato, pois por acaso, recebemos de Moisés a incumbência de ir para a terra prometida?
Parece-nos que os desejosos de atacar, a todo custo, o seu ‘PRÓXIMO’ só porque possui outra filosofia religiosa, ficam tão presos às questões críticas e pessoais, que não percebem a verdadeira época e origem dos textos sagrados e a quem eles foram dirigidos.”
  Em sua obra, já citada, Severino Celestino analisa um caso de divergência nas traduções de Salmo 19:8 em várias Bíblias:
   "Observemos as traduções existentes em algumas Bíblias estudadas: 
 "A lei do senhor é perfeita, e refrigera a alma". João Ferreira de Almeida - Bíblia protestante da Sociedade Bíblica do Brasil.
  "A lei do senhor é perfeita, reconforta a Alma". Bíblia católica -Editora Ave Maria.
  "A lei de Iahvéh é perfeita, faz a vida voltar". Bíblia de Jerusalém, Edições Paulinas.
 "A lei do Senhor é perfeita, ela dá a vida". A Bíblia Tradução Ecumênica. Edições Loyola, 1994.
 "A lei de Iahvéh é perfeita, faz a vida voltar; o testemunho de Iahvéh é firme, torna o sábio simples". Tradução da Bíblia de Jerusalém, Edições Paulinas, São Paulo 1985."
 "[...] Por que tantas divergências de significado para uma única frase? Qual é o real significado desta frase? E o que leva os tradutores a se perderem tanto?
  Como explicar esta falta de unanimidade de entendimento ou, ainda, por que esta tendência de ocultar ou mudar o sentido original do texto? Especificamente, neste caso, onde o significado literal da frase é "retorno do espírito".
  No entanto, a tradução literal correta desta frase é a seguinte:
  "Os ensinamentos de Iahvéh são perfeitos, fazem o espírito voltar ou fazem com que o espírito volte".
 Seguindo o sentido literal da frase, perguntamos ao leitor: Como é que o espírito volta? "Volta do espírito", "retorno ou regresso do espírito". Isto, como sabemos, só pode ocorrer por meio da reencarnação. 
 Estudos históricos evidenciam que o Velho Testamento, incluindo-se, evidentemente, os cinco livros de Moisés (o Pentateuco), foram escritos vários séculos após a morte do mesmo, tendo passado, durante este tempo, de geração em geração por tradição oral. Evidentemente que, neste período, muita coisa deve ter sido distorcida, pois é fato conhecido que “quem conta um conto aumenta um ponto”. Apenas após o exílio na Babilônia é que Esdras reuniu e compilou os livros orais (guardados na memória) e proclamou-os como a Lei do Judaísmo, ditada por Deus.
Onde estão os originais do novo testamento, que foi escrito nos séculos I e II? Existem apenas alguns fragmentos do evangelho de João, datado do ano 125, e outro, mais completo, do ano 200. O que temos são cópias das cópias das cópias, e em grego antigo, que não é a língua original dos apóstolos, supostos escritores. O número delas, atualmente, chega a mais de cinco mil. Além disso, as cópias existentes são bastante contraditórias entre si, com claros sinais de adulteração pelos copistas (monges e escribas, que executavam este trabalho manualmente), seja acidental ou intencionalmente, para favorecer a interpretação desta ou daquela corrente ideológica, uma vez que é sabido que, no início, existiram vários cristianismos. Como exemplos de correntes cristãs primitivas, temos os ebionitas, os marcionitas, os gnósticos, os cátaros, os borgomitas e aqueles que podemos chamar de ortodoxos, dos quais originou-se a atual igreja Católica (Ver o texto Quem é Jesus?, neste blog).
Conforme nos diz J.Herculano Pires, em seu excelente livro “Visão Espírita da Biblia”:
“O estudos bíblicos se processam no mundo em duas direções diversas: há o estudo normativo dos institutos religiosos, ligados às várias igrejas, que seguem as regras de hermenêutica e a orientação de pesquisas destas igrejas; e há o estudo livre dos institutos universitários independentes, que seguem os princípios da pesquisa científica e da interpretação histórica. O espiritismo não se prende a nenhum dos dois sistemas, pois sua posição é intermediária. Reconhecendo o conteúdo espiritual da Bíblia, o Espiritismo a estuda à luz dos seus princípios, em harmonia com os métodos da antropologia cultural e dos estudos históricos.”
“[...] A origem mediúnica das religiões é hoje uma tese provada pelas pesquisas antropológicas e etnológicas. Só os materialistas a rejeitam.”
“[...] A origem da Bíblia é um capítulo natural desse processo geral que originou as religiões.” (Ver o texto O que são médiuns? – Parte 2, neste blog)
“[...] mas não pense o leitor que são os espíritas que afirmam a origem mediúnica da Bíblia. Quem afirmou foi o apóstolo Paulo, quando declarou peremptoriamente: ‘Vós recebestes a lei por ministérios de anjos’, isto em Atos, 7:53, explicando ainda em Hebreus 2:2: ’Porque a lei foi anunciada pelos anjos’, e confirmando na mesma epístola, 1:14: ’Espíritos são administradores, enviados para exercer o ministério’. Antes, em Hebreus, 1:7, Paulo, depois de advertir que deus havia falado de muitas maneiras aos profetas, acrescenta: ‘Sobre os anjos, diz: o que faz os seus anjos espíritos e os seus ministros chamas de fogo.’
Está claro que os anjos são espíritos, reveladores das leis de Deus aos homens, como diz o Espiritismo. Paulo vai mais longe, afirmando em Atos 7:30-31, que Deus falou a Moisés através de um anjo na sarça ardente. Veja-se o que ficou dito acima: os anjos são espíritos, ministros de Deus, que o faz chama do fogo, nas aparições mediúnicas.”
“[...] O ministério dos anjos, esse ministério divino, a que o apóstolo Paulo se referiu tantas vezes, é exercitado através da mediunidade (Ver o texto O Que são Médiuns?, neste blog). A própria Biblia nos relata uma infinidade de comunicações mediúnicas. Veja-se, por exemplo, as palavras do rei Samuel, em provérbios, 31:1-9, que, segundo o texto bíblico, são ‘a profecia com que lhe ensinou sua mãe’. Temos ali uma comunicação espírita integralmente reproduzidas na Bíblia. A mãe do rei Samuel (não em forma de anjo, mas na sua própria forma humana) aparece ao Rei e lhe dita a mensagem.
A Bíblia condenou essa comunicação? Não. Pelo contrário, aprovou-a e transcreveu-a. em Números 11:23-25, temos a descrição de dois fatos mediúnicos valiosos. Primeiro, o Senhor fala a Moisés. Depois, Moisés reúne os setenta anciãos, formando uma roda, e o Senhor se manifesta materialmente, descendo numa nuvem. Temos a comunicação pessoal de Jeová a Moisés, e a seguir o fenômeno evidente de materialização de Jeová, através da mediunidade dos anciãos, reunidos para isso na tenda. A nuvem é a formação de ectoplasma na qual o Espírito se corporifica.
Só os que não conhecem os fenômenos espíritas podem aceitar que ali se deu um milagre, um fato sobrenatural." (Ver o texto O Que são Médiuns?, neste blog)
Conforme demonstramos amplamente neste texto, a Bíblia não condena o Espiritismo. Aliás, só com a chave que o Espiritismo fornece, como vimos acima, é que podemos compreender muitas passagens da Bíblia.
          Este texto continua em "A Bíblia Condena o Espiritismo? Parte 2 - A Bíblia Sob a Ótica Espírita", neste blog.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

1 KARDEC, ALLAN. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro : Editora FEB,1995.;

2_____________ . O Evangelho segundo o Espiritismo. São Paulo : Editora Petit, 1997.;

3______________.A Gênese: Os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: Editora FEB, 1988;

4 SILVA, Severino Celestino da. Analisando as traduções bíblicas:refletindo a essência da mensagem bíblica. João Pessoa: Editora Núcleo Espírita Bom Samaritano, 2000.

5 PIRES, José Herculano. Visão espírita da Biblia. São Paulo: 6 ed.Correio Fraterno [2009];

6 EHRMAN, Bart D.O Problema Com Deus: as respostas que a Bíblia não dá ao sofrimento. Rio de Janeiro, Editora Agir, 2008;

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terça-feira, 19 de junho de 2012

O QUE SÃO MÉDIUNS? - PARTE 2


Joana D'Arc, grande médium da idade média, condenada à fogueira como bruxa 
Fonte da imagem:   http://monsenhorhorta.blogspot.com.br/2010_06_01_archive.html

Fábio José Lourenço Bezerra

No texto anterior, de título O Que São Médiuns?”, neste blog, abordamos o conceito e os tipos de médiuns.
Vamos tratar agora a respeito da mediunidade através dos tempos, o que demonstra, claramente, sua universalidade. Conforme o Espírito Emmanuel, pela psicografia do médium Francisco Cândido Xavier, a mediunidade natural praticada sem a orientação que o Espiritismo faculta, deve ser chamada de mediunismo.
Um dos grandes cientistas do século XIX, tendo sido professor de Psiquiatria da Universidade de Turim e pesquisador dos fenômenos espíritas, Cesare Lombroso, em sua obra “Hipnotismo e Mediunidade”, no Capítulo XIII, nos diz:
“O fato de que em todos os tempos e em todos os povos esteve viva a crença em algo invisível, que sobrevive à morte do corpo, e que, sob o influxo de condições especiais, pode manifestar-se aos nossos sentidos, torna-nos propensos a aceitar a hipótese espiritista.
Que nossos mais antigos progenitores acreditavam, se não na imortalidade da alma, ao menos em sua existência temporária depois da morte, - é opinião comum dos antropólogos, os quais observam, com Figuier (na obra “L’Homme primitiff”), que os víveres, as lâmpadas, as armas, as moedas, os objetos de ornamento depositados, até nas épocas pré-históricas, nas tumbas, ao lado de cadáveres, mostram claramente a crença em uma vida futura.
E essa mesma crença nós a encontramos ainda junto de todos os povos selvagens, mesmo entre aqueles que têm de Deus uma idéia extremamente vaga, ou não na têm de maneira alguma”
E, na mesma obra e capítulo, o autor segue dando exemplos em vários povos selvagens. Abaixo transcrevemos alguns:
“ Os Awemba do centro da África creem que os Espíritos dos mortos (Mipashi) vagam nos bosques onde foram inumados; algumas vezes, encarnam no corpo de uma serpente, ou aparecem aos crentes, no sono, porém mais frequentemente estão em relações com os vivos por meio de mulheres magas; estas tomam o nome e imitam os gestos do morto, entregam-se á dança sagrada, caem em êxtase, proferindo palavras que só o mago-médico interpreta, e dão indicações úteis aos guerreiros e aos caçadores.
Os indígenas da Oceania, embora disseminados em tantas ilhas separadas por vastos mares, têm crenças quase que uniformes a respeito da existência de uma vida futura. Segundo eles, o Espírito humano permanece por certo tempo, cerca de três dias, em torno do cadáver, e percebe perfeitamente quanto se diz.” “[...] Segundo Perron d’Arc ( na obra “Aventures em Australie”, pág 163), eles vão, à noite, nos cemitérios para comunicar com os seus mortos e alcançar seus conselhos.
No Taiti e nas ilhas Marianas, os nativos acreditam que os Espíritos antigos velam sobre eles continuamente.”
“[...] Os habitantes da Nova Zelândia crêem na existência de uma parte inteligente e imaterial do homem, e, se matam um inimigo em peleja, praticam certos ritos com a finalidade de evitarem a vingança de sua sombra.”
“[...] Segundo Shoolcraft, os Sioux (índios da América do Norte) temem tanto a vingança dos Espíritos, que o homicídio lhes é desconhecido, tal a certeza da vingança dos assassinados”
“[...] Os esquimós crêem nos Espíritos, o mais poderoso é Torgarsuk, que tem sob sua autoridade um exército de gênios inferiores, muitos deles a serviço dos magos.”
Tribos indígenas brasileiras atribuem o seu conhecimento de ervas medicinais à comunicação com os Espíritos dos seus ancestrais (atualmente, muitas delas foram estudadas pela ciência e comprovada a sua eficácia, sendo amplamente receitadas por  nossos médicos).

Ainda no mesmo Capítulo, Lombroso fala a respeito dos povos bárbaros:

Escandinavos, Germanos e Celtas – Se agora dos selvagens passamos para os bárbaros de todas as idades, vemos, com pequena diferença, repetirem-se as mesmas coisas.
Sabemos de quantos diversos Gênios, Gnomos, silfos, Sílfides, Normas, Valquírias, Alfes, etc. está povoada a Mitologia germânica e escandinava. Mas, onde maiormente se acentuou a crença no mundo invisível foi na raça céltica. Para os gauleses, os Espíritos eram a Alma dos mortos, e com esses se mantinham em relação, por intermédio de seus sacerdotes, os druidas, e de seus videntes, que caíam em êxtase, profetizavam e evocavam os mortos nos recintos sepulcrais de pedra, chamados dólmen ou cromlech.”

Extraímos, de excelente apostila do  Instituto de Difusão Espírita de Juiz de Fora-MG, o Capítulo intitulado A MEDIUNIDADE ATRAVÉS DOS TEMPOS, abaixo:


“Introdução

           Estudando as civilizações da Terra, vamos observar que a mediu­nidade tem-se manifestado, em todos os tempos e em todos os lugares, desde as mais remotas épocas. A crença na imortalidade da alma e a possibilidade da comunicação entre os "vivos" e os "mortos" sempre existiu.
         Ao observarmos o passado, evocando a lembrança das religiões desaparecidas, das crenças mortas, veremos que todas elas tinham um ensinamento dúplice: um exterior ou público, com suas cerimônias bi­zarras, rituais e mitos, e outro interior ou secreto revestido de um caráter profundo e elevado. Os aspectos exteriores eram levados ao povo de um modo geral, enquanto que o aspecto interior era revelado apenas a indivíduos especiais. Chamados "iniciados" por algumas reli­giões, estes eram preparados desde a infância, às vezes por 20 a 30 anos.
        Julgar uma religião, apenas levando em consideração o seu as­pecto exterior, será o mesmo que apreciar o valor moral de uma pessoa por suas vestes. Analisando o aspecto interior destas religiões, ob­servaremos que todos os ensinamentos estão ligados entre si como uma única doutrina básica, que os homens trazem intuitivamente, desde um passado longínquo. Vamos observar alguns aspectos interessantes das religiões do passado.


Índia

      Na Índia, berço de todas as religiões da Humanidade, temos o Livro dos Vedas, datado de aproximadamente 1.500 a.C., que tem sido re­conhecido como o mais antigo código religioso da Humanidade; são qua­tro livros cujo conteúdo principal são cânticos de louvor. Os Brâmanes, seguidores dos Vedas, acreditam que este código religioso foi ditado por BRAHMA. Nos Vedas encontramos afirmati­vas claras sobre imortalidade da alma e a recriação:
"Há uma parte imortal no Homem, o AGNI, ela é que é preciso rescal­dar com teus raios, inflamar com os teus fogos(...).
(...)Assim como se deixam as vestes gastas, para usar novas vestes, também a alma deixa o corpo usado para recobrir novos corpos."
Ainda na Índia, encontramos KRISHNA, educado por ascetas nas florestas do cume do Himalaia, inspirador de uma doutrina religiosa, na verdade um reformulador da Doutrina Védica. Deixa claro a idéia da imortalidade da alma, as reencarnações sucessivas, e a possibilidade de comunicação entre vivos e mortos:
"O corpo envoltório da alma, que nele faz sua morada, é uma coisa finita, porém a alma que o habita é invisível, imponderável e eterna."
"Todo renascimento feliz ou infeliz é conseqüência das obras prati­cadas em vidas anteriores."
        Estes são alguns aspectos dos ensinamentos de KRISHNA, que po­dem ser encontrados nos livros sagrados, conservados nos santuários ao sul do Industão.
Também na Índia, 600 a.C., vamos encontrar Sidartha Gautama, o Buda, filho de um rei da Índia, que certo dia saindo do castelo, onde até então vivera, tem contato com o sofrimento humano e, sendo tomado de grande tristeza, refugia-se nas florestas frias do Himalaia e, de­pois de aproximadamente 15 anos de meditação, retorna trazendo para a Humanidade uma nova crença, toda baseada na caridade e no amor:
"Enquanto não conquistar o progresso (Nirvana) o ser está condenado a cadeia das existências terrestres."
"Todos os Homens são destinados ao Nirvana."
         Buda e seus discípulos praticavam o Dhyana, ou seja, a contem­plação aos mortos:
"Durante este estado, o Espírito entra em comunicação com as almas que já deixaram a Terra."


Egito

       No Egito, o culto aos mortos foi muito praticado. As Ciências psíquicas atuais eram familiares aos sacerdotes da época; o conheci­mento das formas fluídicas e do magnetismo eram comuns. O destino da alma, a comunicação com os mortos, a pluralidade das existências da alma e dos mundos habitados eram, para eles, problemas solucionados e conhecidos. Egiptólogos modernos, estudando as pirâmides, os túmulos dos faraós, os papiros, deixam claro todos estes aspectos reconhecendo a grande sabedoria deste povo. Como em outras religiões, apenas os iniciados conheciam as grandes verdades, o povo, por interesse de po­der dos soberanos, praticamente mantinha-se ignorante a este respeito.


China

       Na China, vamos encontrar Lao-Tsé e Confúcio, 600 a 400 a.C., que com os seus discípulos (iniciados), mantinham no culto dos ante­passados a base de sua fé. Neste culto, a idéia da imortalidade e a possibilidade da evocação dos mortos era clara.


Israel

          Cerca de 15 séculos antes de Cristo, Moisés, o grande legisla­dor hebreu, observando a ignorância e o despreparo de sue povo, pro­cura através de uma lei disciplinar, educar os hebreus com relação a evocação dos mortos. Se houve esta proibição, é claro que a evocação dos mortos era comum entre este povo da Antiguidade. Moisés assim se referiu:
"Que ninguém use de sortilégio e de encantamentos, nem interrogue os mortos para saber a verdade."
Não havia chegado o momento para tais revelações.
Estudando a vida de Moisés, vemos que ele era possuidor de uma mediunidade fabulosa que possibilitou o recebimento dos "Dez Mandamen­tos", no Sinai, que até hoje representa a base dos códigos de moral e ética no mundo.


Grécia

         Na Grécia, a crença nas evocações era geral. Vários filósofos, desta progressista civilização, se referem a estes fatos: Pitágoras (600 a.C.) Astófanes, Sófocles (400 a.C.) e a maravilhosa figura de Sócrates (400 a.C.). A idéia da unicidade de Deus, da pluralidade dos mundos habitados e da multiplicidade das existências era por eles transmitidas a todos os seus iniciados. Sócrates, o grande filósofo, aureolado por divinas claridades espirituais, tem uma existência que em algumas circunstâncias, aproxima-se da exemplificação do próprio Cristo:
"A alma quando despida do corpo, conserva evidentes, os traços de seu caráter, de suas afeições e as marcas que lhe deixaram todos os atos de sua vida."


Jesus

         Jesus, o Médium de Deus, teve sua existência assinalada por fenômenos mediúnicos diversos. O Novo Testamento traz citações claras e belas de mediunidade em suas mais diferentes modalidades.


Idade Média

         A Idade Média foi uma época em que o estudo mais profundo da religião era praticado apenas por sociedades ultra-secretas. Milhares de vidas foram sacrificadas sob a acusação de feitiçaria, por evocarem os mortos.
Nesta época, tão triste para a Humanidade, em vários aspectos, podemos citar como uma grande figura, Joana D'arc, que guiando o povo francês, sob orientação de "suas vozes", deixou claro a possibilidade da comunicação entre os vivos e os mortos.”

O Espiritismo

         Foi no século XIX (1848), na pacata cidade de Hydesville, no estado de New York (EUA), na casa da família Fox, que o fenômeno mediúnico começaria a ser conhecido em todo o mundo.
Chegara o momento em que todos as coisas deveriam ser reestabele­cidas. Foi quando surgiu no cenário terrestre, aquele que deu corpo à Doutrina dos Espíritos: Hippolyte Léon Denizar Rivail, ou ALLAN KARDEC, como ficou conhecido.
         Em 1855, com a idade de 51 anos, Kardec iniciou um tra­balho criterioso e científico sobre o fenômeno mediúnico e após alguns anos de estudos sistematizados lançou, em 18 de abril de 1857, O Livro dos Espíritos; em 1859 - O Que é o Espiritismo; em 1861 - O Livro dos Médiuns; em 1864 - O Evangelho Segundo o Espiritismo; em 1865 - O Céu e Inferno e em 1868 - A Gênese.
Graças ao sábio lionês tivemos a Codificação da Doutrina Espí­rita reconhecida como a Terceira Revelação, o Consolador Prometido por Jesus.

Bibliografia

Depois da Morte - Léon Denis
História do Espiritismo - Arthur Conan Doyle
Allan Kardec - Zeus Wantuil e Francisco Thiesen”


Para maiores detalhes acerca do assunto tratado acima, na parte intitulada Espiritismo, ver os textos O Início do Espiritismo Parte 1 – Hydesville e O Início do Espiritismo Parte 2 – A Codificação, neste blog.
           
            A mediunidade existe para dar conhecimento ao homem da imortalidade da alma e também como meio de reparação de malefícios cometidos em existências anteriores, através da caridade, pelo Espírito que reencarnará como médium, conforme nos conta os Espírito André Luiz, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier. Ele menciona as lições que recebeu a este respeito, no Mundo Espiritual, na obra “Os Mensageiros”.
Como médium, o Espírito reencarna para trazer consolo, através de mensagens dos desencarnados a seus familiares, para auxiliar na evolução dos encarnados através de comunicações que recebem dos desencarnados, que contam suas experiências no Mundo Espiritual e trazem mensagens instrutivas de uma forma geral. Também auxiliam no tratamento espiritual, ao receber instruções dos mentores espirituais e possibilitam que um doutrinador encarnado entre em contato com Espíritos desequilibrados que obsediam, muitas vezes por vingança, os encarnados. Visando esclarecê-los, aconselhando-os a seguir o melhor caminho, o do perdão, fazem com que eles desistam da ação obsessiva. Trazem, assim, grande alívio às suas vítimas.
Contudo, conforme a obra supracitada, raros são os médiuns que cumprem a contento a missão sagrada que lhes foi confiada, não exercendo a disciplina e a seriedade que o trabalho exige, ou sequer iniciando este trabalho.


BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

1 KARDEC, Allan. O livro dos médiuns: ou guia dos médiuns e evocadores: espiritismo experimental. Rio de Janeiro: FEB, [1997].


2 ______________O livro dos espíritos: princípios da doutrina espírita. 76. ed. Rio de Janeiro: FEB, [1995].


3 LOMBROSO, Césare. Hipnotismo e mediunidade. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, [1990].

4 DOYLE, Arthur Conan (Sir). História do espiritismo. São Paulo: Pensamento, [1999].


5 XAVIER, Francisco Cândido; LUIZ, André (Espírito). Os Mensageiros. 19 ed. Rio de Janeiro: FEB, [1985].


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