terça-feira, 19 de junho de 2012

O QUE SÃO MÉDIUNS? - PARTE 2


Joana D'Arc, grande médium da idade média, condenada à fogueira como bruxa 
Fonte da imagem:   http://monsenhorhorta.blogspot.com.br/2010_06_01_archive.html

Fábio José Lourenço Bezerra

No texto anterior, de título O Que São Médiuns?”, neste blog, abordamos o conceito e os tipos de médiuns.
Vamos tratar agora a respeito da mediunidade através dos tempos, o que demonstra, claramente, sua universalidade. Conforme o Espírito Emmanuel, pela psicografia do médium Francisco Cândido Xavier, a mediunidade natural praticada sem a orientação que o Espiritismo faculta, deve ser chamada de mediunismo.
Um dos grandes cientistas do século XIX, tendo sido professor de Psiquiatria da Universidade de Turim e pesquisador dos fenômenos espíritas, Cesare Lombroso, em sua obra “Hipnotismo e Mediunidade”, no Capítulo XIII, nos diz:
“O fato de que em todos os tempos e em todos os povos esteve viva a crença em algo invisível, que sobrevive à morte do corpo, e que, sob o influxo de condições especiais, pode manifestar-se aos nossos sentidos, torna-nos propensos a aceitar a hipótese espiritista.
Que nossos mais antigos progenitores acreditavam, se não na imortalidade da alma, ao menos em sua existência temporária depois da morte, - é opinião comum dos antropólogos, os quais observam, com Figuier (na obra “L’Homme primitiff”), que os víveres, as lâmpadas, as armas, as moedas, os objetos de ornamento depositados, até nas épocas pré-históricas, nas tumbas, ao lado de cadáveres, mostram claramente a crença em uma vida futura.
E essa mesma crença nós a encontramos ainda junto de todos os povos selvagens, mesmo entre aqueles que têm de Deus uma idéia extremamente vaga, ou não na têm de maneira alguma”
E, na mesma obra e capítulo, o autor segue dando exemplos em vários povos selvagens. Abaixo transcrevemos alguns:
“ Os Awemba do centro da África creem que os Espíritos dos mortos (Mipashi) vagam nos bosques onde foram inumados; algumas vezes, encarnam no corpo de uma serpente, ou aparecem aos crentes, no sono, porém mais frequentemente estão em relações com os vivos por meio de mulheres magas; estas tomam o nome e imitam os gestos do morto, entregam-se á dança sagrada, caem em êxtase, proferindo palavras que só o mago-médico interpreta, e dão indicações úteis aos guerreiros e aos caçadores.
Os indígenas da Oceania, embora disseminados em tantas ilhas separadas por vastos mares, têm crenças quase que uniformes a respeito da existência de uma vida futura. Segundo eles, o Espírito humano permanece por certo tempo, cerca de três dias, em torno do cadáver, e percebe perfeitamente quanto se diz.” “[...] Segundo Perron d’Arc ( na obra “Aventures em Australie”, pág 163), eles vão, à noite, nos cemitérios para comunicar com os seus mortos e alcançar seus conselhos.
No Taiti e nas ilhas Marianas, os nativos acreditam que os Espíritos antigos velam sobre eles continuamente.”
“[...] Os habitantes da Nova Zelândia crêem na existência de uma parte inteligente e imaterial do homem, e, se matam um inimigo em peleja, praticam certos ritos com a finalidade de evitarem a vingança de sua sombra.”
“[...] Segundo Shoolcraft, os Sioux (índios da América do Norte) temem tanto a vingança dos Espíritos, que o homicídio lhes é desconhecido, tal a certeza da vingança dos assassinados”
“[...] Os esquimós crêem nos Espíritos, o mais poderoso é Torgarsuk, que tem sob sua autoridade um exército de gênios inferiores, muitos deles a serviço dos magos.”
Tribos indígenas brasileiras atribuem o seu conhecimento de ervas medicinais à comunicação com os Espíritos dos seus ancestrais (atualmente, muitas delas foram estudadas pela ciência e comprovada a sua eficácia, sendo amplamente receitadas por  nossos médicos).

Ainda no mesmo Capítulo, Lombroso fala a respeito dos povos bárbaros:

Escandinavos, Germanos e Celtas – Se agora dos selvagens passamos para os bárbaros de todas as idades, vemos, com pequena diferença, repetirem-se as mesmas coisas.
Sabemos de quantos diversos Gênios, Gnomos, silfos, Sílfides, Normas, Valquírias, Alfes, etc. está povoada a Mitologia germânica e escandinava. Mas, onde maiormente se acentuou a crença no mundo invisível foi na raça céltica. Para os gauleses, os Espíritos eram a Alma dos mortos, e com esses se mantinham em relação, por intermédio de seus sacerdotes, os druidas, e de seus videntes, que caíam em êxtase, profetizavam e evocavam os mortos nos recintos sepulcrais de pedra, chamados dólmen ou cromlech.”

Extraímos, de excelente apostila do  Instituto de Difusão Espírita de Juiz de Fora-MG, o Capítulo intitulado A MEDIUNIDADE ATRAVÉS DOS TEMPOS, abaixo:


“Introdução

           Estudando as civilizações da Terra, vamos observar que a mediu­nidade tem-se manifestado, em todos os tempos e em todos os lugares, desde as mais remotas épocas. A crença na imortalidade da alma e a possibilidade da comunicação entre os "vivos" e os "mortos" sempre existiu.
         Ao observarmos o passado, evocando a lembrança das religiões desaparecidas, das crenças mortas, veremos que todas elas tinham um ensinamento dúplice: um exterior ou público, com suas cerimônias bi­zarras, rituais e mitos, e outro interior ou secreto revestido de um caráter profundo e elevado. Os aspectos exteriores eram levados ao povo de um modo geral, enquanto que o aspecto interior era revelado apenas a indivíduos especiais. Chamados "iniciados" por algumas reli­giões, estes eram preparados desde a infância, às vezes por 20 a 30 anos.
        Julgar uma religião, apenas levando em consideração o seu as­pecto exterior, será o mesmo que apreciar o valor moral de uma pessoa por suas vestes. Analisando o aspecto interior destas religiões, ob­servaremos que todos os ensinamentos estão ligados entre si como uma única doutrina básica, que os homens trazem intuitivamente, desde um passado longínquo. Vamos observar alguns aspectos interessantes das religiões do passado.


Índia

      Na Índia, berço de todas as religiões da Humanidade, temos o Livro dos Vedas, datado de aproximadamente 1.500 a.C., que tem sido re­conhecido como o mais antigo código religioso da Humanidade; são qua­tro livros cujo conteúdo principal são cânticos de louvor. Os Brâmanes, seguidores dos Vedas, acreditam que este código religioso foi ditado por BRAHMA. Nos Vedas encontramos afirmati­vas claras sobre imortalidade da alma e a recriação:
"Há uma parte imortal no Homem, o AGNI, ela é que é preciso rescal­dar com teus raios, inflamar com os teus fogos(...).
(...)Assim como se deixam as vestes gastas, para usar novas vestes, também a alma deixa o corpo usado para recobrir novos corpos."
Ainda na Índia, encontramos KRISHNA, educado por ascetas nas florestas do cume do Himalaia, inspirador de uma doutrina religiosa, na verdade um reformulador da Doutrina Védica. Deixa claro a idéia da imortalidade da alma, as reencarnações sucessivas, e a possibilidade de comunicação entre vivos e mortos:
"O corpo envoltório da alma, que nele faz sua morada, é uma coisa finita, porém a alma que o habita é invisível, imponderável e eterna."
"Todo renascimento feliz ou infeliz é conseqüência das obras prati­cadas em vidas anteriores."
        Estes são alguns aspectos dos ensinamentos de KRISHNA, que po­dem ser encontrados nos livros sagrados, conservados nos santuários ao sul do Industão.
Também na Índia, 600 a.C., vamos encontrar Sidartha Gautama, o Buda, filho de um rei da Índia, que certo dia saindo do castelo, onde até então vivera, tem contato com o sofrimento humano e, sendo tomado de grande tristeza, refugia-se nas florestas frias do Himalaia e, de­pois de aproximadamente 15 anos de meditação, retorna trazendo para a Humanidade uma nova crença, toda baseada na caridade e no amor:
"Enquanto não conquistar o progresso (Nirvana) o ser está condenado a cadeia das existências terrestres."
"Todos os Homens são destinados ao Nirvana."
         Buda e seus discípulos praticavam o Dhyana, ou seja, a contem­plação aos mortos:
"Durante este estado, o Espírito entra em comunicação com as almas que já deixaram a Terra."


Egito

       No Egito, o culto aos mortos foi muito praticado. As Ciências psíquicas atuais eram familiares aos sacerdotes da época; o conheci­mento das formas fluídicas e do magnetismo eram comuns. O destino da alma, a comunicação com os mortos, a pluralidade das existências da alma e dos mundos habitados eram, para eles, problemas solucionados e conhecidos. Egiptólogos modernos, estudando as pirâmides, os túmulos dos faraós, os papiros, deixam claro todos estes aspectos reconhecendo a grande sabedoria deste povo. Como em outras religiões, apenas os iniciados conheciam as grandes verdades, o povo, por interesse de po­der dos soberanos, praticamente mantinha-se ignorante a este respeito.


China

       Na China, vamos encontrar Lao-Tsé e Confúcio, 600 a 400 a.C., que com os seus discípulos (iniciados), mantinham no culto dos ante­passados a base de sua fé. Neste culto, a idéia da imortalidade e a possibilidade da evocação dos mortos era clara.


Israel

          Cerca de 15 séculos antes de Cristo, Moisés, o grande legisla­dor hebreu, observando a ignorância e o despreparo de sue povo, pro­cura através de uma lei disciplinar, educar os hebreus com relação a evocação dos mortos. Se houve esta proibição, é claro que a evocação dos mortos era comum entre este povo da Antiguidade. Moisés assim se referiu:
"Que ninguém use de sortilégio e de encantamentos, nem interrogue os mortos para saber a verdade."
Não havia chegado o momento para tais revelações.
Estudando a vida de Moisés, vemos que ele era possuidor de uma mediunidade fabulosa que possibilitou o recebimento dos "Dez Mandamen­tos", no Sinai, que até hoje representa a base dos códigos de moral e ética no mundo.


Grécia

         Na Grécia, a crença nas evocações era geral. Vários filósofos, desta progressista civilização, se referem a estes fatos: Pitágoras (600 a.C.) Astófanes, Sófocles (400 a.C.) e a maravilhosa figura de Sócrates (400 a.C.). A idéia da unicidade de Deus, da pluralidade dos mundos habitados e da multiplicidade das existências era por eles transmitidas a todos os seus iniciados. Sócrates, o grande filósofo, aureolado por divinas claridades espirituais, tem uma existência que em algumas circunstâncias, aproxima-se da exemplificação do próprio Cristo:
"A alma quando despida do corpo, conserva evidentes, os traços de seu caráter, de suas afeições e as marcas que lhe deixaram todos os atos de sua vida."


Jesus

         Jesus, o Médium de Deus, teve sua existência assinalada por fenômenos mediúnicos diversos. O Novo Testamento traz citações claras e belas de mediunidade em suas mais diferentes modalidades.


Idade Média

         A Idade Média foi uma época em que o estudo mais profundo da religião era praticado apenas por sociedades ultra-secretas. Milhares de vidas foram sacrificadas sob a acusação de feitiçaria, por evocarem os mortos.
Nesta época, tão triste para a Humanidade, em vários aspectos, podemos citar como uma grande figura, Joana D'arc, que guiando o povo francês, sob orientação de "suas vozes", deixou claro a possibilidade da comunicação entre os vivos e os mortos.”

O Espiritismo

         Foi no século XIX (1848), na pacata cidade de Hydesville, no estado de New York (EUA), na casa da família Fox, que o fenômeno mediúnico começaria a ser conhecido em todo o mundo.
Chegara o momento em que todos as coisas deveriam ser reestabele­cidas. Foi quando surgiu no cenário terrestre, aquele que deu corpo à Doutrina dos Espíritos: Hippolyte Léon Denizar Rivail, ou ALLAN KARDEC, como ficou conhecido.
         Em 1855, com a idade de 51 anos, Kardec iniciou um tra­balho criterioso e científico sobre o fenômeno mediúnico e após alguns anos de estudos sistematizados lançou, em 18 de abril de 1857, O Livro dos Espíritos; em 1859 - O Que é o Espiritismo; em 1861 - O Livro dos Médiuns; em 1864 - O Evangelho Segundo o Espiritismo; em 1865 - O Céu e Inferno e em 1868 - A Gênese.
Graças ao sábio lionês tivemos a Codificação da Doutrina Espí­rita reconhecida como a Terceira Revelação, o Consolador Prometido por Jesus.

Bibliografia

Depois da Morte - Léon Denis
História do Espiritismo - Arthur Conan Doyle
Allan Kardec - Zeus Wantuil e Francisco Thiesen”


Para maiores detalhes acerca do assunto tratado acima, na parte intitulada Espiritismo, ver os textos O Início do Espiritismo Parte 1 – Hydesville e O Início do Espiritismo Parte 2 – A Codificação, neste blog.
           
            A mediunidade existe para dar conhecimento ao homem da imortalidade da alma e também como meio de reparação de malefícios cometidos em existências anteriores, através da caridade, pelo Espírito que reencarnará como médium, conforme nos conta os Espírito André Luiz, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier. Ele menciona as lições que recebeu a este respeito, no Mundo Espiritual, na obra “Os Mensageiros”.
Como médium, o Espírito reencarna para trazer consolo, através de mensagens dos desencarnados a seus familiares, para auxiliar na evolução dos encarnados através de comunicações que recebem dos desencarnados, que contam suas experiências no Mundo Espiritual e trazem mensagens instrutivas de uma forma geral. Também auxiliam no tratamento espiritual, ao receber instruções dos mentores espirituais e possibilitam que um doutrinador encarnado entre em contato com Espíritos desequilibrados que obsediam, muitas vezes por vingança, os encarnados. Visando esclarecê-los, aconselhando-os a seguir o melhor caminho, o do perdão, fazem com que eles desistam da ação obsessiva. Trazem, assim, grande alívio às suas vítimas.
Contudo, conforme a obra supracitada, raros são os médiuns que cumprem a contento a missão sagrada que lhes foi confiada, não exercendo a disciplina e a seriedade que o trabalho exige, ou sequer iniciando este trabalho.


BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

1 KARDEC, Allan. O livro dos médiuns: ou guia dos médiuns e evocadores: espiritismo experimental. Rio de Janeiro: FEB, [1997].


2 ______________O livro dos espíritos: princípios da doutrina espírita. 76. ed. Rio de Janeiro: FEB, [1995].


3 LOMBROSO, Césare. Hipnotismo e mediunidade. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, [1990].

4 DOYLE, Arthur Conan (Sir). História do espiritismo. São Paulo: Pensamento, [1999].


5 XAVIER, Francisco Cândido; LUIZ, André (Espírito). Os Mensageiros. 19 ed. Rio de Janeiro: FEB, [1985].


ENDEREÇO ELETRÔNICO:


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