Fonte da imagem: http://edsonadjuntovalexo.blogspot.com.br/2012/06/as-tres-revelacoes-mioses-cristo-e-o.html
Fábio José Lourenço Bezerra
Um dos grandes cientistas do século XIX, tendo sido professor de Psiquiatria da Universidade de Turim e pesquisador dos fenômenos espíritas, Cesare Lombroso, em sua obra “Hipnotismo e Mediunidade”, no Capítulo XIII, nos diz:
“O fato de que em todos os tempos e em todos os povos esteve viva a crença em algo invisível, que sobrevive à morte do corpo, e que, sob o influxo de condições especiais, pode manifestar-se aos nossos sentidos, torna-nos propensos a aceitar a hipótese espiritista.”
Conforme nos diz J.Herculano Pires, em seu excelente livro “Visão Espírita da Biblia”:
“[...] A origem mediúnica das religiões é hoje uma tese provada pelas pesquisas antropológicas e etnológicas. Só os materialistas a rejeitam.” (Ver o texto “O que são médiuns? – Parte 2”, neste blog)
A Espiritualidade Superior enviou mensageiros que, ao longo da história, encarnaram na Terra com a missão de fazer progredir a humanidade em seu aspecto moral, seja com seus exemplos, seja com os seus ensinamentos, conforme a época e a cultura do lugar. Como exemplos, temos Moisés, Jesus, Krishna, Buda e Confúcio, entre muitos outros. A partir daí, surgiram as diferentes religiões da Terra. Por isso que, apesar das diferenças doutrinárias, todas elas guardam, em sua essência, um mesmo ensinamento, a Regra de Ouro: “Não desejais ao teu próximo o que não desejaríeis para ti”, ou o equivalente “Ama a teu próximo como a ti mesmo” (Ver o texto “Por Que Devemos Fazer o Bem?”, neste blog). O ensinamento religioso que, porventura, venha a contradizer esse princípio, teve origem em acréscimos e distorções puramente humanas, para atender a interesses diversos, ao longo do tempo.
Igualmente nos diz J.Herculano Pires, na obra já citada:
“[...] A origem da Bíblia é um capítulo natural desse processo geral que originou as religiões.” (Ver o texto “A Bíblia Condena o Espiritismo? Parte 2 – A Bíblia Sob a Ótica Espírita”, neste blog).
Allan Kardec, em sua obra “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, no Capítulo I, nos esclarece que a humanidade foi agraciada por três grandes revelações da Espiritualidade Superior, que acompanharam a evolução moral dos homens, através de Moisés, depois por Jesus e, por último, do Espiritismo.
Sobre Moisés, ele nos esclarece:
“Há duas partes distintas na lei mosaica: a lei de Deus, promulgada sobre o monte Sinai, e a lei civil ou disciplinar, estabelecida por Moisés; uma é invariável; a outra, apropriada aos costumes e ao caráter do povo, se modifica com o tempo.
A lei de Deus está formulada nos dez mandamentos seguintes:
I – Eu sou o Senhor, vosso Deus, que vos tirei do Egito, da casa de servidão. Não tereis outros deuses estrangeiros diante de mim. Não fareis imagem talhada, nem nenhuma figura de tudo o que está no alto no céu e embaixo na terra, nem de tudo o que está nas águas sob a Terra. Não os adorareis, nem lhes renderei culto soberano.
II – Não tomeis em vão o nome do Senhor vosso Deus.
III – Lembrai-vos de santificar o dia de Sábado.
IV – Honrai o vosso pai e a vossa mãe, a fim de viverdes longo tempo na Terra, que o Senhor vosso Deus vos dará.
V – Não matareis.
VI – Não cometereis adultério.
VII – Não furtareis.
VIII – Não prestareis falso testemunho contra o vosso próximo.
IX – Não desejareis a mulher do vosso próximo.
X – Não desejareis a casa do vosso próximo, nem seu servidor, nem sua serva, nem seu boi, nem seu asno, nem nenhuma de todas as coisas que lhe pertencem.
Esta é a lei de todos os tempos e de todos os países, e tem, por isso mesmo, um caráter divino. Todas as outras são leis estabelecidas por Moisés, obrigado a manter, pelo temor, um povo naturalmente turbulento e indisciplinado, no qual tinha que combater os abusos enraizados e os preconceitos hauridos na servidão do Egito. Para dar autoridade às suas leis, ele deveu atribuir-lhes origem divina, assim como o fizeram todos os legisladores de povos primitivos; a autoridade do homem deveria se apoiar sobre a autoridade de Deus; mas só a idéia de um Deus terrível poderia impressionar homens ignorantes, nos quais o senso moral e o sentimento de uma delicada justiça eram ainda pouco desenvolvidos. É bem evidente que, aquele que tinha colocado em seus mandamentos: “Tu não matarás; tu não farás mal a teu próximo”, não poderia se contradizer fazendo delas um dever de extermínio. As leis mosaicas, propriamente ditas, tinham, pois, um caráter essencialmente transitório.”
Sem a menor sombra de dúvida, as leis estabelecidas por Moisés eram transitórias, sendo apropriadas àquele povo ignorante da antiguidade. Contudo, seriam impraticáveis nos nossos dias. Vejamos alguns exemplos dessa lei:
“Quem trabalhar no sábado será morto”(Êxodo, 35:2); “Animais e aves serão sacrificados, sangue espargido sobre altares, atendendo a variados objetivos” (Levítico, caps. 1 a 7); “Quando morrer o homem sem deixar descendente, seu irmão deverá casar-se com a viúva” (Deuteronômio, 25:5); “Os filhos desobedientes e rebeldes, que não ouçam os pais e se comprometam no vício, serão apedrejados até a morte” (deuteronômio, 21:18-21); “É proibido comer carne de porco, lebre ou coelho” (Levítico, 11:5-7); “O homossexualismo será punido com a morte” (Levítico, 20:13); “A zoofilia sexual será punida com a morte” (Levítico, 20:15-16); “Deficientes físicos estão proibidos de aproximar-se do altar do culto, para não profaná-lo com seu defeito” (Levítico, 21:17-23); “O leproso (hanseniano) deve ser segregado da vida social, vivendo no isolamento” (Levítico, cap.13); “Os adúlteros serão apedrejados até a morte” (Deuteronômio, 22:22); “A blasfêmia contra Deus será punida com o apedrejamento, até a morte” (Levítico, 24:16-16).
Relativamente à mulher, a lei diz:
“Ao dar à luz um menino ficará impura por 40 dias. Se for menina, ficará impura por 80 dias” (Levítico, 12:1-5); “A noiva que simular a virgindade ao casar-se será apedrejada até a morte” (Deuteronômio, 22:21); “Descontente com a esposa, o homem poderá dispensá-la, sem nenhuma compensação, dando-lhe carta de divórcio” (Deuteronômio, 24:1).
Esta lei civil foi ditada por Iahvéh, um Espírito, que tinha a missão de guiar o povo Hebreu através da mediunidade de Moisés, transmitir os Dez Mandamentos (Código de Moral Universal) e consolidar o Monoteísmo (a crença em um único Deus), não sendo o Deus Criador do Universo. Além da lei transitória que ele ditou, também podemos deduzir isto pela própria personalidade de Iahvéh: temperamental, vingativo, violento e guerreiro. Como exemplo, vejamos essa passagem de I Samuel 15, 2 e 3, onde Samuel transmite as ordens que recebeu de Iahvéh : "Vou pedir contas a Amalec do que ele fez a Israel, opondo-se-lhe no caminho, quando saiu do Egito. Vai, pois, fere Amalec e vota ao interdito tudo o que lhe pertence, sem nada poupar:matarás homens e mulheres, crianças e meninos de peito, bois e ovelhas, camelos e jumentos.
Natural que fosse assim, pois, em geral, os protetores espirituais são proporcionalmente superiores a seus tutelados. Ele era um Espírito de nível evolutivo apropriado àquela época de ignorância. Conforme nos diz J.Herculano Pires, ele “se apresentava como Deus, porque a mentalidade dos povos do tempo era mitológica, e os Espíritos eram considerados deuses.”. Isto além do fato de que, como nos explicou Kardec no texto acima, o fato de Moisés atribuir estas comunicações a Deus lhe dava autoridade, prática comum na antiguidade, como era o caso, por exemplo, dos Faraós, que eram considerados pelo povo egípcio como verdadeiros deuses . Era a chamada Teocracia, um governo exercido mediante autoridade divina.
Moisés possuía uma escola de médiuns, sendo favorável à pratica da mediunidade de forma séria, sem abusos. O Espírito Iahvéh, inclusive, materializou-se várias vezes, como pode ser constatado em muitas passagens do Velho Testamento (Ver o texto “A Bíblia Condena o Espiritismo? Parte 2 – A Bíblia Sob a Ótica Espírita”, neste blog).
Sobre Jesus, diz Kardec:
“Jesus não veio destruir a lei, quer dizer, a lei de Deus; ele veio cumpri-la, quer dizer, desenvolvê-la, dar-lhe seu verdadeiro sentido, e apropriá-la ao grau de adiantamento dos homens; por isso, se encontra nessa lei o princípio dos deveres para com Deus e para com o próximo, que constituem a base de sua doutrina. Quanto às leis de Moisés, propriamente ditas, ao contrário, ele as modificou profundamente, seja no fundo, seja na forma; combateu constantemente o abuso das práticas exteriores e as falsas interpretações, e não poderia fazê-las sofrer uma reforma mais radical do que as reduzindo a estas palavras: “Amar a Deus acima de todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo”, e dizendo: está aí toda a lei e os profetas.
Por estas palavras: “O céu e a terra não passarão antes que tudo seja cumprido até um único jota”, Jesus quis dizer que seria preciso que a lei de deus recebesse seu cumprimento, quer dizer, fosse praticada sobre toda a Terra, em toda a sua pureza, com todos os seus desenvolvimentos e todas as suas consequências; porque de que serviria ter estabelecido essa lei, se ela devesse permanecer privilégio de alguns homens ou mesmo de um único povo? Todos os homens, sendo filhos de Deus, são, sem distinção, o objeto da mesma solicitude.
Mas o papel de Jesus não foi simplesmente o de um legislador moralista, sem outra autoridade que a sua palavra; ele veio cumprir as profecias que haviam anunciado sua vinda; sua autoridade decorria da natureza excepcional de seu Espírito e de sua missão divina; veio ensinar aos homens que a verdadeira vida não está sobre a Terra, mas no reino dos céus; ensinar-lhes o caminho que para lá conduz, os meios de se reconciliar com Deus, e os prevenir sobre a marcha das coisas futuras para o cumprimento dos destinos humanos. Entretanto, não disse tudo, e sobre muitos pontos se limitou a depositar o germe de verdades que ele próprio declara não poderem ser ainda compreendidas; falou de tudo, mas em termos mais ou menos explícitos; para compreender o sentido de certas palavras, seria preciso que novas idéias e novos conhecimentos viessem dar-lhes a chave, e essas idéias não poderiam vir antes de um certo grau de maturidade do espírito humano. A ciência deveria contribuir poderosamente para a eclosão e o desenvolvimento das idéias; seria preciso, pois, dar à Ciência o tempo de progredir.”
Sobre o Espiritismo, diz:
“O Espiritismo é a nova ciência que vem revelar aos homens, por provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual, e suas relações com o mundo corporal; ele no-lo mostra, não mais como uma coisa sobrenatural, mas, ao contrário, como uma das forças vivas e incessantemente ativas da Natureza, como a fonte de uma multidão de fenômenos incompreendidos, até então atirados, por essa razão, ao domínio do fantástico e do maravilhoso. É a essas relações que o Cristo faz alusão, em muitas circunstâncias, e é por isso que muitas coisas que ele disse permaneceram ininteligíveis ou foram falsamente interpretadas. O Espiritismo é a chave com a ajuda da qual tudo se explica com facilidade.
A lei do Antigo Testamento está personificada em Moisés; a do Novo Testamento está personificada no Cristo; o Espiritismo é a terceira revelação da lei de Deus, mas não está personificada em nenhum indivíduo, porque ele é o produto de ensinamento dado, não por um homem, mas pelos Espíritos, que são as vozes do céu, sobre todos os pontos da Terra, e por uma multidão inumerável de intermediários: é, de alguma sorte, um ser coletivo compreendendo o conjunto dos seres do mundo espiritual, vindo cada um trazer aos homens o tributo das suas luzes para fazê-los conhecer esse mundo e a sorte que nele os espera. (Ver os textos “O Início do Espiritismo Parte 1 –Hydesville”, “O Início do Espiritismo Parte 2 – A Codificação”, “Ilustres Cientistas Confirmaram: A Alma Sobrevive à Morte” e “Por Que Ser Espírita?”, neste blog).
Da mesma forma que o Cristo disse: “Eu não vim destruir a lei, mas dar-lhe cumprimento”, o Espiritismo diz igualmente: Eu não vim destruir a lei cristã, mas cumpri-la”. Ele não ensina nada de contrário ao que o Cristo ensinou, mas desenvolve, completa e explica, em termos claros para todo o mundo, o que não foi dito senão sob a forma alegórica; vem cumprir, nos tempos preditos, o que o Cristo anunciou, e prepara o cumprimento das coisas futuras. É, pois, obra do Cristo que o preside, como igualmente anunciou, a regeneração que se opera, e prepara o reino de Deus sobre a Terra.”
Jesus anunciou a seus discípulos que viria, depois dele, outro consolador para a humanidade. Este consolador é, nada mais, nada menos, que o Espiritismo. Vejamos essa passagem do Evangelho, seguida pelos comentários de Kardec sobre a mesma, que consta no Capítulo VI da obra já citada:
“Se vós me amais, guardai meus mandamentos; e eu pedirei a meu Pai, e ele vos enviará um outro consolador, a fim de que permaneça eternamente convosco: o Espírito de Verdade que o mundo não pode receber, porque não o vê e não conhece. Mas quanto a vós, conhecê-lo-eis porque permanecerá convosco e estará em vós. Mas o consolador, que é o Santo-Espírito, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará relembrar de tudo aquilo que eu vos tenha dito. (São João, cap.XIV, v.15, 16, 17 e 26).
Jesus promete um outro consolador: O Espírito de Verdade, que o mundo não conhece ainda, porque não está maduro para compreendê-lo, que o Pai enviará para ensinar todas as coisas, e para fazer recordar aquilo que o Cristo disse. Se, pois, o Espírito de Verdade deve vir mais tarde ensinar todas as coisas, é que o Cristo não disse tudo; se ele vem recordar aquilo que o Cristo disse, é porque isso foi esquecido ou mal compreendido.
O Espiritismo vem, no tempo marcado, cumprir a promessa do Cristo: o Espírito de Verdade preside à sua instituição, chama os homens à observância da lei e ensina todas as coisas em fazendo compreender o que o Cristo não disse senão por parábolas. O Cristo disse: “Que ouçam os que têm ouvidos para ouvir”, o Espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos, porque fala sem figuras e sem alegorias; ele ergue o véu deixado propositadamente sobre certos mistérios, vem, enfim, trazer uma surprema consolação aos deserdados da Terra e a todos aqueles que sofrem, dando uma causa justa e um fim útil a todas as dores.
O Cristo disse: ‘Bem aventurados os aflitos, porque serão consolados’; mas de que forma se achar feliz sofrendo não sabendo por que se sofre? O Espiritismo mostra-lhe a causa nas existências anteriores e na destinação da Terra, onde o homem expia seu passado; mostra-lhe o objetivo naquilo em que os sofrimentos são como crises salutares que conduzem à cura e são a depuração que assegura a felicidade nas existências futuras. O homem compreende que mereceu sofrer e acha o sofrimento justo; sabe que esse sofrimento ajuda o seu progresso, e o aceita sem lamentar, como o obreiro aceita o trabalho que deve lhe valer seu salário. O Espiritismo lhe dá uma fé inabalável no futuro, e a dúvida pungente não mais se abate sobre sua alma; fazendo-o ver do alto, a importância das vicissitudes terrestres se perde no vasto e esplêndido horizonte que ele descortina, e a perspectiva da felicidade que o espera lhe dá a paciência, a resignação e a coragem de ir até o fim do caminho.
Assim, o Espiritismo realiza o que Jesus disse do consolador prometido: conhecimento das coisas, que faz o homem saber de onde vem, para onde vai e porque está na Terra; chamamento aos verdadeiros princípios da lei de Deus, e consolação pela fé e pela esperança.”
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
1 KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. São Paulo : Editora Petit, 1997.;
2 ______________O livro dos espíritos: princípios da doutrina espírita. 76. ed. Rio de Janeiro: FEB, [1995].
3______________.A Gênese: Os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: Editora FEB, 1988;
4 PIRES, José Herculano. Visão espírita da Bíblia. São Paulo: 6 ed.Correio Fraterno [2009];
5 LOMBROSO, Césare. Hipnotismo e mediunidade. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, [1990].
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