Fonte da imagem: http://conhecerkardec.blogspot.com.br/2012/01/orgulho-ii.html
Fábio José Lourenço Bezerra
Os Espíritos
são criados exatamente iguais, simples e ignorantes, porém com enorme potencial
intelectual e moral, que serão desenvolvidos ao longo das suas inúmeras experiências
na matéria, ou seja, suas reencarnações. Como uma diminuta semente que, ao ser colocada
em um solo fértil e receber a quantidade adequada de luz solar e água, torna-se
uma grande árvore.
Sendo Deus
infinitamente justo, logicamente que, da mesma forma que os cria exatamente
iguais, dá oportunidades de evolução equivalentes aos seus filhos. Não existem
privilegiados. Contudo, ao longo do caminho, quando não mais precisam da tutela
de Deus para encaminhá-los, esta exercida através dos bons Espíritos, eles
podem fazer suas próprias escolhas, enfrentando as consequências das mesmas. Afinal,
a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória.
Durante o processo
evolutivo supracitado, ocorre de o Espírito, ainda imaturo, deslumbrar-se com o
mundo material. Não percebe ainda (ou deixa-se iludir), que este é um mundo ilusório,
e que sua encarnação presente é apenas um ato dentro da eternidade, uma vez que
o Espírito é imortal. Daí, nasce o sentimento de ser “melhor” que seu
semelhante, fruto de momentâneas “vantagens” que, porventura, tenha sobre seus
irmãos, como dinheiro e posição social, inteligência, cultura adquirida, aparência,
saúde, etc. O nome deste sentimento é ORGULHO.
Se pararmos
para pensar, veremos que o orgulho é, na verdade, uma grande blasfêmia contra
Deus, pois é pensar que Ele criaria seus filhos distribuindo privilégios a uns
e não a outros. Na verdade, essas supostas “vantagens” nada mais são do que
provas para o Espírito que, ao invés de se orgulhar de sua posição “superior”
ante seus irmãos, deveria auxiliá-los, e não constrangê-los e prejudicá-los. Se
Deus nos deu saúde e oportunidade de termos muito dinheiro, por exemplo, foi
para fazermos bom uso disso, e não para batermos no peito e dizermos que somos
os melhores. O forte deve sempre amparar o fraco.
O orgulho
também pode ser causa de grande tortura moral, quando é ferido. Afinal, só é
humilhado aquele que é orgulhoso, do contrário, não há motivo para sofrer humilhação.
Ser humilde é ter sempre o alívio de jamais sofrer diante de tentativas, ou
ocasiões, humilhantes. É ter parte da Paz que o Mestre Jesus nos deixou, com
seus ensinamentos e exemplos.
Abaixo,
transcrevo a excelente e forte mensagem contida na obra de Allan Kardec, “O
Evangelho Segundo o Espiritismo”, no Capítulo VII, intitulada “O
Orgulho e a Humildade” de autoria do Espírito Lacordaire:
“Que a paz do
Senhor seja convosco, meus queridos amigos! Aqui venho para encorajar-vos a
seguir o bom caminho.
Aos pobres Espíritos
que habitaram outrora a Terra, conferiu Deus a missão de vos esclarecer.
Bendito seja Ele, pela graça que nos concede: a de podermos auxiliar o vosso
aperfeiçoamento. Que o Espírito Santo me ilumine e ajude a tornar compreensível
a minha palavra, outorgando-me o favor de pô-la ao alcance de todos! Oh! Vós,
encarnados, que vos achais em prova e buscais a luz, que a vontade de Deus venha
em meu auxílio para fazê-la brilhar aos vossos olhos!
A humildade é virtude
muito esquecida entre vós. Bem pouco seguidos são os exemplos que dela se vos têm
dado. Entretanto, sem humildade, podeis ser caridosos com o vosso próximo? Oh!
Não, pois que este sentimento nivela os homens, dizendo-lhes que todos são irmãos,
que se devem auxiliar mutuamente, e os induz ao bem. Sem a humildade, apenas
vos adornais de virtudes que não possuís, como se trouxésseis um vestuário para
ocultar as deformidades do vosso corpo. Lembrai-vos d'Aquele que nos salvou;
lembrai-vos da sua humildade, que tão grande o fez, colocando-o acima de todos
os profetas.
O orgulho é o
terrível adversário da humildade. Se o Cristo prometia o reino dos céus aos
mais pobres, é porque os grandes da Terra imaginam que os títulos e as riquezas
são recompensas deferidas aos seus méritos e se consideram de essência mais
pura do que a do pobre. Julgam que os títulos e as riquezas lhes são devidos,
pelo que, quando Deus lhos retira, o acusam de injustiça. Oh! Irrisão e cegueira!
Pois, então, Deus vos distingue pelos corpos? O envoltório do pobre não é o
mesmo que o do rico? Terá o Criador feito duas espécies de homens? Tudo o que Deus
faz é grande e sábio; não lhe atribuais nunca as idéias que os vossos cérebros orgulhosos
engendram.
Ó rico!
Enquanto dormes sob dourados tetos, ao abrigo do frio, ignoras que jazem sobre
a palha milhares de irmãos teus, que valem tanto quanto tu? Não é teu igual o
infeliz que passa fome? Ao ouvires isso, bem o sei, revoltas e o teu orgulho. Concordarás
em dar-lhe uma esmola, mas em lhe apertar fraternalmente a mão, nunca. “Pois quê!
Dirás, eu, de sangue nobre, grande da
Terra, igual a este miserável coberto de andrajos! Vã utopia de pseudo-filósofos!
Se fôssemos iguais, por que o teria Deus colocado tão baixo e a mim tão alto?” É
exato que as vossas vestes não se assemelham; mas, despi-vos ambos: que diferença
haverá entre vós? A nobreza do sangue, dirás; a química, porém, ainda nenhuma
diferença descobriu entre o sangue de um grão-senhor e o de um plebeu; entre o
do senhor e o do escravo. Quem te garante que também tu já não tenhas sido
miserável e desgraçado como ele? Que também não hajas pedido esmola? Que não a
pedirás um dia a esse mesmo a quem hoje desprezas? São eternas as riquezas? Não
desaparecem quando se extingue o corpo, envoltório perecível do teu Espírito?
Ah! Lança sobre ti um pouco de humildade! Põe os olhos, afinal, na realidade
das coisas deste mundo, sobre o que dá lugar ao engrandecimento e ao
rebaixamento no outro; lembra-te de que a morte não te poupará, como a nenhum
homem; que os teus títulos não te preservarão do seu golpe; que ela te poderá
ferir amanhã, hoje, a qualquer hora. Se te enterras no teu orgulho, oh! Quanto então
te lamento, pois bem digno de compaixão serás.
Orgulhosos!
Que éreis antes de serdes nobres e poderosos? Talvez estivésseis abaixo do último
dos vossos criados. Curvai, portanto, as vossas frontes altaneiras, que Deus
pode fazer se abaixem, justo no momento em que mais as elevardes. Na balança
divina, são iguais todos os homens; só as virtudes os distinguem aos olhos de
Deus. São da mesma essência todos os Espíritos e formados de igual massa todos
os corpos. Em nada os modificam os vossos títulos e os vossos nomes. Eles
permanecerão no túmulo e de modo nenhum contribuirão para que gozeis da ventura
dos eleitos. Estes, na caridade e na humildade é que têm seus títulos de
nobreza.
Pobre
criatura! És mãe, teus filhos sofrem; sentem frio; têm fome, e tu vais, curvada
ao peso da tua cruz, humilhar-te, para
lhes conseguires um pedaço de pão! Oh! Inclino-me diante de ti. Quão nobremente
santa és e quão grande aos meus olhos! Espera e ora; a felicidade ainda não é
deste mundo. Aos pobres oprimidos que nele confiam, concede Deus o reino dos céus.
E tu, donzela,
pobre criança lançada ao trabalho, às privações, por que esses tristes
pensamentos? Por que choras? Dirige a Deus, piedoso e sereno, o teu olhar: ele
dá alimento aos passarinhos; tem-lhe confiança: ele não te abandonará. O ruído das
festas, dos prazeres do mundo, faz bater-te o coração; também desejaras adornar
de flores os teus cabelos e misturar-te com os venturosos da Terra. Dizes de ti
para contigo que, como essas mulheres que vês passar, despreocupadas e risonhas,
também poderias ser rica. Oh! Cala-te, criança! Se soubesses quantas lágrimas e
dores inomináveis se ocultam sob esses vestidos recamados, quantos soluços são abafados
pelos sons dessa orquestra rumorosa, preferirias o teu humilde retiro e a tua pobreza.
Conserva-te pura aos olhos de Deus, se não queres que o teu anjo guardião para
o seu seio volte, cobrindo o semblante com as suas brancas asas e deixando-te com
os teus remorsos, sem guia, sem amparo, neste mundo, onde ficarias perdida, a aguardar
a punição no outro.
Todos vós que
dos homens sofreis injustiças, sede indulgentes para as faltas dos vossos irmãos,
ponderando que também vós não vos achais isentos de culpas; é isso caridade,
mas é igualmente humildade. Se sofreis pelas calúnias, abaixai a cabeça sob
essa prova. Que vos importam as calúnias do mundo? Se é puro o vosso proceder,
não pode Deus vo-las compensar? Suportar com coragem as humilhações dos homens é
ser humilde e reconhecer que somente Deus é grande e poderoso.
Oh! Meu Deus,
será preciso que o Cristo volte segunda vez à Terra para ensinar aos homens as
tuas leis, que eles olvidam? Terá que de novo expulsar do templo os vendedores
que conspurcam a tua casa, casa que é unicamente de oração? E, quem sabe? Ó
homens! Se o não renegaríeis como outrora, caso Deus vos concedesse essa graça!
Chamar-lhe-íeis blasfemador, porque abateria o orgulho dos modernos fariseus. É
bem possível que o fizésseis perlustrar novamente o caminho do Gólgota.
Quando Moisés
subiu ao monte Sinai para receber os mandamentos de Deus, o povo de Israel,
entregue a si mesmo, abandonou o Deus verdadeiro. Homens e mulheres deram o
ouro e as jóias que possuíam, para que se construísse um ídolo que entraram a
adorar. Vós outros, homens civilizados, os imitais. O Cristo vos legou a sua
doutrina; deu-vos o exemplo de todas as virtudes e tudo abandonastes, exemplos
e preceitos. Concorrendo para isso com as vossas paixões, fizestes um Deus a
vosso jeito: segundo uns, terrível e sanguinário; segundo outros, alheado dos interesses
do mundo. O Deus que fabricastes é ainda o bezerro de ouro que cada um adapta
aos seus gostos e às suas idéias.
Despertai,
meus irmãos, meus amigos. Que a voz dos Espíritos ecoe nos vossos corações.
Sede generosos e caridosos, sem ostentação, isto é, fazei o bem com humildade.
Que cada um proceda pouco a pouco à demolição dos altares que todos ergueram ao
orgulho. Numa palavra: sede verdadeiros cristãos e tereis o reino da verdade. Não
continueis a duvidar da bondade de Deus, quando dela vos dá ele tantas provas.
Vimos preparar os caminhos para que as profecias se cumpram. Quando o Senhor
vos der uma manifestação mais retumbante da sua clemência, que o enviado
celeste já vos encontre formando uma grande família; que os vossos corações,
mansos e humildes, sejam dignos de ouvir a palavra divina que ele vos vem
trazer; que ao eleito somente se deparem em seu caminho as palmas que aí tenhais
deposto, volvendo ao bem, à caridade, à fraternidade. Então, o vosso mundo se
tornará o paraíso terrestre. Mas, se permanecerdes insensíveis à voz dos Espíritos
enviados para depurar e renovar a vossa sociedade civilizada, rica de ciências,
mas, no entanto, tão pobre de bons sentimentos, ah! Então não nos restará senão
chorar e gemer pela vossa sorte. Mas, não, assim não será. Voltai para Deus,
vosso pai, e todos nós que houvermos contribuído para o cumprimento da sua
vontade entoaremos o cântico de ação de graças, agradecendo-lhe a inesgotável
bondade e glorificando-o por todos os séculos dos séculos. Assim seja.”
Lacordaire. (Constantina,
1863)
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. FEB. Versão digital: Ery Lopes – 2007.
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