Fonte da imagem:http://www.danielkaltenbach.com/artigos-diversos/neurocirugiao-americano-fala-sobre-sua-experiencia-de-quase-morte/
Fábio
José Lourenço Bezerra
Conforme o texto
“Neurocirurgião Cético, Professor de Harvard, Tem Experiência de Quase-Morte e Passa a Acreditar na Sobrevivência da Alma”, neste blog, o Dr. Eben Alexander
III, em 10 de novembro de 2008, adquiriu uma rara doença que o deixou em coma
por sete dias. Nesse período, todo o seu neocórtex – a superfície externa do
cérebro, a parte que nos torna humanos – ficou completamente inoperante. Foi
quando passou por uma incrível Experiência de Quase-Morte, que o fez acreditar
na vida após a morte. Ele relata o que viu no mundo espiritual em seu livro “Uma
Prova do Céu”, editado no Brasil pela Sextante. Ele escreveu em seu
livro: “Minha experiência me mostrou que a morte do corpo e do cérebro não é o
fim da consciência, e que a existência humana continua no além-túmulo. E, mais
importante ainda, ela se perpetua sob o olhar de um Deus que nos ama e que se
importa com cada um de nós, com o destino do Universo e de todos os seres
contidos nele.”
Nas
palavras do Dr. Raymond Moody Jr., autor do livro “Vida Depois da Vida”: “A
experiência do Dr. Eben Alexander foi a mais impressionante que já ouvi nas
mais de quatro décadas de estudo sobre este fenômeno”.
O
Dr. Eben Alexander é neurocirurgião. Graduou-se em química pela Universidade da
Carolina do Norte em 1976, na cidade de Chapel Hill, e diplomou-se em medicina pela
Universidade Duke em 1980. Nos seus 11 anos de formação e de residência médica
na Duke, no Hospital Geral de Massachusetts e na Universidade de Harvard, dedicou-se
à neuroendocrinologia, o estudo das interações entre o sistema nervoso e o
sistema endócrino (as glândulas que liberam os hormônios que governam a maior
parte das atividades do corpo humano). Nesses 11 anos, investigou como os vasos
sanguíneos em uma determinada região do cérebro reagem patologicamente quando
há hemorragia decorrente de um aneurisma – uma síndrome conhecida como vasoespasmo
cerebral.
Após
concluir uma bolsa de estudos em neurocirurgia cerebrovascular em Newcastle-Upon-Tyne,
no Reino Unido, passou 15 anos na faculdade de medicina de Harvard como
professor adjunto de cirurgia, com especialização em neurocirurgia. Durante
esse período operou inúmeros pacientes, muitos deles em condições cerebrais
graves e correndo risco de vida.
A
maior parte de suas pesquisas foi sobre o desenvolvimento de procedimentos
técnicos avançados, como a radiocirurgia estereotáxica, uma técnica que permite
aos cirurgiões direcionar precisamente os feixes de radiação para alvos
específicos no cérebro sem afetar as áreas ao seu redor. Também ajudou a
desenvolver os procedimentos neurocirúrgicos de ressonância magnética para o
diagnóstico por imagem de complicações cerebrais difíceis de tratar, como
tumores e distúrbios vasculares.
O
Dr. Eben foi autor ou coautor de mais de 150 artigos para revistas dirigidas a
especialistas, e apresentou as conclusões de suas pesquisas em mais de 200
conferências médicas ao redor do mundo.
Eis
a descrição do que o Dr. Eben viu e sentiu em sua experiência, como escreveu em
seu livro, acima citado. Após descrever a região onde se encontrava como algo
que nos lembra bastante o Umbral (região inferior do plano
espiritual descrita pelo Espírito André Luiz, pela psicografia do
médium Chico Xavier), um lugar escuro e lamacento, embora translúcido,
onde estava imerso, ele escreveu:
“Alguma
coisa apareceu no escuro. Movendo-se lentamente, ela irradiava uma luz dourada
e, à medida que avançava, a escuridão à minha volta começava a se fragmentar e
dissipar.
Então
escutei um novo som: um som vivo, como a mais rica e complexa melodia que já
tinha ouvido. Aumentando de volume enquanto uma diáfana luz branca descia, esse
som anulou as batidas mecânicas e maçantes que, aparentemente, haviam sido a
minha única companhia até então.
A
luz foi chegando cada vez mais perto, girando em torno de mim, produzindo
filamentos de pura luz branca com raias douradas.
Então, no centro
da luz, apareceu outra coisa. Eu me concentrei ao máximo para descobrir o que
era.
Uma
abertura. Eu não estava mais olhando para a luz giratória, mas através dela.
No
instante que compreendi isso, comecei a me mover. Eu ouvia um som sibilante.
Quando atravessei a abertura, me vi em um mundo inteiramente novo. O mundo mais
belo e estranho que eu já tinha visto.
Brilhante,
vibrante, arrebatador, maravilhoso... Eu poderia amontoar adjetivos, um após
outro, para tentar descrever esse mundo, mas nada do que dissesse poderia
traduzir o que eu via e sentia. Era como se eu tivesse acabado de nascer. Não
renascer, ou nascer de novo. Apenas... nascer.
Embaixo
de mim havia uma campina. Ela era verde, exuberante e parecia feita de terra.
Era de terra... mas ao mesmo tempo não era. Minha sensação era a mesma que se
tem ao visitar algum lugar a que costumávamos ir quando crianças. Nós não o
reconhecemos, mas ao olharmos em volta, alguma coisa nos atrai, e percebemos
que uma parte de nós – uma parte bem lá no fundo – se lembra do lugar e se
alegra por ter voltado ali.
Eu
estava voando. Passei por árvores e campos, rios e cachoeiras, e avistei pessoas
aqui e ali. Também havia crianças rindo e brincando. Todos cantavam e dançavam
em círculos, e vi até cachorros correndo e saltando entre elas, igualmente
tomados de alegria. As pessoas vestiam roupas simples, mas bonitas, e tive a
impressão de que as cores dessas vestimentas tinham o mesmo tom vívido das
árvores e das flores que desabrochavam e encantavam todo o campo ao redor.
Um mundo de
sonhos belo e incrível...
Só
que não era um sonho. Embora não soubesse onde me encontrava e nem mesmo o que
era aquilo tudo, eu estava convicto de uma coisa: esse lugar em que de repente
me vi era completamente real.
A
palavra real expressa algo abstrato e é totalmente ineficaz para transmitir o
que estou tentando descrever. Imagine que você é uma criança e vai ao cinema em
uma tarde de verão. Talvez o filme seja bom e prenda sua atenção enquanto você
lhe está assistindo. Mas, quando a sessão termina, você sai do cinema e volta
para a paisagem agradável daquela bela tarde. Logo, o ar fresco e a luz do sol
o envolvem e, então, você pensa porque razão gastou
duas horas daquele dia magnífico sentado numa sala escura.
Multiplique esse
sentimento por mil e ainda não estará perto de entender como eu me senti
naquele lugar.
Não
sei exatamente por quanto tempo sobrevoei aqueles campos (o tempo ali era
diferente do tempo linear que vivemos na Terra, e é impossível descrevê-lo,
assim como todos os outros detalhes da experiência), mas em algum momento
percebi que não estava sozinho.
Alguém
se encontrava bem próximo a mim: uma bela menina com as maçãs do rosto
salientes e olhos de um azul profundo. Ela vestia o mesmo tipo de roupa
camponesa que as pessoas usavam lá embaixo. Seus longos cachos castanhos
emolduravam um rosto encantador. Cavalgávamos juntos sobre uma superfície
intrincada, adornada por cores vivas indescritíveis – como as asas de uma
borboleta. Na verdade, milhões de borboletas nos rodeavam. Havia ondas delas,
descendo até a relva verde e voltando até nós no espaço. Não foi apenas uma
única e discreta borboleta que apareceu, mas um enxame, como se um rio de vida
e cores bailasse no ar. Voávamos em círculo, despreocupadamente, atravessando
campos floridos e sobrevoando árvores cujas flores desabrochavam à medida que
passávamos.
O
traje da menina era modesto, mas seu colorido – azul-anil e laranja – tinha a
mesma energia deslumbrante de todo o resto. Ela olhou para mim de um jeito
arrebatador. Não era um olhar romântico. Tampouco um olhar de amizade. Era um
olhar que estava muito além disso... além de qualquer tipo de amor que temos
aqui na Terra. Era algo mais elevado, que trazia em si todos esses amores,
porém mais verdadeiro e puro que qualquer um deles.
Sem
usar palavras, ela falou comigo. Sua mensagem me atingiu como um vento, e
compreendi imediatamente que ela era verdadeira. Eu soube disso da mesma
maneira que sabia que o mundo à minha volta era real – e não uma fantasia fugaz
e delirante.
A
mensagem tinha três partes, e se tivesse que traduzi-la em linguagem terrena,
eu diria que era mais ou menos isto:
“Você
é amado e valorizado imensamente, para sempre.”
“Não
há nada a temer.”
“Não
há nada que você possa fazer de errado.”
A
mensagem me proporcionou uma imensa sensação de alívio. Era como se eu passasse
a conhecer as regras de um jogo que havia jogado a vida inteira sem nunca tê-lo
compreendido de todo.
“Nós
lhe mostraremos muitas coisas aqui”, a menina me disse, de novo sem usar
palavras, apenas projetando a essência do significado delas em mim. “Mas, no
fim, você irá voltar.”
Eu
tinha uma única pergunta sobre isso.
Voltar
para onde?
Lembre-se
de quem está contando tudo isso. Não sou um sentimentalista.
Sei
muito bem com que a morte se parece. Sei o que é ver uma pessoa viva, com quem
você conversou e brincou durante um bom tempo, de repente se tornar uma massa
inerte em uma mesa de operação depois de lutarmos durante horas para manter seu
corpo funcionando. Conheço o sofrimento e o pesar profundo das pessoas que
perderam alguém que nunca acharam que poderiam perder. Conheço a minha
biologia, e, ainda que não seja um especialista em física, não sou um ignorante
total nessa matéria: sei a diferença entre a fantasia e a realidade, e posso
assegurar que a experiência que estou tentando transmitir aqui, ainda que de
forma vaga e insatisfatória, foi de longe a experiência mais real da minha
vida.
Na
verdade, a única coisa que poderia competir com ela em termos de realidade foi
a que veio a seguir.”
“Agora
eu estava em um lugar cheio de nuvens. Nuvens grandes, fofas, brancas com tons
rosados se destacavam no céu de anil.
Mais alto que as
nuvens – imensuravelmente mais alto –, em um aglomerado de esferas
transparentes, seres deslumbrantes se deslocavam em arco por todo o céu,
deixando grandes rastros atrás de si.
Pássaros?
Anjos? Estas palavras me ocorreram quando eu escrevia minhas recordações, mas
nenhuma delas faz jus àqueles seres, que eram muito diferentes de qualquer
coisa que eu tivesse conhecido neste planeta.
Eles
eram mais evoluídos. Superiores.
Um
som forte e majestoso, como uma música sacra, veio de cima, e me perguntei se
aqueles seres superiores estariam produzindo esse uníssono.
Novamente,
refletindo sobre isso mais tarde, me ocorreu que a alegria dessas criaturas era
tão imensa que elas tinham que manifestar esse som – como se fosse uma emoção
impossível de conter. Era algo palpável e quase material, assim como uma chuva
que se sente na pele, mas que não nos deixa molhados.
Ver
e ouvir não eram coisas separadas naquele lugar. Eu podia ouvir a beleza dos
corpos daqueles seres cintilantes e, ao mesmo tempo, ver a perfeição do que
eles cantavam. Parecia que não era possível ver ou escutar qualquer coisa ali
sem se tornar parte dela – sem se fundir com aquilo de alguma forma misteriosa.
Lá tudo era diferente e, no entanto, fazia parte de algo maior, como os belos
desenhos entrelaçados nos tapetes persas... ou como nas asas de borboleta.
Um
vento morno começou a soprar, balançando as folhas das árvores e fluindo como
um rio celestial. Uma brisa divina. Essa brisa mudou tudo, elevou o mundo ao
meu redor para uma oitava acima, para uma vibração mais alta.
Embora
minha linguagem estivesse limitada – ao menos da maneira como entendemos aqui na
Terra – comecei, mesmo sem palavras, a fazer perguntas para esse vento e para o
ser divino que intuí operar por trás dele.
Onde
é este lugar?
Quem
eu sou?
Por
que estou aqui?
Toda
vez que eu formulava uma questão, a resposta vinha instantaneamente em uma
explosão de luz, cor, amor e beleza que me invadia por completo. O importante
sobre essas explosões foi que elas não silenciavam minhas perguntas com sua
força esmagadora, mas respondiam a todas elas, só que de uma maneira além da
linguagem. Os pensamentos entravam em mim diretamente, mas não eram iguais aos
que temos aqui.
Não
eram vagos, imateriais nem abstratos. Eram sólidos e imediatos – mais quentes
que o fogo, mais úmidos que a água – e, à medida que os recebia, eu era capaz
de conhecer, instantaneamente e sem qualquer esforço, o que levaria anos para
compreender na vida terrena.
Continuei
avançando e me vi entrando num imenso vazio, escuro, infinito em tamanho, mas
também infinitamente prazeroso. Ao mesmo tempo que era negro, estava repleto de
luz: uma luz que parecia vir de uma esfera brilhante que agora eu sentia
próxima a mim. Uma órbita viva e quase sólida, como as canções dos seres
superiores. Minha situação era como a de um feto no útero. Ele flutua com a
parceria silenciosa da placenta, que o nutre e medeia seu relacionamento com
tudo à sua volta e também com a mãe, até então invisível.
Neste
caso, a “mãe” era Deus, o Criador, a Fonte – ou qualquer nome que se queira dar
para o Ser dos Seres que é responsável pela existência do Universo e tudo o que
há nele. Este Ser estava tão perto que parecia não haver distância alguma entre
Ele e mim. Porém, eu podia sentir Sua infinita vastidão e perceber o tamanho da
minha insignificância diante de tanta grandeza. De agora em diante, usarei Om
para me referir a Deus, pois esse era o som que eu lembrava ter ouvido
associado àquele ser onisciente,
onipresente e
incondicionalmente amoroso.
Eu percebia a
imensidão que separava Om de mim porque tinha a Órbita como companhia. Eu não
podia compreender claramente, mas tinha certeza de que a Órbita era um tipo de
“intérprete” entre mim e essa extraordinária presença que me rodeava. Era como
se eu tivesse nascendo em um mundo maior, como se o Universo fosse um
gigantesco útero cósmico, e a Órbita (que permanecia ligada à menina nas asas
de borboleta que, na verdade, era ela) estivesse me dirigindo nesse processo.
Mais
tarde, quando já estava de volta a este mundo, encontrei uma citação do poeta
cristão do século XVII, Henri Vaughan, que chega próximo da descrição desse
lugar – esse amplo centro escuro que era o lar do Divino.
“Existe
em Deus, alguns dizem, uma profunda e ofuscante escuridão...”
Era
exatamente isto: uma escuridão absoluta que também era repleta de luz.
As
perguntas e as respostas continuavam. A “voz” desse Ser era cálida e pessoal –
por mais estranho que isso possa soar. Ele entendia os humanos, possuía as
qualidades que nós possuímos, só que numa escala muito maior.
Ele
me conhecia profundamente e transbordava virtudes que sempre associei aos seres
humanos: afeto, compaixão, emoção... até mesmo ironia e humor.
Por
meio da Órbita, Om me disse que não existe apenas um Universo, mas muitos – na
verdade, mais do que eu poderia conceber –, e que o amor está no centro de
todos eles.
O
mal também estava presente em todos os outros universos, porém em quantidades
muito pequenas. O mal era necessário porque sem ele o livre-arbítrio era
impossível, e sem livre-arbítrio não poderia haver crescimento – nenhum avanço,
nenhuma chance de nos tornarmos o que Deus desejou que fôssemos. Por mais
horrível e poderoso que o mal pareça, o amor é avassaladoramente maior, e
triunfará no final.
Vi
a abundância da vida nos incontáveis universos, incluindo alguns cuja inteligência
estava muito além da nossa. Vi que existem incontáveis dimensões superiores,
mas que a única maneira de conhecê-las é experimentando-as diretamente. Elas
não podem ser conhecidas ou entendidas de um espaço dimensional inferior.
Causa
e efeito existem nesses reinos mais elevados, mas de maneira diferente da nossa
concepção terrena. O nosso tempo e espaço estão unidos, de maneira íntima e
complexa, com esses universos mais avançados. Em outras palavras, esses mundos
não estão totalmente separados do nosso, porque todos os mundos fazem parte da
mesma e abrangente Realidade divina. Daqueles universos mais avançados se pode acessar
qualquer tempo ou lugar do nosso mundo.
Seria
necessário o resto de minha vida, e um pouco mais, para relatar o que aprendi
ali.
O
conhecimento transmitido a mim não foi “ensinado” como se ensina História ou
Matemática. Os ensinamentos vinham diretamente, sem que eu precisasse ser
convencido. O conhecimento era armazenado sem memorização, instantaneamente e
sem esforço. Ele não desaparecia, como acontece com a informação comum – e até
o dia de hoje eu o retenho, com mais clareza do que guardo as informações que
acumulei
em todos os meus
anos de estudo.
Isso,
no entanto, não quer dizer que eu possa acessar esse conhecimento com
facilidade. Porque, agora que estou de volta à dimensão terrena, tenho que
processá-lo através dos limites do meu cérebro e do meu corpo físico.
Mas
o conhecimento está lá. Eu o sinto, repousando no centro do meu ser.
Para
uma pessoa como eu, que passou toda a vida trabalhando duro para acumular
conhecimento e sabedoria da maneira tradicional, a descoberta desse nível mais
avançado de aprendizado foi, por si só, o bastante para alimentar meu
pensamento pela vida fora.”
Ninguém
melhor do que um grande neurocirurgião para, passando por uma Experiência de
Quase-Morte como essa, para analisá-la. No Anexo B do seu livro, ele escreveu:
“Hipóteses
neurocientíficas que levei em conta para explicar minha experiência”
Ao
analisar minhas recordações com vários outros neurocirurgiões e cientistas,
aventei diversas hipóteses que poderiam justificar minhas lembranças. Mas, indo
direto ao ponto, nenhuma delas foi capaz de explicar a rica, intensa e complexa
interatividade das minhas experiências com o Portal e com o Núcleo (a
“ultrarrealidade”). Essas hipóteses incluíram:
1. Uma
programação primitiva do tronco encefálico para aliviar a dor e o sofrimento
terminal (um “argumento evolutivo” – talvez um resquício das estratégias de
“morte de mentira” de mamíferos inferiores?). Isso não explica a natureza
intensa e interativa das minhas recordações.
2. A evocação
distorcida de lembranças vindas das partes mais profundas do sistema límbico
(por exemplo, a amígdala lateral), que são recobertas por tecido cerebral
suficiente para deixá-las relativamente protegidas da inflamação das meninges,
que acontece sobretudo na superfície do cérebro. Isso não explica a natureza
intensa e demasiado interativa das minhas lembranças.
3. Bloqueio
endógeno de transmissão glutamatérgica com a excitotoxicidade, imitando o
anestésico alucinógeno cetamina (hipótese algumas vezes utilizada para explicar
a EQM de maneira geral). Eu mesmo testemunhei os efeitos da cetamina usada como
um anestésico no início da minha carreira como neurocirurgião na faculdade de
medicina de Harvard. O estado alucinatório que essa droga produzia era caótico
e desagradável, e sem nenhuma semelhança com a minha experiência no coma.
4. Liberação de
grandes quantidades de N,N-dimetiltriptamina (DMT) pela glândula pineal ou em
alguma outra parte do cérebro. A DMT, um agonista natural de serotonina (que
age especificamente sobre receptores 5-HT1A, 5HT2A e 5HT2C), provoca alucinações
intensas e um estado onírico. Tive experiências pessoais com drogas agonistas e
antagonistas de serotonina, como o LSD e a mescalina, na minha juventude nos
anos 1970. Nunca usei DMT, mas vi pacientes sob o efeito dessa substância. O
ultrarrealismo que vivenciei requereria um neocórtex visual e auditivo bastante
intacto para gerar as experiências audiovisuais ricas que eu tive durante o
coma. Mas o coma devido à meningite bacteriana danificou gravemente o meu
neocórtex, que é onde toda a serotonina vinda do núcleo da rafe, no tronco
encefálico (ou a DMT), teria tido efeitos sobre a experiência visual e
auditiva. Com meu córtex apagado, a DMT não teria um local no cérebro onde atuar.
Assim, essa hipótese fracassou com base na incompatibilidade entre a riqueza de
detalhes da minha experiência audiovisual e a ausência de um córtex sobre o
qual a DMT pudesse atuar.
5. A preservação
de regiões corticais isoladas poderia explicar algumas das minhas experiências,
mas isso era muito improvável devido à gravidade da minha meningite e à sua
resistência ao tratamento durante uma semana. Eu tinha mais de 27.000 glóbulos
brancos periféricos por mm³, dos quais 31% de neutrófilos imaturos com granulações
tóxicas; mais de 4.300 glóbulos brancos por mm3, 1,0 mg/dl de glicose, e 1.340
mg/dl de proteína no líquido cefalorraquidiano; comprometimento difuso da
meninge com anormalidades associadas no cérebro, segundo a tomografia computadorizada,
e, por fim, alterações graves da função do córtex e da mobilidade extraocular,
segundo exames neurológicos, indicativos de danos no tronco encefálico.
6. Para explicar
a “ultrarrealidade” da experiência, também sondei esta hipótese: seria possível
que redes de neurônios inibitórios pudessem ter sido predominantemente
afetadas, proporcionando altos níveis de atividade entre redes neuronais
excitatórias para produzir o aparente “ultrarrealismo” da minha experiência?
Espera-se que a meningite cause distúrbios prioritariamente no córtex
superficial, deixando as camadas mais profundas parcialmente ativas. A unidade computacional
do neocórtex é a “coluna funcional” de seis camadas, cada uma com diâmetro
lateral de 0,2-0,3mm. Existe um número significativo de conexões laterais entre
colunas imediatamente adjacentes que trazem sinais modulatórios sobretudo de
regiões subcorticais (o tálamo, núcleos da base e tronco encefálico). Cada coluna
funcional tem um componente na superfície (camadas 1-3), de forma que a
meningite perturba a função de cada coluna ao danificar as camadas da
superfície do córtex. A distribuição anatômica das células inibitórias e
excitatórias, bastante equilibrada ao longo das seis camadas, inviabiliza essa
hipótese. A meningite difusa sobre a superfície do cérebro incapacita o
neocórtex por completo devido a essa arquitetura colunar. Mesmo assim, uma
destruição completa seria desnecessária para que houvesse um comprometimento
funcional total. Dado o curso prolongado (por sete dias) do meu comprometimento
neurológico e a gravidade da infecção, é improvável que mesmo as camadas mais
profundas do córtex ainda estivessem funcionando.
7. O tálamo, os
núcleos da base e o tronco encefálico são estruturas cerebrais mais profundas
(“regiões subcorticais”) que alguns colegas postulam que poderiam ter
contribuído para a origem de tais experiências hiperreais. Na verdade, nenhuma
dessas estruturas poderia desempenhar qualquer um desses papéis sem que ao
menos algumas regiões do neocórtex estivessem intactas. Todos nós concordamos,
no final, que essas estruturas subcorticais, por si sós, não poderiam dar conta
das computações neurais intensas que uma riquíssima experiência interativa
teria exigido.
8. Cogitei o
“fenômeno de reinicialização”, uma evocação aleatória de memórias dispersas
devido a lembranças antigas do neocórtex danificado, que pode ocorrer no
retorno do córtex à consciência depois de uma falha prolongada no sistema, como
na meningite difusa que sofri. Principalmente devido à sofisticação das minhas recordações,
isso parece muito improvável.
9. Uma geração
extraordinária de memória por meio de vias visuais evolutivamente antigas no
mesencéfalo, usada predominantemente nos pássaros e identificada muito
raramente em seres humanos. Isto pode ser demonstrado em humanos que são
corticalmente cegos, devido a um dano no córtex occipital. Mas não explica a ultrarrealidade
que vivenciei, além de não contemplar o entrosamento audiovisual das minhas
experiências.”
Ao que tudo indica, a
Espiritualidade Superior utilizou-se de um neurocirurgião, da envergadura do
Dr.Eben, para nos dar uma resposta às teorias materialistas sobre as
Experiências de Quase-Morte. Além disso, para mostrar aquilo que nos espera
quando evoluirmos, quando nos empenharmos em nossa luta contra os nossos
instintos inferiores como o egoísmo, o orgulho, a vaidade e o apego aos bens
materiais.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ALEXANDER, Eben. Uma prova do céu. A jornada de um neurocirurgião à vida após a morte.Rio de
Janeiro.Sextante [2012]