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da imagem:
http://www.triangulodafraternidade.com/2014/09/fascinacao-e-engambelo-o-que-parece-ser.html
Fábio
José Lourenço Bezerra
Dando
continuidade ao nosso texto “O Cuidado Que Devemos Ter Com as Mensagens e Obras Mediúnicas”,
neste blog, tratamos agora da Fascinação,
um fenômeno que poder ocorrer com um médium invigilante, que passa
a transmitir comunicações cheias de ideias errôneas do Espírito
comunicante. Mais um seríssimo motivo para analisarmos
cuidadosamente, à luz da codificação Kardequiana, as comunicações
mediúnicas que tenhamos à mão.
Abaixo,
transcrevemos parte do Capítulo XXIII – DA
OBSESSÃO, de O Livro dos Médiuns, de
Allan Kardec:
“[...]
239. A fascinação tem conseqüências muito mais graves. E uma
ilusão produzida pela ação direta do Espírito sobre o pensamento
do médium e que, de certa maneira, lhe paralisa o raciocínio,
relativamente às comunicações. O médium fascinado não acredita
que o estejam enganando: o Espírito tem a arte de lhe inspirar
confiança cega, que o impede de ver o embuste e de compreender o
absurdo do que escreve, ainda quando esse absurdo salte aos olhos de
toda gente. A ilusão pode mesmo ir até ao ponto de o fazer achar
sublime a linguagem mais ridícula. Fora erro acreditar que a este
gênero de obsessão só estão sujeitas as pessoas simples,
ignorantes e baldas de senso. Dela não se acham isentos nem os
homens de mais espírito, os mais instruídos e os mais inteligentes
sob outros aspectos, o que prova que tal aberração é efeito de uma
causa estranha, cuja influência eles sofrem.
Já
dissemos que muito mais graves são as conseqüências da fascinação.
Efetivamente, graças à ilusão que dela decorre, o Espírito conduz
o indivíduo de quem ele chegou a apoderar-se, como faria com um
cego, e pode levá-lo a aceitar as doutrinas mais estranhas, as
teorias mais falsas, como se fossem a única expressão da verdade.
Ainda mais, pode levá-lo a situações ridículas, comprometedoras e
até perigosas. Compreende-se facilmente toda a diferença que existe
entre a obsessão simples e a fascinação; compreende-se também que
os Espíritos que produzem esses dois efeitos devem diferir de
caráter. Na primeira, o Espírito que se agarra à pessoa não passa
de um importuno pela sua tenacidade e de quem aquela se impacienta
por desembaraçar-se. Na segunda, a coisa é muito diversa. Para
chegar a tais fins, preciso é que o Espírito seja destro, ardiloso
e profundamente hipócrita, porquanto não pode operar a mudança e
fazer-se acolhido, senão por meio da máscara que toma e de um falso
aspecto de virtude. Os grandes termos - caridade, humildade, amor de
Deus - lhe servem como que de carta de crédito, porém, através de
tudo isso, deixa passar sinais de inferioridade, que só o fascinado
é incapaz de perceber. Por isso mesmo, o que o fascinador mais teme
são as pessoas que vêem claro. Daí o consistir a sua tática,
quase sempre, em inspirar ao seu intérprete o afastamento de quem
quer que lhe possa abrir os olhos.
Por
esse meio, evitando toda contradição, fica certo de ter razão
sempre.”
“[...]
243. Reconhece-se a obsessão pelas seguintes características:
1ª
Persistência de um Espírito em se comunicar, bom ou mau grado, pela
escrita, pela audição, pela tiptologia, etc., opondo-se a que
outros Espíritos o façam;
2ª
Ilusão que, não obstante a inteligência do médium, o impede de
reconhecer a falsidade e o ridículo das comunicações que recebe;
3ª
Crença na infalibilidade e na identidade absoluta dos Espíritos que
se comunicam e que, sob nomes respeitáveis e venerados, dizem coisas
falsas ou absurdas;
4ª
Confiança do médium nos elogios que lhe dispensam os Espíritos que
por ele se comunicam;
5ª
Disposição para se afastar das pessoas que podem emitir opiniões
aproveitáveis;
6ª
Tomar a mal a crítica das comunicações que recebe;
7ª
Necessidade incessante e inoportuna de escrever;
8ª
Constrangimento físico qualquer, dominando-lhe a vontade e
forçando-o a agir ou falar a seu mau grado;
9ª
Rumores e desordens persistentes ao redor do médium, sendo ele de
tudo a causa, ou o objeto.
244.
Diante do perigo da obsessão, ocorre perguntar se não é lastimável
o ser-se médium. Não é a faculdade mediúnica que a provoca? Numa
palavra, não constitui isso uma prova de inconveniência das
comunicações espíritas? Fácil se nos apresenta a resposta e
pedimos que a meditem cuidadosamente.
Não
foram os médiuns, nem os espíritas que criaram os Espíritos; ao
contrário, foram os Espíritos que fizeram haja espíritas e
médiuns. Não sendo os Espíritos mais do que as almas dos homens, é
claro que há Espíritos desde quando há homens; por conseguinte,
desde todos os tempos eles exerceram influência salutar ou
perniciosa sobre a Humanidade. A faculdade mediúnica não lhes é
mais que um meio de se manifestarem. Em falta dessa faculdade,
fazem-no por mil outras maneiras, mais ou menos ocultas. Seria, pois,
erro crer-se que só por meio das comunicações escritas ou verbais
exercem os Espíritos sua influência. Esta influência é de todos
os instantes e mesmo os que não se ocupam com os Espíritos, ou até
não crêem neles, estão expostos a sofrê-la, como os outros e
mesmo mais do que os outros, porque não têm com que a
contrabalancem. A mediunidade é, para o espírito, um meio de se
fazer conhecido. Se ele é mau, sempre se trai, por mais hipócrita
que seja. Pode, pois, dizer-se que a mediunidade permite se veja o
inimigo face a face, se assim nos podemos exprimir, e combate-lo com
suas próprias armas. Sem essa faculdade, ele age na sombra e, tendo
a seu favor a invisibilidade, pode fazer e faz realmente muito mal. A
quantos atos não é o homem impelido, para desgraça sua, e que
teria evitado, se dispusesse de um meio de esclarecer-se! Os
incrédulos não imaginam enunciar uma verdade, quando dizem de um
homem que se transvia obstinadamente: "É o seu mau gênio que o
impele à própria perda." Assim, o conhecimento do Espiritismo,
longe de facilitar o predomínio dos maus Espíritos, há de ter como
resultado, em tempo mais ou menos próximo, e quando se achar
propagado, destruir esse predomínio, dando a cada um os meios de se
pôr em guarda contra as sugestões deles. Aquele então que sucumbir
só de si terá que se queixar.
Regra
geral: quem quer que receba más comunicações espíritas, escritas
ou verbais, está sob má influência; essa influência se exerce
sobre ele, quer escreva, quer não, isto é, seja ou não seja
médium, creia ou não creia. A escrita faculta um meio de ser
apreciada a natureza dos Espíritos que sobre ele atuam e de serem
combatidos, se forem maus, o que se consegue com mais êxito quando
se chega a conhecer os motivos da ação que desenvolvem. Se bastante
cego é ele para o não compreender, podem outros abrir-lhe os olhos.
Em
resumo: o perigo não está no Espiritismo, em si mesmo, pois que
este pode, ao contrário, servir-nos de governo e preservar-nos do
risco que corremos incessantemente, à revelia nossa. O perigo está
na orgulhosa propensão de certos médiuns para, muito levianamente,
se julgarem instrumentos exclusivos de Espíritos superiores e nessa
espécie de fascinação que lhes não permite compreender as tolices
de que são intérpretes. Mesmo os que não são médiuns podem
deixar-se apanhar. Façamos urna comparação. Um homem tem um
inimigo secreto, a quem não conhece e que contra ele espalha
sub-repticiamente a calúnia e tudo o que a mais negra maldade possa
inventar. O infeliz vê a sua fortuna perder-se, afastarem-se seus
amigos, perturbada a sua ventura íntima. Não podendo descobrir a
mão que o fere, impossibilitado se acha de defender-se e sucumbe.
Mas, um belo dia, esse inimigo oculto lhe escreve e se trai, não
obstante todos os ardis de que se vale. Eis descoberto o perseguidor
do pobre homem, que desde então pode confundi-lo e se reabilitar.
Tal o papel dos maus Espíritos, que o Espiritismo nos proporciona a
possibilidade de conhecer e desmascarar.”
"[...] 246.
Há, Espíritos obsessores sem maldade, que alguma coisa mesmo
denotam de bom, mas dominados pelo orgulho do falso saber. Têm suas
idéias, seus sistemas sobre as ciências, a economia social, a
moral, a religião, a filosofia, e querem fazer que suas opiniões
prevaleçam. Para esse efeito, procuram médiuns bastante crédulos
para os aceitar de olhos fechados e que eles fascinam, a fim de os
impedir de discernirem o verdadeiro do falso. São os mais perigosos,
porque os sofismas nada lhes custam e podem tornar cridas as mais
ridículas utopias. Como conhecem o prestígio dos grandes nomes, não
escrupulizam em se adornarem com um daqueles diante dos quais todos
se inclinam, e não recuam sequer ante o sacrilégio de se dizerem
Jesus, a Virgem Maria, ou um santo venerado. Procuram deslumbrar por
meio de uma linguagem empolada, mais pretensiosa do que profunda,
eriçada de termos técnicos e recheada das retumbantes palavras
caridade e moral. Cuidadosamente evitarão dar um mau conselho,
porque bem sabem que seriam repelidos. Daí vem que os que são por
eles enganados os defendem, dizendo: Bem vedes que nada dizem de mau.
A moral, porém, para esses Espíritos é simples passaporte, é o
que menos os preocupa. O que querem, acima de tudo, é impor suas
idéias por mais disparatadas que sejam.
247.
Os Espíritos dados a sistemas são geralmente escrevinhadores, pelo
que buscam os médiuns que escrevem com facilidade e dos quais tratam
de fazer instrumentos dóceis e, sobretudo, entusiastas,
fascinando-os. São quase sempre verbosos, muito prolixos, procurando
compensar a qualidade pela quantidade. Comprazem-se em ditar, aos
seus intérpretes, volumosos escritos indigestos e freqüentemente
pouco inteligíveis, que, felizmente, têm por antídoto a
impossibilidade material de serem lidos pelas massas. Os Espíritos
verdadeiramente superiores são sóbrios de palavras; dizem muita
coisa em poucas frases. Segue-se que aquela fecundidade prodigiosa
deve sempre ser suspeita.
Nunca
será demais toda a circunspecção, quando se trate de publicar
semelhantes escritos. As utopias e as excentricidades, que neles por
vezes abundam e chocam o bom-senso, produzem lamentável impressão
nas pessoas ainda noviças na Doutrina, dando-lhes uma idéia falsa
do Espiritismo, sem mesmo se levar em conta que são armas de que se
servem seus inimigos, para ridiculizá-lo. Entre tais publicações,
algumas há que, sem serem más e sem provirem de um obsessão, podem
considerar-se imprudentes, intempestivas, ou desazadas.
248.
Acontece muito freqüentemente que um médium só se pode comunicar
com um único Espírito, que a ele se liga e responde pelos que são
chamados por seu intermédio. Nem sempre há nisso uma obsessão,
porquanto o fato pode derivar da falta de maleabilidade do médium,
de uma afinidade especial sua com tal ou tal Espírito. Somente há
obsessão propriamente dita, quando o Espírito se impõe e afasta
intencionalmente os outros, o que jamais é obra de um Espírito bom.
Geralmente, o Espírito que se apodera do médium, tendo em vista
dominá-lo, não suporta o exame crítico das suas comunicações;
quando vê que não são aceitas, que as discutem, não se retira,
mas inspira ao médium o pensamento de se insular, chegando mesmo,
não raro, a ordenar-lho. Todo médium, que se melindra com a crítica
das comunicações que obtém, faz-se eco do Espírito que o domina,
Espírito esse que não pode ser bom, desde que lhe inspira um
pensamento ilógico, qual o de se recusar ao exame. O insulamento do
médium é sempre coisa deplorável para ele, porque fica sem uma
verificação das comunicações que recebe. Não somente deve buscar
a opinião de terceiros para esclarecer-se, como também necessário
lhe é estudar todos os gêneros de comunicações, a fim de as
comparar. Restringindo-se às que lhe são transmitidas, expõe-se a
se iludir sobre o valor destas, sem considerar que não lhe é dado
tudo saber e que elas giram quase sempre dentro do mesmo círculo.
(N. 192 - Médiuns exclusivos.)
249.
Os meios de se combater a obsessão variam, de acordo com o caráter
que ela reveste. Não existe realmente perigo para o médium que se
ache bem convencido de que está a haver-se com um Espírito
mentiroso, como sucede na obsessão simples; esta não passa então,
para ele, de fato desagradável. Mas, precisamente porque lhe é
desagradável constitui uma razão de mais para que o Espírito se
encarnice em vexá-lo. Duas coisas essenciais se têm que fazer nesse
caso: provar ao Espírito que não está iludido por ele e que lhe é
impossível enganar; depois, cansar-lhe a paciência, mostrando-se
mais paciente que ele. Desde que se convença de que está a perder o
tempo, retirar-se-á, como fazem os importunos a quem não se dá
ouvidos.
Isto,
porém, nem sempre basta e pode levar muito tempo, porquanto
Espíritos há tenazes, para os quais meses e anos nada são. Além
disso, portanto, deve o médium dirigir um apelo fervoroso ao seu
anjo bom, assim como aos bons Espíritos que lhe são simpáticos,
pedindo-lhes que o assistam. Quanto ao Espírito obsessor, por mau
que seja, deve tratá-lo com severidade, mas com benevolência e
vencê-lo pelos bons processos, orando por ele. Se for realmente
perverso, a princípio zombará desses meios; porém, moralizado com
perseverança, acabará por emendar-se. E uma conversão a
empreender, tarefa muitas vezes penosa, ingrata, mesmo desagradável,
mas cujo mérito está na dificuldade que ofereça e que, se bem
desempenhada, dá sempre a satisfação de se ter cumprido um dever
de caridade e, quase sempre, a de ter-se reconduzido ao bom caminho
uma alma perdida.
Convém
igualmente se interrompa toda comunicação escrita, desde que se
reconheça que procede de um Espírito mau, que a nenhuma razão quer
atender, a fim de se lhe não dar o prazer de ser ouvido. Em certos
casos, pode até convir que o médium deixe de escrever por algum
tempo, regulando-se então pelas circunstâncias. Entretanto, se o
médium escrevente pode evitar essas confabulações, outro tanto já
não se dá com o médium audiente, que o Espírito obsessor persegue
às vezes a todo instante com as suas proposições grosseiras e
obscenas e que nem sequer dispõe do recurso de tapar os ouvidos.
Aliás, cumpre se reconheça que algumas pessoas se divertem com a
linguagem trivial dessa espécie de Espíritos, que os animam e
provocam com o rirem de suas tolices, em vez de lhes imporem silêncio
e de os moralizarem. Os nossos conselhos não podem servir a esses,
que desejam afogar-se.
250.
Apenas aborrecimento há, pois, e não perigo, para todo médium que
não se deixe ludibriar, porque não poderá ser enganado. Muito
diverso é o que se dá com a fascinação, porque então não tem
limites o domínio que o Espírito assume sobre o encarnado de quem
se apoderou. A única coisa a fazer-se com a vítima é convencê-la
de que está sendo ludibriada e reconduzir-lhe a obsessão ao caso da
obsessão simples. Isto, porém, nem sempre é fácil, dado que
algumas vezes não seja mesmo impossível. Pode ser tal o ascendente
do Espírito, que torne o fascinado surdo a toda sorte de raciocínio,
podendo chegar até, quando o Espírito comete alguma grossa heresia
científica, a pô-lo em dúvida sobre se não é a ciência que se
acha em erro. Como já dissemos, o fascinado, geralmente, acolhe mal
os conselhos; a crítica o aborrece, irrita e o faz tomar quizila dos
que não partilham da sua admiração. Suspeitar do Espírito que o
acompanha é quase, aos seus olhos, uma profanação e outra coisa
não quer o dito Espírito, pois tudo o a que aspira é que todos se
curvem diante da sua palavra.
Um
deles exercia, sobre pessoa do nosso conhecimento, uma fascinação
extraordinária. Evocamo-lo e, depois de umas tantas fanfarrices,
vendo que não lograva mistificar-nos quanto à sua identidade,
acabou por confessar que não era quem se dizia. Sendo-lhe perguntado
por que ludibriava de tal modo aquela pessoa, respondeu com estas
palavras, que pintam claramente o caráter desse gênero de Espírito:
Eu procurava um homem que me fosse possível manejar; encontrei-o,
não o largo. - Mas se lhe mostrais as coisas como são, ele vos
soltará isto: -É o que veremos! Como não há cego pior do que
aquele que não quer ver, reconhecida a inutilidade de toda tentativa
para abrir os olhos ao fascinado, o que se tem de melhor a fazer é
deixá-lo com as suas ilusões. Ninguém pode curar um doente que se
obstina em conservar o seu mal e nele se compraz.”
BIBLIOGRAFIA
CONSULTADA:
KARDEC,
Allan. O livro dos médiuns:
guia dos médiuns e evocadores. Rio de janeiro: FEB.
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