terça-feira, 10 de setembro de 2013

O ESPIRITISMO PODE SER CONSIDERADO UMA CIÊNCIA?



Fábio José Lourenço Bezerra

      Apesar do desconhecimento de grande parte da população mundial, além da desinformação propagada por determinados segmentos de instituições religiosas e cientistas crentes no materialismo, o Espiritismo é, de fato, uma ciência. Extraímos, na sua maior parte, um excelente artigo sobre este tema do site Portal do Espírito, de autoria de Charles Kempf. Grande divulgador do Espiritismo pelo mundo, Kempf é engenheiro, formado na École Nationale Supérieure des Mines de Paris, atuando na área de centrais elétricas. Artigo com tradução de Paulo A. Ferreira e revisão de Lúcia F. Ferreira.

“ INTRODUÇÃO
As palavras espiritualismo e espiritualista têm uma acepção muito geral: qualquer um que acredite ter em si outra coisa além da matéria é espiritualista. Ao contrário, os termos ESPIRITISMO e ESPÍRITA são neologismos, isto é, palavras inventadas por seu codificador, Allan Kardec.
Allan Kardec definiu o Espiritismo como "uma ciência que trata da natureza, da origem e do destino dos Espíritos, e de suas relações com o mundo corporal”.
O Espiritismo é então bem definido como uma ciência. Mas se distingue das disciplinas científicas já estabelecidas e estudadas nas academias pelo objeto de seus estudos: o elemento espiritual.”

“O ESPIRITISMO FACE AOS CONCEITOS CLÁSSICOS E MODERNOS DA CIÊNCIA
A Ciência é geralmente definida como "um conjunto de conhecimentos sobre um determinado objeto, obtido por certos critérios metódicos e sistemáticos, em um sistema construído logicamente”. A física é o exemplo típico.
Não desejamos entrar aqui nos debates filosóficos sobre a validade dos conceitos e dos métodos científicos, o que está longe de ter unanimidade. Com efeito, "este ramo da filosofia tem evoluído bastante nos quatro últimos decênios, nos oferecendo hoje uma concepção da ciência muito mais fiel à sua história”6.
Limitar-nos-emos a apresentar sumariamente certos conceitos e depois examinaremos suas relações com o Espiritismo.

CONCEITOS CLÁSSICOS
Entre o século XVI e meados do século XX, a Ciência estava caracterizada pela adoção do "método racional" ou "método científico". Leonard da Vinci, Pascal, Bacon, Lavoisier, Descartes e Newton sublinharam a regra fundamental da experiência e da observação nas ciências da natureza. Nenhuma hipótese deveria intervir durante a observação, as leis eram deduzidas a posteriori. O método experimental tem sido estendido a diversos setores, desde a biologia à fisiologia. Estes conceitos clássicos predominam ainda em nossos dias no público e subsistem mesmo entre os cientistas.
Allan KARDEC afirma que "o Espiritismo não coloca como princípio absoluto senão o que está demonstrado como uma evidência, ou o que ressalta logicamente da observação”7"Como meio de elaboração, o Espiritismo procede exatamente da mesma maneira que as ciências positivas, isto é, aplica o método experimental.Fatos de uma ordem nova se apresentaram que não podem ser explicados pelas leis conhecidas; ele as observa, compara, analisa, e, dos efeitos remonta às causas, chega à lei que os rege; depois, deduz as conseqüências e busca aplicações úteis "8.
Kardec emprega a expressão "ciência positiva", mas isso não significa que o Espiritismo aceite a metodologia e a ideologia positivista de Auguste Comte.
Com efeito, nesta época, a Ciência estava se impondo no centro do conhecimento humano. As leis novas não podiam ser incompatíveis com as leis estabelecidas. Estavam presas nas verdades absolutas, inquebrantáveis, que não se tinha mais necessidade de questionar: segundo o positivismo de Auguste Comte, uma vez o conhecimento tivesse sido estabelecido, apenas teria que progredir. O determinismo de Laplace, o atomismo, o cientificismo estava florescendo, e pretendia-se que a ciência poderia explicar e prever todos os fenômenos naturais. Não havia mais necessidade de se considerar a noção de divindade. Tinha-se mesmo chegado a invocar a idéia de que "a ciência tinha chegado ao seu fim" (Marcelin Berthelot).
Allan Kardec soube evitar este escolho, perguntando humildemente àqueles que pretendiam deter o privilégio da verdade: "Qual é o homem que pode gabar-se de possuir tudo, quando o círculo dos conhecimentos cresce sem cessar, e as idéias se retificam a cada dia?"9
Entrevendo no Espiritismo uma nova ordem de fatos e idéias, Kardec abriu uma nova via. Ele soube comparar, refletir, aplicar o método experimental e estruturar um pensamento progressista sobre a questão espiritual: "O objeto especial do Espiritismo é o conhecimento das leis do princípio espiritual, (...) uma das forças da natureza, que reage incessante e reciprocamente sobre o princípio material."10
Mas os fatos espíritas "têm por agentes inteligências que têm sua independência, seu livre-arbítrio e escapam por isso aos nossos procedimentos de laboratório e aos nossos cálculos, e assim não são mais da alçada da ciência propriamente dita."11
Reconhecendo as qualidades da Ciência como escola de abertura e de humildade, e consciente da falibilidade do conhecimento humano, Kardec afirma todavia que "o Espiritismo e a Ciência se completam um ao outro: a Ciência, sem o Espiritismo, se encontra impotente para explicar certos fenômenos somente pelas leis da matéria; ao Espiritismo, sem a Ciência, faltaria o apoio e o controle."12

CONCEITOS MODERNOS
No século XX, a Mecânica Relativista e a Física Quântica balançaram as teorias clássicas, que passaram a ser vistas como idealizações que só podem ser aplicadas dentro de certos limites. O espaço e o tempo perderam seu caráter absoluto. Com o advento do Princípio da Incerteza de Heisenberg, os raciocínios clássicos, baseados na exatidão, pouco a pouco cederam terreno aos raciocínios probabilísticos. Esta época marca então um giro na história das ciências. A revisão radical dos conceitos fundamentais recolocou em pauta um bom número de princípios filosóficos ligados à ciência e à metodologia, acarretando as crises do positivismo e do determinismo. "Nenhuma lei teórica pode sair de um conjunto de fatos de maneira lógica e infalível”.
Segundo Paul Langevin, "os físicos têm sido obrigados a refletir de forma mais precisa na maneira como trabalham e na filosofia de sua ciência”. Assim, houve uma reaproximação entre a ciência e a filosofia. Isoladamente, ninguém pode reivindicar a hegemonia no domínio do conhecimento. No livro "A lógica da descoberta científica", de Karl Popper, filósofo britânico, foi introduzido em 1934 o critério da falibilidade: uma lei científica é válida até que os fatos provem onde e como ela é falsa. Ela então não tem mais necessidade de ser inquebrantável para ser científica (o que está conforme ao princípio da humildade).
Em 1962, Thomas Kuhn, professor de Física do MIT (Universidade de Massachusetts), apaixonado pela história e filosofia da Ciência, publicou "A Estrutura das Revoluções Científicas". Ele introduziu o conceito de paradigma (modelo). "Os paradigmas são descobertas científicas universalmente reconhecidas que, por um tempo, fornecem a uma comunidade de pesquisadores problemas típicos e soluções”. A ciência progride por revoluções, onde as certezas científicas e os paradigmas devem ser revistos e numerosos fundamentos perdem sua validade.
As idéias de Imre Lakatos caminham no mesmo sentido. Segundo ele, a ciência se desenvolve segundo um programa científico de pesquisa, que consiste em um núcleo rígido de hipóteses fundamentais, envolvidas por hipóteses auxiliares, ajustando o núcleo central. Esse programa científico evolui, e é dito progressivo se permite explicar novos fatos, e degenerativo no caso contrário. Neste último caso, é preciso elaborar um novo programa de pesquisa.
A ciência moderna tem então evoluído para "um clima de inexatidão racional, compatível com o livre-exame e incompatível com todo princípio que se pretenda absoluto”. 13
Ela reconhece mesmo as hipóteses à priori para preservar as leis em vigor, e a história mostra que isso é produtivo. Foi o caso na hipótese da existência de um corpo celeste influenciando a trajetória de Urano, tendo acelerado a descoberta de Netuno.
Certos cientistas, como Fritjof Capra, são mesmo abertos "ao misticismo, capaz de lhes fornecer a matéria prima para a elaboração de hipóteses experimentais”.14 Professor de Física na Universidade de Berkeley na Califórnia, Capra declarou em 1975, em seu livro "O Tao da Física", que "o método científico de abstração é muito eficaz e possante, mas não devemos lhe pagar o preço. À medida que definimos mais precisamente nossos sistemas conceituais, que traçamos um perfil e elaboramos relações mais e mais rigorosas, cada vez mais eles se desligam do mundo real." Dito de outra forma, os cientistas, para manipular a Natureza das coisas, devem utilizar modelos tão complexos que não são mais acessíveis senão à uma elite, se afastando então do mundo dos sentidos comuns...
Capra afirma que existem outras aproximações possíveis da realidade. Cita o misticismo oriental: com a intuição liberada e isenta do conservadorismo da linguagem e das percepções restritas dos sentidos, o homem oriental percebe a verdadeira natureza das coisas. Segundo Capra, a Física moderna se aproxima desse estado de espírito.
Paul K. Feyerabend, físico ensinando na Universidade de Berkeley na Califórnia e na Universidade de Zurich, colaborador de Thomas Kuhn, sublinha as restrições da metodologia científica, e toma mesmo posição contrária em seu livro "Contra o método". A Ciência não seria senão uma ideologia, pura formalização de conceitos simbólicos aceitos por uma comunidade para propor e abordar uma certa ordem de fatos. Afirma, também, "que é preciso em nossas invenções um novo sistema conceitual, que suspenda os resultados já cuidadosamente estabelecidos das observações, ou que com eles se choquem; um sistema que confunda os princípios teóricos mais plausíveis, e que introduza percepções que podem não fazer parte do mundo percebido já existente”.Dito de outra forma, a multiplicidade das aproximações metodológicas é a melhor maneira de produzir um conhecimento científico; "O único princípio que não inibe o progresso é: tudo é permitido”.Entendamos por isso que os preconceitos e a dificuldade em se colocar algo em questão são um freio ao progresso científico.
Enfim, notemos que essas idéias são próximas daquelas na base das técnicas criativas modernas, chamadas "brain storming" nos países de influência inglesa (remue méninges). Seu princípio de ação está longe de ser elucidado, mas dão resultados e já são largamente utilizados. Os participantes das seções de criatividade recusam a censura, devem fazer abstração dos bloqueios (culturais, perceptivos, etc.), tabus e idéias já recebidas, afim de se colocar em um estado mais favorável possível à inspiração e à produção de idéias. As seções são por vezes organizadas após uma noite de incubação do problema a ser tratado (a noite então traria efetivamente conselhos...).
As concepções modernas sobre a metodologia tendem então à relativizar e à desmistificar o conhecimento científico, considerado como uma aproximação, entre outros utilizados pelo homem para representar e manipular o universo onde ele vive. Certamente, o conhecimento científico é reconhecido e respeitado sob numerosos aspectos, mas sem o espírito de sistema que pretende, de forma absoluta, submeter tudo à estreiteza analítica de uma metodologia.
O objeto dos estudos do Espiritismo sendo diferente daquele das ciências materialistas, não há lugar para os comparar diretamente, salvo nas interfaces ou nos pontos comuns. A coerência de conjunto entre a Doutrina Espírita e as outras ciências permanece intacta, mesmo após este período de revolução científica, tanto pelo conteúdo dos princípios quanto pela metodologia.
Certas revelações dos Espíritos, anteriores a 1857, parecem mesmo estar ainda mais adiante. Por exemplo, à questão n°22 do Livro dos Espíritos:
"Define-se geralmente a matéria como: o que se ouve, o que pode causar impressão sobre nossos sentidos e o que é impenetrável; essas definições são exatas?
Os espíritos respondem:
«No seu ponto de vista, isso é exato porque vocês falam apenas daquilo que conhecem, mas a matéria existe em estados que são desconhecidos para vocês; ela pode ser, por exemplo, de tal forma etérea e sutil, que não faça nenhuma impressão sobre os sentidos, entretanto é sempre matéria, embora para vocês assim não seja. »
Da mesma forma, respondendo à questão n°27, os espíritos revelam a existência de um fluido universal, cujas modificações seriam a origem da matéria tangível, de sua massa, das forças de gravitação e das interações, assim como de outras propriedades físicas. Essas revelações não estão em contradição com as leis físicas conhecidas, como a lei da relatividade (a célebre fórmula E=mc2), enunciada 50 anos mais tarde. Elas poderiam simplesmente sugerir que esta lei não se aplica senão à matéria sob a forma que conhecemos, mas não, por exemplo, ao pensamento ou à matéria que reveste os espíritos. Esses últimos afirmam poder percorrer, quase instantaneamente, grandes distâncias e ter uma noção do tempo diferente da nossa.
Por outro lado, os pesquisadores estão sempre em busca da Teoria da Grande Unificação, da massa faltante do Universo, da explicação da gravidade, da estrutura íntima da matéria, da significação intrínseca das constantes como a da gravitação (G), a constante de ação de Plank (h), a velocidade da luz no vácuo (c), a temperatura do zero absoluto, etc. É pena que explorem muito pouco o filão das idéias reveladas pelos espíritos e conhecidas por outras religiões orientais.
No que concerne à metodologia, Kardec tinha sublinhado, desde 1857, a necessidade de desmistificar o saber totalitário das corporações científicas afirmando que, para muita gente, a oposição do corpo de sábios é, se não uma prova, pelo menos uma forte pretensão contrariada. Não somos daqueles que criam um reboliço contra os sábios, porque não queremos que digam de nós que damos coices: ao contrário, os temos em grande estima, e ficaremos fortemente honrados em contá-los entre nós; mas sua opinião não poderia ser, em todas as circunstâncias, um julgamento irrevogável. (...)
Para coisas de notoriedade, a opinião dos sábios fazem fé, com justiça, porque que eles sabem mais e melhor do que o vulgo; mas tratando-se de princípios novos, de coisas desconhecidas, sua maneira de ver é sempre apenas hipotética, porque eles não estão, mais que os outros, isentos de preconceitos."15
Por outro lado, sublinhando o caráter progressista do pensamento espírita, Kardec se separa do positivismo. Ele entreviu a idéia do critério da falibilidade de Popper, como o princípio das hipóteses auxiliares ajustando o núcleo central estável, segundo as concepções de Lakatos, acrescentando:
"O Espiritismo, caminhando com o progresso, não será jamais ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem que está em erro sobre um ponto, ele se modificará sobre esse ponto; se uma nova verdade se revelar, ele a aceitará."16
Os fatos espíritas existiram em todos os tempos, mas Allan Kardec os codificou com precisão, estabelecendo princípios teóricos, métodos, critérios e valores para as pesquisas e mesmo vários exemplos concretos de problemas resolvidos pela teoria espírita. Uma análise mais detalhada17 permite afirmar que ele nos legou, assim, um verdadeiro paradigma científico, no sentido dado por Kuhn, que não deixa nada a invejar aos outros paradigmas científicos como a termodinâmica, a mecânica relativística, etc.
Da mesma forma, o Espiritismo tem todas as características de um programa científico de pesquisa progressiva, constituindo uma ciência legítima segundo Lakatos. "Seu núcleo de princípios fundamentais está ligado à existência, à preexistência e à sobrevivência do espírito, sua evolução, seu livre arbítrio, à lei de causalidade, etc."18 Os princípios auxiliares concernem à natureza do perispírito, à reencarnação, à condição do espírito após a morte e religam os princípios fundamentais aos fenômenos.
Todavia, o paradigma espírita não sofre de nenhuma acumulação de anomalias, e apresenta uma grande estabilidade. Ele é mesmo um núcleo de princípios fundamentais, que não é degenerativo. Pode-se tentar explicar pelas seguintes razões:
·                     A maior parte dos princípios espíritas é deduzida de uma multiplicidade de fenômenos por uma observação empírica direta. Eles não necessitam de teorias ou de aparelhagens complexas para uma observação indireta, como é o caso da Física que é mais vulnerável. A Doutrina Espírita foi expressa em termos simples, acessíveis à maioria.
·                     Inspirado pela espiritualidade, Kardec possuía um sentido científico e filosófico avançado para sua época, como o demonstram sua obra e a pertinência de certas dissertações explícitas sobre o método científico19, mesmo após quase 140 anos.
·                     O Espiritismo constitui uma revelação cujo caráter está claramente definido por Kardec20:
"Por sua natureza, a revelação espírita tem um duplo caráter: consiste ao mesmo tempo da revelação divina e da revelação científica. O primeiro, porque seu advento é providencial, e não o resultado da iniciativa ou de um propósito premeditado pelo homem; porque os pontos fundamentais da doutrina são de fato o ensinamento dado pelos Espíritos encarregados por Deus de esclarecer os homens sobre as coisas que ignoram, que não poderiam aprender por si mesmos, e que lhes importa conhecer, hoje que já estão maduros para os compreender. O segundo, porque este ensinamento não é o privilégio de nenhum indivíduo, mas é dado a todos da mesma forma; porque aqueles que o transmitem e os recebem não são absolutamente seres passivos, dispensados do trabalho de observação e de pesquisa; porque não devem abnegar de seu julgamento e de seu livre arbítrio; porque o controle não lhes está interdito mas, ao contrário, recomendado; enfim, porque a doutrina não foi de forma alguma ditada integralmente, nem impõe a crença cega; porque ela é deduzida pelo trabalho do homem, pela observação dos fatos que os Espíritos colocaram sob seus olhos, e pelas instruções que lhes deram. Essas instruções ele estuda, comenta, compara, tirando então, por si mesmo, suas conseqüências e aplicações. Em uma palavra, o que caracteriza a revelação espírita, é que a fonte é divina, a iniciativa pertence aos Espíritos, e sua elaboração vem do trabalho do homem."
Dizendo que os fundamentos de base do Espiritismo são revelados pelos Espíritos, Kardec os coloca além da percepção humana, em um nível de percepção mais extenso que é aquele dos Espíritos liberados do corpo físico. Isto é confirmado pela afirmação seguinte de Feyerabend: "Não podemos descobrir o mundo interior. Falta-nos uma norma crítica externa; um jogo de hipóteses sobressalentes; mas, como estas hipóteses seriam muito gerais e constituiriam, por assim dizer, um universo inteiro de trocas, nos falta um mundo onírico para descobrir as características do mundo real em que acreditamos habitar”.
Todavia, o modelo enunciado pelos Espíritos e codificado por Kardec não provém de um mundo onírico, mas de um mundo bem real. Submetendo-se a conceitos externos, fora do mundo material, os homens podem se informar sobre "coisas que ignoram, que não poderiam aprender por si mesmos, e que importa conhecerem, hoje que estão maduros para os compreender": essas são as coisas espirituais.
Kardec diz igualmente que "até que surja um fato novo que não ressalte de nenhuma ciência conhecida, o sábio, para estudá-lo, deve fazer abstração de sua ciência e reconhecer que é para ele um estudo novo que não pode ser feito com idéias preconcebidas. "21
Não estaria isso de acordo com um dos princípios de base das técnicas de ‘brain storming’, onde se liberam idéias preconcebidas para resolver problemas difíceis?

ASPECTOS DO CONHECIMENTO

CIÊNCIA
O Espiritismo possui então certas características da ciência: ele aplica o método experimental, vai às causas e às leis que regem os fenômenos, encoraja a objetividade, o espírito crítico e o desinteresse.
"Certamente, se dirá que os seres são um pouco especiais e os eventos mais que insólitos. A isto, é fácil responder. O estudo dos desencarnados não pode ser do domínio da biologia ou das ciências naturais. Quanto aos eventos (as relações dos humanos com os Espíritos), eles não são do domínio da história ou da sociologia. E, contudo, esses seres e eventos existem” 22. "E, contudo, se movem?" acrescenta Kardec ao assunto das mesas, parafraseando Galileu. "Os fatos não cessam de existir porque se os ignora" acrescenta Aldous Huxley.
Kardec "antecipou a pós-modernidade científica", tratando os temas espirituais com a mesma razão que se aplica às questões materiais, demonstrando experimentalmente a existência do espírito, sua natureza, sua evolução contínua ao curso das reencarnações sucessivas, etc.
A metapsíquica e as diversas correntes da parapsicologia estudam em parte os mesmos fenômenos que o Espiritismo, e certamente com outro tanto de rigor por seu aspecto tangível. Todavia, essas disciplinas têm apresentado falhas das quais citamos aqui alguns exemplos 23:
·                     elas acumulam os fatos, segundo as antigas concepções clássicas, sem elaborar um corpo teórico diretor;
·                     limitam-se, voluntariamente, à seu aspecto externo e à hipótese materialista, mas as explicações, quando fornecidas, são freqüentemente isoladas, formando um conjunto amorfo. Por vezes, são puramente nominais;
·                     as hipóteses são, por vezes, muito abstratas e ainda mais fantásticas que os fatos que elas procuram explicar24;
·                     não levam sempre em conta todos os fenômenos; freqüentemente, fatos importantes não são reconhecidos, seja pela ausência de teoria diretriz, seja pelas idéias preconcebidas ou pela negação a priori da sobrevivência do ser;
·                     privilegiam por vezes o aspecto quantitativo, pelo viés dos equipamentos, sem se assegurar previamente de sua validade para o aspecto qualitativo;
·                     numerosas obras sobre essas questões demonstram, da parte de seus autores, um certo menosprezo pelo passado, e uma tendência à retomar as pesquisas à partir do zero;
·                     enfim, os fatores de ordem moral ou ética são raramente levados em consideração.
O Espiritismo demonstra que, devido à independência dos espíritos, o meio e a harmonia dos pensamentos têm uma enorme influência sobre a natureza das manifestações inteligentes, e o experimentador deve levar isso em conta.



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