domingo, 17 de fevereiro de 2008

A REENCARNAÇÃO


Fábio José Lourenço Bezerra 

          Pense, por uns instantes, em todas as pessoas ao redor do mundo. Elas são bastante diferentes e vivem nas mais diversas condições, não é verdade?     
Algumas pessoas já nasceram ricas, tendo a oportunidade de usufruir de todas as coisas que o dinheiro pode comprar: boa formação intelectual, boa alimentação, os melhores médicos e hospitais à sua disposição, todos os tipos de bens móveis e imóveis, etc..Outros conseguiram tudo isso acima através de muito esforço e dedicação, honestamente ou através de meios ilícitos e prejudiciais ao seu próximo, tendo nascido em família de poucas posses. Em contrapartida, vemos pessoas que nasceram na mais extrema miséria, alimentando-se insuficientemente e exposta às doenças causadas pela falta de noções de higiene e saneamento básico, comprometendo assim a sua saúde e o seu desenvolvimento físico e mental. Isso sem falar na sua formação intelectual extremamente precária.
Uns nascem cheios de saúde, tendo adquirido muito poucas doenças ao longo da vida, enquanto que outros já nasceram doentes, às vezes com quadro de muito sofrimento durante toda a vida.
Uns vivem até os noventa anos ou mais, enquanto que outros morrem na mais tenra idade, com dez, cinco, dois anos e daí por diante.
Vemos pessoas de índole muito boa, capazes dos maiores sacrifícios pelo bem do seu próximo, a exemplo de Gandhi, Irmã Dulce, Madre Tereza de Calcutá, Chico Xavier e Francisco de Assis. Outros são extremamente cruéis, sanguinários, sádicos, a exemplo de Adolf Hitler, Mussolini e os assassinos em série. Temos pessoas de extrema inteligência, como no caso de Albert Einstein e Stephen Hawking e pessoas de inteligência e cultura medíocres, além daqueles com doenças mentais.
Se percorrermos a história humana, veremos que o homem já esteve em péssimas condições, devido à ausência dos recursos que o desenvolvimento das ciências e da tecnologia pôde proporcionar, como os medicamentos, as vacinas, os exames médicos, a anestesia, os meios de transporte e comunicação, etc. Isso sem falar na escravidão, nas constantes guerras entre os povos, e daí por diante.
Admitamos agora a existência de Deus, Inteligência suprema e causa primeira de todas as coisas, possuidor dos atributos onipotência e soberana justiça e bondade. Como pode um Deus infinitamente justo e bom, que tudo sabe e tudo pode, permitir tamanha desigualdade de condições entre seus filhos, seja entre os do presente, seja entre os do presente e do passado? 
Se nós deixamos de existir após a morte, então Deus cria vários seres para viverem uma existência cheia de sofrimento, com a saúde comprometida, às vezes por toda a vida, a outros não é dado tempo para adquirir maturidade e outros possuem plenas condições de desfrutarem dos prazeres terrenos, para em um breve tempo jogá-los no nada. E as amizades, as pessoas que se amam, todas, sem exceção, deixariam de existir. De nada valeria tudo o que se aprende ao longo da vida.
            Portanto, se Ele possui os atributos supracitados, só podemos chegar à conclusão de que existe vida após a morte.
Contudo, se passamos por  uma única vida, e a partir dela vamos para o céu, ou para o purgatório (dependendo de rezas alheias para ganharmos o céu, e não de nosso arrependimento), ou sofrer eternamente no inferno, como pregam algumas religiões, encontraremos com isso um verdadeiro oceano de perguntas sem resposta:
- Porque existe o sofrimento? Se a humanidade sofre porque o primeiro homem pecou (referindo-se a Adão e a Doutrina do pecado original), então seria justo, por exemplo, que nosso avô, nosso pai e tios, e até nós, fôssemos presos porque nosso bisavô cometeu um assassinato antes de ter filhos? Onde estaria, então, a responsabilidade individual pelos próprios atos? ;
- Porque uns sofrem tanto (por exemplo, uma criança com câncer e os seus pais), sem nada terem feito nessa vida que o justifique, enquanto outros sofrem tão pouco? ;
- Porque uns nascem na miséria, sem ter o mínimo necessário para desenvolverem-se física e mentalmente (lembram-se dos miseráveis da Etiópia, por exemplo?), enquanto outros nascem na abundância? ;
- Porque uns nascem com grande habilidade em determinadas áreas do conhecimento, muitas vezes até são gênios, independentemente da educação que lhes foi dada e do meio em que viveram, enquanto outros nascem com muito pouca inteligência, até mesmo com deficiência mental? ;
- Porque uns possuem índole tão má, a ponto de torturar e assassinar seu semelhante com requintes de crueldade, enquanto outros são capazes de sacrificar seu tempo, seu repouso ou até mesmo de dar a vida para beneficiar outras pessoas, mesmo não sendo parentes, amigos ou sequer conhecidos? Não podemos dizer que se trata de simples escolhas, pois se pode facilmente verificar que os sentimentos (ou a ausência deles), motivadores destes comportamentos, em muitos casos brotam espontaneamente destas pessoas, sem nenhum esforço da parte delas ;
 - Porque uns chegam a viver apenas alguns anos, meses, ou até a morrer no ventre materno, sem ter podido fazer nem o bem, nem o mal ou aprender qualquer tipo de crença? Se vão para o céu, porque esse favor, sem que coisa alguma tenham feito para merecê-lo? Porque tipo de privilégios eles se vêem isentos das tribulações da vida? Se vão para o inferno, que fizeram para merecê-lo? Porque outros vivem até os 100 anos ou mais, sujeitos às mais diversas tribulações e tentações da vida?
- Se sofrer eternamente ou não após a morte depende da adoção de determinada crença, então porque várias pessoas, diariamente, morrem sem nada conhecer desta crença? E os milhões que morreram no passado sem dela nada conhecer? Caso sejam salvos porque não conhecem, porque o privilégio de não terem-na conhecido? Se não são salvos, porque então nasceram sob esta condição?
- Se Deus é bom, então porque ele não daria mais oportunidades para arrependimento, antes de jogar seu filho em um suplício eterno? Se alguém, por exemplo, viveu 20 anos e pecou mortalmente, morrendo e indo para o inferno, será que se pudesse ter vivido até os 100 anos, durante os 80 anos restantes não poderia ter se arrependido e, assim, ganho o céu? E enquanto arde no inferno, será que também aí não poderia se arrepender? Se sim, então porque Deus não lhe daria uma chance?

A reencarnação apresenta-se como a chave para a solução destes problemas.

Vejamos o que disse Allan Kardec em “O Livro dos Espíritos”, Capítulo V, título – CONSIDERAÇÕES SOBRE A PLURALIDADE DAS EXISTÊNCIAS:

“[...] Admitamos, ao contrário, uma série de progressivas existências anteriores para cada alma e tudo se explica. Ao nascerem, trazem os homens a intuição do que aprenderam antes: são mais ou menos adiantados, conforme o número de existências que contem, conforme já estejam mais ou menos afastados do ponto de partida. Dá-se aí exatamente o que se observa numa reunião de indivíduos de todas as idades, onde cada um terá desenvolvimento proporcionado ao número de anos que tenha vivido. As existências sucessivas serão, para a vida da alma, o que os anos são para o do corpo.”
“[...] Haverá alguma doutrina capaz de resolver esses problemas? Admitam-se as existências consecutivas e tudo se explicará conformemente à justiça de Deus. O que não se pôde fazer numa existência, faz-se em outra. Assim é que ninguém escapa à lei do progresso, que cada um será recompensado segundo o seu merecimento real e que ninguém fica excluído da felicidade suprema, a que todos podem aspirar, quaisquer que sejam os obstáculos com que topem no caminho.”

Na pergunta nº 166 de “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, lemos o seguinte:

“Como pode a alma, que não alcançou a perfeição durante a vida corpórea, acabar de depurar-se?”

 Resposta: “sofrendo a prova de uma nova existência.”

a) “como realiza esta nova existência? Será pela sua transformação como Espírito?”

Resposta: “depurando-se a alma indubitavelmente experimenta uma transformação, mas para isso necessária lhe é a prova da vida corporal”.

b) “a alma passa então por muitas existências corporais?”

Resposta: “sim, todos contamos com muitas existências. Os que dizem o contrário, pretendem manter-vos na ignorância em que eles próprios se encontram. Esse o desejo deles.”

            c) “parece resultar deste principio que a alma, depois de haver deixado um corpo, toma outro, ou, então, que reencarna em novo corpo. É assim que se deve entender?”

Resposta: “evidentemente”.

Os Espíritos reencarnam várias vezes, para que possam adquirir a experiência necessária ao desenvolvimento de sua inteligência e maturidade moral (o sentimento de amor ao seu próximo, enxergando-o como igual e irmão em Deus).
A reencarnação em corpos perecíveis e sensíveis também serve para que os Espíritos valorizem a sua imortalidade, através da sensação temporária e ilusória de mortalidade que experimentam, e essa sensação também os estimula a lutar pela sobrevivência, sua e daqueles que amam, desenvolvendo sua inteligência. Encontrar meios de evitar os sofrimentos também é um poderoso estímulo para isso.
De existência em existência, os Espíritos despertam suas potencialidades e caminham rumo à perfeição espiritual.

Na pergunta nº 167, lemos: “Qual o fim objetivado com a reencarnação?”

Resposta: “expiação, melhoramento progressivo da humanidade. Sem isto, onde a justiça?”

As diferenças que verificamos entre os homens resulta dos diferentes graus de evolução que possuem, proporcionais ao número de vidas por que passaram. Se são muito inteligentes e/ou bons, é que desenvolveram essas qualidades ao longo de várias existências, pelas reflexões e resoluções ocasionadas por elas, quando estavam no mundo espiritual. É aí que fazem o balanço do que aprenderam, em que erraram, e como podem melhorar, sempre assessorados pelos bons Espíritos. Estes lhes orientam acerca do tipo de experiências no mundo material que serão necessárias para seu melhoramento. Um Espírito com tendência a ser orgulhoso pode pedir uma vida humilhante, para que desenvolva a humildade, por exemplo. Outro, que tenha tendência ao egoísmo, pode vir na pobreza e ser auxiliado pelos que lhe cercam, para aprender o valor da generosidade, e assim por diante.
Durante as suas existências, pela sua inexperiência e/ou apego à aparente realidade da breve vida material, os Espíritos cometem, por vezes, atos prejudiciais ao seu próximo, como a traição, o roubo, os assassinatos, etc. Diante da necessidade de evoluir, e isso implica também em amar o seu semelhante, eles reencarnam em condições que os façam rever os seus atos, sentindo eles próprios os sofrimentos que fizeram os outros sentir. Dessa forma, eles adquirem a capacidade de se colocar no lugar daqueles que sofrem, como se fosse em si próprios. Esta é a origem daquilo que conhecemos como remorso, dor na consciência. Os sofrimentos da vida, aparentemente imerecidos (alguém que nasce na miséria, com deformações, deficiência mental, morre de forma brutal em um acidente etc.), possuem aí sua origem.
Da mesma forma que os pais conduzem os seus filhos pequenos para o que é bom para eles, mesmo contra sua vontade (por exemplo, dando-lhes um remédio amargo, mas que vai curá-los), os Espíritos pouco desenvolvidos são conduzidos pelos benfeitores espirituais, para experiências na matéria que vão acelerar seu desenvolvimento, mesmo a contragosto, até que possam escolher por si seu destino.
 Embora esqueçam os detalhes das suas vidas anteriores, temporariamente, durante a vida presente, os Espíritos encarnados conservam a intuição do que aprenderam, e isso os impele a formar sua personalidade atual, juntamente com tudo o que o ambiente proporciona durante a vida material, principalmente na infância. Daí a grande responsabilidade dos pais em darem uma boa educação a seus filhos, combatendo suas más tendências desde cedo (Ver o texto Por Que Esquecemos Nossas Vidas Passadas?, neste blog).
A capacidade de aprender essa ou aquela matéria da escola, as tendências para essa ou aquela profissão, gostos, vícios, fobias (como a claustrofobia, que é o medo de ficar em lugares fechados) que não possuem explicação nesta existência, podem ser atribuídos à  aquisições de vidas anteriores. Isso sem falar que o cérebro possui grande influência nesse processo, atuando como filtro, inibindo ou liberando essas potencialidades, dependendo do desenvolvimento ou não de suas partes constituintes, responsáveis por essa ou aquela função mental.
De tempos em tempos, encarnam na Terra espíritos de grande evolução espiritual, para inspirar os homens com seus exemplos, e algumas vezes transmitir sua sabedoria, auxiliando o progresso da humanidade. São exemplos: Jesus, Buda, Gandhi e São Francisco de Assis.

Na pergunta nº 171: “Em que se funda o dogma da reencarnação?”.

Resposta: “Na justiça de Deus e na revelação, pois incessantemente repetimos: o bom Pai deixa sempre aberta a seus filhos uma porta para o arrependimento. Não te diz a razão que seria injusto privar para sempre da felicidade eterna todos aqueles de quem não dependeu o melhorarem-se? Não são filhos de Deus todos os homens? Só entre os egoístas se encontram a iniqüidade, o ódio implacável e os castigos sem remissão.”

A reencarnação é confirmada por uma quantidade enorme de evidências. No mundo inteiro, diversos pesquisadores têm estudado o fenômeno da reencarnação.
A pesquisa acontece em duas áreas distintas: casos de lembranças espontâneas de vidas anteriores, geralmente em crianças, e a outra através de um processo, atualmente muito utilizado com fins terapêuticos, que é a Técnica de regressão de memória a vidas passadas.
Na primeira área, destacamos o professor de psiquiatria Dr. Ian Stevenson e o atual continuador de sua pesquisa, o psiquiatra infantil Dr. Jim B. Tucker,  ambos da  Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos. Destacamos também o médico psiquiatra indiano Dr. H. N. Banerjee. No Brasil, uma pesquisa desta natureza também foi realizada pelo engenheiro Ernani Guimarães Andrade.
Na segunda área, tendo como precursor o coronel francês Albert de Rochas, que pesquisou sobre as vidas passadas de dezoito pessoas, entre 1903 e 1910, através da hipnose, destacamos a renomada psicóloga americana Dra. Helen Wambach e inúmeros psicoterapeutas, dos quais temos como exemplos: Morris NethertonEdith Fiore e Brian Weiss nos Estados Unidos , Roger Woolger na Inglaterra, Patrick Druot na França,Thorwald Dethlefsen na Alemanha e Hans Tendam na Holanda, além de outros.
A partir do conjunto de todas essas pesquisas, chega-se a uma única conclusão possível: a reencarnação não é apenas uma teoria, mas um fato amplamente demonstrado (Ver o texto Fortes Evidências da Reencarnação, neste blog).


BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

1 ANDRADE, Hernani Guimarães. Parapsicologia: uma visão panorâmica. São Paulo:


2 DOYLE, Arthur Conan (Sir). História do espiritismo. São Paulo: Pensamento, [1999].

3. KARDEC, Allan (pseudônimo).O livro dos espíritos: princípios da doutrina espírita. 76. ed. Rio de Janeiro: FEB, [1995].
4._______________. O evangelho segundo o Espiritismo. 3.ed. São Paulo: Petit, [1997].

5. ROCHAS D’AIGLUN, Eugene –Auguste Albert de. As vidas sucessivas. 1. ed. São Paulo: Lachâtre, [2002].
6. WEISS, Brian L. Muitas vidas, muitos mestres. 37. ed. Rio de Janeiro: Sextante, [1998].

7. WAMBACH, Helen. Recordando vidas passadas.São Paulo: Pensamento, [1995].


8 TENDAM,  Hans.  Panorama sobre a reencarnação Vol 1, 1996;

NOVAES, Adenáuer Marcos Ferraz de. Reencarnação: processo educativo. Salvador:  Fundação lar harmonia, 2003.

Um comentário:

  1. Alguns questionamentos de um humilde iniciante na área:

    1) Todos realmente querem ser felizes? E os que se apegam à tristeza de forma até condicional...

    2) Se a felicidade não é deste mundo, o que seria os momentos de alegria vividos aqui na Terra? Projeções de felicidade?

    3) Muitas perguntas retóricas e resposta em seguida. Gostei do seu estilo.

    4) Frugalidade da beleza e da riqueza sé o eixo central. Logo a necessidade se se apegar a outros valores mais intrísecos. Esse valores são mais humanos ou transcedentais?

    5) A humanidad em algum dia vai ser transformada de form efetiva?

    6) Nós nascemos de fato ignorante e simples? Onde fica nossa compleexidade de ser único e autêntico?

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