Fábio José Lourenço Bezerra
Reproduzimos abaixo, na íntegra, um excelente artigo, publicado no
site “Plantando
Consciência” (www.plantandoconsciencia.org),
cujo autor é Eduardo
Ekman Schenberg, Doutor
em Neurociências pela Universidade de São Paulo (USP), Mestre em psicofarmacologia e
biomédico pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). O artigo é sobre um
manifesto, assinado por vários cientistas e publicado na revista científica “Explore:
The Journal of Science and Healing”, na edição Setembro-Outubro de
2014, contra a ideologia materialista que ainda impera no meio científico,
apesar de várias experiências realizadas terem demonstrado fortíssimas
evidências da espiritualidade (muitas destas experiências foram divulgadas
neste blog).
Antes do artigo, vejamos o que Allan Kardec escreveu sobre o Espiritismo,
a Ciência
e o Materialismo.
No preâmbulo de sua obra “O que é o Espiritismo”, ele
escreveu:
"[...] O Espiritismo é ao mesmo tempo
uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, ele
consiste nas relações que se podem estabelecer com os Espíritos; como
filosofia, ele compreende todas as conseqüências morais que decorrem dessas relações.
Pode-se defini-lo assim:
O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, da origem e da
destinação dos Espíritos, e das suas relações com o mundo corporal.”
No livro “A Gênese”, no Capítulo I, lemos o
seguinte:
“[...] O Espiritismo e a Ciência se completam
reciprocamente; a Ciência, sem o Espiritismo, se acha na impossibilidade de
explicar certos fenômenos só pelas leis da matéria; ao Espiritismo, sem a
Ciência, faltariam apoio e comprovação. O estudo das leis da matéria tinha que
preceder o da espiritualidade, porque a matéria é que primeiro fere os
sentidos. Se o Espiritismo tivesse vindo antes das descobertas científicas,
teria abortado, como tudo quanto surge antes do tempo.”
Na mesma obra, no Capítulo X, o codificador escreveu:
“[...] O Espiritismo marcha ao lado do
materialismo, no campo da matéria; admite tudo o que o segundo admite; mas,
avança para além do ponto onde este último pára. O Espiritismo e o materialismo
são como dois viajantes que caminham juntos, partindo de um mesmo ponto;
chegados a certa distância, diz um: “Não posso ir mais longe.” O outro
prossegue e descobre um novo mundo. Por que, então, há de o primeiro dizer que
o segundo é louco, somente porque, entrevendo novos horizontes, se decide a
transpor os limites onde ao outro convém deter-se? Também Cristóvão Colombo não
foi tachado de louco, porque acreditava na existência de um mundo, para lá do
oceano? Quantos a História não conta desses loucos sublimes, que hão feito que
a Humanidade avançasse e aos quais se tecem coroas, depois de se lhes haver
atirado lama?”
Uma
vez tendo uma noção sobre a relação Espiritismo – Materialismo, vamos ao
artigo:
MANIFESTO POR UMA CIÊNCIA
PÓS-MATERIALISTA
“Nada é mais curioso do que a satisfação dogmática
com que a humanidade, a cada período da história, celebra a ilusão de que os
modos de conhecimento que possui são definitivos”
Alfred
North Whitehead
Em
1962 o físico norte-americano Thomas Samuel Kuhn publicou um
livro que permanece até hoje como uma das obras primas da filosofia da ciência:
A estrutura das revoluções científicas. No livro, que foi publicado mais de uma
década após Kuhn começar a formular a principal idéia, ele refutou a visão
precedente de que a ciência progredia de forma linear, através do acúmulo de
novas evidências, perpetuamente sendo usadas para refinar e ajustar as
explicações existentes dentro das teorias vigentes. Como ele deixa claríssimo
no livro, esta descrição do progresso científico serve apenas para certos
períodos do desenvolvimento científico, que ele batizou de períodos de “ciência
normal”. Mas em momentos raros a visão científica de mundo havia sido
completamente transformada por novos dados e experimentos que contradiziam as
teorias e modelos vigentes. Esses períodos, geralmente de duração mais curta,
ele batizou de “ciência revolucionária”. Através de um
minucioso estudo da história e do ensino de ciências, Kuhn demonstrou como a
cada longo período de ciência normal formava-se o que ele chamou de “paradigma”: um
modelo ou teoria que dita o que é possível e como o universo funciona. Durante
os longos períodos de ciência normal, o paradigma da vez vai sendo aceito por
um número cada vez maior de cientistas e passa a fortemente dominar a visão de
mundo por esse período. Nestas épocas, fatos e dados que não se encaixam no
paradigma vigente, ou mais importante ainda, dados que contrariam o paradigma,
tendem a ser rejeitados como erro, falha ou fraude. Entretanto, com o passar do
tempo essas evidências também vão se acumulando, e aí então começam a gestar um
novo paradigma. Os períodos de coexistência e disputa entre dois paradigmas
Thomas Kuhn chamou de períodos de “crise científica”. Uma das
principais caraterísticas desses períodos de crise é uma brutal oposição e
competição entre os envolvidos, sendo que ele chegou a sugerir que a imensa
maioria dos cientistas ao longo da história morreram apegados ao paradigma
predominante em suas épocas, sendo a nova geração apenas a capaz de levar o
campo adiante. As crises na história da ciência foram, portanto, brutais, e
levaram a revoluções impressionantes, que em alguns casos mudaram por completo
o estilo de vida da humanidade como um todo. Nas palavras do autor (tradução
minha do original em inglês):
“Examinando o registro das pesquisas
passadas do ponto de vista vantajoso da historiografia contemporânea, o
historiador da ciência pode se sentir tentado a dizer que quando o paradigma
muda, o mundo muda junto. Inspirados pelo novo paradigma, cientistas adotam
novos instrumentos e olham em novos lugares. Ainda mais importante, durante as
revoluções os cientistas enxergam coisas novas e diferentes quando usando instrumentos
familiares em lugares que já examinaram antes. É como se a comunidade
científica tivesse sido subitamente transportada para outro planeta onde
objetos familiares são vistos sob uma nova luz; e a eles se juntam novos
objetos nunca antes vistos.”
Fonte da imagem (traduzida para o português): http://plantandoconsciencia.org/novoblog/2014/11/19/manifesto-ciencia-pos-materialista/
Exemplos famosos de revoluções científicas incluem a revolução Copernicana, que derrubou o modelo que propunha a Terra no centro do universo, a evolução Darwiniana e mais recentemente a relatividade e a física quântica. Nenhum desses modelos foi aceito rapidamente, nem foi adotado sem que houvesse imensa resistência contrária exercida por cientistas de prestígio e poder em suas respectivas épocas. Mas como o modelo propõe ciclos, é de se esperar que hajam evidências contrárias ao modelo atualmente adotado. É também predizível pelo modelo de Kuhn que evidências contrárias serão novamente rejeitadas como sendo erro, falha ou mesmo fraude. E como em todas as épocas, de fato há erros e fraudes, que precisam ser distinguidos dos dados e resultados verídicos e confiáveis. Assim a tensão vai crescendo e o confronto de paradigmas se aproximando.
Pois
na edição de Setembro-Outubro de 2014 da revista científica Explore:
The Journal of Science and Healing oito cientistas de diversas áreas
publicaram o Manifesto pela Ciência Pós-Materialista. Os autores são Mario
Beauregard(neurocientista, trabalha no Laboratory for Advances in
Consciousness and Health, Department of Psychology, University of Arizona,
Tucson, USA), Gary E. Schwartz (Professor de psicologia,
medicina, psiquiaria e cirurgia e chefe do Laboratory for Advances in
Consciousness and Health, Department of Psychology, University of Arizona,
Tucson, USA), Lisa Miller(Psicóloga clínica, Professora na Columbia
University, USA), Larry Dossey (Médico e escritor), Alexander
Moreira-Almeida (Psiquiatra, professor da Universidade Federal de Juiz
de Fora, Brasil), Marilyn Schlitz (Psicóloga, diretora de
pesquisa no Institute of Noetic Sciences), Rupert Sheldrake (Biólogo,
escritor e historiador da ciência, autor de vários best-sellers) e Charles
Tart (Psicólogo, estudioso dos estados alterados de consciência,
professor no Institute of Transpersonal Psychology, USA).
No
começo do Manifesto eles afirmam o seguinte (tradução minha
do original em inglês):
“Desde seu
surgimento, a ciência tem continuamente evoluído por uma razão fundamental: a
acumulação de evidências empíricas que não podem ser acomodadas em visões
enrijecidas. Por vezes as mudanças são pequenas, mas em alguns casos são titânicas,
como na revolução relativística-quântica nas primeiras décadas do século 20.
Muitos cientistas acreditam que uma transição similar seja agora necessária,
porque o foco materialista que dominou a ciência moderna não pode acomodar um
conjunto crescente de evidências empíricas no domínio da consciência e
espiritualidade”
.
O Manifesto foi publicado online em
Julho de 2014, aberto para assinaturas e já conta com mais de 50 adesões.
Trata-se de um chamado claro para que a ciência não se deixe emperrar pelo
dogmatismo que se formou em torno do paradigma convencionalmente chamado de
“materialismo científico”. O Manifesto reconhece os tremendos avanços da
ciência materialista, mas admite que a dominância desta filosofia nos meios
acadêmicos e universitários chegou a ponto de ser prejudicial, em especial ao
estudo da consciência e da espiritualidade. O
materialismo se tornou tão dominante que estudos bem feitos nestas áreas têm
sido rejeitados para publicação não por reais falhas, mas simplemente porque
não se encaixam no modelo proposto pelo materialismo. Como mostrou Thomas Kuhn,
é a “ciência normal” de um certo período rejeitando as evidências conflitantes
com argumentos de que tais evidências são fruto de erro ou fraude. Dado que o
valor das evidências é fundamental para o progresso científico, o manifesto
termina então por indicar uma nova plataforma, a OpenSciences,
onde diversos artigos e livros sobre as evidências que desafiam o materialismo
científico podem ser acessadas.
De acordo com o Manifesto, a Ciência Pós-Materialista reconhece
que:
a. A
mente representa um aspecto da realidade tão primordial quanto o mundo físico,
isto é, ela não pode ser derivada da matéria nem reduzida a algo mais simples.
b.
Há uma conexão profunda entre a mente e o mundo físico
c.
A mente (a intenção) pode influenciar o estado do mundo físico e operar de
maneira não-local (ou extendida). Isto é, a mente não está confinada a pontos
específicos do espaço, como cérebros e corpos, ou pontos específicos do tempo,
como o presente. Dado que a mente pode influenciar o mundo físico de maneira
não-local, as intenções, emoções e desejos de um experimentador não podem ser
completamente isoladas dos resultados experimentais, mesmo em situações
controladas e desenhos experimentais “cegos”.
d.
Mentes são aparentemente ilimitadas e podem se unir, sugerindo uma Mente
Unitária que inclui todas as mentes individuais.
e.Experiências
de quase morte durante paradas cardíacas sugerem que o cérebro atue como
transdutor da atividade mental, isto é, a mente pode trabalhar através do
cérebro, mas não é produzida por ele. As experiências de quase morte durante
paradas cardíacas, junto a evidências de pesquisa em mediunidade sugerem a
sobrevivência da consciência após a morte do corpo e a existência de níveis de
realidade não-físicos.
f. Cientistas não devem temer a investigação da
espiritualidade e das experiências espirituais dado que elas representam um
aspecto central da existência humana.”
A
ciência Pós Materialista, portanto, não rejeita os avanços do materialismo
científico e considera a matéria como uma das partes fundamentais da
existência. A Ciência Pós-Materialista busca expandir a capacidade humana para
melhor entender as maravilhas da natureza e redescrobrir a importância da mente
e do espírito como partes fundamentais do universo. O Pós-materialismo é,
portanto, “inclusivo
com a matéria, que é vista como um constituinte básico do universo”.
O
resgate da mente e da espiritualidade nos traz liberdade e nos reconecta com
uma visão mais ampla do que é ser humano e de como atuar nesse mundo. A
conclusão do manifesto é que
“ao enfatizar uma conexão profunda entre nós mesmos e a
natureza como um todo, o paradigma pós-materialista promove uma consciência
ambiental e a preservação da biosfera. Além disso, não é novo, mas apenas foi
esquecido por cerca de 400 anos, que um entendimento transmaterial pode ser a
peça fundamental da saúde e bem estar, como reconhecido e preservado em
práticas espirituais ancestrais, tradições religiosas e abordagens
contemplativas. A mudança da ciência materialista para a pós-materialista pode
ser de vital importância para a evolução da civilização humana. Pode ser ainda
mais vital que a transição do geocentrismo para o heliocentrismo”.
Como
expressou o matemático Dave Pruett, que foi pesquisador da NASA e Professor Emérito
na James Madison University, em artigo no jornal britânico Huffington Post, “A ciência atinge seu
melhor quando está aberta para os fatos incômodos e contraditórios. Mas ela
atinge seu pior quando, restrita por dogmas, ignora estes fatos.”
Para acessar
o artigo do manifesto, em inglês, é só acessar o link: http://www.explorejournal.com/article/S1550-8307(14)00116-5/fulltext
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
1 KARDEC,
Allan. A Gênese. Os milagres e as
predições segundo o Espiritismo. FEB. Versão digital por: ERY LOPES © 2007;
2
______________.O que é o Espiritismo.
São Paulo: Instituto de difusão espírita. [2000].
ENDEREÇO ELETRÔNICO CONSULTADO:
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