segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

REENCARNAÇÃO: IGUALDADE ENTRE OS SEXOS, RAÇAS, CLASSES SOCIAIS, CULTURAS E CRENÇAS PERANTE DEUS, E FONTE DA LIBERDADE DO ESPÍRITO



Fonte da imagem: http://www.educarbrasil.org.br/publicacoes/diversidade-cultural-e-educacao/



Fábio José Lourenço Bezerra

           O Espírito, em sua jornada evolutiva (ver o texto “Evolução: A Jornada do Espírito”, neste blog), passa por diversas encarnações no mundo material, com a finalidade de adquirir experiência e, como consequência, sua perfeição intelecto-moral. Nesse processo, ele se reveste de corpos materiais de ambos os sexos, raças, nas mais diversas culturas e adota as mais diferentes crenças. Isso sem falarmos nas mais diferentes situações por que passam durante essas vidas: a riqueza, a pobreza, a saúde, beleza física ou ausência dela, diferentes doenças e gêneros de morte, seus e de pessoas de sua afeição. Imagine a bagagem intelecto-emocional adquirida por este Espírito, submetendo-se a esses tão diferentes contextos!
Uma vez que Deus é soberanamente justo, trata de forma igual todos os seus filhos, sem distinção de qualquer tipo. A reencarnação é uma demonstração disso. Sem ela, como explicar que existam pessoas sofrendo na miséria ao lado de outras que vivem na opulência? Umas já nascem com terríveis doenças congênitas, enquanto outras passam toda uma vida cheias de saúde? Gênios ao lado de pessoas de pouca inteligência? Só as vidas sucessivas, juntamente com a Lei de Causa e Efeito, podem explicar essas aparentes injustiças (ver o texto “Por que Devemos Fazer o Bem? neste blog).
Uma das consequências da reencarnação é a igualdade entre os sexos e as raças. Estando hoje o Espírito encarnado no corpo de um homem, pode vir a reencarnar como mulher; se hoje é branco, amanhã poderá ser negro. Uma vez que se toma consciência disso, tem-se um poderoso motivo para abandonar-se os preconceitos de sexo e raça, que ainda persiste no mundo em pleno século XXI. O mesmo ocorre com as classes sociais, pois alguém pode ser rico hoje, e numa próxima vida pode, até mesmo, nascer na extrema miséria.
Quanto às culturas, torna-se sem fundamento discriminar alguém por nascer em determinado país, pois o Espírito poderá renascer em qualquer um, dependendo do que seja necessário para seu aprendizado. Como consequência disso, faz parte de famílias que adotam os mais diferentes tipos de culturas e crenças e, devido à essa influência, pode vir a adotar qualquer uma delas.
O ensinamento essencial, comum à praticamente todas as religiões, mesmo as não cristãs, é amar ao próximo como a si mesmo, ou seu equivalente: não desejar ao próximo o que não se quer para si (ver o texto “Por Que Devemos Fazer o Bem ?, neste blog). Ocorre que, ao longo dos séculos, muitas delas deixaram esse ensinamento em segundo plano, sobrepondo a ele dogmas e rituais.
A finalidade da reencarnação é, justamente, a evolução moral do Espírito, a ponto de, ao final da jornada, ser capaz de amar incondicionalmente o seu semelhante, juntamente com o pleno desenvolvimento intelectual. Algo, diga-se de passagem, impossível de se alcançar em uma só vida. Consequentemente, o Espírito não depende da adoção de uma crença particular para alcançar o paraíso, ou seja, entrar em comunhão com Deus e evitar os suplícios eternos do inferno (como pregam certas doutrinas). Ora, se sofrer eternamente ou não após a morte depende da adoção de determinada crença, então porque várias pessoas, diariamente, morrem sem nada conhecer da mesma? (por exemplo, um indiano que nunca ouviu sequer falar de Jesus) E os milhões que morreram no passado sem conhecê-la? Caso sejam salvos porque não conheceram essa crença, porque este privilégio, enquanto outros são apresentados a ela, arriscando-se a não aceitá-la? Se não são salvos, porque então nasceram impossibilitados de conhecê-la? Estariam destinados à condenação desde o momento do seu nascimento; Se Deus é bom, então porque ele não daria mais oportunidades para arrependimento, antes de jogar seu filho em um suplício eterno? Se alguém, por exemplo, viveu 20 anos e não adotou a crença supracitada, morrendo e indo para o inferno, será que se pudesse ter vivido até os 100 anos (como muitos vivem atualmente), durante os 80 anos restantes não poderia ter se arrependido e, assim, ganho o céu? E enquanto arde no inferno, será que também aí não poderia se arrepender? Se sim, então porque Deus não lhe daria uma chance?
Evidentemente que, se Deus é infinitamente bom, Ele dá infinitas oportunidades para que os seus filhos venham a habitar o seu seio. Entrar em comunhão com Deus depende da vontade e da iniciativa de progredir do Espírito, sendo este livre para estacionar ou avançar na senda do progresso por seu próprio esforço, e a lei fundamental da evolução espiritual é o exercício do amor.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
                          
1 KARDEC, ALLAN. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro : Editora FEB,1995.;

2_______________ . O Evangelho segundo o Espiritismo. São Paulo : Editora Petit, 1997.;

3________________.A Gênese: Os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: Editora FEB, 1988.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

INTOLERÂNCIA RELIGIOSA: A CANTORA PAULA FERNANDES SE DECLARA ESPÍRITA E GERA REVOLTA EM GRUPO DE ADEPTOS DE UMA DOUTRINA RELIGIOSA


Fonte da imagem: http://xpock.com.br/paula-fernandes-a-musa-do-sertanejo/


Fábio José Lourenço Bezerra

            Transcrevemos, abaixo, lamentável notícia postada no site do BOL:

“Grupo de Testemunhas de Jeová condena Paula Fernandes por declaração sobre espiritismo

19/02/2013 - 11h37 | do BOL
Do BOL, em São Paulo

 A cantora Paula Fernandes causou revolta em um grupo de pessoas da religião Testemunhas de Jeová após dizer, em entrevista ao apresentador João Doria Jr., que segue o espiritismo, acredita em reencarnação e que suas composições têm relação direta com o plano espiritual. “A doutrina espírita justifica muitas coisas que eu sinto, meu dom. Deus é um só! Mas eu não componho sozinha. E acho que não estamos aqui sozinhos. No momento em que leio [o que escrevo], vêm palavras que eu não conheço. Então, de onde vem isso?”, comentou Paula. Por conta da declaração, um grupo que se diz Testemunha de Jeová começou a espalhar um “alerta” a respeito da cantora no Facebook, condenando o espiritismo. A mensagem contra Paula já teve milhares compartilhamentos e muitas pessoas reagiram negativamente ao saber que a cantora é espírita.
             Para assistir a um vídeo com o trecho da entrevista acima mencionada, acessem a reportagem no site do BOL, no link abaixo:
“Veja alguns comentários feitos após a divulgação da entrevista: "


            Não há dúvidas de que muitos líderes religiosos (não todos, que fique claro), vociferam contra o Espiritismo, insuflando seus fiéis (vários deles de pouca instrução e/ou sem cultura de pesquisa e questionamento) contra o mesmo. Chegam a acusá-lo, até mesmo, de instrumento do diabo para enganá-los e atraí-los para o inferno. Ocorre que esses líderes estão movidos seja pela má-fé, seja pelo fanatismo, ignorância ou insegurança em relação à sua própria religião, desvirtuando o que ensina o Espiritismo com medo de perder fiéis.
            Muitos fiéis, por outro lado, não se dão ao trabalho de pesquisar a fundo sobre o que criticam, acomodando-se ao que seu líder religioso diz. Não procuram pesquisar, inclusive, sobre sua própria religião, seus fundamentos, adotando uma fé cega.
            Além do mais, todos somos dotados, por Deus, de livre-arbítrio e, portanto, somos livres para escolhermos o caminho que quisermos, uma vez estando conscientes das consequências advindas dessa escolha.
            A própria lei do nosso país reconhece e resguarda nossa liberdade de escolha religiosa. Vejamos o que diz a Constituição Federal, no seu Artigo 5º, inciso VI:
“é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias”
            O Espiritismo ensina o livre pensamento, guiando-se pelo estudo e pela razão. Aconselha a todo espírita a questionar o que ele mesmo ensina. Tanto é assim, que o codificador do Espiritismo, Allan Kardec, disse: “Não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face-a-face, em todas as épocas da humanidade”. Também disse: "O Espiritismo, avançando com o progresso, jamais será ultrapassado, porque, se novas Descobertas lhe demonstrarem que está em erro acerca de um ponto, ele se modificará nesse ponto; se uma verdade nova se revelar, ela a aceitará." No entanto, até o momento, nenhum de seus postulados foi contraditado pela ciência (Ver o texto Espiritismo: Estímulo à Prática do Bem, à Busca do Conhecimento e ao Pensamento Crítico, neste blog).
            Ademais, se estudarmos a Bíblia em suas origens, sem as deturpações de que foi vítima ao longo dos séculos, veremos, em vários de seus textos, fenômenos mediúnicos, e, inclusive, defendida a prática da mediunidade de forma responsável por Moisés e Paulo de Tarso. Os profetas bíblicos, na realidade, eram médiuns. Muitas autoridades religiosas não espíritas, bastante conhecedoras da Biblia, também reconheceram isso (Ver os textos A Biblia Condena o Espiritismo? e A Bíblia Condena o Espiritismo? Parte 2 – A Bíblia Sob a Ótica Espírita, Quem é Jesus?, Igreja Católica Reconhece Comunicação Com os Espíritos e Ilustre Teólogo Protestante Confirmou: Os Fenômemos Espíritas Existem, neste blog).
             
            No momento em que fiéis de um segmento religioso, ao saber que uma cantora adota uma religião diversa da deles, cujas músicas gostam, deixam de escutá-las, as deletam ou quebram o CD, músicas que não falam sobre a religião adotada por ela, há uma lamentável demonstração de intolerância religiosa. Cada um escuta o que quer, mas o motivo, neste caso, é que deixa evidente uma hostilidade inútil quando, na verdade, todos nós, das diversas religiões, precisamos nos unir no que temos em comum: o ensinamento "amar ao próximo como a si mesmo". Uma convivência pacífica e salutar entre as diversas crenças é do que o mundo precisa para se tornar melhor.

            Vejamos o que disse, de maneira bastante lúcida, artigo do pastor evangélico Ed Rene Kivitz em relação a outro caso recente de intolerância religiosa, postado no site Formadores de Opinião:

Klebber S Nascimento
28.05.2011

Excelente reflexão!!!

Parece mentira, mas foi verdade. No dia 1°/Abr/2010, embora já tenha mais de 1 ano, é bastante atual, onde o elenco do Santos, atual campeão paulista de futebol, foi a uma instituição que abriga trinta e quatro pessoas. O objetivo era distribuir ovos de Páscoa para crianças e adolescentes, a maioria com paralisia cerebral.
Ocorreu que boa parte dos atletas não saiu do ônibus que os levou.
Entre estes, Robinho (26a), Neymar (18a), Ganso (21a), Fábio Costa (32a), Durval (29a), Léo (24a), Marquinhos (28a) e André (19a) todos ídolos super-aguardados. O motivo teria sido religioso: a instituição era o Lar Espírita Mensageiros da Luz, de Santos-SP, cujo lema é Assistência à Paralisia Cerebral
Visivelmente constrangido, o técnico Dorival Jr. tentou convencer o grupo a participar da ação de caridade. Posteriormente, o Santos informou que os jogadores não entraram no local simplesmente porque não quiseram.
Dentro da instituição, os outros jogadores participaram da doação dos 600 ovos, entre eles, Felipe (22a), Edu Dracena (29a), Arouca (23a), Pará (24a) e Wesley (22a), que conversaram e brincaram com as crianças.
Eis que o escritor, conferencista e Pastor (com Pmaiúsculo) ED RENÉ KIVITZ, da Igreja Batista de Água Branca (São Paulo), fez uma análise profunda sobre o ocorrido e escreveu o texto No Brasil, futebol é religião, que abaixo tenho o prazer de compartilhar:

No Brasil, futebol é religião por Ed Rene Kivitz:

"Os meninos da Vila pisaram na bola. Mas prefiro sair em sua defesa.
Eles não erraram sozinhos. Fizeram a cabeça deles. O mundo religioso é mestre em fazer a cabeça dos outros. Por isso, cada vez mais me convenço que o Cristianismo implica a superação da religião, e cada vez mais me dedico a pensar nas categorias da espiritualidade, em detrimento das categorias da religião.
A religião está baseada nos ritos, dogmas e credos, tabus e códigos morais de cada tradição de fé.
A espiritualidade está fundamentada nos conteúdos universais de todas e cada uma das tradições de fé.
Quando você começa a discutir quem vai para céu e quem vai para o inferno; ou se Deus é a favor ou contra à prática do homossexualismo; ou mesmo se você tem que subir uma escada de joelhos ou dar o dízimo na igreja para alcançar o favor de Deus, você está discutindo religião. Quando você começa a discutir se o correto é a reencarnação ou a ressurreição, a teoria de Darwin ou a narrativa do Gênesis, e se o livro certo é a Bíblia ou o Corão, você está discutindo religião. Quando você fica perguntando se a instituição social é espírita kardecista, evangélica, ou católica, você está discutindo religião.
O problema é que toda vez que você discute religião você afasta as pessoas umas das outras, promove o sectarismo e a intolerância. A religião coloca de um lado os adoradores de Allá, de outro os adoradores de Yahweh, e de outro os adoradores de Jesus. Isso sem falar nos adoradores de Shiva, de Krishna e devotos do Buda, e por aí vai.
E cada grupo de adoradores deseja a extinção dos outros, ou pela conversão à sua religião, o que faz com que os outros deixem de existir enquanto outros e se tornem iguais a nós, ou pelo extermínio através do assassinato em nome de Deus, ou melhor, em nome de um deus, com d minúsculo, isto é, um ídolo que pretende se passar por Deus.
Mas, quando você concentra sua atenção e ação, sua práxis, em valores como reconciliação, perdão, misericórdia, compaixão, solidariedade, amor e caridade, você está no horizonte da espiritualidade, comum a todas as tradições religiosas. E quando você está com o coração cheio de espiritualidade, e não de religião, você promove a justiça e a paz.
Os valores espirituais agregam pessoas, aproxima os diferentes, faz com que os discordantes no mundo das crenças se deem as mãos no mundo da busca de superação do sofrimento humano, que a todos nós humilha e iguala, independentemente de raça, gênero, e inclusive religião.
Em síntese, quando você vive no mundo da religião, você fica no ônibus. Quando você vive no mundo da espiritualidade que a sua religião ensina ou pelo menos deveria ensinar, você desce do ônibus e dá um ovo de páscoa para uma criança que sofre a tragédia e miséria de uma paralisia mental." 

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

1 KARDEC, ALLAN. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro : Editora FEB,1995.;

2_______________ . O Evangelho segundo o Espiritismo. São Paulo : Editora Petit, 1997.;

3________________.A Gênese: Os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: Editora FEB, 1988.

ENDEREÇOS ELETRÔNICOS CONSULTADOS:


http://www.formadoresdeopiniao.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12026:serve-para-qualquer-um-que-siga-qualquer-religiao-seja-ela-qual-for&catid=79:educacao-familia-e-filosofia&Itemid=137



          

domingo, 17 de fevereiro de 2013

QUEM É JESUS? PARTE 3 – COMO PODEMOS OBTER A SALVAÇÃO?


Fonte da imagem: http://blog-do-caminho.blogspot.com.br/2011/02/21-verdades-sobre-evolucao-espiritual.html

Fábio José Lourenço Bezerra

            Dando continuidade aos dois textos anteriores, Quem é Jesus? e Quem é Jesus Parte 2 – Jesus é Deus?, neste blog, segundo determinadas doutrinas religiosas, Jesus veio ao mundo para redimir o pecado dos homens. Era o cordeiro de Deus, oferecido em sacrifício na cruz para aplacar ira de Deus, perante a iniquidade dos seres humanos. Ainda segundo essas doutrinas, a partir do sacrifício de Jesus, basta aos homens crerem nele como sendo o salvador, para serem salvos. Quem recusar-se a crer nisso, estará condenado a sofrer eternamente no inferno, após a morte. Trata-se de uma doutrina de origem medieval, utilizando-se de uma antiga crença judaica, onde oferece-se um sacrifício para apagar os próprios pecados. Na páscoa, os judeus costumavam sacrificar um cordeiro como oferenda a Deus, com esse intuito.
Contudo, se considerarmos que Deus é todo-poderoso, soberanamente justo e bom, veremos que essa ideia é bastante ilógica. Então, vejamos:
- Se sofrer eternamente ou não após a morte depende da adoção de determinada crença, então porque várias pessoas, diariamente, morrem sem nada conhecer desta crença? (por exemplo, um indiano que nunca ouviu sequer falar de Jesus) E os milhões que morreram no passado sem dela nada conhecer? Caso sejam salvos porque não conheceram essa crença, porque o privilégio de não a terem conhecido, enquanto outros são apresentados a ela, arriscando-se a não aceitá-la? Se não são salvos, porque então nasceram impossibilitados de conhecê-la? Estariam destinados à condenação desde o momento do seu nascimento;
- Se Deus é bom, então porque ele não daria mais oportunidades para arrependimento, antes de jogar seu filho em um suplício eterno? Se alguém, por exemplo, viveu 20 anos e não adotou a crença supracitada, morrendo e indo para o inferno, será que se pudesse ter vivido até os 100 anos (como muitos vivem atualmente), durante os 80 anos restantes não poderia ter se arrependido e, assim, ganho o céu? E enquanto arde no inferno, será que também aí não poderia se arrepender? Se sim, então porque Deus não lhe daria uma chance?
Sem dúvida, são perguntas de difícil resposta, caso consideremos Deus todo-poderoso, infinitamente bom e justo. É que esta doutrina teve origem em mentes medievais, que possuíam o conhecimento limitado de sua época, o que acabou refletindo-se na teologia que criaram. Consideravam Deus como um rei orgulhoso e implacável em suas punições, tal como eram muitos reis da idade média. Ou, quem sabe, uma vez que a Igreja e os reis andavam de mãos dadas naquela época, não adotaram essa crença como forma de ter poder sobre a população? Aliás, os próprios reis temiam ir para o inferno. Assim, a Igreja detinha poder sobre eles. Se, em uma ou outra passagem dos evangelhos, existe a possibilidade de interpretar-se os ensinamentos de Jesus da maneira como pregam as crenças supracitadas, em muitos casos deve-se à adulteração dos textos originais, má tradução das cópias existentes ou má interpretação dos próprios apóstolos que, afinal de contas, possuíam suas próprias crenças antes do aparecimento de Jesus (ver o texto Quem é Jesus?, neste blog).
Seja como for, esse Deus que pregam é bem diferente daquele que Jesus citou na seguinte passagem, que inclusive aparece em três evangelhos, quando ele encontra-se com um jovem rico, que lhe chama de Bom Mestre: “Por que me chamas bom? Bom não é senão o Pai que está nos céus” (Mateus 19:17, Marcos 10:17, Lucas 18:18). Jesus, que tanto bem fez às pessoas enquanto estava na Terra, recusava-se a ser chamado de bom naquela ocasião. Com certeza, fez isto não apenas por sua humildade, mas também porque seu ponto de referência de bondade era Deus, e aproveitou a ocasião demonstrar o quanto Deus é bom.
Essas doutrinas também vão contra as palavras de Jesus nessa passagem: “Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras” (Mateus 16:27).

Vejamos o que disse Allan Kardec em sua obra “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, no Capítulo XV. Ele começa citando algumas passagens do Novo Testamento:

“O DE QUE PRECISA O ESPÍRITO PARA SE SALVAR.

PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO

 “Ora, quando o filho do homem vier em sua majestade, acompanhado de todos os anjos, sentar-se-á no trono de sua glória; reunidas diante dele todas as nações, separará uns dos outros, como o pastor separa dos bodes as ovelhas e colocará as ovelhas à sua direita e os bodes à sua esquerda”.
“Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do reino que vos foi preparado desde o princípio do mundo; porquanto, tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; careci de teto e me hospedastes; estive nu e me vestistes; achei-me doente e me visitastes; estive preso e me fostes ver”.
“Então, responder-lhe-ão os justos: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos sem teto e te hospedamos; ou despido e te vestimos? E quando foi que te soubemos doente ou preso e fomos visitar-te ?’ O Rei lhes responderá: ‘Em verdade vos digo, todas as vezes que isso fizestes a um destes mais pequeninos dos meus irmãos, foi a mim mesmo que o fizestes’ ”.
“Dirá em seguida aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de mim, malditos; ide para o fogo eterno, que foi preparado para o diabo e seus anjos; porquanto, tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber; precisei de teto e não me agasalhastes; estive sem roupa e não me vestistes; estive doente e no cárcere e não me visitastes’”.
“Também eles replicarão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e não te demos de comer, com sede e não te demos de beber, sem teto ou sem roupa, doente ou preso e não te assistimos?’ Ele então lhes responderá: ‘Em verdade vos digo: todas as vezes que faltastes com a assistência a um destes mais pequenos, deixastes de tê-la para comigo mesmo. E esses irão para o suplício eterno, e os justos para a vida eterna’”.(MATEUS, 25:31 a 46)
 2. Então, levantando-se, disse-lhe um doutor da lei, para o tentar: “Mestre, que preciso fazer para possuir a vida eterna?” Respondeu-lhe Jesus: “Que é o que está escrito na lei? Que é o que lês nela?” Ele respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma, com todas as tuas forças e de todo o teu espírito, e a teu próximo como a ti mesmo”.Disse-lhe Jesus: “Respondeste muito bem; faze isso e viverás”. Mas, o homem, querendo parecer que era um justo, diz a Jesus: “Quem é o meu próximo?” Jesus, tomando a palavra, lhe diz: “Um homem, que descia de Jerusalém para Jericó, caiu em poder de ladrões, que o despojaram, cobriram de ferimentos e se foram, deixando-o semimorto. Aconteceu em seguida que um sacerdote, descendo pelo mesmo caminho, o viu e passou adiante. Um levita, que também veio àquele lugar, tendo-o observado, passou igualmente adiante. Mas, um samaritano que viajava, chegando ao lugar onde jazia aquele homem e tendo-o visto, foi tocado de compaixão. Aproximou-se
dele, deitou-lhe óleo e vinho nas feridas e as pensou; depois, pondo-o no seu cavalo, levou-o a uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte tirou dois denários e os deu ao hospedeiro, dizendo: ‘Trata muito bem deste homem e tudo o que despenderes a mais, eu te pagarei quando regressar’. Qual desses três te parece ter sido o próximo daquele que caíra em poder dos ladrões?” O doutor respondeu: “Aquele que usou de misericórdia para com ele”. “Então, vai!” – diz Jesus – “E faze o mesmo”.(LUCAS, 10:25 a 37)
3. Toda a moral de Jesus se resume na caridade e na humildade, isto é, nas duas virtudes contrárias ao egoísmo e ao orgulho. Em todos os seus ensinos, ele aponta essas duas virtudes como sendo as que conduzem à eterna felicidade: Bem-aventurados, disse, os pobres de espírito, isto é, os humildes, porque deles é o reino dos céus; bem-aventurados os que têm puro o coração; bem-aventurados os que são brandos e pacíficos; bem-aventuradosos que são misericordiosos; amai o vosso próximo como a vós mesmos; fazei aos outros o que quereríeis vos fizessem; amai os vossos inimigos; perdoai as ofensas, se quiserdes ser perdoados; praticai o bem sem ostentação; julgai-vos a vós mesmos, antes de julgardes os outros. Humildade e caridade, eis o que não cessa de recomendar e o de que dá, ele próprio, o exemplo. Orgulho e egoísmo, eis o que não se cansa de combater. E não se limita a recomendar a caridade; põe-na claramente e em termos explícitos como condição absoluta da felicidade futura.
No quadro que traçou do juízo final, deve-se, como em muitas outras coisas, separar o que é apenas figura, alegoria. A homens como os a quem falava, ainda incapazes de compreender as questões puramente espirituais, tinha ele de apresentar imagens materiais chocantes e próprias a impressionar. Para melhor apreenderem o que dizia, tinha mesmo de não se afastar muito das idéias correntes, quanto à forma, reservando sempre ao porvir a verdadeira interpretação de suas palavras e dos pontos sobre os quais não podia explicar-se claramente. Mas, ao lado da parte acessória ou figurada do quadro, há uma idéia dominante: a da felicidade reservada ao justo e da infelicidade que espera o mau.
Naquele julgamento supremo, quais os considerandos da sentença? Sobre que se baseia o libelo? Pergunta, porventura, o juiz se o inquirido preencheu tal ou qual formalidade, se observou mais ou menos tal ou qual prática exterior? Não; inquire tão somente de uma coisa: se a caridade foi praticada, e se pronuncia assim: Passai à direita, vós que assististes os vossos irmãos; passai à esquerda, vós que fostes duros para com eles. Informa-se, por acaso, da ortodoxia da fé? Faz qualquer distinção entre o que crê de um modo e o que crê de outro? Não, pois Jesus coloca o samaritano, considerado herético, mas que pratica o amor do próximo, acima do ortodoxo que falta com a caridade. Não considera, portanto, a caridade apenas como uma das condições para a salvação, mas como a condição única. Se outras houvesse a serem preenchidas, ele as teria declinado. Desde que coloca a caridade em primeiro lugar, é que ela implicitamente abrange todas as outras: a humildade, a brandura, a benevolência, a indulgência, a justiça, etc., e porque é a negação absoluta do orgulho e do egoísmo.”

O MANDAMENTO MAIOR

4. Mas, os fariseus, tendo sabido que ele tapara a boca aos saduceus, se reuniram; e um deles, que era doutor da lei, foi propor-lhe esta questão, para o tentar: “Mestre, qual o grande mandamento da lei?” Jesus lhe respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito. Esse o maior e o primeiro mandamento. E aqui está o segundo, que é semelhante ao primeiro: Amarás o teu próximo, como a ti mesmo. Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois
mandamentos”. (MATEUS, 22: 34 a 40)
5. Caridade e humildade, tal a senda única da salvação. Egoísmo e orgulho, tal a da perdição. Este princípio se acha formulado nos seguintes precisos termos: “Amarás a Deus de toda a tua alma e a teu próximo como a ti mesmo; toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos.” E, para que não haja equívoco sobre a interpretação do amor de Deus e do próximo, acrescenta: “E aqui está o segundo mandamento que é semelhante ao primeiro”, isto é, que não se pode verdadeiramente amar a Deus sem amar o próximo, nem amar o próximo sem amar a Deus. Logo, tudo o que se faça contra o próximo o mesmo é que fazê-lo contra Deus. Não podendo amar a Deus sem praticar a caridade para com o próximo, todos os deveres do homem se resumem nesta máxima: FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO.

NECESSIDADE DA CARIDADE, SEGUNDO S. PAULO

6. “Ainda quando eu falasse todas as línguas dos homens e a língua dos próprios anjos, se eu não tiver caridade, serei como o bronze que soa e um címbalo que retine; ainda quando tivesse o dom de profecia, que penetrasse todos os mistérios, e tivesse perfeita ciência de todas as coisas; ainda quando tivesse toda a fé possível, até ao ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. E, quando houvesse distribuído os meus bens para alimentar os pobres e houvesse entregado meu corpo para ser queimado, se não tivesse caridade, tudo isso de nada me serviria”.
“A caridade é paciente; é branda e benfazeja; a caridade não é invejosa; não é temerária, nem precipitada; não se enche de orgulho; não é desdenhosa; não cuida de seus interesses; não se agasta, nem se azeda com coisa alguma; não suspeita mal; não se rejubila com a injustiça, mas se rejubila com a verdade; tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre”.
“Agora, estas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade permanecem; mas, dentre elas, a mais excelente é a caridade”. (S. PAULO, 1ª Epístola aos Coríntios, 13:1 a 7 e 13)
7. De tal modo compreendeu S. Paulo essa grande verdade, que disse: Quando mesmo eu tivesse a linguagem dos anjos; quando tivesse o dom de profecia, que penetrasse todos os mistérios; quando tivesse toda a fé possível, até ao ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. Dentre estas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade, a mais excelente é a caridade. Coloca assim, sem equívoco, a caridade acima até da fé. É que a caridade está ao alcance de toda gente: do ignorante, como do sábio, do rico, como do pobre, e independe de qualquer crença particular.
Faz mais: define a verdadeira caridade, mostra-a não só na beneficência, como também no conjunto de todas as qualidades do coração, na bondade e na benevolência para com o próximo.”

            A salvação, isto é, a chegada do Espírito ao seio de Deus, dar-se-á quando ele atingir o pleno desenvolvimento intelecto-moral, isto é, a perfeição (ver o texto Evolução: A Jornada do Espírito, neste blog), como disse o próprio Jesus:

“Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam. Porque, se somente amardes os que vos amam, que recompensa tereis disso? Não fazem assim também os publicanos? Se unicamente saudardes os vossos irmãos, que fazeis com isso mais do que outros? Não fazem o mesmo os pagãos? Sede, pois, vós outros, perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial” (MATEUS, 5:44, 46 a 48).
           
Contudo, uma vida só, evidentemente, é insuficiente para que o Espírito atinja a perfeição. Para isso, torna-se necessária a experiência adquirida após várias encarnações. Como falou Jesus na seguinte passagem do Evangelho de João:

“Ora, entre os fariseus, havia um homem chamado Nicodemos, senador dos judeus, que veio à noite ter com Jesus e lhe disse: “Mestre, sabemos que vieste da parte de Deus para nos instruir como um doutor, porquanto ninguém poderia fazer os milagres que fazes, se Deus não estivesse com ele.” Jesus lhe respondeu: “Em verdade, em verdade digo-te: Ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo.”
Disse-lhe Nicodemos: “Como pode nascer um homem já velho? Pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, para nascer segunda vez?” Retorquiu-lhe Jesus: “Em verdade, em verdade, digo-te: Se um homem não renasce da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne e o que é nascido do Espírito é Espírito. Não te admires de que eu te haja dito ser preciso que nasças de novo. O Espírito sopra onde quer e ouves a sua voz mas não sabes donde vem ele, nem para onde vai; o mesmo se dá com todo homem que é nascido do Espírito.” (S. JOÃO, 3:1 a 8.)

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

1 KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. FEB. Versão digital: Ery Lopes – 2007.

2 EHRMAN, Bart D. Evangelhos Perdidos. Rio de janeiro: Editora Record, 2008;

3______________.O Que Jesus Disse? O Que Jesus Não Disse?: quem mudou a Bíblia e porque. São Paulo: Editora Prestígio, 2006;
4______________.Quem Jesus Foi?  Quem Jesus Não Foi? : mais revelações inéditas sobre as contradições da Bíblia. Rio de Janeiro: Ediouro, 2010;
5 ______________.O Problema Com Deus: as respostas que a Bíblia não dá ao sofrimento. Rio de Janeiro, Editora Agir, 2008;
6 RANGEL, Liszt. Arqueologia dos Evangelhos: uma releitura histórica do pensamento de Jesus. Recife: Editora  Bom Livro, 2009;
7 SILVA, Severino Celestino da. Analisando as Traduções Bíblicas: refletindo a essência da mensagem bíblica. João Pessoa: Editora Núcleo Espírita Bom Samaritano, 2000;
8 PROPHET, Elizabeth Clare e PROPHET, Erin L.Reencarnação: o elo perdido do cristianismo. Rio de janeiro: Editora Nova Era, 2003.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

POR QUE OCORREM NUMEROSAS MORTES SIMULTÂNEAS EM CATÁSTROFES NATURAIS E ACIDENTES? EXISTE DESTINO?


Fonte da imagem: http://averdadequeamidianaomostra.blogspot.com.br/2012/04/nao-e-brincadeira-uma-grande-tsunami.html

Fábio José Lourenço Bezerra

            Em terremotos, tsunamis, incêndios, desastres aéreos e automobilísticos, além de outros tipos de tragédia, várias pessoas morrem ao mesmo tempo e da mesma forma, muitas vezes sob intenso sofrimento. Outras, nessas mesmas ocorrências, incrivelmente, sobrevivem, quando eram enormes as probabilidades de terem morrido. Quais as causas dessas mortes coincidentes, e dessas inacreditáveis sobrevivências?
         Sendo Deus todo-poderoso, soberanamente justo e bom, jamais permitiria que suas criaturas sofressem sem uma finalidade que lhes fosse benéfica posteriormente.
            Conforme já mencionamos no texto Por Que Devemos Fazer o Bem?, neste blog, todos nós somos irmãos em Deus, e é nosso dever nos ajudarmos mutuamente. Tudo o que fizermos de mal, conscientemente, aos nossos irmãos, ou toda a ajuda que deixarmos de prestar e, por conta disso, eles sofrerem, este mal se voltará contra nós, obedecendo à Lei de Causa e Efeito. Podemos não sentir enquanto estamos no corpo físico, mas, após a morte, temos nossa sensibilidade bastante aumentada, e é outro o nosso ponto de vista. Nossas imperfeições, quando estamos no mundo espiritual, são, para nós, como nódoas, manchas em nosso Espírito, que repercutem em nosso corpo espiritual de diversas formas. O sentimento de culpa, advindo de nossos erros, castiga nossa consciência (muitas vezes de forma bastante violenta), que necessita, para seu alívio, reparar o erro cometido. Esta reparação é feita, muitas vezes, em encarnações onde nos comprometemos a fazer o bem, ajudando aqueles a quem fizemos mal, ou a outras pessoas, ou voltamos para sofrer da mesma forma que aqueles a quem prejudicamos. Tal mecanismo não possui caráter de castigo, mas tão somente educativo, para modificar as disposições íntimas do Espírito, más tendências profundamente enraizadas em seu subconsciente. Sabendo aproveitar as reflexões aí proporcionadas, avança muito na sua evolução moral.
         Ocorre que muitos Espíritos, juntos ou não, praticaram o mal de forma semelhante em existências pretéritas, e lhes é concedido resgatarem o sofrimento que infligiram ao semelhante ao mesmo tempo, através de calamidades naturais ou acidentes. Assim, não é necessário que haja malfeitores para provocarem-lhe o sofrimento reparador. No Espiritismo, o fenômeno destas mortes semelhantes e simultâneas chama-se Resgate Coletivo.
        Mas como isso se dá? Por fatalidade, isto é, acontecimentos que estão irremediavelmente programados para ocorrer?  Aliás, existe fatalidade nos acontecimentos da vida?
            Na pergunta Nº 851 de “O Livro dos Espíritos”, temos: “Haverá fatalidade nos acontecimentos da vida, conforme ao sentido que se dá a este vocábulo? Quer dizer: todos os acontecimentos são predeterminados? E, neste caso, que vem a ser do livre-arbítrio?”
Resposta: “A fatalidade existe unicamente pela escolha que o Espírito fez, ao encarnar, desta ou daquela prova para sofrer. Escolhendo-a, instituiu para si uma espécie de destino, que é a conseqüência mesma da posição em que vem a achar-se colocado. Falo das provas físicas, pois, pelo que toca às provas morais e às tentações, o Espírito, conservando o livre-arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor de ceder ou de resistir. Ao vê-lo fraquear, um bom Espírito pode vir-lhe em auxílio, mas não pode influir sobre ele de maneira a dominar-lhe a vontade. Um Espírito mau, isto é, inferior, mostrando-lhe, exagerando aos seus olhos um perigo físico, o poderá abalar e amedrontar. Nem por isso, entretanto, a vontade do Espírito encarnado deixa de se conservar livre de quaisquer peias.”
Na pergunta Nº 852, temos: “Há pessoas que parecem perseguidas por uma fatalidade, independente da maneira por que procedem. Não lhes estará no destino o infortúnio?”
Resposta:“São, talvez, provas que lhes caiba sofrer e que elas escolheram. Porém, ainda aqui lançais à conta do destino o que as mais das vezes é apenas consequência de vossas próprias faltas. Trata de ter pura a consciência em meio dos males que te afligem e já bastante consolado te sentirás.”
Comentário de Allan Kardec: "As idéias exatas ou falsas que fazemos das coisas nos levam a ser bem ou malsucedidos, de acordo com o nosso caráter e a nossa posição social. Achamos mais simples e menos humilhante para o nosso amor próprio atribuir antes à sorte ou ao destino os insucessos que experimentamos, do que à nossa própria falta. É certo que para isso contribui algumas vezes a influência dos Espíritos, mas também o é que podemos sempre forrarnos a essa influência, repelindo as idéias que eles nos sugerem, quando más".

Na pergunta Nº 853, temos: “Algumas pessoas só escapam de um perigo mortal para cair em outro. Parece que não podiam escapar da morte. Não há nisso fatalidade?”
Resposta:“Fatal, no verdadeiro sentido da palavra, só o instante da morte o é. Chegado esse momento, de uma forma ou doutra, a ele não podeis furtar-vos.”
a) — “Assim, qualquer que seja o perigo que nos ameace, se a hora da morte ainda não chegou, não morreremos?”
“Não; não perecerás e tens disso milhares de exemplos. Quando, porém, soe a hora da tua partida, nada poderá impedir que partas. Deus sabe de antemão de que gênero será a morte do homem e muitas vezes seu Espírito também o sabe, por lhe ter sido isso revelado, quando escolheu tal ou qual existência.”

Na pergunta Nº 854, temos: “Do fato de ser infalível a hora da morte, poder-se-á deduzir que sejam inúteis as precauções que tomemos para evitá-la?”
Resposta:“Não, visto que as precauções que tomais vos são sugeridas com o fito de evitardes a morte que vos ameaça. São um dos meios empregados para que ela não se dê.”
Na pergunta Nº 855, temos: “Com que fim nos faz a Providência correr perigos que nenhuma conseqüência devem ter?”
Resposta:“O fato de ser a tua vida posta em perigo constitui um aviso que tu mesmo desejaste, a fim de te desviares do mal e te tornares melhor. Se escapas desse perigo, quando ainda sob a impressão do risco que correste, cogitas, mais ou menos seriamente, de te melhorares, conforme seja mais ou menos forte sobre ti a influência dos Espíritos bons. Sobrevindo o mau Espírito (digo mau, subentendendo o mal que ainda existe nele), entras a pensar que do mesmo modo escaparás a outros perigos e deixas que de novo tuas paixões se desencadeiem. Por meio dos perigos que correis, Deus vos lembra a vossa fraqueza e a fragilidade da vossa existência. Se examinardes a causa e a natureza do perigo, verificareis que, quase sempre, suas conseqüências teriam sido a punição de uma falta cometida ou da negligência no cumprimento de um dever. Deus, por essa forma, exorta o Espírito a cair em si e a se emendar.” 

Na pergunta Nº 856: “Sabe o Espírito antecipadamente de que gênero será sua morte?”
Resposta: “Sabe que o gênero de vida que escolheu o expõe mais a morrer desta do que daquela maneira. Sabe igualmente quais as lutas que terá de sustentar para evitá-lo e que, se Deus o permitir, não sucumbirá.”

Na pergunta Nº 859: “Com todos os acidentes, que nos sobrevêm no curso da vida, se dá o mesmo que com a morte, que não pode ser evitada, quando tem de ocorrer?”
Resposta: “São de ordinário coisas muito insignificantes, de sorte que vos podemos prevenir deles e fazer que os eviteis algumas vezes, dirigindo o vosso pensamento, pois nos desagradam os sofrimentos materiais. Isso, porém, nenhuma importância tem na vida que escolhestes. A fatalidade, verdadeiramente, só existe quanto ao momento em que deveis aparecer e desaparecer deste mundo.”
a) — “Haverá fatos que forçosamente devam dar-se e que os Espíritos não possam conjurar, embora o queiram?”
“Há, mas que tu viste e pressentiste quando, no estado de Espírito, fizeste a tua escolha. Não creias, entretanto, que tudo o que sucede esteja escrito, como costumam dizer. Um acontecimento qualquer pode ser a conseqüência de um ato que praticaste por tua livre vontade, de tal sorte que, se não o houvesses praticado, o acontecimento não se teria dado. Imagina que queimas o dedo. Isso nada mais é senão resultado da tua imprudência e efeito da matéria. Só as grandes dores, os fatos importantes e capazes de influir no moral, Deus os prevê, porque são úteis à tua depuração e à tua instrução (grifo nosso).”

Na pergunta Nº 860: Pode o homem, pela sua vontade e por seus atos, fazer que se não dêem acontecimentos que deveriam verificar-se e reciprocamente?
Resposta: “Pode-o, se essa aparente mudança na ordem dos fatos tiver cabimento na seqüência da vida que ele escolheu. Acresce que, para fazer o bem, como lhe cumpre, pois que isso constitui o objetivo único da vida, facultado lhe é impedir o mal, sobretudo aquele que possa concorrer para a produção de um mal maior.”

As grandes calamidades naturais também possuem uma finalidade geral para o progresso da humanidade. Vejamos:

Na pergunta Nº 737: “Com que fim fere Deus a Humanidade por meio de flagelos destruidores?”
Resposta: “Para fazê-la progredir mais depressa. Já não dissemos ser a destruição uma necessidade para a regeneração moral dos Espíritos, que, em cada nova existência,sobem um degrau na escala do aperfeiçoamento? Preciso é que se veja o objetivo, para que os resultados possam ser apreciados. Somente do vosso ponto de vista pessoal os apreciais; daí vem que os qualificais de flagelos, por efeito do prejuízo que vos causam. Essas subversões, porém, são freqüentemente necessárias para que mais pronto se dê o advento de uma melhor ordem de coisas e para que se realize em alguns anos o que teria exigido muitos séculos.” 

Na pergunta Nº 738: “Para conseguir a melhora da Humanidade, não podia Deus empregar outros meios que não os flagelos destruidores?
Resposta:“Pode e os emprega todos os dias, pois que deu a cada um os meios de progredir pelo conhecimento do bem e do mal. O homem, porém não se aproveita desses meios. Necessário, portanto, se torna que seja castigado no seu orgulho e que se lhe faça sentir a sua fraqueza.”
a) — “Mas, nesses flagelos, tanto sucumbe o homem de bem como o perverso. Será justo isso?”
“Durante a vida, o homem tudo refere ao seu corpo; entretanto, de maneira diversa pensa depois da morte. Ora, conforme temos dito, a vida do corpo bem pouca coisa é. Um século no vosso mundo não passa de um relâmpago na eternidade . Logo, nada são os sofrimentos de alguns dias ou de alguns meses, de que tanto vos queixais. Representam um ensino que se vos dá e que vos servirá no futuro. Os Espíritos, que preexistem e sobrevivem a tudo, formam o mundo real. Esses os filhos de Deus e o objeto de toda a sua solicitude. Os corpos são meros disfarces com que eles aparecem no mundo. Por ocasião das grandes calamidades que dizimam os homens, o espetáculo é semelhante ao de um exército cujos soldados, durante a guerra, ficassem com seus uniformes estragados, rotos, ou perdidos. O general se preocupa mais com seus soldados do que com os uniformes deles.”
b) — Mas, nem por isso as vítimas desses flagelos deixam de o ser.
“Se considerásseis a vida qual ela é e quão pouca coisa representa com relação ao infinito, menos importância lhe daríeis. Em outra vida, essas vítimas acharão ampla compensação aos seus sofrimentos, se souberem suportá-los sem murmurar.”
Comentário de Allan Kardec: “Venha por um flagelo a morte, ou por uma causa comum, ninguém deixa por isso de morrer, desde que haja soado a hora da partida. A única diferença, em caso de flagelo, é que maior número parte ao mesmo tempo. Se, pelo pensamento, pudéssemos elevar-nos de maneira a dominar a Humanidade e a abrangê-la em seu conjunto, esses tão terríveis flagelos não nos pareceriam mais do que passageiras tempestades no destino do mundo.”

Na pergunta Nº 739: “Têm os flagelos destruidores utilidade, do ponto de vista físico, não obstante os males que ocasionam?”
Resposta:“Têm. Muitas vezes mudam as condições de uma região. Mas, o bem que deles resulta só as gerações vindouras o experimentam.”

Na pergunta Nº 740: “Não serão os flagelos, igualmente, provas morais para o homem, por porem-no a braços com as mais aflitivas necessidades?”
Resposta: “Os flagelos são provas que dão ao homem ocasião de exercitar a sua inteligência, de demonstrar sua paciência e resignação ante a vontade de Deus e que lhe oferecem ensejo de manifestar seus sentimentos de abnegação, de desinteresse e de amor ao próximo, se o não domina o egoísmo.”

Na pergunta Nº 741: “Dado é ao homem conjurar os flagelos que o afligem?”
Resposta: “Em parte, é; não, porém, como geralmente o entendem. Muitos flagelos resultam da imprevidência do homem. À medida que adquire conhecimentos e experiência, ele os vai podendo conjurar, isto é, prevenir, se lhes sabe pesquisar as causas. Contudo, entre os males que afligem a Humanidade, alguns há de caráter geral, que estão nos decretos da Providência e dos quais cada indivíduo recebe, mais ou menos, o contragolpe. A esses nada pode o homem opor, a não ser sua submissão à vontade de Deus. Esses mesmos males, entretanto, ele muitas vezes os agrava pela sua negligência.”
Comentário de Kardec: “Na primeira linha dos flagelos destruidores, naturais e independentes do homem, devem ser colocados a peste, a fome, as inundações, as intempéries fatais às produções da terra. Não tem, porém, o homem encontrado na Ciência, nas obras de arte, no aperfeiçoamento da agricultura, nos afolhamentos e nas irrigações, no estudo das condições higiênicas, meios de impedir, ou, quando menos, de atenuar muitos desastres? Certas regiões, outrora assoladas por terríveis flagelos, não estão hoje preservadas deles? Que não fará, portanto, o homem pelo seu bem estar material, quando souber aproveitar-se de todos os recursos da sua inteligência e quando, aos cuidados da sua conservação pessoal, souber aliar o sentimento de verdadeira caridade para com os seus semelhantes?" 

Pergunta Nº 783: Segue sempre marcha progressiva e lenta o aperfeiçoamento da Humanidade?
Resposta: “Há o progresso regular e lento, que resulta da força das coisas. Quando, porém, um povo não progride tão depressa quanto devera, Deus o sujeita, de tempos a tempos, a um abalo físico ou moral que o transforma.”
Comentário de Kardec: “O homem não pode conservar-se indefinidamente na ignorância, porque tem de atingir a finalidade que a Providência lhe assinou. Ele se instrui pela força das coisas. As revoluções morais, como as revoluções sociais, se infiltram nas idéias pouco a pouco; germinam durante séculos; depois, irrompem subitamente e produzem o desmoronamento do carunchoso edifício do passado, que deixou de estar em harmonia com as necessidades novas e com as novas aspirações. Nessas comoções, o homem quase nunca percebe senão a desordem e a confusão momentâneas que o ferem nos seus interesses materiais. Aquele, porém, que eleva o pensamento acima da sua própria personalidade, admira os desígnios da Providência, que do mal faz sair o bem. São a procela, a tempestade que saneiam a atmosfera, depois de a terem agitado violentamente.”

Abaixo, colocamos um vídeo de Divaldo Pereira Franco, que fala, como sempre com bastante propriedade, sobre os resgates coletivos:



OBRA CONSULTADA:

KARDEC, Allan O livro dos espíritos: princípios da doutrina espírita. FEB. Versão digital: L.Neilmoris – 2007;


ENDEREÇO ELETRÔNICO:

http://www.youtube.com/watch?v=LJXmnyiKWCg&feature=youtu.be