Fonte da imagem: http://blog-do-caminho.blogspot.com.br/2011/02/21-verdades-sobre-evolucao-espiritual.html
Fábio José Lourenço Bezerra
Dando
continuidade aos dois textos anteriores, “Quem é Jesus?” e “Quem é Jesus Parte 2 – Jesus é Deus?”, neste blog, segundo determinadas
doutrinas religiosas, Jesus veio ao mundo para redimir o pecado dos homens. Era
o cordeiro de Deus, oferecido em sacrifício na cruz para aplacar ira de Deus,
perante a iniquidade dos seres humanos. Ainda segundo essas doutrinas, a partir
do sacrifício de Jesus, basta aos homens crerem nele como sendo o salvador,
para serem salvos. Quem recusar-se a crer nisso, estará condenado a sofrer
eternamente no inferno, após a morte. Trata-se de uma doutrina de origem
medieval, utilizando-se de uma antiga crença judaica, onde oferece-se um
sacrifício para apagar os próprios pecados. Na páscoa, os judeus costumavam
sacrificar um cordeiro como oferenda a Deus, com esse intuito.
Contudo, se considerarmos que
Deus é todo-poderoso, soberanamente justo e bom, veremos que essa ideia é
bastante ilógica. Então, vejamos:
- Se sofrer eternamente ou não
após a morte depende da adoção de determinada crença, então porque várias
pessoas, diariamente, morrem sem nada conhecer desta crença? (por exemplo, um indiano
que nunca ouviu sequer falar de Jesus) E os milhões que morreram no passado sem
dela nada conhecer? Caso sejam salvos porque não conheceram essa crença, porque
o privilégio de não a terem conhecido, enquanto outros são apresentados a ela,
arriscando-se a não aceitá-la? Se não são salvos, porque então nasceram impossibilitados
de conhecê-la? Estariam destinados à condenação desde o momento do seu nascimento;
- Se Deus é bom, então porque ele
não daria mais oportunidades para arrependimento, antes de jogar seu filho em
um suplício eterno? Se alguém, por exemplo, viveu 20 anos e não adotou a crença
supracitada, morrendo e indo para o inferno, será que se pudesse ter vivido até
os 100 anos (como muitos vivem atualmente), durante os 80 anos restantes não
poderia ter se arrependido e, assim, ganho o céu? E enquanto arde no inferno,
será que também aí não poderia se arrepender? Se sim, então porque Deus não lhe
daria uma chance?
Sem dúvida, são perguntas de
difícil resposta, caso consideremos Deus todo-poderoso, infinitamente bom e
justo. É que esta doutrina teve origem em mentes medievais, que possuíam o
conhecimento limitado de sua época, o que acabou refletindo-se na teologia que
criaram. Consideravam Deus como um rei orgulhoso e implacável em suas punições,
tal como eram muitos reis da idade média. Ou, quem sabe, uma vez que a Igreja e
os reis andavam de mãos dadas naquela época, não adotaram essa crença como
forma de ter poder sobre a população? Aliás, os próprios reis temiam ir para o
inferno. Assim, a Igreja detinha poder sobre eles. Se, em uma ou outra passagem
dos evangelhos, existe a possibilidade de interpretar-se os ensinamentos de
Jesus da maneira como pregam as crenças supracitadas, em muitos casos deve-se à
adulteração dos textos originais, má tradução das cópias existentes ou má
interpretação dos próprios apóstolos que, afinal de contas, possuíam suas
próprias crenças antes do aparecimento de Jesus (ver o texto “Quem é Jesus?”, neste blog).
Seja como for, esse Deus que
pregam é bem diferente daquele que Jesus citou na seguinte passagem, que
inclusive aparece em três evangelhos, quando ele encontra-se com um jovem rico,
que lhe chama de Bom Mestre: “Por que me chamas bom? Bom não é senão o Pai que
está nos céus” (Mateus 19:17, Marcos 10:17, Lucas 18:18). Jesus, que tanto
bem fez às pessoas enquanto estava na Terra, recusava-se a ser chamado de bom
naquela ocasião. Com certeza, fez isto não apenas por sua humildade, mas também
porque seu ponto de referência de bondade era Deus, e aproveitou a ocasião demonstrar
o quanto Deus é bom.
Essas
doutrinas também vão contra as palavras de Jesus nessa passagem: “Porque o
Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a
cada um segundo as suas obras” (Mateus 16:27).
Vejamos o que disse Allan Kardec
em sua obra “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, no Capítulo XV. Ele começa
citando algumas passagens do Novo Testamento:
“O DE QUE PRECISA O ESPÍRITO PARA
SE SALVAR.
PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO
“Ora, quando o filho do
homem vier em sua majestade, acompanhado de todos os anjos, sentar-se-á no
trono de sua glória; reunidas diante dele todas as nações, separará uns dos
outros, como o pastor separa dos bodes as ovelhas e colocará as ovelhas à sua
direita e os bodes à sua esquerda”.
“Então, dirá o Rei aos que
estiverem à sua direita: vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do reino que
vos foi preparado desde o princípio do mundo; porquanto, tive fome e me destes
de comer; tive sede e me destes de beber; careci de teto e me hospedastes;
estive nu e me vestistes; achei-me doente e me visitastes; estive preso e me
fostes ver”.
“Então, responder-lhe-ão os
justos: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com
sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos sem teto e te hospedamos; ou
despido e te vestimos? E quando foi que te soubemos doente ou preso e fomos
visitar-te ?’ O Rei lhes responderá: ‘Em verdade vos digo, todas as vezes que
isso fizestes a um destes mais pequeninos dos meus irmãos, foi a mim mesmo que
o fizestes’ ”.
“Dirá em seguida aos que
estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de mim, malditos; ide para o fogo
eterno, que foi preparado para o diabo e seus anjos; porquanto, tive fome e não
me destes de comer, tive sede e não me destes de beber; precisei de teto e não
me agasalhastes; estive sem roupa e não me vestistes; estive doente e no cárcere
e não me visitastes’”.
“Também eles replicarão: ‘Senhor,
quando foi que te vimos com fome e não te demos de comer, com sede e não te
demos de beber, sem teto ou sem roupa, doente ou preso e não te assistimos?’
Ele então lhes responderá: ‘Em verdade vos digo: todas as vezes que faltastes
com a assistência a um destes mais pequenos, deixastes de tê-la para comigo
mesmo. E esses irão para o suplício eterno, e os justos para a vida eterna’”.(MATEUS,
25:31 a 46)
2. Então, levantando-se, disse-lhe um doutor
da lei, para o tentar: “Mestre, que preciso fazer para possuir a vida eterna?”
Respondeu-lhe Jesus: “Que é o que está escrito na lei? Que é o que lês nela?”
Ele respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma,
com todas as tuas forças e de todo o teu espírito, e a teu próximo como a ti
mesmo”.Disse-lhe Jesus: “Respondeste muito bem; faze isso e viverás”. Mas, o
homem, querendo parecer que era um justo, diz a Jesus: “Quem é o meu próximo?”
Jesus, tomando a palavra, lhe diz: “Um homem, que descia de Jerusalém para
Jericó, caiu em poder de ladrões, que o despojaram, cobriram de ferimentos e se
foram, deixando-o semimorto. Aconteceu em seguida que um sacerdote, descendo
pelo mesmo caminho, o viu e passou adiante. Um levita, que também veio àquele
lugar, tendo-o observado, passou igualmente adiante. Mas, um samaritano que
viajava, chegando ao lugar onde jazia aquele homem e tendo-o visto, foi tocado
de compaixão. Aproximou-se
dele, deitou-lhe óleo e vinho nas feridas e as pensou;
depois, pondo-o no seu cavalo, levou-o a uma hospedaria e cuidou dele. No dia
seguinte tirou dois denários e os deu ao hospedeiro, dizendo: ‘Trata muito bem
deste homem e tudo o que despenderes a mais, eu te pagarei quando regressar’.
Qual desses três te parece ter sido o próximo daquele que caíra em poder dos
ladrões?” O doutor respondeu: “Aquele que usou de misericórdia para com ele”.
“Então, vai!” – diz Jesus – “E faze o mesmo”.(LUCAS, 10:25 a 37)
3. Toda a moral de Jesus se resume na caridade e na
humildade, isto é, nas duas virtudes contrárias ao egoísmo e ao orgulho. Em
todos os seus ensinos, ele aponta essas duas virtudes como sendo as que
conduzem à eterna felicidade: Bem-aventurados, disse, os pobres de espírito,
isto é, os humildes, porque deles é o reino dos céus; bem-aventurados os que
têm puro o coração; bem-aventurados os que são brandos e pacíficos; bem-aventuradosos
que são misericordiosos; amai o vosso próximo como a vós mesmos; fazei aos
outros o que quereríeis vos fizessem; amai os vossos inimigos; perdoai as
ofensas, se quiserdes ser perdoados; praticai o bem sem ostentação; julgai-vos a
vós mesmos, antes de julgardes os outros. Humildade e caridade, eis o que não
cessa de recomendar e o de que dá, ele próprio, o exemplo. Orgulho e egoísmo,
eis o que não se cansa de combater. E não se limita a recomendar a caridade;
põe-na claramente e em termos explícitos como condição absoluta da felicidade
futura.
No quadro que traçou do juízo
final, deve-se, como em muitas outras coisas, separar o que é apenas figura,
alegoria. A homens como os a quem falava, ainda incapazes de compreender as
questões puramente espirituais, tinha ele de apresentar imagens materiais
chocantes e próprias a impressionar. Para melhor apreenderem o que dizia, tinha
mesmo de não se afastar muito das idéias correntes, quanto à forma, reservando
sempre ao porvir a verdadeira interpretação de suas palavras e dos pontos sobre
os quais não podia explicar-se claramente. Mas, ao lado da parte acessória ou
figurada do quadro, há uma idéia dominante: a da felicidade reservada ao justo
e da infelicidade que espera o mau.
Naquele julgamento supremo, quais
os considerandos da sentença? Sobre que se baseia o libelo? Pergunta,
porventura, o juiz se o inquirido preencheu tal ou qual formalidade, se
observou mais ou menos tal ou qual prática exterior? Não; inquire tão somente de
uma coisa: se a caridade foi praticada, e se pronuncia assim: Passai à direita,
vós que assististes os vossos irmãos; passai à esquerda, vós que fostes duros
para com eles. Informa-se, por acaso, da ortodoxia da fé? Faz qualquer distinção
entre o que crê de um modo e o que crê de outro? Não, pois Jesus coloca o samaritano,
considerado herético, mas que pratica o amor do próximo, acima do ortodoxo que
falta com a caridade. Não considera, portanto, a caridade apenas como uma das
condições para a salvação, mas como a condição única. Se outras houvesse a
serem preenchidas, ele as teria declinado. Desde que coloca a caridade em primeiro
lugar, é que ela implicitamente abrange todas as outras: a humildade, a brandura,
a benevolência, a indulgência, a justiça, etc., e porque é a negação absoluta
do orgulho e do egoísmo.”
O MANDAMENTO MAIOR
4. Mas, os fariseus, tendo sabido que ele tapara a
boca aos saduceus, se reuniram; e um deles, que era doutor da lei, foi propor-lhe
esta questão, para o tentar: “Mestre, qual o grande mandamento da lei?” Jesus
lhe respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua
alma, de todo o teu espírito. Esse o maior e o primeiro mandamento. E aqui está
o segundo, que é semelhante ao primeiro: Amarás o teu próximo, como a ti mesmo.
Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois
mandamentos”. (MATEUS, 22: 34 a 40)
5. Caridade e humildade, tal a senda única da
salvação. Egoísmo e orgulho, tal a da perdição. Este princípio se acha
formulado nos seguintes precisos termos: “Amarás a Deus de toda a tua alma e a
teu próximo como a ti mesmo; toda a lei e os profetas se acham contidos
nesses dois mandamentos.” E, para que não haja equívoco sobre a interpretação
do amor de Deus e do próximo, acrescenta: “E aqui está o segundo mandamento que
é semelhante ao primeiro”, isto é, que não se pode verdadeiramente amar a Deus
sem amar o próximo, nem amar o próximo sem amar a Deus. Logo, tudo o que se
faça contra o próximo o mesmo é que fazê-lo contra Deus. Não podendo amar a
Deus sem praticar a caridade para com o próximo, todos os deveres do homem se
resumem nesta máxima: FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO.
NECESSIDADE DA CARIDADE, SEGUNDO S. PAULO
6. “Ainda quando eu falasse todas as línguas dos
homens e a língua dos próprios anjos, se eu não tiver caridade, serei como o
bronze que soa e um címbalo que retine; ainda quando tivesse o dom de profecia,
que penetrasse todos os mistérios, e tivesse perfeita ciência de todas as
coisas; ainda quando tivesse toda a fé possível, até ao ponto de transportar montanhas,
se não tiver caridade, nada sou. E, quando houvesse distribuído os meus bens
para alimentar os pobres e houvesse entregado meu corpo para ser queimado, se
não tivesse caridade, tudo isso de nada me serviria”.
“A caridade é paciente; é branda
e benfazeja; a caridade não é invejosa; não é temerária, nem precipitada; não
se enche de orgulho; não é desdenhosa; não cuida de seus interesses; não se
agasta, nem se azeda com coisa alguma; não suspeita mal; não se rejubila com a
injustiça, mas se rejubila com a verdade; tudo suporta, tudo crê, tudo espera,
tudo sofre”.
“Agora, estas três virtudes: a
fé, a esperança e a caridade permanecem; mas, dentre elas, a mais excelente é a
caridade”. (S. PAULO, 1ª Epístola aos Coríntios, 13:1 a 7 e 13)
7. De tal modo compreendeu S. Paulo essa grande
verdade, que disse: Quando mesmo eu tivesse a linguagem dos anjos; quando
tivesse o dom de profecia, que penetrasse todos os mistérios; quando tivesse
toda a fé possível, até ao ponto de transportar montanhas, se não tiver
caridade, nada sou. Dentre estas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade,
a mais excelente é a caridade. Coloca assim, sem equívoco, a caridade acima até
da fé. É que a caridade está ao alcance de toda gente: do ignorante, como do
sábio, do rico, como do pobre, e independe de qualquer crença particular.
Faz mais: define a verdadeira
caridade, mostra-a não só na beneficência, como também no conjunto de todas as
qualidades do coração, na bondade e na benevolência para com o próximo.”
A salvação, isto é, a chegada do
Espírito ao seio de Deus, dar-se-á quando ele atingir o pleno desenvolvimento
intelecto-moral, isto é, a perfeição (ver o texto “Evolução: A Jornada do Espírito”, neste blog), como disse o próprio Jesus:
“Amai os vossos
inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e
caluniam. Porque, se somente amardes os que vos amam, que recompensa tereis
disso? Não fazem assim também os publicanos? Se unicamente saudardes os vossos
irmãos, que fazeis com isso mais do que outros? Não fazem o mesmo os pagãos? Sede,
pois, vós outros, perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial” (MATEUS,
5:44, 46 a 48).
Contudo,
uma vida só, evidentemente, é insuficiente para que o Espírito atinja a perfeição.
Para isso, torna-se necessária a experiência adquirida após várias encarnações.
Como falou Jesus na seguinte passagem do Evangelho de João:
“Ora, entre os
fariseus, havia um homem chamado Nicodemos, senador dos judeus, que veio à
noite ter com Jesus e lhe disse: “Mestre, sabemos que vieste da parte de Deus
para nos instruir como um doutor, porquanto ninguém poderia fazer os milagres
que fazes, se Deus não estivesse com ele.” Jesus lhe respondeu: “Em
verdade, em verdade digo-te: Ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de
novo.”
Disse-lhe
Nicodemos: “Como pode nascer um homem já velho? Pode tornar a entrar no ventre
de sua mãe, para nascer segunda vez?” Retorquiu-lhe Jesus: “Em verdade, em
verdade, digo-te: Se um homem não renasce da água e do Espírito, não pode
entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne e o que é nascido do
Espírito é Espírito. Não te admires de que eu te haja dito ser preciso que nasças
de novo. O Espírito sopra onde quer e ouves a sua voz mas não sabes donde vem
ele, nem para onde vai; o mesmo se dá com todo homem que é nascido do Espírito.”
(S. JOÃO, 3:1 a 8.)
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
1
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. FEB. Versão
digital: Ery Lopes – 2007.
2 EHRMAN,
Bart D. Evangelhos Perdidos. Rio de janeiro: Editora Record,
2008;
3______________.O
Que Jesus Disse? O Que Jesus Não Disse?: quem mudou a Bíblia e porque.
São Paulo: Editora Prestígio, 2006;
4______________.Quem
Jesus Foi? Quem Jesus Não Foi? : mais revelações inéditas sobre
as contradições da Bíblia. Rio de Janeiro: Ediouro, 2010;
5
______________.O Problema Com Deus: as respostas que a Bíblia não
dá ao sofrimento. Rio de Janeiro, Editora Agir, 2008;
6 RANGEL, Liszt. Arqueologia dos
Evangelhos: uma releitura histórica do pensamento de Jesus. Recife:
Editora Bom Livro, 2009;
7 SILVA, Severino Celestino da. Analisando
as Traduções Bíblicas: refletindo a essência da mensagem bíblica. João
Pessoa: Editora Núcleo Espírita Bom Samaritano, 2000;
8 PROPHET, Elizabeth Clare e PROPHET, Erin L.Reencarnação: o
elo perdido do cristianismo. Rio de janeiro: Editora Nova Era, 2003.
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