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Fábio José Lourenço
Bezerra
No
Capítulo XXVIII, intitulado “COLETÂNEA
DE PRECES ESPÍRITAS”, do “Evangelho
Segundo o Espiritismo”, Allan Kardec
escreveu:
“Os Espíritos recomendaram que, encabeçando esta coletânea,
puséssemos a Oração dominical, não somente como prece, mas também como símbolo.
De todas as preces, é a que eles colocam em primeiro lugar, seja porque procede
do próprio Jesus (Mateus, 6:9 a 13), seja porque pode suprir a todas, conforme
os pensamentos que se lhe conjuguem; é o mais perfeito modelo de concisão,
verdadeira obra prima de sublimidade na simplicidade.
Com efeito, sob a mais singela forma, ela resume todos os
deveres do homem para com Deus, para consigo mesmo e para com o próximo.
Encerra uma profissão de fé, um ato de adoração e de submissão; o pedido das
coisas necessárias à vida e o princípio da caridade. Quem a diga, em intenção
de alguém, pede para este o que pediria para si.
Contudo, em virtude mesmo da sua brevidade, o sentido profundo
que encerram as poucas palavras de que ela se compõe escapa à maioria das
pessoas. Daí vem o dizerem-na, geralmente, sem que os pensamentos se detenham
sobre as aplicações de cada uma de suas partes. Dizem-na como uma fórmula cuja
eficácia se ache condicionada ao número de vezes que seja repetida. Ora, quase
sempre esse é um dos números cabalísticos: três, sete ou nove, tomados à antiga
crença supersticiosa na virtude dos números e de uso nas operações da magia.
Para preencher o que de vago a concisão desta prece deixa na
mente, a cada uma de suas proposições aditamos, aconselhado pelos Espíritos e
com a assistência deles, um comentário que lhes desenvolve o sentido e mostra
as aplicações. Conforme, pois, as circunstâncias e o tempo de que disponha,
poderá, aquele que ore, dizer a Oração dominical, ou na sua forma simples, ou
na desenvolvida.
Prece. – I. Pai nosso, que
estás no céu, santificado seja o teu nome!
Cremos em ti, Senhor, porque tudo revela o teu poder e a tua
bondade. A harmonia do Universo dá testemunho de uma sabedoria, de uma
prudência e de uma previdência que ultrapassam todas as faculdades humanas. Em
todas as obras da Criação, desde o raminho de erva minúscula e o pequenino
inseto, até os astros que se movem no espaço, o nome se acha inscrito de um ser
soberanamente grande e sábio. Por toda a parte se nos depara a prova de
paternal solicitude. Cego, portanto, é aquele que te não reconhece nas tuas
obras, orgulhoso aquele que te não glorifica e ingrato aquele que te não rende
graças.
II.
Venha o teu reino!
Senhor, deste aos homens leis plenas de sabedoria e que lhes
dariam a felicidade, se eles as cumprissem. Com essas leis, fariam reinar entre
si a paz e a justiça e mutuamente se auxiliariam, em vez de se maltratarem,
como o fazem. O forte sustentaria o fraco, em vez de o esmagar. Evitados seriam
os males, que se geram dos excessos e dos abusos. Todas as misérias deste mundo
provêm da violação de tuas leis, porquanto nenhuma infração delas deixa de
ocasionar fatais conseqüências.
Deste ao bruto o instinto, que lhe traça o limite do necessário,
e ele maquinalmente se conforma; ao homem, no entanto, além desse instinto,
deste a inteligência e a razão; também lhe deste a liberdade de cumprir ou
infringir aquelas das tuas leis que pessoalmente lhe concernem, isto é, a
liberdade de escolher entre o bem e o mal, a fim de que tenha o mérito e a
responsabilidade das suas ações.
Ninguém pode pretextar ignorância das tuas leis, pois, com
paternal previdência, quiseste que elas se gravassem na consciência de cada um,
sem distinção de cultos, nem de nações. Se as violam, é porque as desprezam.
Dia virá em que, segundo a tua promessa, todos as praticarão.
Desaparecido terá, então, a incredulidade. Todos te reconhecerão por soberano
Senhor de todas as coisas,
e o reinado das tuas leis será o teu reino na Terra.
Digna-te, Senhor, de apressar-lhe o advento, outorgando aos
homens a luz necessária, que os conduza ao caminho da verdade.
III.
Faça-se a tua vontade, assim na Terra
como no Céu.
Se a submissão é um dever do filho para com o pai, do inferior
para com o seu superior, quão maior não deve ser a da criatura para com o seu
Criador! Fazer a tua vontade, Senhor, é observar as tuas leis e submeter-se, sem
queixumes, aos teus decretos. O homem a ela se submeterá, quando compreender
que és a fonte de toda a sabedoria e que sem ti ele nada pode. Fará, então, a
tua vontade na Terra, como os eleitos a fazem no Céu.
IV.
Dá-nos o pão de cada dia.
Dá-nos o alimento indispensável à sustentação das forças do
corpo; mas, dá-nos também o alimento espiritual para o desenvolvimento do nosso
Espírito. O bruto encontra a sua pastagem; o homem, porém, deve o sustento à
sua própria atividade e aos recursos da sua inteligência, porque o criaste
livre.
Tu lhe hás dito: “Tirarás da terra o alimento com o suor da tua
fronte.” Desse modo, fizeste do trabalho, para ele, uma obrigação, a fim de que
exercitasse a inteligência na procura dos meios de prover às suas necessidades
e ao seu bem estar, uns mediante o labor manual, outros pelo labor intelectual.
Sem o trabalho, ele se conservaria estacionário e não poderia aspirar à
felicidade dos Espíritos superiores.
Ajudas o homem de boa vontade que em ti confia, pelo que
concerne ao necessário; não, porém, àquele que se compraz na ociosidade e
desejara tudo obter sem esforço, nem àquele que busca o supérfluo. (Cap. XXV.)
Quantos e quantos sucumbem por culpa própria, pela sua incúria,
pela sua imprevidência, ou pela sua ambição e por não terem querido contentar-se
com o que lhes havias concedido! Esses são os artífices do seu infortúnio e
carecem do direito de queixar-se, pois que são punidos naquilo em que pecaram.
Mas, nem a esses mesmos abandonas, porque és infinitamente misericordioso. As
mãos lhes estendes para socorrê-los, desde que, como o filho pródigo, se voltem
sinceramente para ti. (Cap. V, nº 4.)
Antes de nos queixarmos da sorte, inquiramos de nós mesmos se
ela não é obra nossa. A cada desgraça que nos chegue, cuidemos de saber se não
teria estado em nossas mãos evitá-la.
Consideremos também que Deus nos outorgou a inteligência para
tirarnos do lameiro, e que de nós depende o modo de a utilizarmos.
Pois que à lei do trabalho se acha submetido o homem na Terra,
dá-nos coragem e forças para obedecer a essa lei. Dá-nos também a prudência, a previdência
e a moderação, a fim de não perdermos o respectivo fruto.
Dá-nos, pois, Senhor, o pão de cada dia, isto é, os meios de
adquirirmos, pelo trabalho, as coisas necessárias à vida, porquanto ninguém tem
o direito de reclamar o supérfluo.
Se trabalhar nos é impossível, à tua divina providência nos
confiamos.
Se está nos teus desígnios experimentarnos pelas mais duras
provações, malgrado aos nossos esforços, aceitamo-las como justa expiação das
faltas que tenhamos cometido nesta existência, ou noutra anterior, porquanto és
justo. Sabemos que não há penas imerecidas e que jamais castigas sem causa.
Preserva-nos, ó meu Deus, de invejar os que possuem o que não
temos, nem mesmo os que dispõem do supérfluo, ao passo que a nós nos falta o
necessário.
Perdoa-lhes, se esquecem a lei de caridade e de amor do próximo,
que lhes ensinaste. (Cap. XVI, nº 8)
Afasta, igualmente, do nosso espírito a idéia de negar a tua
justiça, ao notarmos a prosperidade do mau e a desgraça que cai por vezes sobre
o homem de bem. Já sabemos, graças às novas luzes que te aprouve conceder-nos, que
a tua justiça se cumpre sempre e a ninguém excetua; que a prosperidade material
do mau é efêmera, quanto a sua existência corpórea, e que experimentará
terríveis reveses, ao passo que eterno será o júbilo daquele que sofre
resignado. (Cap. V, nº 7, 9, 12 e 18)
V.
Perdoa as nossas dívidas, como perdoamos
aos que nos devem. Perdoa as nossas ofensas, como perdoamos aos que nos
ofenderam.
Cada uma das nossas infrações às tuas leis, Senhor, é uma ofensa
que te fazemos e uma dívida que contraímos e que cedo ou tarde teremos de
saldar.
Rogamos-te que no-las perdoes pela tua infinita misericórdia,
sob a promessa, que te fazemos, de empregarmos os maiores esforços para não
contrair outras.
Tu nos impuseste por lei expressa a caridade; mas, a caridade
não consiste apenas em assistirmos os nossos semelhantes em suas necessidades;
também consiste no esquecimento e no perdão das ofensas. Com que direito
reclamaríamos a tua indulgência, se dela não usássemos para com aqueles que nos
hão dado motivo de queixa? Concede-nos, ó meu Deus, forças para apagar de nossa
alma todo ressentimento, todo ódio e todo rancor. Faze que a morte não nos
surpreenda guardando nós no coração desejos de vingança. Se te aprouver tirar-nos
hoje mesmo deste mundo, faze que nos possamos apresentar, diante de ti, puros
de toda animosidade, a exemplo do Cristo, cujos últimos pensamentos foram em
prol dos seus algozes. (Cap. X)
Constituem parte das nossas provas terrenas as perseguições que
os maus nos infligem. Devemos, então, recebê-las sem nos queixarmos, como todas
as outras provas, e não maldizer dos que, por suas maldades, nos rasgam o
caminho da felicidade eterna, visto que nos disseste, por intermédio de Jesus:
“Bem-aventurados os que sofrem pela justiça!” Bendigamos, portanto, a mão que
nos fere e humilha, uma vez que as mortificações do corpo nos fortificam a alma
e que seremos exalçados por efeito da nossa humildade. (Cap. XII, nº 4.)
Bendito seja teu nome, Senhor, por nos teres ensinado que nossa sorte não está
irrevogavelmente fixada depois da morte; que encontraremos, em outras
existências, os meios de resgatar e de reparar nossas culpas passadas, de
cumprir em nova vida o que não podemos fazer nesta, para nosso progresso. (Cap.
IV, e cap. V, nº 5)
Assim se explicam, afinal, todas as anomalias aparentes da vida.
É a luz que se projeta sobre o nosso passado e o nosso futuro, sinal evidente
da tua justiça soberana e da tua infinita bondade.
VI.
Não nos deixes entregues à tentação, mas
livra-nos do mal
Dá-nos, Senhor, a força de resistir às sugestões dos Espíritos
maus, que tentem desviar-nos da senda do bem, inspirando-nos maus pensamentos.
Mas, somos Espíritos imperfeitos, encarnados na Terra para
expiar nossas faltas e melhorar-nos.
Em nós mesmos está a causa primária do mal e os maus Espíritos
mais não fazem do que aproveitar os nossos pendores viciosos, em que nos entretêm
para nos tentarem.
Cada imperfeição é uma porta aberta à influência deles, ao passo
que são impotentes e renunciam a toda tentativa contra os seres perfeitos. É
inútil tudo o que possamos fazer para afastá-los, se não lhes opusermos
decidida e inabalável vontade de permanecer no bem e absoluta renunciação ao
mal. Contra nós mesmos, pois, é que precisamos dirigir os nossos esforços e, se
o fizermos, os maus Espíritos naturalmente se afastarão, porquanto o mal é que
os atrai, ao passo que o bem os repele. (Veja-se aqui adiante: “Preces pelos
obsidiados”.)
Senhor, ampara-nos em nossa fraqueza; inspira-nos, pelos nossos
anjos guardiães e pelos bons Espíritos, a vontade de nos corrigirmos de todas
as imperfeições a fim de obstarmos aos Espíritos maus o acesso à nossa alma.
(Veja-se aqui adiante o nº 11.)
O mal não é obra tua, Senhor, porquanto o manancial de todo o
bem nada de mau pode gerar. Somos nós mesmos que criamos o mal, infringindo as
tuas leis e fazendo mau uso da liberdade que nos outorgaste. Quando os homens
as cumprirmos, o mal desaparecerá da Terra, como já desapareceu de mundos mais adiantados
que o nosso.
O mal não constitui para ninguém uma necessidade fatal e só parece
irresistível aos que nele se comprazem. Desde que temos vontade para o fazer, também
podemos ter a de praticar o bem, pelo que, ó meu Deus, pedimos a tua assistência
e a dos Espíritos bons, a fim de resistirmos à tentação.
VII.
Assim seja.
Praza-te, Senhor, que os nossos desejos se efetivem. Mas,
curvamo-nos perante a tua sabedoria infinita. Que em todas as coisas que nos
escapam à compreensão se faça a tua santa vontade e não a nossa, pois somente
queres o nosso bem e melhor do que nós sabes o que nos convém.
Dirigimos-te esta prece, ó Deus, por nós mesmos e também por
todas as almas sofredoras, encarnadas e desencarnadas, pelos nossos amigos e
inimigos, por todos os que solicitem a nossa assistência e, em particular, por
N... Para todos suplicamos a tua misericórdia e a tua bênção.”
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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