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Fábio José Lourenço
Bezerra
Em sua obra “O Evangelho
Segundo o Espiritismo”, no Capítulo VI, Allan Kardec transcreve as seguintes palavras de Jesus, contidas no Evangelho de
João:
“Se me amais, guardai os meus mandamentos; e eu rogarei a meu Pai e ele
vos enviará outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco: O
Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque o não vê e
absolutamente o não conhece. Mas, quanto a vós, conhecê-lo-eis, porque ficará
convosco e estará em vós. Porém, o Consolador, que é o Santo Espírito, que meu
Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo
o que vos tenho dito.”
(JOÃO, 14:15
a 17 e 26)
Logo em seguida, Kardec faz a seguinte análise
dessas palavras:
“Jesus promete outro consolador: o Espírito de
Verdade, que o mundo ainda não conhece, por não estar maduro para o
compreender, consolador que o Pai enviará para ensinar todas as coisas e para
relembrar o que o Cristo há dito. Se, portanto, o Espírito de Verdade tinha de
vir mais tarde ensinar todas as coisas, é que o Cristo não dissera tudo; se ele
vem relembrar o que o Cristo disse, é que o que este disse foi esquecido ou mal
compreendido.
O Espiritismo vem, na época predita, cumprir a
promessa do Cristo: preside ao seu advento o Espírito de Verdade. Ele chama os
homens à observância da lei; ensina todas as coisas fazendo compreender o que
Jesus só disse por parábolas. Advertiu o Cristo: “Ouçam os que têm ouvidos para
ouvir.” O Espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos, porquanto fala sem
figuras, nem alegorias; levanta o véu intencionalmente lançado sobre certos
mistérios. Vem, finalmente, trazer a consolação suprema aos deserdados da Terra
e a todos os que sofrem, atribuindo causa justa e fim útil a todas as dores.
Disse o Cristo: “Bem-aventurados os aflitos, pois
que serão consolados.” Mas, como há de alguém sentir-se ditoso por sofrer, se
não sabe por que sofre? O Espiritismo mostra a causa dos sofrimentos nas existências
anteriores e na destinação da Terra, onde o homem expia o seu passado. Mostra o
objetivo dos sofrimentos, apontando-os como crises salutares que produzem a
cura e como meio de depuração que garante a felicidade nas existências futuras.
O homem compreende que mereceu sofrer e acha justo o sofrimento. Sabe que este
lhe auxilia o adiantamento e o aceita sem murmurar, como o obreiro aceita o
trabalho que lhe assegurará o salário. O Espiritismo lhe dá fé inabalável no
futuro e a dúvida pungente não mais se lhe apossa da alma. Dando-lhe a ver do
alto as coisas, a importância das vicissitudes terrenas some-se no vasto e
esplêndido horizonte que ele o faz descortinar, e a perspectiva da felicidade
que o espera lhe dá a paciência, a resignação e a coragem de ir até ao termo do
caminho.
Assim, o Espiritismo realiza o que Jesus disse do
Consolador prometido: conhecimento das coisas, fazendo que o homem saiba donde
vem, para onde vai e por que está na Terra; atrai para os verdadeiros
princípios da lei de Deus e consola pela fé e pela esperança.”
Na mesma obra acima citada, no
Capítulo XV, Kardec escreveu
sobre a mensagem de Jesus:
“Toda
a moral de Jesus se resume na caridade e na humildade, isto é, nas duas
virtudes contrárias ao egoísmo e ao orgulho. Em todos os seus ensinos, ele
aponta essas duas virtudes como sendo as que conduzem à eterna felicidade:
Bem-aventurados, disse, os pobres de espírito, isto é, os humildes, porque
deles é o reino dos céus; bem-aventurados os que têm puro o coração;
bem-aventurados os que são brandos e pacíficos; bem-aventurados os que são
misericordiosos; amai o vosso próximo como a vós mesmos; fazei aos outros o que
quereríeis vos fizessem; amai os vossos inimigos; perdoai as ofensas, se
quiserdes ser perdoados; praticai o bem sem ostentação; julgai-vos a vós
mesmos, antes de julgardes os outros. Humildade e caridade, eis o que não cessa
de recomendar e o de que dá, ele próprio, o exemplo. Orgulho e egoísmo, eis o
que não se cansa de combater. E não se limita a recomendar a caridade; põe-na
claramente e em termos explícitos como condição absoluta da felicidade futura.”
(ver o texto “Quem é Jesus? Parte 3 – Como Podemos Obter a Salvação?”, neste
blog).
De fato, a essência da mensagem de
Jesus foi mal compreendida e esquecida, como ele havia predito. A ela, foram
acrescidos rituais e dogmas diversos, colocando-se em segundo plano, ou mesmo
ignorando, a regra essencial da mesma, o “Ama a teu próximo como a ti mesmo”. Inclusive,
muitos estudiosos do Novo Testamento chegaram à conclusão de que esses rituais
e dogmas se baseiam em alterações feitas, posteriormente, nos Evangelhos. Não
representam, portanto, o verdadeiro pensamento de Jesus. (ver os textos “O Que Realmente Jesus Ensinou?” e “Quem é Jesus Parte 2 – Jesus é Deus?”, neste blog). Ao longo
da história chegou-se, até mesmo, a matar e a torturar em nome dele inúmeras
vezes, como no caso da Inquisição e das Cruzadas.
O
Espiritismo surgiu como nas palavras de Sir Arthur Conan Doyle, em seu
excelente livro “História do Espiritismo”:
“É
impossível fixar uma data para as primeiras aparições de uma força inteligente exterior,
de maior ou menor elevação, influindo nas relações humanas. Os
espíritas tomaram oficialmente a data de 31 de março de 1848 como o começo das
coisas psíquicas, porque o movimento foi iniciado naquela data.
Entretanto não há época na história do mundo em que não se encontrem traços de
interferências preternaturais e o seu tardio reconhecimento pela humanidade. A
única diferença entre esses episódios e o moderno movimento é que aqueles podem
ser apresentados como casos esporádicos de extraviados de uma esfera qualquer,
enquanto os últimos têm as características de uma invasão organizada (grifo
nosso). Como, porém, uma invasão poderia ser precedida por pioneiros em busca
da Terra, também o influxo espírita dos últimos anos poderia ser anunciado por
certo número de incidentes, susceptíveis de verificação desde a Idade Média e
até mais para trás.”
A invasão organizada, citada por Conan Doyle, teve início
justamente com os fatos ocorridos em Hydesville, nos Estados Unidos, através da
mediunidade das irmãs Fox. Estes fatos inauguraram uma nova Era de comunicações
organizadas com o mundo invisível, encorajando vários médiuns e testemunhas a tornarem
públicas as manifestações dos Espíritos, que já vinham ocorrendo (ver o texto “O Início do Espiritismo Parte 1 – Hydesville”, neste blog). Até que, em determinado momento, os próprios Espíritos
sugeriram um novo método de comunicação: mesas que, suspensas no ar, davam
pancadas no chão, passando as mensagens através de um código pré-estabelecido. Através
deste método, surgiu o fenômeno que ficou conhecido como “As Mesas Girantes”. Surgindo nos Estados Unidos, espalhou-se lá, depois na Europa e no
resto do mundo. Nos salões de festa, nas residências e nos laboratórios, os
Espíritos, através das mesas, anunciavam que a alma não desaparece com a morte.
Estes fatos foram amplamente noticiados em jornais e livros da época. Foi este
fenômeno que atraiu a atenção de Allan Kardec, que passou a estudá-lo séria e
rigorosamente (ver o texto “O Início do Espiritismo Parte 2 – A Codificação”,
neste blog). Vários Espíritos, intelectual e moralmente muito avançados,
liderados pelo que se denominava como o Espírito de Verdade, comunicaram a
Kardec que ele próprio havia encarnado com a missão de organizar e divulgar,
sob a supervisão deles, os ensinamentos que traziam: A Doutrina Espírita.
O Espírito de Verdade deu as seguintes comunicações, publicadas no
Capítulo VI de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”:
“Venho, como outrora aos transviados filhos de Israel, trazer-vos
a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me. O Espiritismo, como o fez
antigamente a minha palavra, tem de lembrar aos incrédulos que acima deles
reina a imutável verdade: o Deus bom, o Deus grande, que faz germinem as
plantas e se levantem as ondas. Revelei a doutrina divinal. Como um ceifeiro,
reuni em feixes o bem esparso no seio da Humanidade e disse: “Vinde a mim,
todos vós que sofreis.”
Mas, ingratos, os homens afastaram-se do caminho reto e largo
que conduz ao reino de meu Pai e enveredaram pelas ásperas sendas da impiedade.
Meu Pai não quer aniquilar a raça humana; quer que, ajudando-vos uns aos
outros, mortos e vivos, isto é, mortos segundo a carne, porquanto não existe a
morte, vos socorrais mutuamente, e que se faça ouvir não mais a voz dos
profetas e dos apóstolos, mas a dos que já não vivem na Terra, a clamar: Orai e
crede! Pois que a morte é a ressurreição, sendo a vida a prova buscada e
durante a qual as virtudes que houverdes cultivado crescerão e se desenvolverão
como o cedro.
Homens fracos, que compreendeis as trevas das vossas
inteligências, não afasteis o facho que a clemência divina vos coloca nas mãos
para vos clarear o caminho e reconduzir-vos, filhos perdidos, ao regaço de
vosso Pai.
Sinto-me por demais tomado de compaixão pelas vossas misérias,
pela vossa fraqueza imensa, para deixar de estender mão socorredora aos
infelizes transviados que, vendo o céu, caem nos abismos do erro. Crede, amai,
meditai sobre as coisas que vos são reveladas; não mistureis o joio com a boa
semente, as utopias com as verdades.
Espíritas! Amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este
o segundo. No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana
os erros que nele se enraizaram. Eis que do além-túmulo, que julgáveis o nada,
vozes vos clamam: “Irmãos! nada perece. Jesus Cristo é o vencedor do mal, sede
os vencedores da impiedade.” – O Espírito de Verdade. (Paris, 1860)
“Venho instruir e consolar os pobres deserdados. Venho dizer-lhes
que elevem a sua resignação ao nível de suas provas, que chorem, porquanto a
dor foi sagrada no Jardim das Oliveiras; mas, que esperem, pois que também a
eles os anjos consoladores lhes virão enxugar as lágrimas.
Obreiros, traçai o vosso sulco; recomeçai no dia seguinte o
afanoso labor da véspera; o trabalho das vossas mãos vos fornece aos corpos o
pão terrestre; vossas almas, porém, não estão esquecidas; e eu, o jardineiro
divino, as cultivo no silêncio dos vossos pensamentos. Quando soar a hora do
repouso, e a trama da vida se vos escapar das mãos e vossos olhos se fecharem
para a luz, sentireis que surge em vós e germina a minha preciosa semente. Nada
fica perdido no reino de nosso Pai e os vossos suores e misérias formam o
tesouro que vos tornará ricos nas esferas superiores, onde a luz substitui as
trevas e onde o mais desnudo dentre todos vós será talvez o mais
resplandecente.
Em verdade vos digo: os que carregam seus fardos e assistem os
seus irmãos são bem-amados meus. Instruí-vos na preciosa doutrina que dissipa o
erro das revoltas e vos mostra o sublime objetivo da provação humana. Assim
como o vento varre a poeira, que também o sopro dos Espíritos dissipe os vossos
despeitos contra os ricos do mundo, que são, não raro, muito miseráveis,
porquanto se acham sujeitos a provas mais perigosas do que as vossas. Estou
convosco e meu apóstolo vos instrui. Bebei na fonte viva do amor e preparai-vos,
cativos da vida, a lançar-vos um dia, livres e alegres, no seio d’Aquele que
vos criou fracos para vos tornar perfectíveis e que quer modeleis vós mesmos a
vossa maleável argila, a fim de serdes os artífices da vossa imortalidade.” – O
Espírito de Verdade. (Paris, 1861)
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
1 KARDEC, ALLAN. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro
: Editora FEB,1995.;
2_________________. O Evangelho segundo o Espiritismo. FEB. Versão digital: Ery Lopes – 2007.;
3_________________. Obras póstumas. Rio de janeiro: Editora
FEB.;
4 DOYLE, Arthur Conan. História do Espiritismo. Editora Pensamento.
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