sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

O CÓDIGO PENAL DA VIDA FUTURA

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Extraímos o texto abaixo, do Capítulo VII da obra "O Céu e o Inferno" de Allan Kardec, que trata das diferentes condições dos Espíritos desencarnados, conforme os seus graus evolutivos.

"Princípios da Doutrina Espírita
sobre as penas futuras

A Doutrina Espírita, no que respeita às penas futuras, não se baseia numa teoria preconcebida; não é um sistema substituindo outro sistema: em tudo ela se apóia nas observações, e são estas que lhe dão plena autoridade. Ninguém jamais imaginou que as almas, depois da morte, se encontrariam em tais ou quais condições; são elas, essas mesmas almas, partidas da Terra, que nos vêm hoje iniciar nos mistérios da vida futura, descrever-nos sua situação feliz ou desgraçada, as impressões, a transformação pela morte do corpo, completando, em uma palavra, os ensinamentos do Cristo sobre este ponto.

Preciso é afirmar que se não trata neste caso das revelações de um só Espírito, o qual poderia ver as coisas do seu ponto de vista, sob um só aspecto, ainda dominado por terrenos prejuízos. Tampouco se trata de uma revelação feita exclusivamente a um indivíduo que pudesse deixar-se levar pelas aparências, ou de uma visão extática suscetível de ilusões, e não passando muitas vezes de reflexo de uma imaginação exaltada.

Trata-se, sim, de inúmeros exemplos fornecidos por Espíritos de todas as categorias, desde os mais elevados aos mais inferiores da escala, por intermédio de outros tantos auxiliares (médiuns) disseminados pelo mundo, de sorte que a revelação deixa de ser privilégio de alguém, pois todos podem prová-la, observando-a, sem obrigar-se à crença pela crença de outrem.

Código penal da vida futura

O Espiritismo não vem, pois, com sua autoridade privada, formular um código de fantasia; a sua lei, no que respeita ao futuro da alma, deduzida das observações do fato, pode resumir-se nos seguintes pontos:

1º - A alma ou Espírito sofre na vida espiritual as conseqüências de todas as imperfeições que não conseguiu corrigir na vida corporal. O seu estado, feliz ou desgraçado, é inerente ao seu grau de pureza ou impureza.

2º A completa felicidade prende-se à perfeição, isto é, à purificação completa do Espírito. Toda imperfeição é, por sua vez, causa de sofrimento e de privação de gozo, do mesmo modo que toda perfeição adquirida é fonte de gozo e atenuante de sofrimentos.

3º - Não há uma única imperfeição da alma que não importe funestas e inevitáveis conseqüências, como não há uma só qualidade boa que não seja fonte de um gozo.

A soma das penas é, assim, proporcionada à soma das imperfeições, como a dos gozos à das qualidades.

A alma que tem dez imperfeições, por exemplo, sofre mais do que a que tem três ou quatro; e quando dessas dez imperfeições não lhe restar mais que metade ou um quarto, menos sofrerá.

De todo extintas, então a alma será perfeitamente feliz. Também na Terra, quem tem muitas moléstias, sofre mais do que quem tenha apenas uma ou nenhuma. Pela mesma razão, a alma que possui dez perfeições, tem mais gozos do que outra menos rica de boas qualidades.

4º - Em virtude da lei do progresso que dá a toda alma a possibilidade de adquirir o bem que lhe falta, como de despojar-se do que tem de mau, conforme o esforço e vontade próprios, temos que o futuro é aberto a todas as criaturas. Deus não repudia nenhum de seus filhos, antes recebe-os em seu seio à medida que atingem a perfeição, deixando a cada qual o mérito das suas obras.

5º - Dependendo o sofrimento da imperfeição, como o gozo da perfeição, a alma traz consigo o próprio castigo ou prêmio, onde quer que se encontre, sem necessidade de lugar circunscrito.

O inferno está por toda parte em que haja almas sofredoras, e o céu igualmente onde houver almas felizes.

6º - O bem e o mal que fazemos decorrem das qualidades que possuímos. Não fazer o bem quando podemos e, portanto, o resultado de uma imperfeição. Se toda imperfeição é fonte de sofrimento, o Espírito deve sofrer não somente pelo mal que fez como pelo bem que deixou de fazer na vida terrestre.

7º - O Espírito sofre pelo mal que fez, de maneira que, sendo a sua atenção constantemente dirigida para as conseqüências desse mal, melhor compreende os seus inconvenientes e trata de corrigir-se.

8º - Sendo infinita a justiça de Deus, o bem e o mal são rigorosamente considerados, não havendo uma só ação, um só pensamento mau que não tenha conseqüências fatais, como não na uma única ação meritória. um só bom movimento da alma que se perca, mesmo para os mais perversos, por isso que constituem tais ações um começo de progresso.

9º - Toda falta cometida, todo mal realizado é uma dívida contraída que deverá ser paga; se o não for em urna existência, sê-lo-á na seguinte ou seguintes, porque todas as existências são solidárias entre si. Aquele que se quita numa existência não terá necessidade de pagar segunda vez.

10º - O Espírito sofre, quer no mundo corporal, quer no espiritual, a conseqüência das suas imperfeições. As misérias, as vicissitudes padecidas na vida corpórea, são oriundas das nossas imperfeições, são expiações de faltas cometidas na presente ou em precedentes existências.

Pela natureza dos sofrimentos e vicissitudes da vida corpórea, pode julgar-se a natureza das faltas cometidas em anterior existência, e das imperfeições que as originaram.

11º - A expiação varia segundo a natureza e gravidade da falta, podendo, portanto, a mesma falta determinar expiações diversas, conforme as circunstâncias, atenuantes ou agravantes, em que for cometida.

12º - Não há regra absoluta nem uniforme quanto à natureza e duração do castigo: - a única lei geral é que toda falta terá punição, e terá recompensa todo ato meritório, segundo o seu valor.

13º - A duração do castigo depende da melhoria do Espírito culpado.

Nenhuma condenação por tempo determinado lhe é prescrita. O que Deus exige por termo de sofrimentos é um melhoramento sério, efetivo, sincero, de volta ao bem. Deste modo o Espírito é sempre o árbitro da própria sorte, podendo prolongar os sofrimentos pela pertinácia no mal, ou suavizá-los e anulá-los pela prática do bem. Uma condenação por tempo predeterminado teria o duplo inconveniente de continuar o martírio do Espírito renegado, ou de libertá-lo do sofrimento quando ainda permanecesse no mal. Ora, Deus, que é justo, só pune o mal enquanto existe, e deixa de o punir quando não existe mais (1); por outra, o mal moral, sendo por si mesmo causa de sofrimento, fará este durar enquanto subsistir aquele, ou diminuirá de intensidade à medida que ele decresça.

14º - Dependendo da melhoria do Espírito a duração do castigo, o culpado que jamais melhorasse sofreria sempre, e, para ele, a pena seria eterna.

15º - Uma condição inerente à inferioridade dos Espíritos é não lobrigarem o termo da provação, acreditando-a eterna, como eterno lhes parece deva ser um tal castigo.

16º - O arrependimento, conquanto seja o primeiro passo para a regeneração, não basta por si só; são precisas a expiação e a reparação.

Arrependimento, expiação e reparação constituem, portanto, as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas conseqüências. O arrependimento suaviza os travos da expiação, abrindo pela esperança o caminho da reabilitação; só a reparação, contudo, pode anular o efeito destruindo-lhe a causa. Do contrário, o perdão seria uma graça, não uma anulação.

17º - O arrependimento pode dar-se por toda parte e em qualquer tempo; se for tarde, porém, o culpado sofre por mais tempo.

Até que os últimos vestígios da falta desapareçam, a expiação consiste nos sofrimentos físicos e morais que lhe são conseqüentes, seja na vida atual, seja na vida espiritual após a morte, ou ainda em nova existência corporal.

A reparação consiste em fazer o bem àqueles a quem se havia feito o mal.

Quem não repara os seus erros numa existência, por fraqueza ou má-vontade, achar-se-á numa existência ulterior em contacto com as mesmas pessoas que de si tiverem queixas, e em condições voluntariamente escolhidas, de modo a demonstrar-lhes reconhecimento e fazer-lhes tanto bem quanto mal lhes tenha feito. Nem todas as faltas acarretam prejuízo direto e efetivo; em tais casos a reparação se opera, fazendo-se o que se deveria fazer e foi descurado; cumprindo os deveres desprezados, as missões não preenchidas; praticando o bem em compensação ao mal praticado, isto é, tornando-se humilde se se tem sido orgulhoso, amável se se foi austero, caridoso se se tem sido egoísta, benigno se se tem sido perverso, laborioso se se tem sido ocioso, útil se se tem sido inútil, frugal se se tem sido intemperante, trocando em suma por bons os maus exemplos perpetrados. E desse modo progride o Espírito, aproveitando-se do próprio passado.

18º - Os Espíritos imperfeitos são excluídos dos mundos felizes, cuja harmonia perturbariam. Ficam nos mundos inferiores a expiarem as suas faltas pelas tribulações da vida, e purificando-se das suas imperfeições até que mereçam a encarnação em mundos mais elevados, mais adiantados moral e fisicamente. Se se pode conceber um lugar circunscrito de castigo, tal lugar é, sem dúvida, nesses mundos de expiação, em torno dos quais pululam Espíritos imperfeitos, desencarnados à espera de novas existências que lhes permitam reparar o mal, auxiliando-os no progresso.

19º - Como o Espírito tem sempre o livre-arbítrio, o progresso por vezes se lhe torna lento, e tenaz a sua obstinação no mal. Nesse estado pode persistir anos e séculos, vindo por fim um momento em que a sua contumácia se modifica pelo sofrimento, e, a despeito da sua jactância, reconhece o poder superior que o domina.

Então, desde que se manifestam os primeiros vislumbres de arrependimento, Deus lhe faz entrever a esperança. Nem há Espírito incapaz de nunca progredir, votado a eterna inferioridade, o que seria a negação da lei de progresso, que providencialmente rege todas as criaturas.

20º - Quaisquer que sejam a inferioridade e perversidade dos Espíritos, Deus jamais os abandona. Todos têm seu anjo de guarda (guia) que por eles vela, na persuasão de suscitar-lhes bons pensamentos, desejos de progredir e, bem assim, de espreitar-lhes os movimentos da alma, com o que se esforçam por reparar em uma nova existência o mal que praticaram. Contudo, essa interferência do guia faz-se quase sempre ocultamente e de modo a não haver pressão, pois que o Espírito deve progredir por impulso da própria vontade, nunca por qualquer sujeição.

O bem e o mal são praticados em virtude do livre-arbítrio, e, conseguintemente, sem que o Espírito seja fatalmente impelido para um ou outro sentido.

Persistindo no mal, sofrerá as conseqüências por tanto tempo quanto durar a persistência, do mesmo modo que, dando um passo para o bem, sente imediatamente benéficos efeitos.

OBSERVAÇÃO - Erro seria supor que, por efeito da lei de progresso, a certeza de atingir cedo ou tarde a perfeição e a felicidade pode estimular a perseverança no mal, sob a condição do ulterior arrependimento: primeiro porque o Espírito inferior não se apercebe do termo da sua situação; e segundo porque, sendo ele o autor da própria infelicidade, acaba por compreender que de si depende o fazê-la cessar; que por tanto tempo quanto perseverar no mal será infeliz; finalmente, que o sofrimento será intérmino se ele próprio não lhe der fim. Seria, pois, um cálculo negativo, cujas conseqüências o Espírito seria o primeiro a reconhecer. Com o dogma das penas irremissíveis é que se verifica, precisamente, tal hipótese, visto como é para sempre interdita qualquer idéia de esperança, não tendo pois o homem interesse em converter-se ao bem, para ele sem proveito.

Diante dessa lei, cai também a objeção extraída da presciência divina, pois Deus, criando uma alma, sabe efetivamente se, em virtude do seu livre-arbítrio, ela tomará a boa ou a má estrada; sabe que ela será punida se fizer o mal; mas sabe também que tal castigo temporário é um meio de fazê-la compreender o erro, cedo ou tarde entrando no bom caminho. Pela doutrina das penas eternas conclui-se que Deus sabe que essa alma falirá e, portanto, que está previamente condenada a torturas infinitas.

21º - A responsabilidade das faltas é toda pessoal, ninguém sofre por erros alheios, salvo se a eles deu origem, quer provocando-os pelo exemplo, quer não os impedindo quando poderia fazê-lo.

Assim, o suicida é sempre punido; mas aquele que por maldade impele outro a cometê-lo, esse sofre ainda maior pena.

22º - Conquanto infinita a diversidade de punições, algumas há inerentes à inferioridade dos Espíritos, e cujas conseqüências, salvo pormenores, são pouco mais ou menos idênticas.

A punição mais imediata, sobretudo entre os que se acham ligados à vida material em detrimento do progresso espiritual, faz-se sentir pela lentidão do desprendimento da alma; nas angústias que acompanham a morte e o despertar na outra vida, na conseqüente perturbação que pode dilatar-se por meses e anos.

Naqueles que, ao contrário, têm pura a consciência e na vida material já se acham identificados com a vida espiritual, o trespasse é rápido, sem abalos, quase nula a turbação de um pacífico despertar.

23º - Um fenômeno mui freqüente entre os Espíritos de certa inferioridade moral é o acreditarem-se ainda vivos, podendo esta ilusão prolongar-se por muitos anos, durante os quais eles experimentarão todas as necessidades, todos os tormentos e perplexidades da vida.

24º - Para o criminoso, a presença incessante das vitimas e das circunstâncias do crime é um suplício cruel.

25º - Espíritos há mergulhados em densa treva; outros se encontram em absoluto insulamento no Espaço, atormentados pela ignorância da própria posição, como da sorte que os aguarda. Os mais culpados padecem torturas muito mais pungentes por não lhes entreverem um termo.

Alguns são privados de ver os seres queridos, e todos, geralmente, passam com intensidade relativa pelos males, pelas dores e privações que a outrem ocasionaram. Esta situação perdura até que o desejo de reparação pelo arrependimento lhes traga a calma para entrever a possibilidade de, por eles mesmos, pôr um termo à sua situação.

26º - Para o orgulhoso relegado às classes inferiores. é suplício ver acima dele colocados, cheios de glória e bem-estar, os que na Terra desprezara. O hipócrita vê desvendados, penetrados e lidos por todo o mundo os seus mais secretos pensamentos, sem que os possa ocultar ou dissimular; o sátiro, na impotência de os saciar, tem na exaltação dos bestiais desejos o mais atroz tormento; vê o avaro o esbanjamento inevitável do seu tesouro, enquanto que o egoísta, desamparado de todos, sofre as conseqüências da sua atitude terrena; nem a sede nem a fome lhe serão mitigadas, nem amigas mãos se lhe estenderão às suas mãos súplices; e pois que em vida só de si cuidara, ninguém dele se compadecerá na morte.

27º - O único meio de evitar ou atenuar as conseqüências futuras de uma falta, está no repará-la, desfazendo-a no presente. Quanto mais nos demorarmos na reparação de uma falta, tanto mais penosas e rigorosas serão, no futuro, as suas conseqüências.

28º - A situação do Espírito, no mundo espiritual, não é outra senão a por si mesmo preparada na vida corpórea.

Mais tarde, outra encarnação se lhe faculta para novas provas de expiação e reparação, com maior ou menor proveito, dependentes do seu livre-arbítrio; e se ele não se corrige, terá sempre uma missão a recomeçar, sempre e sempre mais acerba, de sorte que pode dizer-se que aquele que muito sofre na Terra, muito tinha a expiar; e os que gozam uma felicidade aparente, em que pesem aos seus vícios e inutilidades, pagá-la-ão mui caro em ulterior existência. Nesse sentido foi que Jesus disse: - "Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados," (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V.)

29º - Certo, a misericórdia de Deus é infinita, mas não é cega. O culpado que ela atinge não fica exonerado, e, enquanto não houver satisfeito à justiça, sofre a consequência dos seus erros. Por infinita misericórdia, devemos ter que Deus não é inexorável, deixando sempre viável o caminho da redenção.
30º - Subordinadas ao arrependimento e reparação dependentes da vontade humana, as penas, por temporárias, constituem concomitantemente castigos e remédios auxiliares à cura do mal. Os Espíritos, em prova, não são, pois, quais galés por certo tempo condenados, mas como doentes de hospital sofrendo de moléstias resultantes da própria incúria, a compadecerem-se com meios curativos mais ou menos dolorosos que a moléstia reclama, esperando alta tanto mais pronta quanto mais estritamente observadas as prescrições do solícito médico assistente. Se os doentes, pelo próprio descuido de si mesmos, prolongam a enfermidade, o médico nada tem que ver com isso.

31º - As penas que o Espírito experimenta na vida espiritual ajuntam-se as da vida corpórea, que são conseqüentes às imperfeições do homem, às suas paixões, ao mau uso das suas faculdades e à expiação de presentes e passadas faltas na vida corpórea que o Espírito repara o mal de anteriores existências, pondo em prática resoluções tomadas na vida espiritual. Assim se explicam as misérias e vicissitudes mundanas que, à primeira vista, parecem não ter razão de ser. Justas são elas, no entanto, como espólio do passado - herança que serve à nossa romagem para a perfectibilidade.

32º - Deus, diz-se, não daria prova maior de amor às suas criaturas, criando-as infalíveis e, por conseguinte, isentas dos vícios inerentes à imperfeição? Para tanto fora preciso que Ele criasse seres perfeitos, nada mais tendo a adquirir, quer em conhecimentos, quer em moralidade. Certo, porém, Deus poderia fazê-lo, e se o não fez é que em sua sabedoria quis que o progresso constituísse lei geral. Os homens são imperfeitos, e, como tais, sujeitos a vicissitudes mais ou menos penosas. E pois que o fato existe, devemos aceitá-lo.

Inferir dele que Deus não é bom nem justo, fora insensata revolta contra a lei.

Injustiça haveria, sim, na criação de seres privilegiados, mais ou menos favorecidos, fruindo gozos que outros porventura não atingem senão pelo trabalho, ou que jamais pudessem atingir. Ao contrário, a justiça divina patenteia-se na igualdade absoluta que preside à criação dos Espíritos; todos têm o mesmo ponto de partida e nenhum se distingue em sua formação por melhor aquinhoado; nenhum cuja marcha progressiva se facilite por exceção: os que chegam ao fim, têm passado, como quaisquer outros, pelas fases de inferioridade e respectivas provas.

Isto posto, nada mais justo que a liberdade de ação a cada qual concedida. O caminho da felicidade a todos se abre amplo, como a todos as mesmas condições para atingi-la. A lei, gravada em todas as consciências, a todos é ensinada. Deus fez da felicidade o prêmio do trabalho e não do favoritismo, para que cada qual tivesse seu mérito.

Todos somos livres no trabalho do próprio progresso, e o que muito e depressa trabalha, mais cedo recebe a recompensa. O romeiro que se desgarra, ou em caminho perde tempo, retarda a marcha e não pode queixar-se senão de si mesmo.

O bem como o mal são voluntários e facultativos: livre, o homem não é fatalmente impelido para um nem para outro.

33º - Em que pese à diversidade de gêneros e graus de sofrimentos dos Espíritos imperfeitos, o código penal da vida futura pode resumir-se nestes três princípios:

1º - O sofrimento é inerente à imperfeição.

2º - Toda imperfeição, assim como toda falta dela promanada, traz consigo o próprio castigo nas conseqüências naturais e inevitáveis: assim, a moléstia pune os excessos e da ociosidade nasce o tédio, sem que haja mister de uma condenação especial para cada falta ou indivíduo.

3º - Podendo todo homem libertar-se das imperfeições por efeito da vontade, pode igualmente anular os males consecutivos e assegurar a futura felicidade.

A cada um segundo as suas obras, no Céu como na Terra: - tal é a lei da Justiça Divina."

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

KARDEC, Allan. O céu e o inferno. A justiça divina segundo o Espiritismo. Rio de janeiro - RJ: FEB.1995. 

O PARADIGMA DO ESPÍRITO

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Fonte da imagem: https://www.esbocandoideias.com/2016/01/quero-ser-batizado-com-o-espirito-santo-o-que-devo-fazer.html

Excelente palestra de Dora Incontri sobre o Paradigma do Espírito.



ENDEREÇO ELETRÔNICO:

https://www.youtube.com/watch?v=g6LHl3YqSbA

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

O DIÁLOGO DE ALLAN KARDEC COM O SEU TEMPO

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Fonte da imagem: http://www.paracleto.net/allan_kardec.php

    Excelente texto extraído do primeiro capítulo do livro "Pedagogia Espírita", de Dora Incontri.

"1.5 – O Espiritismo 

Um evolucionismo individuado


Exatamente no mesmo mês e ano, abril de 1857, em que Spencer lançava a obra ON PROGRESS, em Londres, Allan Kardec publicava O LIVRO DOS ESPÍRITOS em Paris. Tratava­-se, tanto quanto a primeira, de uma obra evolucionista. Numa das questões propostas por Kardec, há a seguinte afirmação: “É assim que tudo serve, tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, pois ele mesmo começou pelo átomo”. 94

Era também, evidentemente, um livro espiritualista, mas Kardec advertia ser um tipo específico de Espiritualismo: “A Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo  invisível. Os adeptos do  Espiritismo serão os espíritas ou, se quiserem, os espiritistas. Como especialidade, O LIVRO DOS ESPÍRITOS contém a Doutrina Espírita; como generalidade liga-­se ao Espiritualismo, do qual representa uma das fases. Essa a razão porque traz sobre o título as palavras: Filosofia Espiritualista”. 95 O próprio livro era fruto dessa relação, pois a obra inteira está em forma de diálogo, com questões formuladas por Kardec e respostas dos Espíritos, obtidas por diferentes médiuns. 96

Depois desta obra, vieram outras, na seguinte sequência: O  LIVRO  DOS MÉDIUNS (1861), O EVANGELHO  SEGUNDO  O ESPIRITISMO (1863), O CÉU E INFERNO (1865), A GÊNESE E OS MILAGRES SEGUNDO O ESPIRITISMO (1867) e, depois da morte de Kardec, textos esparsos seus, reunidos pela esposa e por amigos, em OBRAS PÓSTUMAS (1869).

Assim como seria impossível examinar o século XIX em profundidade no espaço a que nos propomos, é impensável enfeixar o Espiritismo inteiro nos traços gerais que pretendemos delinear. Em verdade, interessa­-nos aqui em primeira instância mostrar esta doutrina como uma tomada de posição ante esses questionamentos, que focalizamos como sendo constitutivos do seu século. Faremos aqui um primeiro esboço do diálogo de Kardec com o seu tempo.

É preciso para tanto estabelecer algumas premissas que constituem a própria especificidade do Espiritismo, sob pena de estarmos desfigurando a sua proposta. Em primeiro lugar, Kardec avisa constantemente que o Espiritismo não é obra sua, um sistema filosófico pessoal, mas um sistema livre, de pesquisa e de cooperação entre homens e Espíritos, para a busca da verdade. “Todas as doutrinas filosóficas são obra de homens, cujos ideais são mais ou menos grandes, mais ou menos justos: todas têm um chefe, em torno do qual se reuniram outros homens, partidários do  mesmo  ponto de vista. Quem é o autor do  Espiritismo? Certo ou errado, quem imaginou  essa teoria? É verdade que se procurou  coordená-­la, formulá­-la, explicá-­la. Mas a ideia primeira, quem a concebeu? Ninguém. Ou melhor, todo mundo, porque todos puderam ver, e aqueles que não viram foram os que não o quiseram ou quiseram a seu modo, sem romper o círculo de suas ideias preconcebidas, o que os fez ver e julgar mal. O Espiritismo decorre de observações que cada um pode fazer, que não constituem privilégio de ninguém, o que explica a sua irresistível propagação. Não é o produto de nenhum sistema individual, circunstância que o distingue de toda as outras doutrinas filosóficas”. 97

Outra característica própria desta doutrina é pois, que, embora se pretendendo ciência e filosofia, é uma ciência que qualquer indivíduo  pode experimentar e, nesse sentido, O  LIVRO  DOS MÉDIUNS  é um manual para tais experimentações e uma filosofia, acessível e simples, deixando propositalmente de lado a linguagem hermética de outros sistemas filosóficos. A intenção de Kardec era democratizar a teoria e a prática espíritas: “…desde o princípio, importava que ela fosse aceita pelas massas, porque a opinião das massas exerce uma pressão que acaba fazendo lei e triunfando das oposições mais tenazes. Eis por que me esforcei em simplificá-­la e torná-­la clara, a fim de a por ao alcance de todos, com o risco de a fazer contestada por certa gente quanto ao título de filosofia, por que não é bastante abstrata e saiu do nevoeiro da metafísica clássica”. 98

Eis aí um indício iluminista da postura de Kardec –  o  de aceitar  uma racionalidade imanente em todos seres humanos, que está capacitada a julgar por si mesma fatos e teorias. Uma atitude anti­elitista, bem diversa do conservadorismo apontado nos espiritualistas tradicionalistas de sua época. Kardec se insere aí no projeto de emancipação iluminista, mas adotando a democratização de um conhecimento que um Condorcet, por exemplo, teria chamado de supersticioso. A intenção é racionalizar e divulgar a metafísica, tornando­-a ao mesmo tempo científica e popular.

Postos estes parâmetros um tanto inéditos, por unirem características consideradas antinômicas —  filosofia resultante de reflexão humana e inspiração espiritual, e, ciência e filosofia populares, tratando de um objeto metafísico  —  analisemos então os princípios que se põem como constitutivos desta doutrina e que se propõem ao século em que nasceram.

O Espiritismo é evolucionista e está impregnado do mesmo  otimismo já apontado em diferentes correntes dos séculos XVIII  e XIX, mas trata­-se de um evolucionismo inédito até então, porque se dá dentro dos quadros do Espiritualismo cristão. É verdade que a evolução, como em outras doutrinas, é reconhecida como lei, mas ela está condicionada à liberdade humana e, mais do que isso, à liberdade individual.

Quem evolui, antes de tudo, é o Espírito, mas o Espírito concebido como alma individual, transcendente ao corpo, que vai construindo seu próprio destino e seu aperfeiçoamento no decorrer das existências sucessivas. O finalismo evolutivo não é histórico, não é terrestre, não é social…  é cósmico, projeta-­se para a transcendência pessoal e imortal. Todos os Espíritos tendem à perfeição.

Isso redimensiona o projeto de emancipação humana, que vinha sendo buscado até então: não se trata apenas de emancipar o homem enquanto ser social e político, restituindo-­lhe o direito e o dever de direcionar sua vida, instruir-­se e participar das conquistas da ciência e da cultura humanas… Trata­-se de emancipar também o homem como ser imortal, que não depende de uma salvação externa, mas que tem o  direito e o dever de construir seu  destino espiritual, através de muitas vidas.

Raras teorias valorizam tanto o ser individual e a liberdade humana quanto o Espiritismo. Aquele esvaziamento do ser, que se estava a realizar no século XIX, seja pela noção de Espírito absoluto  dos idealistas, seja pela noção meramente biológica e social dos materialistas, encontra uma contrafação por parte do movimento espírita. O ser humano é Espírito e esta —  como já vimos —  para o Espiritismo não é uma categoria hipotética ou  uma tese especulativa, mas o resultado de observação científica, e portanto, uma certeza de certa forma assentada.

Com isso, o evolucionismo espírita adquire contornos não encontráveis em nenhum dos outros aspectos do evolucionismo do  século  XIX. Não descarta o evolucionismo biológico, aliás se antecede a ele, porque O LIVRO DOS ESPÍRITOS foi lançado um ano antes da divulgação das teorias darwinistas e ao mesmo tempo se alia a essa corrente, por intermédio de Russel Wallace, que participou do movimento espírita na Inglaterra. Mas mostra o princípio inteligente germinando na matéria, de modo que o evolucionismo se torna psíquico­biológico: “O Espírito não chega a receber a iluminação  divina que lhe dá, juntamente com o livre arbítrio e a consciência, a noção de seus altos destinos, sem haver passado pela série divinamente fatal dos seres inferiores, entre os quais se elabora lentamente a obra de sua individualidade”. 99 A frase que se tornou célebre entre os espíritas brasileiros e que é atribuída a Léon Denis, sucessor de Kardec, resume bem este princípio: “A alma dorme na pedra, sonha no vegetal, agita­-se no animal e desperta no homem”. Eis um evolucionismo que teria reflexos posteriores em Bergson e Theilhard  de Chardin. 100

Não se subtrai o Espiritismo tampouco a um evolucionismo social, mas não determina uma meta rígida, nem esboça uma utopia acabada de onde deve chegar a sociedade. Semelhante à proposta anarquista, é otimista quanto ao futuro libertário da humanidade, mas não sistematiza uma ideia fechada de sociedade ideal.

Herculano Pires apreende bem a questão: “Kardec nos indica a necessidade do esforço contínuo do homem para se superar a si mesmo e às circunstâncias. A passividade diante das leis naturais caracteriza as formas inconscientes de vida. A consciência está submetida a uma nova lei, em plano mais alto: a lei do esforço próprio, a lei do trabalho e da atividade livre, que a fará progredir a si mesma e ao todo a que pertence, a coletividade. (…) Vejamos, por exemplo, o seguinte trecho do seu  comentário ao número 783  de O  LIVRO  DOS ESPÍRITOS: ‘O homem não pode conservar-­se indefinidamente na ignorância, pois tem de atingir a finalidade que a Providência lhe assinalou. Ele se instrui pela força das coisas. As revoluções morais, como as revoluções sociais, germinam durante séculos. Depois, irrompem subitamente e produzem o desmoronamento do carunchoso edifício do passado, que já não se encontra em harmonia com as necessidades novas e as novas aspirações.’ 
A renovação do homem implica a renovação social — mas desde que o homem renovado se empenhe na transformação do meio em que vive, sendo esta, aliás, a sua indeclinável obrigação espírita”. 101

Vê­-se que do conservadorismo social do espiritualismo hegeliano  ou  de Victor Cousin, o Espiritismo está longe. Aliás, na REVISTA ESPÍRITA, Kardec dialoga com saint­simonianos, com fourieristas e em O LIVRO DOS ESPÍRITOS, há passagens surpreendentes sobre temas polêmicos como  igualdade, propriedade, trabalho…  Traços de um certo socialismo cristão 102 aparecem aqui e ali. Por exemplo: “O direito de viver confere ao homem o direito de ajuntar o que necessita para viver e repousar, quando não mais puder trabalhar? — Sim, mas deve fazê­lo em comum, como a abelha, através de um trabalho honesto, e não ajuntar como um egoísta”. 103 E mais adiante: “Só há uma propriedade legítima, a que foi adquirida sem prejuízo para os outros”. 104 Ou: “A desigualdade das riquezas não tem sua origem na desigualdade das faculdades, que dão a uns mais meios de adquirir do que a outros? — Sim e não. Que dizes da astúcia e do roubo?”  105 E ainda: “Há, entretanto, uma medida comum de felicidade para todos os homens? — Para a vida material, a posse do necessário; para a vida moral, a consciência pura e a fé no futuro”. 106 E, por último: “Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo, ninguém deve morrer de fome”. 107

O evolucionismo espírita se resume pois nos seguintes princípios: o princípio inteligente veio se desenvolvendo nos reinos inferiores da criação e atinge a individuação no plano hominal. A partir daí, o ser  adquire liberdade e responsabilidade moral e tem por meta intrínseca o aperfeiçoamento incessante no tempo e no espaço. Mas esse aperfeiçoamento não se dá de forma isolada. Indivíduo e coletividade interagem dialeticamente na obra da evolução e a ideia de uma sociedade mais justa e igualitária deve mover a ação social do indivíduo consciente.

Entretanto, como veremos, a ação social mais eficaz, segundo o Espiritismo, é justamente a educação.

Uma ciência não­ positivista

Kardec partilha sem dúvida da confiança na ciência, característica de seu tempo, que tem reflexos ainda hoje. E como já vimos, pretendeu estender o método experimental à análise do Espírito, por  meio do estudo dos fenômenos mediúnicos. 108

Mas o reverso também é verdadeiro: Kardec critica a ciência de então, por seus pressupostos gratuitamente materialistas e procura incorporar na aquisição da verdade, o método da reflexão filosófica e da revelação religiosa. Criticando seus opositores, diz ele: “Toda a doutrina (materialista) está nestas palavras; a profissão  de fé é clara e categórica. Assim, porque Deus não pode ser demonstrado por uma equação algébrica e a alma não é perceptível com o auxílio de um reativo, é absurdo crer em Deus e na alma. Todo discípulo da ciência deve, pois, ser ateu e materialista. Mas para não sair da materialidade, a ciência é sempre infalível em suas demonstrações? Não se viu tantas vezes dar como verdades o que mais tarde se viu serem erros, e vice e versa?” 109

Para Kardec, o materialismo científico de seu  tempo é uma crença apriorística e não resultado de observação. Sua apreciação  lembra a análise de Thomas Kuhn, um século mais tarde, a respeito do  paradigma, como sendo um conjunto de crenças que envolvem uma comunidade científica: “Um elemento aparentemente arbitrário, composto de acidentes pessoais e históricos, é sempre um ingrediente formador das crenças esposadas por uma comunidade científica específica numa determinada época”. 110

Kardec assume explicitamente, portanto, aquilo que os positivistas muitas vezes não admitiam: a relatividade do conhecimento científico e, ao mesmo tempo, que toda ciência tem um pressuposto filosófico. O pressuposto, por ele admitido, de uma ordem universal, que garante o conhecimento e a previsibilidade científica é decorrência de uma dinâmica divina no universo. Na melhor tradição de Kepler e Galileu, Bruno e Descartes, afirma ele que: “A harmonia que regula as forças do Universo revela combinações e fins determinados, e por isso mesmo  um poder inteligente. Atribuir a formação primária ao acaso seria uma falta de senso, porque o acaso é cego e não pode traduzir  efeitos inteligentes. Um acaso inteligente já não seria acaso”. 111 Intencionalmente, assim, Kardec não dissocia um olhar empírico da natureza de uma visão filosófica teísta, referindo ambas a uma racionalidade única, que torna o todo coerente e inteligível.

Outra atenuação do cientificismo impressa por Kardec no Espiritismo está no fato de reconhecer a influência da subjetividade humana na apreensão da ciência. “Quando a ciência sai da observação  material dos fatos e trata de apreciá­-los e explicá­los, abre­se para os cientistas o campo das conjecturas: cada um constrói seu sistemazinho, que deseja fazer prevalecer e sustenta encarnecidamente”. 112

Sentindo na própria pele o preconceito contra a análise de uma nova ordem de fenômenos que ele pretendia pesquisar, comenta em relação aos cientistas resistentes: “Arriscam-­se a ver os seus nomes aumentando a lista dos ilustres negadores das ideias novas, inscritos ao lado dos membros da douta assembléia que, em 1752, recebeu com estrondosa gargalhada o relatório de Franklin sobre os pára­ raios, julgando­-o indigno de figurar entre as comunicações em pauta, e daquela outra que fez a França perder as vantagens da navegação a vapor ao declarar o sistema de Foulton um sonho impraticável. Não obstante, eram questões da alçada da Ciência. Se essas assembléias que contavam com os maiores sábios do mundo, só tiveram zombaria e sarcasmo para as ideias que ainda não compreendiam e que alguns anos mais tarde deveriam revolucionar a Ciência, os costumes e a indústria, como esperar que uma questão estranha aos seus trabalhos possa ser melhor aceita?” 113

Isto também nos remete a Kuhn: “A ciência normal não tem como objetivo  trazer à tona novas espécies de fenômeno; na verdade aqueles que não se ajustam aos limites do paradigma frequentemente nem são vistos. Os cientistas também não estão constantemente procurando inventar novas teorias, frequentemente mostram­-se intolerantes para com aquelas inventadas por outros”. 114

Kardec aponta de maneira mais contundente ainda o dogmatismo  dos materialistas: “Os fanáticos da incredulidade fazem num sentido o que os fanáticos da fé fazem em outro. Então estes dizem: Para ser segundo Deus é preciso crer em tudo o que cremos; fora de nossa fé não há salvação. Os outros dizem: Para ser segundo a razão, é preciso pensar como nós, não crer senão no que cremos; fora dos limites que traças à crença nem há liberdade, nem o bom senso, doutrina que se formula por este paradoxo: Vosso espírito só é livre com a condição de não crer no que quer, o que significa para o indivíduo: Tu és o mais livre de todos os homens, com a condição de não ir mais longe do que a ponta da corda a que te amarramos”. 115

Pela posição original de sua pesquisa, podemos interpretar a atitude de Kardec como a proposta de um novo paradigma (dentro do conceito de Kuhn), por lidar com uma nova ordem de fenômenos, constituir uma metodologia própria para interpretá­-los e, afinal, por  estar essa análise dentro de uma visão de mundo abrangente. Esse paradigma tem outros partidários nos séculos XIX e XX, mas ainda não alcançou o status de ciência oficial.

Mas o que indica ainda o espírito científico de Kardec é a sua posição em relação ao próprio Espiritismo, assumindo-­o como uma doutrina progressiva: “…ela é e não poderia deixar de ser essencialmente progressiva, como todas as ciências de observação. Por sua essência faz aliança com a Ciência que, sendo a exposição das leis da natureza em uma certa ordem de fatos, não pode ser contrária à vontade de Deus, o autor dessas mesmas leis. (…) O Espiritismo só define, pois, como princípio absoluto aquilo que demonstrou  através da evidência, ou  aquilo que ressalta logicamente da observação. Ligado a todos os ramos da economia social, aos quais empresta o apoio de suas descobertas, ele assimilará sempre todas as doutrinas progressivas, de qualquer ordem que sejam, que atingiram o estado de verdades práticas e que saíram do domínio da utopia. Sem isso ele se aniquilaria a si mesmo; deixando de ser o que é, desmentiria sua origem e sua finalidade providencial. O Espiritismo, caminhando com o progresso, jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe mostrassem que está errado em algum ponto, ele se modificaria nesse ponto. Se uma nova verdade for revelada, ele a aceitará”. 116

Uma religiosidade natural e universal

A caracterização do aspecto religioso do Espiritismo é bastante delicada, a ponto de provocar polêmicas ainda hoje, entre os seus adeptos. Já Rousseau  e Pestalozzi, que certamente influenciaram Kardec neste sentido, haviam proclamado uma religião natural, emancipada de rituais, hierarquias e dogmas. Princípios universais, imanentes à natureza humana, como a crença em Deus, na imortalidade da alma, na prática do bem constituiriam o fundamento de uma religião sem nome, individual, e muito mais orientada para a ética do que para o culto. 117

Ao abrir a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, Kardec delimitou a sua atuação à pesquisa científica, excluindo de sua alçada questões políticas e religiosas. Logo na sua fundação, advertia: “A sociedade a que vos referis tem seu objetivo expresso no próprio título; a denominação Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas não se assemelha ao de nenhuma seita; tem ela um caráter tão diverso que os seus estatutos proíbem tratar de questões religiosas; está classificada na categoria das sociedades científicas, porque, na verdade, seu objetivo é estudar e aprofundar todos os fenômenos resultantes das relações entre o mundo visível e o invisível; tem seu presidente, seu secretário, seu tesoureiro, como todas as sociedades; não convida o público às suas sessões, nas quais não há discursos nem qualquer coisa com o caráter de um culto qualquer”. 118

É preciso considerar, porém, que a política vigente era a de Napoleão III  (que depois se interessaria pessoalmente pelos fenômenos espíritas). Neste contexto, eram proibidas as reuniões de caráter político e religioso. Para o funcionamento da Sociedade Parisiense foi necessária a autorização da polícia. Até que ponto as reticências iniciais de Kardec quanto a subtrair  do Espiritismo  qualquer  caráter religioso tinham por causas o clima de repressão e o desejo de não chocar de frente os preconceitos católicos da sociedade, é uma questão que se põe.

Por outro lado, como se tratava de um novo conceito de religião, quando Kardec nega ser o Espiritismo uma religião, está negando seus modelos tradicionais. Veja­-se que ele recusa, mas ao mesmo tempo aponta mais do que o caráter religioso, o caráter cristão desta doutrina: “Assim, pois, o Espiritismo se fundamenta em princípios gerais independentes de toda questão dogmática. É verdade que ele tem consequências morais, como todas as ciências filosóficas. Suas consequências são no sentido do Cristianismo (…). O Espiritismo não  é, pois, uma religião. Do contrário teria seu  culto, seus templos, seu ministros. Sem dúvida cada um pode transformar suas opiniões numa religião, interpretar à vontade as religiões conhecidas; mas daí à constituição de uma nova Igreja há uma grande distância e penso que seria imprudente seguir tal ideia”. 119

Tudo isso se explica porque o Espiritismo propõe um conceito de religião ecumênica, que transcende os particularismos de culto e dogma, para apanhar o que há de comum na maior parte das religiões 120 Kardec reitera mesmo a ideia de que a doutrina dos Espíritos seria um coadjuvante de todas as religiões, provando os pontos fundamentais que a maioria sempre abarcou. A sua postura logo de início era esta: “Melhor observado desde que se vulgarizou, o  Espiritismo vem lançar luz sobre uma porção de problemas até aqui insolúveis ou  mal resolvidos. Seu verdadeiro caráter é, pois, o de uma ciência e não o de uma religião. E a prova é que conta como aderentes homens de todas as crenças, os quais, nem por isso, renunciaram às suas convicções: católicos fervorosos, que praticam todos os deveres de seu culto, protestantes de todas as seitas, israelitas, muçulmanos e até budistas e bramanistas. Há de tudo, menos materialistas e ateus, porque estas ideias são incompatíveis com as observações espíritas”. 121

No desenrolar das ideias e das publicações, porém, Kardec foi tocando cada vez mais em pontos que eram do domínio das religiões.

E mais, evidenciou­-se com a publicação de O  EVANGELHO SEGUNDO  O ESPIRITISMO  e de O  CÉU E  INFERNO, que, embora não o confessasse, ele estava fazendo uma nova leitura do Cristianismo. A reação da Igreja não tardou. Padres, bispos, cardeais e escritores católicos lançam artigos, livros, excomunhões…  A REVISTA ESPÍRITA traz numerosos traços da polêmica com a Igreja 122

Logicamente, desde que a reencarnação substituía o dogma das penas eternas, que a comunicação dos mortos era entendida e praticada como algo natural, estava­-se naturalmente entrando em contradição com dogmas enraizados da Igreja, tornando cada vez mais inviável ser espírita e ser católico ao mesmo tempo.

Sem procurar escândalos e confrontos muito abertos, mas de maneira firme e irredutível, Kardec foi realizando a crítica das religiões e do próprio Cristianismo, sem contudo ferir-­lhe a essência, ao invés, reforçando-­a e buscando lhes dar bases científicas. Diz ele: “Infelizmente, em todas as épocas, as religiões foram instrumentos de dominação”  123

Mas acrescenta: “Apesar  dos erros de suas doutrinas, nem por isso deixaram de impressionar os espíritos, semeando assim os germes do progresso que, mais tarde, deveriam brotar, ou que desabrochariam um dia à luz do Cristianismo. É, portanto, injustamente que lhes lançam seu anátema em nome da ortodoxia, pois dia virá em que todas essas crenças —  tão diversas na forma, mas que, na realidade, se baseiam no mesmo princípio fundamental: Deus e a imortalidade da alma — se fundirão em um todo único, grande e poderoso, quando a razão triunfar sobre os preconceitos”. 124
Quando no Evangelho, o Espiritismo se põe como terceira revelação, na linha judaico­cristã, Kardec estava então assumindo  plenamente o seu  caráter religioso e, mais do que isso, o estava propondo como uma nova (ou a mais antiga e primitiva)  forma de Cristianismo: destituída de poderes temporais, de cultos externos (a adoração em espírito e verdade a que se referia o Cristo), de organização institucional, de sacerdócio e intermediações entre Deus e o homem.

A prática religiosa que o Espiritismo proporá está baseada numa religiosidade natural e espontânea do ser humano: o ímpeto de adoração a um Ser superior e a prática de uma ética universal, que o Cristianismo exprime de forma mais elevada. Kardec identifica o que há de comum em todas as culturas humanas: “Todos os povos oram, do selvagem ao civilizado: aí são levados pelo instinto, e é o que os distingue dos animais. Sem dúvida oram de maneira mais ou menos racional, mas, enfim, oram. Os que, por ignorância ou  presunção, não  praticam a prece formam no mundo insignificante minoria. A prece é, pois, uma necessidade universal, independente das seitas e das nacionalidades. (…) Contestando um dogma, a gente não se põe em oposição senão com a seita que o professa. Negando a eficácia da prece, fere­-se o sentimento íntimo da quase unanimidade dos homens”. 125

Por tudo isso, Kardec incorpora de maneira sensata as críticas à religião, que vinham sendo praticadas desde o século XVIII, mas como seus antecessores, Rousseau  e Pestalozzi, não pretende negar a dimensão religiosa do homem, numa atitude elitista e prepotente, como outros de seus contemporâneos. Ao invés, busca purificá-­la dos abusos, da irracionalidade, da cegueira e dar­-lhe um direcionamento claro e universal. E nem pretende tampouco  desenraizar a ciência e a filosofia ocidentais de suas origens claramente cristãs.

Mas nesse intuito, também se alinha entre os reformadores ou heréticos, que sempre surgiram no seio do Cristianismo, querendo  resgatar a proposta do Cristo, em oposição à religião dos seus vigários."

REFERÊNCIAS E NOTAS DE RODAPÉ:

"94 KARDEC, Allan. Le livre des Esprits. Ed.cit., item 540, p. 249.
  
95 Idem, ibidem, Introdução, p. 1. 

96 Um dado interessante é que a maioria  das respostas de O  livro dos  Espíritos foram obtidas por intermédio das meninas Boudin, de 14 e 16 anos.

97 KARDEC, Allan. Revista Espírita, 1858, ed. cit., p. 145. Essa assertiva de Kardec se confirma no fato do Espiritismo se estender a outros países, sem a influência do codificador francês, principalmente entre os anglo­saxônicos, como já foi citado na “Introdução”. 

98 KARDEC, Allan. Revista Espírita, 1864, ed. cit., p. 353.

99 KARDEC, Allan. La Genèse, les miracles e les prédictions selon le Spiritisme. Ed. cit., Cap. VI, item 19, p. 78.
  
100 A respeito das relações do pensamento espírita  com a filosofia  de Bergson,  ver  meu artigo INCONTRI, Dora. Henri Bergson:  a concepção intuitiva do ser. (in: Cultura, Jornal O  Estado de São Paulo , 4/1/91).

101 PIRES, J. Herculano. Espiritismo dialético. Ed. cit., p.49.
  
102 A esse respeito,  ver  a obra COLOMBO,  Cleusa B. Ideias sociais  espíritas. São Paulo, Comenius,  1998 e também DENIS, Léon. Socialismo e Espiritismo. Matão, Casa Ed. "O Clarim", 1982.  

103 KARDEC, Allan. Le livre des Esprits. Ed.cit., item 881, p. 393. 

104 Idem, ibidem, item 884, p. 394.
  
105 Idem, ibidem, item 808, p. 361.
  
106 Idem, ibidem, item 922, p. 418.
  
107 Idem, ibidem, item 930, p. 420.

108 Essa intenção de Kardec,  citada “Introdução”, não morreu com ele. No mesmo capítulo, apontamos inúmeros cientistas do século XIX que o secundaram nessas pesquisas,  confirmando suas conclusões.  Mas, veremos ainda no próximo capítulo, outros pesquisadores atuais, que sem conhecimento do trabalho de Kardec, continuam na mesma linha de estudos. 

109 KARDEC, Allan. Revista Espírita, 1867, ed. cit., p. 36. 

110 KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. Ed. cit., p.23.
  
111 KARDEC, Allan. Le livre des Esprits. Ed.cit., item 8, p. 3.

112 Idem, ibidem, Introdução, item VII, p. XIV. 

113 Idem, ibidem, Introdução, item VII, p. XV.  

114 KUHN, Thomas S. Op. cit., p. 45. Esse possível diálogo entre Kuhn e Kardec merecerá um estudo à parte que faremos oportunamente.
  
115 KARDEC, Allan. Revista Espírita, 1867, ed. cit., p. 39.

116 KARDEC, Allan. La Genèse, les miracles e les prédictions selon le Spiritisme. Ed. cit., Cap. I, item 55,  p.  30.  Esse aspecto do Espiritismo tem provocado algumas polêmicas no movimento espírita brasileiro. De uma parte, há aqueles que, tomando a doutrina meramente como mais um sistema religioso,  assumem uma ortodoxia  dogmática e não aceitam qualquer  desdobramento além de Kardec. Há outros  que,  precipitada e levianamente,  querem aglutinar  novos princípios,  sem respeitarem os métodos  necessários de verificação e pesquisa.
  
117 Ver a esse respeito INCONTRI, Dora. Pestalozzi ­ Educação e ética. Ed. cit.  118 KARDEC, Allan. Revista Espírita, 1859, ed. cit. p.149.

118 KARDEC, Allan. Revista Espírita, 1859, ed. cit. p.149.

119 Idem, ibidem, p. 149.
  
120 A palavra ecumênica deve aqui ser  entendida em sentido amplo e dentro da proposta espírita.  Ver  mais a respeito no capítulo 6, item 6.2 “Anália Franco” e a nota 41 deste capítulo.
  
121 Idem, ibidem, p. 149. 

122 Ver,  por  exemplo,  Sermões contra  o Espiritismo (in: Revista Espírita, 1863,  ed.  cit.,  p.  40­49); Resposta do redator de La Vérité à reclamação do padre Barricand (in: Revista Espírita, 1864, ed. cit., p.  244-­245); O Cardeal Wiseman (in: Revista Espírita, 1865, ed.  cit.,  p. 213­ 216); O Espiritismo, ante a história  e a Igreja, sua origem, sua natureza, sua certeza, seus perigos, pelo Abade Poussin (in: Revista Espírita, 1868, ed. cit., p. 5­17).

123 KARDEC, Allan. La Genèse, les miracles e les prédictions selon le Spiritisme. Ed. cit., Cap. I, item 8,  p. 11.
  
124 Idem, ibidem, p.12.  125 KARDEC, Allan. Revista Espírita, 1866, ed. cit., p. 6

125 KARDEC, Allan. Revista Espírita, 1866, ed. cit., p. 6."

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:


COLOMBO,Dora Alice. Pedagogia espírita. Um projeto brasileiro e suas raízes histórico-filosóficas. São Paulo-SP, FEUSP [2001]. 









quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

COMO A DOUTRINA ESPÍRITA PODE DESESTIMULAR O SUICÍDIO ?

Fonte da imagem: http://doutrinaespirita-madi.blogspot.com.br/2016/02/o-suicidio-na-visao-espirita.html

Fábio José Lourenço Bezerra

No Capítulo V de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", na parte intitulada "O suicídio e a loucura", Allan Kardec explica como a Doutrina Espírita, quando bem compreendida e sentida, pode preservar alguém do suicídio. 

"[...] 14. A calma e a resignação hauridas da maneira de considerar a vida terrestre e da confiança no futuro dão ao espírito uma serenidade que é o melhor preservativo contra a loucura e o suicídio. Com efeito, é certo que a maioria dos casos de loucura se deve à comoção produzida pelas vicissitudes que o homem não tem a coragem de suportar. Ora, se encarando as coisas deste mundo da maneira por que o Espiritismo faz que ele as considere, o homem recebe com indiferença, mesmo com alegria, os reveses e as decepções que o houveram desesperado noutras circunstâncias, evidente se torna que essa força, que o coloca acima dos acontecimentos, lhe preserva de abalos a razão, os quais, se não fora isso, a conturbariam.

15. O mesmo ocorre com o suicídio. Postos de lado os que se dão em estado de embriaguez e de loucura, aos quais se pode chamar de inconscientes, é incontestável que tem ele sempre por causa um descontentamento, quaisquer que sejam os motivos particulares que se lhe apontem. Ora, aquele que está certo de que só é desventurado por um dia e que melhores serão os dias que hão de vir, enche-se facilmente de paciência. Só se desespera quando nenhum termo divisa para os seus sofrimentos. E que é a vida humana, com relação à eternidade, senão bem menos que um dia? Mas, para o que não crê na eternidade e julga que com a vida tudo se acaba, se os infortúnios e as aflições o acabrunham, unicamente na morte vê uma solução para as suas amarguras. Nada esperando, acha muito natural, muito lógico mesmo, abreviar pelo suicídio as suas misérias.

16. A incredulidade, a simples dúvida sobre o futuro, as idéias materialistas, numa palavra, são os maiores incitantes ao suicídio; ocasionam a covardia moral. Quando homens de ciência, apoiados na autoridade do seu saber, se esforçam por provar aos que os ouvem ou lêem que estes nada têm a esperar depois da morte, não estão de fato levando-os a deduzir que, se são desgraçados, coisa melhor não lhes resta senão se matarem? Que lhes poderiam dizer para desviá-los dessa conseqüência? Que compensação lhes podem oferecer? Que esperança lhes podem dar? Nenhuma, a não ser o nada. Daí se deve concluir que, se o nada é o único remédio heróico, a única perspectiva, mais vale buscálo imediatamente e não mais tarde, para sofrer por menos tempo.

A propagação das doutrinas materialistas é, pois, o veneno que inocula a idéia do suicídio na maioria dos que se suicidam, e os que se constituem apóstolos de semelhantes doutrinas assumem tremenda responsabilidade. Com o Espiritismo, tornada impossível a dúvida, muda o aspecto da vida. O crente sabe que a existência se prolonga indefinidamente para lá do túmulo, mas em condições muito diversas; donde a paciência e a resignação que o afastam muito naturalmente de pensar no suicídio; donde, em suma, a coragem moral.

17. O Espiritismo ainda produz, sob esse aspecto, outro resultado igualmente positivo e talvez mais decisivo. Apresenta-nos os próprios suicidas a informar-nos da situação desgraçada em que se encontram e a provar que ninguém viola impunemente a lei de Deus, que proíbe ao homem encurtar a sua vida. Entre os suicidas, alguns há cujos sofrimentos, nem por serem temporários e não eternos, não são menos terríveis e de natureza a fazer refletir os que porventura pensam em daqui sair, antes que Deus o haja ordenado. O espírita tem, assim, vários motivos a contrapor à idéia do suicídio: a certeza de uma vida futura, em que, sabe-o ele, será tanto mais ditoso, quanto mais inditoso e resignado haja sido na Terra: a certeza de que, abreviando seus dias, chega, precisamente, a resultado oposto ao que esperava; que se liberta de um mal, para incorrer num mal pior, mais longo e mais terrível; que se engana, imaginando que, com o matar-se, vai mais depressa para o céu; que o suicídio é um obstáculo a que no outro mundo ele se reúna aos que foram objeto de suas afeições e aos quais esperava encontrar; donde a conseqüência de que o suicídio, só lhe trazendo decepções, é contrário aos seus próprios interesses. Por isso mesmo, considerável já é o número dos que têm sido, pelo Espiritismo, obstados de suicidar-se, podendo daí concluir-se que, quando todos os homens forem espiritas, deixará de haver suicídios conscientes. Comparando-se, então, os resultados que as doutrinas materialistas produzem com os que decorrem da Doutrina Espírita, somente do ponto de vista do suicídio, forçoso será reconhecer que, enquanto a lógica das primeiras a ele conduz, a da outra o evita, fato que a experiência confirma."

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

A ATUALIDADE DOS PRINCÍPIOS BÁSICOS DO ESPIRITISMO

Resultado de imagem para princípios básicos do espiritismo
Fonte da imagem: http://pt.slideshare.net/paikachambi/princpios-bsicos-do-espiritismo-51395143

Fábio José Lourenço Bezerra

Em "A Gênese", no Capítulo I, Allan Kardec, ressaltando o caráter progressivo do Espiritismo, escreveu:

"[...]  Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará."

Passados cerca de 150 anos desses escritos, devemos nos perguntar: Alguma descoberta científica, durante esse período, demonstrou estar o Espiritismo em erro em algum dos seus princípios básicos?

Os  princípios básicos do Espiritismo são os seguintes:

A Existência de Deus, Inteligência Suprema, causa primeira de todas as coisas;

A Imortalidade da alma;

 A Comunicabilidade dos Espíritos com os encarnados;

A Reencarnação, pela qual os Espíritos progridem intelectual e moralmente, até atingirem a perfeição espiritual;

A Pluralidade dos Mundos Habitados.

Como já demonstramos em vários textos deste blog, estes princípios não foram contraditados. Ao contrário, diversos estudos sérios, inclusive alguns dentro da própria ciência oficial, trouxeram evidências fortíssimas de sua realidade.


Sobre a Reencarnação, ver o texto "Vários Estudos Confirmam: A Reencarnação Existe"

Sobre a pluralidade dos mundos habitados, a quantidade de mundos com capacidade para abrigar a vida no Universo, inclusive vida inteligente tal como a conhecemos, é enorme.

      Recentemente, uma equipe internacional de astrônomos procurou determinar o quanto são comuns os planetas em nossa galáxia, a Via-Láctea. Depois da observação de milhões de estrelas durante seis anos, utilizando uma nova técnica chamada de microlente gravitacional, a equipe concluiu que planetas em torno de estrelas são a regra, e não a exceção.

      Sob a coordenação do Observatório Europeu do Sul, a pesquisa utilizou, na sua maior parte, um telescópio do observatório La Silla, no Chile.

      Um co-autor do artigo científico dessa pesquisa, Daniel Kubas, disse:

"Anteriormente pensava-se que a Terra seria única na nossa Galáxia. Mas agora parece que literalmente bilhões de planetas com massas semelhantes à da Terra orbitam estrelas da Via Láctea."

    Essa equipe de astrônomos também concluíu que os planetas rochosos, apenas um pouco maiores que a Terra, são também comuns nas zonas habitáveis em torno das estrelas vermelhas de baixa luminosidade – as chamadas anãs vermelhas. Ela estimou que existem dezenas de bilhões desses planetas só na nossa galáxia, e provavelmente cerca de uma centena nas proximidades do nosso Sol.

      As estrelas estudadas apresentam fraca luminosidade e são menores que o Sol. Porém, correspondem a 80% de todas as estrelas da Via Láctea, além de terem uma vida muito longa.

    Neste estudo, foi utilizado um espectrógrafo HARPS, também instalado num telescópio em La Silla, no Chile.

    O tamanho dos planetas, tendo pouca diferença em relação ao tamanho da Terra, indica que a intensidade da força da gravidade neles é próxima à da nossa, sendo este um importante fator para o surgimento e a manutenção da vida como a conhecemos. 

      O líder da equipe, Xavier Bonfins, disse:

"As nossas novas observações obtidas com o HARPS indicam que cerca de 40% de todas as estrelas anãs vermelhas possuem uma super-Terra que orbita na zona habitável, isto é, onde água líquida pode existir na superfície do planeta."
"Como as anãs vermelhas são muito comuns - existem cerca de 160 bilhões de estrelas deste tipo na Via Láctea - chegamos ao resultado surpreendente de que existirão dezenas de bilhões destes planetas só na nossa galáxia."

    Em uma pesquisa, divulgada em 2013, no encontro semestral da Sociedade Astronômica Americana, na Califórnia, constatou-se que até uma em cada seis estrelas pode abrigar um planeta do tamanho da Terra. Os pesquisadores afirmam que pode haver um total de 17 bilhões desses planetas em toda a nossa galáxia. Essa pesquisa baseou-se em análises de possíveis planetas revelados pelo telescópio espacial Kepler.

    Cientistas encontraram evidências de que os blocos constituintes da vida são universais.

     No ano passado, astrônomos detectaram a presença de moléculas orgânicas complexas, os blocos constituintes da vida, num disco protoplanetário que rodeia uma estrela jovem. A descoberta confirma que as condições que deram origem à Terra e ao Sol não são únicas no Universo. Um disco protoplanetário é constituído de poeira e gás, que se forma em torno de estrelas jovens e dá origem a planetas.

     Este estudo demonstrou que os discos protoplanetários são altíssimamente eficientes na formação de moléculas orgânicas complexas e que as conseguem formar em tempo relativamente curto.

   Os astrônomos acreditam que é provável que as moléculas orgânicas existentes nos cometas e em outros corpos gelados sejam levadas para meios mais propícios ao desenvolvimento de vida, como planetas rochosos localizados nas zonas habitáveis de suas estrelas.

     Karin Öberg, astrônoma no Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics, Cambridge, Massachusetts, EUA e autora principal do artigo científico deste estudo, disse:

“Temos agora mais evidências de que a mesma química existe noutros lugares do Universo, em regiões que poderão eventualmente formar sistemas solares parecidos ao nosso”

“A partir do estudo de exoplanetas, sabemos que o Sistema Solar não é único no seu número de planetas ou em abundância de água”, conclui Öberg. “Sabemos agora que não somos únicos em química orgânica. Uma vez mais, aprendemos que não somos especiais. Do ponto de vista da vida no Universo, isto são excelentes notícias.”


BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

KARDEC, Allan. A gênese.


ENDEREÇOS ELETRÔNICOS CONSULTADOS:

http://www.if.ufrgs.br/~fatima/ead/origem.htm

http://www.sci-news.com/astronomy/science-habitable-planets-red-dwarfs-milky-way-01188.html

http://iopscience.iop.org/article/10.1088/2041-8205/771/2/L45/meta;jsessionid=2D8EB27E9DF2BD14453CA4AB0D60E5B8.c5.iopscience.cld.iop.org

http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=mais-planetas-estrelas-via-lactea&id=010130120111#.VwgVFfkrKUk

http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=planetas-zonas-habitaveis&id=010130120328#.VwgUN_krKUk

https://www.eso.org/public/brazil/news/eso1513/

http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/01/130108_planetas_kepler_terra_rw.shtml

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

O FALECIDO CRIADOR DA EXPRESSÃO "SCI-FI", FORREST J ACKERMAN, COMUNICA-SE APÓS A MORTE


Fonte da imagem: https://www.amazon.com/Atheist-Heaven-Paul-Davids/dp/0989024245

Artigo do The Huffington Post:

Projeto Vida Após a Morte : Reivindicação dos amigos de Forrest J Ackerman que está falando a eles dos mortos
  2013/05/17 08:52 ET | Atualizado em 17 de maio de 2013

Quando Forrest J Ackerman estava vivo, ele zombava de alguém que dissesse que poderia falar com os mortos.

Agora que ele está morto, algumas pessoas dizem que ele está falando do Grande Além.

Ackerman, falecido em 2008, é uma lenda na comunidade de ficção científica, entre outras coisas, cunhando a frase "sci-fi". Steven Spielberg, George Lucas e Peter Jackson estavam entre os ávidos leitores de sua influente revista Famous Monsters Of Filmland. Ele também foi co-criador da popular história em quadrinhos da super-heroína Vampirella.

Ackerman era um cético do sobrenatural. Mas agora, alguns de seus seguidores acreditam que esse falecido está tentando fazer contato com eles.

Tudo começou pouco depois de sua morte, quando uma mancha de tinta estranha apareceu misteriosamente em uma folha de papel na casa de seu amigo, o cineasta Paul Davids.

Davids tinha impresso o papel que incluía uma lista de reuniões de negócios. A tinta no papel estava completamente seca quando saiu da sala. Quando voltou, descobriu que uma mancha de tinta preta encobriu um grupo de palavras: "Falei com Joe Amodei".

"Eu não tinha idéia porque essas palavras em particular foram apagadas", disse Davids ao The Huffington Post. "Não fazia sentido para mim até mais tarde, quando eu estava pesquisando Forry estilo editorial e eu encontrei muitos exemplos de onde ele apagou palavras tão completamente. Eu encontrei 15 exemplos de onde Forry encontrou um nome dentro de um nome ou uma palavra dentro de uma palavra como sendo uma palavra oculta para fazer um trocadilho ou um ponto fora dela. "

Davids acredita que este foi o primeiro de uma série de casos inexplicados onde Ackerman estava tentando se comunicar com ele. Ele eventualmente envolveu vários cientistas de universidades para tentar explicar esses fenômenos explorados no "Projeto Vida Após a Morte", um documentário que estreou esta semana no canal Syfy.

Alguns podem afirmar que o trabalho de Davids é mais parecido com a programação baseada em fantasia do canal Syfy, talvez durante a hora 72 de uma maratona de "Twilight Zone". Mas Davids está sério.

"Eu conheci Forry em 1964 e fomos amigos por mais de 40 anos", disse Davids, produtor-diretor de "The Life After Death Project".

"Forry professava total ceticismo e ateísmo. Ele tinha zero crença no paranormal, não acreditava que havia uma vida após a morte, certamente não acreditava em Deus e não tinha qualquer religião.

Quando Davids experimentou o episódio de mancha de tinta em 2009, ele o levou a uma missão para determinar se o espírito de Ackerman era de alguma forma responsável.

"Eu senti que o que tinha acontecido era impossível. Não havia ninguém na casa senão eu, eu não tinha feito isso, como poderia ter acontecido? "

Davids teve a mancha de tinta examinada por Jay Siegel, presidente do departamento de química da Universidade de Indiana.

"Eu venho estudando química há mais de 30 anos, e quando você aprende ciência, você aprende a ser cético em relação às coisas. Você aprende a exigir dados e provas, a fim de fazer declarações e conclusões que você pode confiar ", discute Siegel no documentário.

"Às vezes há circunstâncias que simplesmente não podem ser explicadas por seus cinco sentidos ou por todas as ferramentas da ciência, e eu acho que há alguns aspectos nessa situação que dão uma pausa. Eu diria perturbador, um pouco, só porque eu sou um cientista."

A mancha de tinta estranha também foi examinada por John Allison, um professor de química e especialista em tintas e solventes no College of New Jersey.

"Como ela foi criada de maneira tão uniforme, não conseguimos reproduzir isso", disse Allison sobre sua análise. "Não sei como recriar isso. Eu não poderia fazê-lo. No forense, você tenta encontrar explicações, e geralmente não recorremos a interações ou a intervenção de alguém de além-túmulo, mas eu não posso descartar isso."

Foi o espírito de Ackerman que de alguma forma adicionou a tinta inexplicada ao documento, como uma maneira de fazer sua presença conhecida?

A idéia de vida após a morte e a questão de se os seres humanos sobrevivem à morte física é um daqueles temas antigos e controversos que é difícil de saber com certeza. Todos nós já ouvimos histórias de encontros fantasmagóricos com entidades que são alegadas como de espíritos inquietos. Mas é prova de que nossa consciência ou espírito continua a viver depois que o corpo morre?

Na Universidade do Arizona, Gary Schwartz dirige o Laboratório de Avanços em Consciência e Saúde. Depois de 15 anos investigando a possibilidade de vida após a morte, ele está trabalhando em formas de desenvolver ferramentas científicas reais que poderiam anunciar um avanço nas comunicações entre os vivos e os mortos.

Esse é um grande salto, e sobre o qual os céticos e debunkers do assunto, sem dúvida, cravam os dentes.

"Em primeiro lugar, qualquer pessoa que descarte provas físicas que tenham sido avaliadas independentemente por especialistas forenses, ou que descarta médiuns de pesquisa, conduzidos sob condições que descartam fraude e leitura a frio - qualquer pessoa que ignora provas usando tecnologia de ponta sob condições de controle é essencialmente anti-científico. Isso é apenas recusa parcial de dados reais ", disse Schwartz - anteriormente nas faculdades de Harvard e Yale, e atualmente professor de psicologia, medicina, neurologia, psiquiatria e cirurgia - disse HuffPost.

Schwartz experimentou algo chamado Sistema Fotomultiplicador de Silício, tecnologia que detecta um único fóton de luz no escuro. "É usado em imagens biomédicas e em dispositivos bioquímicos. O sistema é colocado dentro de uma caixa, dentro de uma caixa, dentro de uma caixa, por isso é verdadeiramente leve.

"Então, o que você faz é convidar espíritos específicos - eu carinhosamente os chamo de co-pesquisadores hipotéticos - e você olha para ver se o número de fótons contados, por período unitário de tempo, é maior quando um espírito é convidado para a câmara Versus controles, e foi o que descobrimos."

Schwartz explicou que eles aumentaram a parte de controle dos experimentos, criando um sofisticado programa automatizado que controlava o sistema à noite, quando ninguém estava no laboratório.

"Às quatro horas da tarde, o experimentador lia um roteiro padrão que falava com [espíritos convidados], deixando-os saber que o experimento seria executado no laboratório e pedindo-lhes para seguir as instruções na tela do computador grande: - Por favor, apareça no laboratório às 11 horas da noite. Muito obrigado. Eu pegarei os dados pela manhã. '"

Os pesquisadores fizeram isso muitas vezes durante muitas noites. "Para meu espanto, com certeza, os dados indicaram claramente que houve um aumento da estrutura - padrões de luz - nos ensaios de espírito-presente em comparação com as pré-linhas de base ou pós-linhas de base".

Em 2011, Schwartz apresentou um artigo para a revista científica Explore, onde "foi revisado por pares, analisado criticamente e aprovado. E então a questão é como você explica esses dados? "

Schwartz é apresentado no  "Projeto A Vida Depois da Morte" de Davids, e acredita que a evidência apresentada nele sugere fortemente que o espírito de Ackerman ainda está "vivo e bem".

"Isso não é apenas homenagear a vida de Ackerman, mas é a primeira coleção de evidências físicas de uma única pessoa já relatada, com um total de evidências tão convincentes quanto qualquer caso que eu já ouvi falar na História deste trabalho ".



Paul Davids e Gary Schwartz são co-autores do livro "An Atheist in Heaven" (Um ateu no céu, em tradução livre), sobre as comunicações e fenômenos produzidos por Ackerman após a sua morte. Abaixo, a descrição do livro no site da Amazon:

"Este livro de capa dura de 514 páginas, apoiado por uma declaração jurada da verdade do co-autor Paul Davids e um conjunto de descobertas científicas, é um monumento decisivo para a vida após a morte que certamente desafiará os céticos, seguidores da pesquisa pós-vida e cientistas que são Especialistas em muitos campos, da psicologia à química.

O que acontece quando um ateu convicto morre e descobre que ele estava errado sobre a vida após a morte?

Embora fosse um futurista famoso do mundo e um promotor pioneiro de livros e de filmes da ficção científica, Forrest J. Ackerman nunca acreditou em uma vida após a morte da alma, do espírito ou da mente; No entanto, ele prometeu a alguns respeitados colegas que, se fosse revelar que estava enganado (o que ele sinceramente duvidava), então, se fosse possível, tentaria enviar mensagens do além.

Em An Atheist in Heaven, Paul Davids e Gary E. Schwartz, Ph.D., descrevem o levantamento mais de 100 incidentes incomuns, estranhas mensagens e fenômenos, ligados a Ackerman ."
Os leitores irão encontrar impressionante apoio científico de escritores e investigadores, e uma história humana única de uma amizade de 45 anos que não terminou com a morte."

ENDEREÇO ELETRÔNICO CONSULTADO:

http://www.huffingtonpost.com/2013/05/17/life-after-death-project-forest-j-ackerman_n_3280368.html

https://www.amazon.com/Atheist-Heaven-Paul-Davids/dp/0989024245